Mercado de viagens e eventos corporativos em 2025: desafios, oportunidades e tendências

O ano de 2024 não foi fácil para o setor de viagens e eventos corporativos, mas trouxe muitos benefícios e aprendizados. Em 2025, seguimos impulsionados principalmente pela variação cambial e pelas transformações nas estratégias. As empresas têm buscado otimizar seus orçamentos e repensar a frequência e a duração de suas viagens. Vejo que as corporações estão cada vez mais seletivas, priorizando deslocamentos essenciais e explorando novas soluções para equilibrar custos e benefícios.

O Brasil também se prepara para eventos globais relevantes, como a COP30, encontro que debaterá as mudanças climáticas marcado para novembro em Belém (PA). A expectativa é que eventos como a COP movimentem a infraestrutura, a hotelaria e o turismo corporativo no país, além de reforçarem a necessidade de planejamento estratégico para lidar com a alta demanda e garantir experiências eficientes para os participantes. Mostram ainda que podemos receber grandes eventos além daqueles esportivos, para os quais já somos conhecidos.

Impacto do câmbio
O câmbio desfavorável tem impactado diretamente as viagens internacionais, aumentando os custos e levando as empresas a ajustarem suas estratégias. Em muitos casos, os orçamentos se mantêm estáveis, mas o volume de deslocamentos é reduzido para compensar o aumento do ticket médio. Esse cenário estimula o mercado brasileiro a desenvolver novas opções de eventos e incentivos locais, favorecendo a movimentação interna e reduzindo a exposição às oscilações cambiais.

Por outro lado, o câmbio favorável para estrangeiros torna o Brasil um destino atrativo para eventos internacionais. Empresas estrangeiras podem enxergar o país como uma alternativa interessante a mercados tradicionais, como Paris, impulsionando a captação de eventos e fortalecendo o setor nacionalmente. No entanto, a infraestrutura e a malha aérea ainda representam desafios a serem superados. Desde a pandemia, a oferta de assentos não voltou aos níveis anteriores, e a fusão entre grandes companhias aéreas pode ou não resultar em um aumento significativo da disponibilidade de voos. Neste caso, vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos. 

Crescimento do setor e a pressão sobre preços
Os dados do Levantamento de Viagens Corporativas (LVC), realizado pela FecomercioSP em parceria com a Alagev, apontam que novembro de 2024 registrou um recorde, com um gasto de R$ 13 bilhões em serviços de turismo corporativo, um aumento de 5,8% em relação ao mesmo período de 2023. No acumulado do ano, o volume total chegou a R$ 122 bilhões, um crescimento de 5,4%.

Esse crescimento acontece em um cenário de pressão sobre preços. A recuperação tarifária na hotelaria e o aumento da diária média impactam diretamente os custos das viagens corporativas e eventos. Em São Paulo, por exemplo, as tarifas de hotéis econômicos superam R$ 900 em dias de maior demanda. Além disso, o preço médio do aluguel de veículos subiu mais de 22% em 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto a alimentação também sofreu alta significativa, elevando os gastos com deslocamentos corporativos.

Estratégias para 2025: automação, parcerias e inteligência artificial
Apesar dos desafios, as empresas continuam investindo em viagens e eventos, sem perspectiva de redução no volume total. No entanto, a maneira como esses deslocamentos são planejados e executados está mudando. A automação e a inteligência artificial (IA) terão papel fundamental na gestão de viagens, permitindo que gestores foquem em estratégias de longo prazo em vez de apenas otimizar custos de curto período.

A sustentabilidade também entra em pauta, com uma nova abordagem para negociações e contratos. O foco agora deve ser em parcerias mais longínquas, ao invés de trocas frequentes de fornecedores. Essa alteração de mentalidade contribui para maior previsibilidade e melhores condições de negociação, beneficiando tanto empresas quanto prestadores de serviço.

Perspectivas e investimentos no setor
A Pesquisa Anual de Viagens Corporativas (PAVC), também realizada pela Alagev, apresenta um panorama detalhado do mercado e suas tendências. O estudo revela que 27% dos gestores indicaram que suas empresas investiram mais de R$ 20 milhões em viagens corporativas em 2024. Para voos nacionais, 22% gastaram entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões, enquanto 22% dos investimentos em hospedagem no Brasil variaram entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão. No cenário internacional, 44% das empresas investiram menos de R$ 500 mil em viagens ao exterior.

A projeção para 2025 é de crescimento, com 74% dos respondentes esperando um aumento no volume total de viagens entre 10% e 20%. Diante desse cenário, a expectativa para esse ano é de um mercado dinâmico, que precisará equilibrar inovação, gestão eficiente, planejamento, tecnologia, inteligência e adaptação a novos desafios econômicos e operacionais para manter seu crescimento sustentável.

