IATA BUSCA CONTROLAR DISTRIBUIÇÃO COM NDC

IATA busca controlar distribuição com NDC.

Na segunda vez que analisei o NDC aqui no Blog B2BTech, citei o cronograma inicial divulgado pela IATA na época, com o prazo de 5 anos para implementação do NDC, mas também “chutei” que a adesão das cias. aéreas levaria pelo menos 10 anos !

Abordamos o NDC aqui no B2BTech desde 2013

Pois não é que o NDC (New Distribution Capability) completou 10 longos anos no mês passado, foi em março de 2013 que a IATA apresentou solicitação ao Departamento de Transportes dos EUA (DOT) para aprovação da Resolução 787 da Conferência de Serviços de Passageiros sobre o padrão técnico básico para o NDC (que nada mais é do que um padrão de mensagem XML), para atualizar o padrão pré-Internet existente.

Pouco mais de 2 anos depois, em dezembro de 2015, o sistema Reserve lançou uma integração com o recém desenvolvido sistema NDC da American Airlines, que permitiu à Copastur emitir o primeiro bilhete aéreo no padrão NDC nas Americas, alguns meses antes do que os próprios desenvolvedores do padrão NDC, demonstrando, na época, que o NDC é viável e que veio para ficar: COPASTUR, RESERVE E AA EMITEM 1o. TKT NDC NAS AMERICAS

Hoje já não é mais novidade pra ninguém que o padrão NDC foi concebido pelo IATA para que as cias. aéreas retomem o controle estratégico da distribuição de seus serviços, nas mãos dos GDS (Global Distribution Systems) há pelo menos 40 anos, mas ninguém também tem dúvidas de que os GDS estão e continuarão no jogo da distribuição, especialmente se conseguirem reduzir substancialmente seu custo por segmentação para as cias. aéreas.

Nesta primeira década de existência do NDC, todas as cias. aéreas que aderiram na prática ao novo padrão, referem-se à esta decisão como uma “estratégia para agregar valor à oferta de serviços e gerar mais qualidade na experiência dos clientes”, o que pode vir a ser a mais pura realidade, dependendo de quem seja o cliente, se a agência de viagens, o passageiro final ou a empresa pagante (no caso de bilhete corporativo).

Fato é que a LATAM é a primeira cia. aérea com forte capilaridade doméstica e internacional no Brasil que promete inaugurar seu sistema de reservas no padrão NDC já na próxima semana, se tudo der certo, no dia 1o. de maio de 2023, data que poderá marcar o início de uma mudança radical na forma como os clientes interagem com as cias. aéreas, que poderá impactar profundamente o mercado de viagens e turismo no Brasil. Ou não…

Há mesmo muito mais coisas em jogo na opção pelo padrão NDC, do que parece à primeira análise, mas este jogo mal começou.

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AIR-SHOPPING, MERCADO, PURO E-COMMERCE

A Resolução 400 da ANAC apenas antecipou uma tendência no Brasil, que já é realidade nos EUA e Europa há alguns anos: a venda do serviço de transporte aéreo de bagagem como acessório ao transporte aéreo do passageiro.

Parece que foram uma panaceia estes últimos meses, todos preocupados se os sistemas de distribuição estariam preparados para cumprir a resolução da ANAC.

Eventualmente com alguma exceção, de uma forma geral as cias. aereas com direct connect, os GDSs, as OTAs, os OBTs e demais sistemas integradores já entregaram ou entregarão suas soluções para franquia de bagagem, antes ou logo após o prazo definido pela agência reguladora, nenhuma surpresa nisso.

O verdadeiro desafio será dar vazão à criatividade das cias. aéreas na elaboração de diferentes modelos de negócios, para a venda das famílias de tarifas (ou “branded fares”) com múltiplos serviços adicionais agregados em pacotes com preços diferentes, que poderão variar ao sabor da oferta e da procura.

Oferta de serviços acessórios será diferencial competitivo entre as cias. aéreas

Outro desafio será a venda de serviços acessórios em momento diferente do ato da reserva ou da emissão do bilhete, abaixo exemplificado para a venda de despacho de bagagem, mas aplicável para qualquer outro serviço adicional ao transporte aéreo:

1 – Compra do despacho de bagagem no ato da reserva aérea:
1.1 – Serviço incluído na tarifa aérea (branded fare)
1.2 – Serviço acrescentado à tarifa aérea (air-shopping)

2 – Compra do despacho da bagagem após a reserva e antes da emissão do bilhete aéreo.

