ANTES TARDE DO QUE NUNCA…

A ANAC acordou…

Conforme o Panrotas noticiou, a ANAC acordou e publicou a Resolução 401, de 13/12/2016, que regulamenta o que ela mesma já havia regulamentado em outra Resolução, a 138, de 09/03/2010, publicada no DOU No. 48, S/1, páginas 13 e 14, em 12/03/2010…

Veja a matéria do Artur: Cartão de embarque terá de mostrar valor da tarifa

Resumindo: “Os cartões de embarque, emitidos pelas companhias aéreas no momento do check-in, devem trazer impresso o valor da passagem aérea paga pelo passageiro e devem permanecer em poder do cliente depois do embarque”.

Parece que foi ontem que levantei aqui uma bandeira (que não é minha, mas da maioria absoluta dos agentes de viagens que trabalham de forma séria) contra a maquiagem de bilhetes, que chamei de “make up”, apenas para fazer um jogo de palavras com o processo de “mark up” das operadoras de turismo, apesar de serem completamente distintos, na forma e no propósito.

Relembre esse post: Seu sistema faz mark-up ou make-up de bilhete? (você sabe do que estou falando)…

Há que se fazer aqui um esclarecimento sobre a diferença entre esses dois conceitos:

1 – Mark up de uma operadora de turismo é um valor aplicado sobre a soma das tarifas líquidas dos diversos serviços contratados dentro de um pacote turístico. O cliente, neste caso, não adquire um bilhete aéreo, mas um pacote turístico, que inclui dois ou mais serviços, cuja precificação final cabe à operadora.

2 – Make up de um bilhete aéreo é uma forma de fraudar o consumidor, através da informação de um valor de passagem aérea majorado artificialmente, via sistema, de forma a parecer que o preço informado (e maquiado) é a tarifa informada pelo sistema da cia. aérea. O cliente, neste caso, adquire um bilhete aéreo por um preço que acredita ser o da cia. aérea, mas que foi maquiado para um preço maior.

Por isso, relativamente à exposição do valor da tarifa aérea no cartão de embarque, não há porque se preocupar com “questionamentos equivocados e desnecessários ao segmento”, uma vez que a transparência da informação, no médio prazo, vem sempre em benefício da relação comercial justa e equilibrada.

Esta medida, tão simples de ser implementada, coibirá a prática abusiva da maquiagem de bilhetes, especialmente perniciosa aos clientes corporativos, “heavy users” de sistemas OBTs, nem sempre (ou nem todos) blindados contra a parametrização desta prática insidiosa e fraudulenta.

Acredito que esta fraude esteve na raiz da decisão (equivocada no meu entendimento) do Ministério do Planejamento implantar a tal da central de compras, que tenta “by-passar” o agente de gestão de viagens corporativas, conforme abordei aqui no Blog em 2014.

Veja também: O que levou o governo a querer evitar as agências de viagens

O fato concreto é que há algo de novo nos céus brasileiros além dos aviões de carreira (e não é só a cobrança por bagagem destacada do preço da passagem aérea).

O tempo, que é o senhor da razão, confirmará isso…

.

GOVERNANTES RICOS E GOVERNADOS POBRES

“Uma versão criminosa de governantes ricos e governados pobres”

Cada decisão do juiz Sergio Moro merece ser lida na íntegra, tal a simplicidade e objetividade de seus argumentos que produzem verdadeiras obras de arte do pensamento jurídico.

Assim como todos os brasileiros, venho acompanhando a trajetória de Moro, sigo suas redes sociais e de sua esposa, focadas que são na missão que ele voluntariamente assumiu, contra tudo e contra todos os poderosos, mas a favor do bem comum.

Todos os seus textos são técnicos, isentos e nitidamente buscam o espírito da lei, além de serem embebidos do propósito de fazer justiça, objetivo final do trabalho de um juiz (nem sempre observado em outras decisões de outros magistrados) e foi do texto de sua decisão, sobre a prisão preventiva do ex-governador Sergio Cabral, que retirei o título deste post.

Cada decisão sua é um alento ao povo brasileiro que deseja, há muito tempo, viver num estado genuíno de direito, aquele em que o poder exercido é limitado pela ordem jurídica vigente, que dispõe sobre a forma de atuação do Estado e sobre as garantias e direitos dos cidadãos.

Indo direto ao ponto, no verdadeiro estado de direito, nenhum indivíduo está acima da lei, independentemente de seu poder político, econômico, intelectual ou social, mas não é isto o que temos visto no Brasil, em que políticos e poderosos não somente roubam escancaradamente e avançam sobre o patrimônio público, como debocham e tripudiam do povo, da imprensa, da sociedade de uma forma geral…, e nada era feito.

Simplesmente convivíamos com isto, como os súditos de um sistema feudal, a quem cabe trabalhar para sobreviver, produzir para o bem da sociedade e contribuir com impostos para o sustento dos (milhares de) amigos do Rei e a casta de bajuladores que vivem à sua sombra.

Esperamos todos que a carreira de Sergio Moro seja longa o bastante para inspirar e multiplicar dezenas, centenas ou milhares de Sergios Moros por todo o Brasil, pois somente com a multiplicidade da correção, imparcialidade e respeito à letra fria da lei, nas diversas esferas da justiça, é que conseguiremos efetivamente passar o Brasil a limpo, trabalho que exige um exército de juízes probos, íntegros e com este mesmíssimo nobre propósito, e tudo isto ao mesmo tempo.

