A semana que passou foi marcada pelas comemorações do dia do desembarque, o dia D.
Dia 6 de junho 1944, duzentos de cinquenta mil soldados desbravaram a costa da Normandia, para libertar a Europa do mais devastador e ditatorial sistema político e de exterminação em massa jamais inventado: o nazismo. Mais de dez mil homens deixaram suas vidas nas areias dessas praias francesas em um só dia sob as balas do inimigo nazista.A cada queda uma história de vida curta, uma morte súbita e muito, muito heroísmo.
Este ano mais de oitocentas mil pessoas vindas de todo mundo juntaram-se a população local da região do Calvados para relembrar a data e homenagear seus heróis. Vinte entre as vinte e três cerimônias oficiais ocorreram no Calvados. Mais de 50 000 pessoas assistiram a estas 23 cerimônias oficiais. 8000 pessoas participaram da cerimônia internacional em Ouistreham, 8000 da cerimônia franco-americana no cemitério americano em Colleville-sur-Mer, 5000 da cerimônia franco-britânica em Bayeux, 4000 da cerimônia franco-canadense em Courseulles-sur –Mer,
Além disso, 1.100 eventos foram organizados durante quatro dias consecutivos. A queima de fogos de artifício em 24 lugares distintos da costa atraiu cerca de 100.000 pessoas dia 5 de junho à noite. 50.000 espectadores aplaudiram a patrulha da França em Arromanches no sábado dia7 de Junho e 80 000 pessoas foram domingo a Fière no Canal da Mancha, para ver os saltos de 950 pára-quedistas. Por fim, 20 mil pessoas participaram do desfile Tatoo da Liberdade, no centro de Caen domingo.
Enquanto isso em Paris, após o trabalho, já no conforto do apartamento, a televisão moía e remoía a Shoah* com documentários, filmes, reportagens. Nunca ouviremos o suficiente sobre, não somente os horrores ocorridos durante, mas também a reconstrução do mundo após tão fatídico momento que foi a Segunda Guerra Mundial. Você sabia que a distribuição de sementes agrícolas mundial está nas mãos de cinco empresas, das quais pelo menos duas são oriundas de IG Farben** na Europa e que Monsanto, nos EUA, se desenvolveu na mesma época graças à “nécrotecnologia” química e ao agente laranja? Meu Deus…
…voltemos para a Normandia.
Lendo sobre as festividades e tanta emoção, fiquei me perguntando por que não fui com minha família. Meu filho de dez anos teria adorado! Acompanhei pela televisão e pelo facebook de um dos poucos brasileiros que conheço que estava por lá.
Então pensando bem cheguei à conclusão: não fui por que a região está há uma hora e trinta de Paris e por que passo com frequência férias por lá. Porque dividir o espaço com tanta gente quando já pude descobrir e sentir estas mesmas emoções com calma, com uma espécie de serenidade que releva do respeito, de tristeza misturada com solenidade? Sentimentos profundos e sinceros que embora jamais esquecidos são rapidamente suavizados pelas belezas naturais, gastronômicas e arquitetônicas da região.
Pouco conhecida por brasileiros, a costa da Normandia é repleta de vilarejos de pescadores datando da idade média e foi importante ponto estratégico durante a Guerra dos Cem Anos. Lugares como os modestos vilarejos Honfleur e Villerville desfrutavam da predileção de pintores impressionistas graças a suas belezas naturais, sua luz e ao mar.
Já Napoleão e Napoleão III fizeram em Deauville, e em toda essa região costeira, luxuosas estações balneárias para a nobreza e burguesia de sua época.
Belas paisagens verdejantes, o melhor doce de leite da França, biscoitos amanteigados, peixes e frutos do mar em abundância, arquitetura rica e diversificada, são algumas das atrações da Normandia que podem também ser apreciadas enquanto lembramos o heroísmo dos soldados aliados que nos permite desfrutar de todos os atrativos locais com tanta paz e alegria nos dias de hoje.
*Shoah Os judeus preferem usar essa expressão ao invés de Holocausto porque é originária do seu idioma e significa calamidade, aniquilação. Holocausto, por sua vez, possui um significado relacionado com a prática da expiação de pecados por incineração, o que perpetua o antissemitismo. É exatamente nesse ponto que se apoia o argumento para o uso do termo Shoah, já que a prática nazista foi um genocídio, e não um sacrifício a Deus.
**A proposito de IG Farben, fabricante de Zyclon B, pesticida e gás de extermínio. Citação”O cartel da Farben surgiu em 1926, quando Hermann Schmitz criou a empresa química supergigante a partir de seis companhias alemãs, que já eram gigantes… Vinte anos depois, o mesmo Hermann Schmitz foi julgado em Nuremberg por seus crimes de guerra cometidos pelo cartel I.G. Farben. Outros diretores da I.G. Farben também foram julgados, mas os afiliados americanos da I.G. Farben e os diretores americanos da própria I.G. foram caladamente esquecidos; a verdade estava enterrada nos arquivos.” (Wall Street and the Rise of Hitler, Sutton, pg 33).
A IG Farben consistia das principais empresas: AGFA,Casella,BASF,Bayer,Hoechst,Huels,Kalle e outras menores.
merveilleuse histoire de cher ami Silvia Helena, félicitations riche
journaliste
Querido Anderson,
Obrigada pela sua participaçao. A Normandia é como a “nossa praia”. ja que o sul da Franca tem orgulho de Nice, Monaco, St Tropez, para os parisienses este é o “point”.
Parabéns, Silvia, bela matéria!
Tive a oportunidade de conhecer essa região, tão rica de historia, sobretudo as Praias do Desembarque, o Cemitério Americano e o Cemitério Alemã….realmente uma região que vale à pena conhecer!
Abçs
*Alemão
Juliana
Gosto da grande variedade de atrativos, que vão além dos eventos ocorridos durante a Segunda Guerra.
Obrigada pela participação.