Maraturismo em Buenos aires, Argentina

Cacá Filippini corre a Meia Maratona de Buenos Aires 2023 e explora destino durante sua estada na Argentina

1500 brasileiros! Esse foi o número de corredores participantes da Meia Maratona de Buenos Aires, no domingo, 27 de agosto. Mais uma vez, a maior bandeira de estrangeiros em uma prova de corrida internacional.

De acordo com a organização da prova, foram exatamente 21.765 corredores, sendo 19mil deles, Argentinos. Ano a ano, os números de brasileiros participando de provas internacionais, só aumenta, o que mostra constante crescimento de viagens que mesclam corrida e turismo: o “maraturismo”.

Contudo, não é apenas o incentivo da valorização do Real sob o Peso Argentino que faz com que os praticantes de corrida de rua, saiam de suas casas e viajem rumo á terra dos “hermanos”. A Meia Maratona de Buenos Aires é hoje a sexta prova mais rápida dentre as principais do Mundo e ocupa o 1º lugar na América Latina, segundo a AIMS (Association of International Marathons and Distance Races). O que torna o evento, um dos mais desejáveis e possíveis para os corredores brasileiros que querem estrear nas corridas pelo mundo.

CORRIDAS PELO MUNDO

Eu, Cacá Filippini, maratonista e praticante ativa do maraturismo, participo de diferentes comunidades e grupos de corredores brasileiros. A assessoria esportiva MPR, da qual faço parte, como aluna, juntou um grupo de 130 alunos só para esse evento. Isso sem contar os acompanhantes, que geralmente são parceiros ou membros da família. Assim, podemos considerar pelo menos 260 turistas durante o final de semana da corrida. Da mesma forma, se consideramos os 1.500 brasileiros registrados na Meia Maratona desse ano, podemos tranquilamente afirmar que a cidade de Buenos Aires recebeu pelo menos 3mil corredores do Brasil. Um nicho para o trade de turismo explorar mais.

MPR – Assessoria esportiva, responsável pelos treinos de corrida de Cacá Filippini, leva 130 corredores brasileiros para a Meia Maratona de Buenos Aires 2023

Uma das principais discussões nos grupos que se formam no “pré-prova” orbita em: “O que fazer no destino antes e depois da corrida?”

Em primeiro lugar, como corredora, sei que os dias que antecedem o “grande dia”, devem ser de atenção e sem exageros, inclusive no turistar. O que não nos obriga ficar no quarto do hotel, deitados com as pernas pra cima. Entretanto, também não nos encoraja a pegar o mapa, calçar os tênis e sair batendo perna por aí. Como diz meu treinador Marcos Paulo Reis: “Andar cansa muito mais do que correr!” – e eu concordo.

o QUE FAZER PRÉ-PROVA

Optar por programas que demandem menos dos nossos corpos, são boas pedidas. Por isso, sempre contrato o ônibus no estilo HopON e HopOFF que me permite conhecer os principais pontos turísticos em 1 ou 2 dias. Em Buenos Aires, recomendo fortemente o Buenos Aires Bus, um ônibus amarelo, prestador oficial de turismo, que passa por 22 pontos espalhados pela cidade, a cada 20-30 minutos das 9 ás 17h diariamente. Em todos os assentos de todos os ônibus da frota, é possível conectar-se á um áudio-guia em 9 idiomas. E o nosso Português (BR) está lá!

Ônibus HopOn HopOff é excelente opção pré prova, para corredores conhecerem o destino

Adepta á esse serviço, tenho que destacar que a empresa permite que você utilize-o por 24 horas e não o costumeiro 1 (um) dia. De modo que você pode, inclusive se programar para fazer o turismo começando ao meio dia de um dia, e terminando ao meio dia, do dia seguinte. Eu particularmente gostei muito dessa possibilidade!

Vale dizer que as provas de corrida de rua, geralmente acontecem aos domingos. Há casos que as organizações optam por fazer em 2 dias. É o caso dos desafios, em que é possível correr 21k (Meia Maratona) no sábado e 42k (Maratona) no domingo. Algo que tem sido mais explorado no Brasil recentemente.