3 – Compra do despacho da bagagem após a emissão do bilhete aéreo e antes do checkin.

4 – Compra do despacho da bagagem no ato do checkin.

Para cada um desses cenários, cada cia. aérea deverá acrescentar a análise sistêmica de questões relacionadas à disponibilidade de espaço, previsão de ocupação, balanceamento de carga para cada voo, entre outras variáveis.

Serviços acessórios são poderosa fonte de receita para as cias. aéreas em mercados mais maduros

Associado ao yield management, isto levará à loucura os sistemas de distribuição, que ainda têm a missão de traduzir os mais variados modelos em uma linguagem única, padronizada e comum a todas as cias. aéreas, independentemente de seu hosting, canais de distribuição ou modelos de negócios.

São justamente momentos como este que nos fazem sentir falta de padronização nos sistemas de distribuição das cias. aéreas.

Por essas e outras, penso que o NDC é a melhor aposta possível…

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ASSOCIAÇÃO NÃO PODE TER DONO…

O texto abaixo foi publicado há 7 anos, em 18/06/2010, no Blog Distribuindo Viagens e soa atualíssimo como uma resposta à pergunta do título do post do Artur “De quem é uma associação?”

ASSOCIADO X SÓCIO

Embora ambos os termos possam ser resumidos como o “integrante de uma associação ou sociedade”, há algumas importantes diferenças em nossa cultura e, em especial no Brasil, entre um Associado e um Sócio.

Associado, segundo explica a Wikipedia, é o integrante de uma organização resultante da reunião legal entre duas ou mais pessoas, com ou sem personalidade jurídica, para a realização de um objetivo comum.

Sócio, ainda segundo a Wikipedia, é um indivíduo que divide ou tem despesas e os lucros com outros, em projetos comuns de índole associativo ou empresarial.

Considerando o código civil brasileiro (“Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos”), deduz-se que a principal diferença entre o Associado e o Sócio são os fins econômicos, ou não, da organização que ele integra.

Como uma empresa é constituída por uma sociedade com fins lucrativos, é fácil compreender a discrição necessária nas decisões tomadas entre os sócios, uma vez que a eventual divulgação destas decisões poderá impactar nos resultados financeiros planejados.

Com relação a uma associação formada sem fins econômicos, entendo que estas decisões devem ser, tanto quanto possível, transparentes, abertas e diretas, características sem as quais a associação distancia-se de seu conceito.

Numa associação é possível (em muitos casos, desejável) que sejam utilizadas práticas de gestão e de governança típicas de empresas, entretanto sem jamais esquecer o espírito do associativismo.

Numa empresa, os sócios estabelecem as diretrizes e comandam a organização, assumindo seus riscos, eventuais ônus e bônus, pois são os “donos” da empresa, estando clara a relação capital X trabalho entre eles e os colaboradores da sociedade.

Numa associação, por caracterizar-se pelo voluntariado, como instrumento da satisfação das necessidades individuais dos seus integrantes, não há “donos” e inexiste a relação capital X trabalho entre seus integrantes.

Todos são associados, absolutamente iguais perante o estatuto, que nada mais é do que uma espécie de “contrato social”, um conjunto de regras que orientam e regem a atividade da associação naquilo que o código civil não legisla especificamente, uma vez que este está acima daquele.

Numa empresa, há uma hierarquia claramente estabelecida e sabe-se, desde o primeiro dia de trabalho, quem preside, quem dirige, quem gerencia, quem coordena, quem supervisiona etc. etc.

Numa associação, a hierarquia máxima está no todo, no conjunto completo dos integrantes, já que a assembléia dos associados está acima da estrutura organizacional, que é por ela estabelecida através do voto.

O conjunto de associados é a instância máxima de decisão de uma associação, mas não é seu dono

Por isso, em uma associação, há que se debater, negociar e convencer, exercitando o chamado “espírito democrático” e este é seu melhor aspecto, pois a pluralidade de ideias enriquece as decisões e as ações.

Dá trabalho, mas costuma valer a pena.

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