É O PRINCÍPIO DO FIM

Eu tenho um amigo que, incrédulo com as bizarrices do comportamento humano em tempos de redes sociais digitais, costuma dizer a frase “o mundo acabou e não nos avisaram”.

Pois bem, este início de 2022 está comprovando que meu amigo pode ter razão.

As pessoas perderam a percepção de risco ao seguirem um pseudo-líder (autodenominado “coach”) que leva discípulos (ou seguidores) a subir uma trilha para uma das montanhas mais altas de São Paulo, num dia de forte chuva, com ventos de 110 Km/hora, para pernoitar em sacos de dormir, objetivando literalmente nada…

No final da aventura motivacional, que só não se transformou em tragédia graças aos bombeiros de SP, o mentor ainda endereçou um ensinamento (praticamente inédito): “quem não se arrisca, não chega ao topo”.

Neste caso, o grupo chegou ao topo da montanha para ser melancolicamente resgatado, e provar absolutamente nada.

É o risco pelo risco, totalmente inútil.

O mesmo gosto pelo risco que ceifou dezenas de vidas, porque alguns “experientes” barqueiros consideraram não haver risco algum em ficar próximo de uma montanha de pedra, que visivelmente esfarelava na frente de todos, em Capitólio, MG, gerando uma triste tragédia, amplamente divulgada.

É o risco pela imprudência, muito triste.

Mas a boa notícia é que a pandemia de covid entrou em rota de colisão com a imunidade de rebanho.

Tanta gente vacinada e tanta gente vacinando, que a atuação dos negacionistas (cada vez menos) não tem sido suficiente para superar o esforço da maioria, que acredita que o bem da sociedade é o único caminho para o bem do indivíduo.

As novas cepas, daqui pra frente, parece que serão cada vez mais contagiosas e menos letais, o que nos leva à provável situação de que toda a humanidade será contaminada em algum momento no curto prazo.

Sim, tudo indica que 2022 não será um ano para amadores, mas poderá ser o princípio do fim de nossa agonia coletiva, apesar do desprezo que muitas pessoas demonstram pela vida.

A conferir…

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MEXICO USA PORTUGAL BRASIL

Parece até ostentação, mas após quase 2 anos sem voar para fora do país, neste mês de novembro estivemos em 4 países diferentes (sem contar as conexões).

Apesar do imenso esforço das cias. aéreas para cumprir e fazer cumprir os protocolos de saúde e as diferentes restrições de diferentes governos para a entrada de viajantes em seus territórios, o fato é que voar está ficando muito chato.

E não adianta me recriminarem por afirmar isso, mas justamente por eu ser empresário do setor de viagens e turismo, preocupa-me enormemente a experiência do viajante, seja a turismo ou corporativo.

Por conta da pandemia, apenas para realizar esses voos, tivemos que fazer 4 testes de Covid e apresentar o resultado (juntamente com o certificado de vacinação), no checkin das cias. aéreas (Copa, AA e Azul) e de todos os hotéis em que hospedamos (Meliã Paradisus, Quinta São Bernardo, The Yeatman e Dom Pedro) e, dependendo do país, também em restaurantes e outros estabelecimentos comerciais.

Também tivemos que preencher 4 formulários de auto-declaração do óbvio para entrar em cada país, e ainda tivemos que levar impresso a MP que prorrogou em 1 ano a validade da CNH no Brasil e argumentar muito para convencer as locadoras (Hertz e Europcar) a permitirem a retirada dos carros alugados.

Sem falar no total de 44 horas de voo usando a fatídica (necessária, mas desconfortável) máscara, “cobrindo o nariz e a boca”, mantra sempre lembrado pelas comissárias.

Apesar de tudo isso, não deixaremos de voar, mas, francamente, fico imaginando quantas pessoas estão pensando 2 ou 3 vezes antes de tomar a decisão de entrar em um avião, impactando significativamente os nossos negócios.