Assim sendo, os “maraturistas” saem de sua cidade entre quinta e sexta-feira – isso varia de acordo com o tempo de deslocamento e agenda de cada corredor. E em geral, chegam no destino antes das 17h do sábado. Prazo limite para retirar o kit da corrida, que traz o numero de peito e a camiseta que usarão para correr.

Quando é possível, os “viajantes-corredores” esticam o retorno para segunda-feira. Mas também é comum casos em que ficam mais dias para conhecer o local, a cultura e os arredores.

HOSPEDAGEM E LOGÍSTICA

Antes de tudo, um ponto importante e de extrema valia para aqueles que irão correr, é a hospedagem. Na grande maioria das vezes, se hospedar próximo ao local de largada é a opção mais desejada. No caso de Buenos Aires, a largada está mais afastada, o que faz com que, nossa 2ª preferência, ocupe o 1º lugar: se hospedar em um local que nos permita passear, comer e comprar itens essenciais sem a necessidade de carro.

Eu, particularmente já estive algumas vezes na cidade e dividia a busca por hotéis entre Palermo e Recoleta. Bairros com maior movimentação gastronômica, vida noturna e locais de compras. Mas dessa vez, experimentei vivenciar a região de Puerto Madero de forma mais intensa. E nossa estada de 5 dias e 4 noites foi no SLS Puerto Madero. Pertencente ao Grupo Accor, o hotel foi inaugurado no primeiro semestre de 2022 e entra na categoria luxo, 5 estrelas.

SLS Puerto Madero é uma excelente opção para quem busca estar próximo de pontos turísticos sem a necessidade de usar carro ou transporte público

Nesse sentido, o hotel em si é uma experiência á parte desde a recepção, com obras de arte que preenchem todos os espaços. São 58 suítes não fumantes, muito bem montadas, desenhadas e decoradas pelo italiano Piero Lissoni. Em adição, o renomado restaurante Leynia oferece Paella Argentina á hospedes e visitantes, que ainda podem optar por outros pratos á la carte. Na área do Spa, uma academia muito bem equipada, piscina climatizada e salas para massagem. O hotel ainda conta com uma sala para pequenos eventos. E vale dizer, que o café da manhã é bem variado, com itens frescos e incluso na diária.

CONSIDERAÇÕES GERAIS

acima de tudo, penso ser importante salientar que os argentinos são bastante receptivos á nós, brasileiros. Todas as minhas estadas foram bem felizes no quesito hospitalidade e tratamento. Mas pude observar um “quê” á mais na equipe SLS, o que tornou nossa experiência de viajante e corredor, ainda melhor. Digo corredor, pois foi nítida a preocupação em atender nossas necessidades. Tanto em relação ao jantar pré-prova (que geralmente teve ter uma ingestão boa de carboidratos e pouco condimento, derivados do leite e alimentos mais pesados) , quanto ao café da manhã, que precisa ser ingerido por volta das 5 da manhã e também com algumas preferências específicas.

Dito isso, além da bela vista através da varanda de nossa suíte, estávamos há poucos passos de um dos cartões postais mais visitados em Buenos Aires: La Puente de la mujer, ao lado do Barco Museo Fragata Presidente Sarmiento. Há 7 quadras do bairro de San Telmo, outro ponto bastante interessante para se visitar. Há apenas 2km da Casa Rosada. Uma quadra da Reserva Ecológica Costanera Sur, local inclusive de passagem do amarelinho Buenos Aires Bus.

Por fim, embora eu, Cacá Filippini, tenha muito ainda para contar, vou me despedindo por aqui com a promessa de trazer em nosso próximo encontro, um copilado de dicas úteis para aproveitar Buenos Aires no pós-corrida ou a qualquer oportunidade de visita. Nos vemos em breve!

Autismo e turismo esportivo

Viajar é bom demais! Entretanto, talvez não para todos. Famílias e indivíduos com deficiências físicas e intelectuais, nem sempre têm boas experiências.

Viajar com um cadeirante é um bom exemplo. Não diferente com deficientes visuais. Contudo nem sempre a deficiência é óbvia, e nem mesmo os desafios que veem com ela.