*Luana Nogueira, diretora-executiva da Alagev

Turismo corporativo: crescimento em meio aos desafios econômicos

Faltam poucos dias para encerrar 2024. O turismo corporativo no Brasil conquistou resultados expressivos, mesmo em meio a um cenário econômico desafiador. De acordo com o Levantamento de Viagens Corporativas (LVC), feito pela FecomercioSP em parceria com a Associação Latino Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas (Alagev), o setor deverá registrar um crescimento de 5,5%, com faturamento total de R$ 130 bilhões, o maior da série histórica iniciada em 2011. Esse desempenho positivo reflete o aumento da demanda por serviços como transporte aéreo, hospedagem, locação de veículos e transporte rodoviário.

Durante o “Café com mantenedores”, da Alagev, Guilherme Dietze, da FecomercioSP, compartilhou importantes esclarecimentos sobre o panorama econômico nacional e as perspectivas para o setor. Ele destacou que o turismo brasileiro alcançou R$ 203 bilhões em faturamento, superando o recorde de 2014. O mercado corporativo representa 64% desse resultado, ou seja, R$ 130 bilhões

Apesar do otimismo, Dietze alertou sobre os desafios previstos para 2025. Entre os principais entraves, estão a alta carga tributária, a baixa produtividade e a escassez de mão de obra qualificada, além da pressão sobre os preços e a volatilidade cambial. Por isso, acreditamos que a economia brasileira deva crescer apenas 2%, evidenciando uma recuperação lenta.

Os ambientes político e econômico também trarão incertezas, especialmente em um ano pré-eleitoral. A atuação do novo presidente do Banco Central e as tensões geopolíticas globais, como a reeleição de Trump nos Estados Unidos, podem impactar o Brasil, seja nas relações comerciais ou nos mercados financeiros. As discussões da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá em novembro, em Belém (PA), podem também afetar os discursos e decisões nacionais. 

O setor de viagens corporativas encerra 2024 com um recorde de faturamento. O mais recente dado que temos é de outubro,  quando  os gastos das empresas com esse tipo de serviços alcançaram R$ 12,7 bilhões, representando um aumento de 6,9% em comparação ao mesmo mês do ano anterior. O valor supera o recorde anterior, de R$ 12,4 bilhões, registrado em 2013 (ajustado pela inflação). No acumulado do ano, o setor apontou um faturamento de R$ 108,4 bilhões, um crescimento de 5,3% em relação ao mesmo período de 2023 (veja tabela abaixo).

Esse desenvolvimento se deve, em parte, à elevação nos preços dos serviços, fator que limita um aumento mais expressivo da produtividade. Apesar disso, a tendência de crescimento do segmento se manterá em 2025, com previsão de elevação de 4% e faturamento de R$ 135 bilhões. O avanço consistente é motivo de celebração, mesmo diante dos desafios. 

Expectativas para o futuroCom o desempenho positivo da economia brasileira, que acumula um crescimento de 3,1% nos últimos 12 meses, há otimismo moderado em relação ao futuro do setor. O consumo das famílias e os investimentos são indicativos de resiliência econômica. Ainda que a alta dos juros e outros obstáculos possam reduzir o ritmo da evolução financeira, o setor de turismo corporativo deve continuar a desempenhar um papel fundamental no cenário econômico nacional.

Nosso compromisso é continuar inovando e fortalecendo o mercado de turismo corporativo por meio de eventos marcantes, como o LACTE, além de intensificar treinamentos, parcerias estratégicas e pesquisas que agreguem valor ao setor. A cada ano, buscamos superar desafios e inspirar o crescimento do turismo no Brasil, consolidando nossa posição como referência e promovendo avanços que beneficiem toda a cadeia produtiva.

*Luana Nogueira, diretora-executiva da Alagev

Um ano de transformações: os marcos das Reuniões Globais da ALAGEV

Em 2024, realizamos quatro Reuniões Globais no Tivoli Mofarrej, em São Paulo, cada uma inspirada em formatos de programas de televisão. O objetivo foi aprofundar discussões sobre compliance, Environmental, Social, and Governance (ESG) e inovação no setor de eventos e viagens corporativas. Esses encontros contaram com a presença de centenas de profissionais (online e presencial) e foram marcados por debates estratégicos, ações colaborativas e lançamentos de projetos transformadores.

Acredito que tivemos vários momentos de muita conexão e como resultado desse trabalho em conjunto, criamos em cada reunião um manual corporativo sobre ESG. Os participantes trabalharam com os temas como respeito à governança, aspectos mais importantes dessa área, boas práticas e seus dilemas.