E, sim, isso me preocupa muito…

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ULTRACREPIDANISMO

Quando me formei na faculdade de engenharia, a especialização em algum tema era meio caminho andado para ser bem sucedido na carreira, porque o mercado de trabalho, àquela época, buscava especialistas, profissionais que se dedicavam a fazer bem um determinado ofício, fosse qual fosse.

Com o tempo, ser especialista deixou de ser uma vantagem competitiva, o generalista passou a ser o perfil profissional mais valorizado, buscava-se quem entendesse de tudo um pouco, mesmo que, em muitos casos, sem a profundidade que os especialistas atuavam (e ainda atuam).

Hoje em dia o que vemos são generalistas especializados em absolutamente tudo e, diferentemente de épocas anteriores, essas pessoas não buscam ser valorizadas pelas empresas, mas pelos seus seguidores.

Sim, porque o importante não é mais ter uma experiência aderente a empregadores, mas ter um perfil e postagens e atitude aderentes aos seguidores que, aos milhares ou aos milhões, tornaram-se o novo empregador desses novos profissionais, influenciadores digitais, celebridades virtuais, que surgem também aos milhares e milhões nas redes sociais.

“Para manter meu público interessado e crescente, preciso abordar outros assuntos além do meu tema principal”, defendem quase todos os influenciadores digitais, explicando o motivo pelo qual têm que conhecer de tudo um pouco, ou “de tudo um muito”, como acreditam os profissionais, aqueles que transformaram a internet em seu ofício, estudiosos e pesquisadores que são, de todos os assuntos que compartilham.

Chamamos este fenômeno de ultracrepidanismo, ou “o hábito de expressar opiniões ou dar conselhos em assuntos para além do conhecimento do próprio”, conforme descreve a Wikipedia.

Típico de jornalistas e políticos, que sempre tiveram dificuldade em admitir que não conhecem determinado assunto, o ultracrepidanismo tomou uma outra dimensão com as redes sociais, onde todos se julgam um pouco jornalistas, gerando conteúdo, seja através de imagens, notícias, frases ou pensamentos (quase nunca inéditos ou originais) e atuam com um pouco ou muita preocupação política (meu conteúdo deve ter aprovação da maior quantidade possível de seguidores).

Agravado pelo poder do conhecimento que o Google emprestou a todos os seres humanos que se interessem em fazer uma pesquisa mais detalhada sobre qualquer assunto, o ultracrepidanismo vem crescendo numa velocidade avassaladora, gerando uma horda de leigos especialistas em física quântica, doenças psicossomáticas, geometria analítica, nutrologia, pesquisa do cancer, viagens espaciais, psicologia comportamental, veículos autônomos, política e economia mundial, fé e preferência religiosa, inteligência artificial, gestão financeira e de investimentos e, mais recentemente, epidemiologia, entre muitos outros assuntos.

ultracrepidário (neologismo advindo do conceito original) ou ultracrepidante (como alguns acham mais bonito) conhece tudo isso e muito mais, pois julga (e parece esta certo) que todo o conhecimento da humanidade está ao alcance dos dedos, dele e de seus seguidores, sendo fundamental portanto, sua análise oportuna (timing), sua curadoria segmentada (público) e sua capacidade de encantar e fidelizar seus seguidores (talento).

O fenômeno não se limita às redes sociais, o ultracrepidanismo está e sempre esteve presente nas rodas de amigos, nas reuniões familiares, nos bares e botequins, nos clubes, associações e condomínios, em qualquer ambiente com várias pessoas será possível identificar um legítimo representante deste comportamento.

Não há aqui propriamente uma crítica, mas um alerta para que se selecione bem onde obter conhecimento (ou consumir conteúdo), filtrar opiniões e exercitar a pesquisa, a análise e a formulação de visões próprias sobre qualquer assunto, afinal, todos podemos conhecer um pouco de tudo, e a internet, de uma forma geral, e as redes sociais, em especial, nos proporcionam essa possibilidade infinita a um custo virtualmente zero.

O segredo continua, como se diz há milhares de anos, na capacidade do indivíduo de separar o joio do trigo…

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