Não tenho, e nem quero ter, procuração para defender nenhuma cia. aérea, e tampouco acho que elas precisem, mas o que está rolando no mercado de transporte aéreo de passageiros no Brasil beira o surrealismo.
Talvez por tantos anos de cultura econômica protecionista (leis de proteção e reserva de mercado dessa ou daquela indústria) e intervencionista (diversos planos econômicos, todos milagrosos), nós, brasileiros, temos uma certa dificuldade em lidar, entender ou aceitar a economia de livre mercado.
Ou, pior ainda, aqui no nosso país, a flutuação de preços de um determinado produto ou serviço só é aceita e defendida quando nos beneficia, seja como consumidor (a oferta está grande e o preço caiu) ou como fornecedor de um produto ou serviço que o preço subiu. Nestes dois únicos casos, somos defensores ardorosos do livre mercado, desde criancinhas, mas em todos os demais casos, achamos um absurdo a empresa tal estar ganhando dinheiro em cima de um desequilíbrio, mesmo que momentâneo, da oferta de seu produto ou serviço no mercado.
A moda agora é culpar Gol, Azul e Latam pelo preço da ponte aérea (e outras rotas) terem subido em relação ao mesmo período do ano passado. Ora bolas, se reduziu a oferta de cias. aéreas fazendo essas rotas, o preço da passagem aérea vai aumentar, nada mais natural, direto e automático do que isso, gostemos ou não !
Definitivamente, a culpa não é dessas cias. aéreas, as quais estão simplesmente reacomodando sua oferta em relação aos espaços (de rotas e de preços) que a Avianca deixou pra trás e, portanto, ganhando algum dinheiro com isso. E isso ocorreria se você, eu ou o Paulo Guedes fosse o presidente de qualquer uma das cias. aéreas citadas…
E elas o fazem através de sofisticados softwares que monitoram, praticamente em tempo real, a procura por determinado trecho, a oferta e a precificação da concorrência, o histórico de sazonalidade e a evolução das reservas e emissão de bilhetes para cada voo em relação à ocupação prevista, entre muitas outras variáveis. Não vão agora me dizer então que a culpa é da tecnologia…
Quem tem que se preocupar (e ser responsabilizado) com o equilíbrio entre oferta e procura de um dado segmento econômico é o governo, que tem delegação da sociedade para regular este e todos os demais mercados, neste caso através da ANAC, do Cade, e demais órgãos responsáveis pela livre concorrência.
Cias. aéreas e redes hoteleiras são empreendimentos intensivos em capital e, ambos, de alto risco devido à sua altíssima volatilidade (assento e apartamento vazios são irrecuperáveis). Assim como a hotelaria tem amargado imensa dificuldade desde a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, também as cias. aéreas vivem no fio da navalha, revezando exercícios com balanço vermelho ou azul e basta um aumento no ICMS do combustível (ou uma redução de um estado em relação a outro), para o jogo mudar completamente…
Não é mercado para desavisados.
Ninguém aumentaria os preços se não houvesse quem pagasse e ninguém pagaria, se não valesse a pena pagar. Isso não é ganância, como insistem alguns, pois as cias. aéreas são empresas privadas, com corpo de acionistas que cobram resultados, num mercado em que as tarifas aéreas flutuam livremente, conforme a demanda. Este processo deve ser chamado de livre concorrência.
Deixemos o mercado se reacomodar naturalmente, pela lei da oferta e da procura e, enquanto isso, cobremos das autoridades mais velocidade na desregulamentação e na captação de novos players para participarem deste nosso jogo doméstico.
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As cias. aereas Brasileiras nao seguem os modelos Europeu e Norte Americano, onde as tarifas sao muito baixas e se cobra pelos servicos extras ” ancillaries”, e NAO OS DOIS SIMULTANEAMENTE. As empresas brasileiras ( exceto em parte pela AZUL) nao sao propriamente movidas a lucro, mas sim as vantagens que tem atraves de duopolio. Ninguem em sa conciencia diria que e uma mercado facil, mas quem resolveu se arriscar sabia muito bem dos riscos.
Defendo sim a livre concorrencia mas isso so acontece quando existem mais de 3 cias. aereas em um pais. Talves seus argumentos sejam proprios de um empresario que nao quer saber de riscos e concorrencia.
Prezado Domenico,
Obrigado por comentar, muito bem colocado e concordo plenamente que uma livre concorrência carece uma quantidade de “players” que promovam uma disputa concorrencial.
Acho apenas, e foi o que eu disse, que não são as cias. aéreas que estabelecem quantos “players” concorrerão em seu mercado, mas sim o governo.
Lamento, entretanto, por sua conclusão, típica de quem deseja levar um assunto impessoal para o lado pessoal, o que me surpreende, por você não me conhecer nem a minha história, baseada somente em empreendimentos de risco, da mesma forma que tampouco eu o conheço.
[]’s
Luís Vabo
Vabo, vc acha que que com a autorizaçao para empresas aéreas com capital 100% estrangeiro e tão logo comecem a operar, em poucos anos não existirá mais LATAM, GOL e Azul?
Não acho, Vinicius,
Acho sim que Gol, Azul e Latam poderão receber aportes de investidores estrangeiros, eventualmente de cias. aéreas estrangeiras (como já acontece em escala menor).
São 3 cias. aéreas com suas especificidades e estratégias bem diferentes, mas operam um mercado com gigantesco potencial de crescimento, bastando a economia brasileira destravar (o que todos desejamos e apostamos), para que tenham a oportunidade de alavancar seus resultados, atraindo assim o capital estrangeiro.
Da mesma forma que o governo liberou 100% de capital estrangeiro nas cias. aéreas que operam no Brasil, tudo indica que os céus brasileiros serão abertos para outras cias. estrangeiras, buscando manter o equilíbrio entre oferta e procura, um desafio e tanto em nosso país.
[]’s
Luís Vabo