1ª Reunião Global – Global Show
A primeira edição, em 18 de março, que teve como tema o talk show “Global Show”, reuniu mais de 295 participantes e apresentou conceitos fundamentais de governança corporativa. Ao longo do ano, foram lançados o programa de embaixadores e dashboards de pesquisas anuais.

O debate destacou o crescimento do mercado de eventos, abordando desafios e boas práticas em temas como diversidade, gestão de riscos, segurança e impacto social. Foi enfatizada a importância de ações graduais e bem-feitas, aliando ética e responsabilidade para atender às demandas de stakeholders. Três orientações básicas foram discutidas: preparação profissional com projetos relevantes, manutenção de valores inegociáveis frente a culturas corporativas resistentes e assunção coletiva de responsabilidades. 

Outro ponto importante foi o painel “Chega Mais Anfitrião”, que tratou das certificações ISO 27.001 e ISO 1018:2020, destacando a necessidade de segurança de dados. A tecnologia foi vista como aliada, mas sempre dependente de políticas bem estruturadas e ações transparentes. Durante o evento, também foi exibido um vídeo do professor Gianfranco Muncinelli, que reforçou a governança como base para ações ambientais e sociais, destacando a importância de regras claras, compliance e monitoramento contínuo para otimização dos negócios.

2ª Reunião Global – Que história é essa Alagev?
Com o nome “Que história é essa Alagev?”, em maio, a segunda reunião usou como base um programa de auditório e reuniu 265 participantes. Iniciativas como a campanha em apoio ao Rio Grande do Sul, o lançamento do aplicativo da associação e a criação do segundo capítulo do manual sobre governança fortaleceram o protagonismo individual e a relevância de ações colaborativas no ambiente corporativo.

O encontro apostou em debates sobre diversidade na liderança, gestão de crises e ética nos negócios e destacou a “microrrevolução”, conceito que incentiva mudanças individuais e coletivas para transformar as práticas empresariais. Casos como a condução de crises e situações de assédio, fortaleceram a importância da transparência, responsabilidade e cultura organizacional. Além disso, foram realizadas ações solidárias, como a campanha “SOS Rio Grande do Sul” e o apoio ao Grupo Primavera, promovendo impacto social por meio de parcerias e práticas éticas.

3ª Reunião Global – GN News
Já em setembro, o telejornal “GN News” abordou compliance, transparência e comunicação eficaz, com a participação de 268 associados. A ação marcou a expansão do G-Summit para novas capitais, o lançamento do Index – pesquisa realizada em parceria com a FecomercioSP – e o programa Looping, que oferece benefícios exclusivos para os associados.

O evento discutiu temas como compliance, tecnologia e transparência na cadeia de suprimentos para o setor, enfatizando a importância de negociações éticas e planejamento estratégico. Profissionais destacaram a necessidade de adaptar políticas às culturas empresariais, usar tecnologias para facilitar processos e promover relações de confiança. Além disso, foram apresentados avanços como os minilabs do LACTE 2025 e novas lideranças da Alagev. 

4ª Reunião Global – 24h no ar
E, em novembro, tivemos o tema de reality show com “24h no ar, o que você faz quando ninguém te vê fazendo?”, que contou com 292 profissionais. O encontro mostrou a importância da reputação e da comunicação de marcas, explorando como ações nos bastidores impactam a percepção do público. Entre as atividades, o painel sobre comunicação enfatizou estratégias para gerenciar crises, valorização da imagem corporativa e o papel dos colaboradores como representantes das organizações. Além disso, uma plataforma digital inovadora possibilitou acompanhar a reunião, votar em novos líderes e explorar conteúdos interativos.

Os debates abordaram o impacto da tecnologia e inteligência artificial na gestão de crises e na reputação corporativa, destacando a necessidade de planejamento e governança. Anunciamos iniciativas como um curso de IA aplicada a eventos, a Missão Empresarial para a Espanha e o lançamento do LACTE20, que celebrará duas décadas de história em fevereiro de 2025. Esses esforços reforçam o nosso compromisso com a inovação e o desenvolvimento do mercado, promovendo conexões estratégicas e disseminando conteúdos relevantes para seus membros.

Análise
Vejo que teremos muitos desafios para colocar em prática tudo o que foi apresentado. A ênfase na “microrrevolução” é inspiradora, porém pode ser insuficiente sem que as empresas assumam um papel mais ativo na implementação de políticas consistentes e monitoráveis. A integração entre inovação e responsabilidade é crucial, mas exige maior alinhamento entre as ações estratégicas e as realidades operacionais das organizações, especialmente em um segmento ainda carente de práticas amplamente padronizadas e transparentes. É essencial que encontros como esses não apenas inspirem, mas também gerem impacto mensurável em toda a cadeia produtiva.

*Luana Nogueira, diretora-executiva da Alagev