Eu acredito.

A prisão do ex-governador Anthony Garotinho explicitou um inacreditável roubo do dinheiro público camuflado por um projeto social eleitoreiro.
A prisão do ex-governador Anthony Garotinho explicitou um inacreditável roubo do dinheiro público camuflado em um projeto social eleitoreiro.
A prisão do ex-governador do Estado do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, encerrou um ciclo de deboche e escárnio do ex-político com o dinheiro do povo.
A prisão do ex-governador do Estado do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, encerrou um ciclo de deboche e escárnio do ex-político com o dinheiro do povo.
prisão do ex-presidente da Câmara Federal, deputado cassado Eduardo Cunha, comprovou que ninguém está acima da lei
A prisão do ex-presidente da Câmara Federal, deputado cassado Eduardo Cunha, comprovou que ninguém está acima da lei

.

NÃO PERCA TEMPO COM EMPREENDEDORES DE PALCO

Está cheio por aí…

É incrível como o empreendedorismo evoluiu ao longo dos anos, recebeu a atenção e a formatação de diversos autores, ensaístas e palestrantes, especialistas que transformaram o que era um talento (montar um negócio) em uma ciência (empreender).

Ninguém mais quer ser empresário, termo arcaico que absorveu as manchas deixadas por maus empresários do passado e do presente, hoje todos querem ser empreendedores, expressão nova que denota quase um ser superior, ligado a um propósito, muita determinação e espírito de liderança…

Tal e qual a internet, dada a sua precocidade ainda não pode-se falar em história do empreendedorismo como ciência (aliás não é unanimidade que seja uma ciência), mas a trajetória do estudo do empreendedorismo e sua aplicação na vida profissional já afeta centenas de milhões de jovens em todo o mundo, atraídos pela mosca azul do que os americanos chamam “entrepreneurship”.

Da mesmíssima forma, não se monta mais uma empresa, o certo é fundar uma “startup”… afinal, o próprio termo já denota uma certeza de crescimento, de arranque, de aceleração, avante e pra cima, bem diferente de quando se “abria uma firma”…

As histórias de empreendedores de sucesso habitam o imaginário de 10 em 10 jovens universitários. Todos querem ser um novo bilionário e acreditam que podem fazer isso sem esforço...
As histórias de empreendedores de sucesso habitam o imaginário de 10 em 10 jovens universitários. Todos querem ser um novo bilionário e acreditam que podem fazer isso sem esforço…

O fato é que empreender virou moda, é “cool”, desejo de 9 em 10 formandos de administração, computação e engenharia de produção, entre outras carreiras, a tal ponto que já existe uma legião de gurus do empreendedorismo, palestrantes, blogueiros, profissionais que literalmente vendem (e se vendem) as nobres virtudes do espírito empreendedor.

São os novos gurus da autoajuda, geralmente profissionais “em momento de transição”, que ministram “coaching” para executivos, palestram em eventos corporativos, escrevem livros e ebooks, mantêm redes sociais bem movimentadas (com seguidores tão fanáticos quanto críticos), moderam foruns de discussões, realizam mentorias e, seguramente, são blogueiros especializados no tema em que se destacaram para o mercado, devido à sua alegada experiência empreendedora bem sucedida.

Da mesma forma que, no passado, surgiram muitos consultores corporativos sem qualquer experiência corporativa, também já começam a surgir, hoje em dia, os chamados “empreendedores de palco”, que são aqueles profissionais que se agarram à causa empreendedora e, mesmo sem uma relevante trajetória empresarial, conseguem se destacar em palestras, entrevistas, eventos, mídias socias etc., a partir do uso rebuscado da retórica empreendedora (sim, já existe isso).

O empreendedorismo de palco é um fenômeno social relativamente recente, tendo sido identificado, entre outros, por autores como Ícaro de Carvalho e Bob Wollheim e tem na palestrante brasileira Bel Pesce a imagem mais difundida, uma quase celebridade no tema, pela forma como construiu (ou formatou, ou inflou, ou inventou) a sua “trajetória empreendedora”, hoje completamente desconstruída por diversos autores, como Izzy Nobre e Felipe Machado, da Veja.com. Acho que ambos foram um tanto injustos na forma como personificaram nesta moça um fenômeno que não é exclusividade dela e já arrasta uma legião de prolixos seguidores, que já se organizam para fundar a ABRAEMP – Associação Brasileira dos Empreendedores de Palco.

Capacitação é fundamental, mas o exagero na curiosidade e no interesse por casos de sucesso de empreendedores gera a mais pura perda de tempo, na contramão do verdadeiro espírito empreendedor
Capacitação é fundamental, mas o exagero na curiosidade e no interesse por casos de sucesso de empreendedores gera a mais pura perda de tempo, na contramão do verdadeiro espírito empreendedor

O mais incrível é que está crescendo um novo mercado de cursos e palestras, online e presenciais, onde profissionais que montaram negócios reais vão tomar lições de empreendedorismo com pessoas que nunca abriram um CNPJ e sequer têm alguma experiência gerencial que mereça ser ouvida, uma verdadeira sucessão de frases feitas, típicas de autoajuda, uma após a outra, e nenhum “insight” ou qualquer dica relevante para quem está interessado em empreender ou progredir no seu negócio.

Incrível como a história se repete e sempre existirão seguidores para todo tipo de embuste.

.