Há quase 15 anos, vivo a maternidade atípica. Sou mãe de um adolescente no Espectro Autista. Por ser um “espectro”, os sintomas são diversos e os níveis também. Dessa forma, cada indivíduo tem seu próprio conjunto de manifestações, o que o torna único dentro do TEA – Transtorno do espectro Autista. Mas tem algo que, praticamente todos os autistas, concordam – independente do grau, nível ou idade, quando o assunto é: Viagens

Pessoas em geral dizem: “Vou relaxar e quero aproveitar ao máximo!” Por outro lado, pessoas atípicas, pensam: “Será cansativo. Mudança de rotina e mais socialização do que o usual. Vou precisar de dias para me recuperar quando eu voltar!”

Pode parecer estranho para quem conta os dias até as sonhadas férias, mas de fato, como mãe de adolescente autista, sei que é uma verdade. Em suma, de uma forma bastante genérica e super resumida, autistas se sentem bem em rotinas. Contudo quando há quebra da rotina, a pessoa com TEA, fica mais ansiosa e emocionalmente descompensada. Basta um simples passeio no shopping para deixá-la mais cansada. Logo. quem dirá novos cenários, horas no carro, no avião, espera em aeroportos e o pacote de “novidades” que uma viagem traz…

Uma família atípica de corredores

Recebi o diagnóstico do meu filho antes do seu 1° ano e por conseguinte, criei alguns processos para amenizar esses momentos. Vale dizer que nossa família é composta por 4 filhos mais eu e meu marido. Rafael é o caçula. Somos uma família socialmente ativa e bastante viajante, seja de carro, navio ou aéreo. Embora sejam todos filhos meninos, cada um está em um momento diferente da vida. São “quereres” diversos. Dessa forma, precisamos levar em consideração o que cada um quer, gosta e está apto a fazer.

Para completar, eu e meu marido, gostamos de correr. Participamos de muitas provas de corrida de rua nacional e internacional. E nosso gosto pela atividade, contagiou 3 dos nossos meninos, inclusive Rafael. Assim, nossas “escapadas” passaram a ter mais um propósito: correr no destino. Às vezes, me arrisco dizer que é o contrário. Escolhemos a corrida que queremos e viajamos para onde ela acontecerá.

Importante dizer que não existem locais específicos ou passeios mais indicados para pessoas com autismo. O indivíduo com TEA pode estar onde ele quer, desde que se sinta bem. E o bem-estar, é o item número 1 em tudo que fazemos. Assim sendo, dividir com Rafael o que estamos planejando, é essencial. Além de deixá-lo menos ansioso, me dá a oportunidade de realizar eventuais ajustes na programação, antes mesmo de sairmos de casa.

Outro ponto que não abro mão, é informar à todos a condição do meu filho. Desde a companhia aérea, o hotel, os receptivos e até as atrações que visitaremos. Isso diminui a possibilidade de perrengues na viagem. Ademais, nos dá a sensação de maior acolhimento.

Turismo acessível

Dizer que existe um membro na família com alguma deficiência não é vergonha alguma. Existem deficiências que não tem “cara” e as pessoas não tem obrigação de adivinhar. O turismo de modo geral, vem se preparando cada vez mais para todos os tipos de turistas. O turismo acessível é uma temática recente no Brasil. Viagens para pessoas com deficiência, destinos acessíveis, turismo inclusivo, roteiros para pessoas com mobilidade reduzida e serviços para turistas com necessidades especiais (PcD´s) são alguns itens que estão ganhando cada vez mais relevância quando o assunto é viajar.

Para a minha família, dentro das nossas características e “quereres” diversos, viajar não é apenas sobre locais novos que vamos conhecer. Assim sendo, viajar é uma forma de autoconhecimento. Uma ferramenta perfeita para experimentar a vida, saber até onde conseguimos ir, derrubar o máximo de barreiras e transcender a liberdade.

Portanto, toda quarta-feira eu Cacá Filippini, estarei aqui com vocês, dando dicas de experiências de viagem com autistas, roteiros acessíveis, serviços para viajantes com necessidades especiais, destinos para correr, provas de corrida pelo mundo e muito mais…

Acompanhem: Maraturismo e Inclusão !