Como eu sempre digo, Paris tem turismo e histórias para todos os gostos. Além dos Reis Malditos, muita gente bendita andou por aqui.
Poucos pensam em explorar turisticamente o caráter religioso da cidade e, no entanto, nada me aproximou mais de certos personagens religiosos conhecidos em minha infância que viver em Paris. Não que eu tenha sido muito religiosa, mas quem nunca ouviu falar de uma instituição de caridade chamada São Vicente de Paulo? Aliás, você sabe por que há tantas instituições com este nome no mundo? Quem nunca ouviu falar de Santa Terezinha de Jesus, ainda que em uma canção infantil?
Mesmo aqueles turistas que vêm hoje e pedem para conhecer Lisieux, lugar onde nasceu Santa Tereza em 1873, muitas vezes desconhecem que a pequena santa era devota de Nossa Senhora das Vitórias e que a ela rendia graças na basílica do mesmo nome localizada no centro de Paris, no distrito 2. Graças a uma novena que mandou rezar seu pai na Basílica de Notre Dame des Victoires, Terezinha teve visões da Nossa Senhora e encontrou cura e alivio para uma doença que a assolava.
Lugar de alto culto “Tereziano”, a Basílica Notre Dame des Victoires mantém viva a chama da criança que foi devota de sua santa padroeira e nela encontrou inspiração. Todos os anos, no mês de maio a basílica recebe as relíquias de Santa Tereza para a adoração e realiza uma novena com o tema “A Família”. As paredes do lugar são cobertas com mais de 37000 ex-votos em mármore com agradecimentos a Nossa Senhora, inclusive dois ex-votos com palavras da própria Terezinha.
Já São Vicente de Paulo, teve uma vida fascinante antes de se juntar à corte da rainha Margot. Vítima de um naufrágio em um navio mercante, prisioneiro durante anos na Tunísia, fugiu e chegando na França logo integrou uma comitiva papal. Já não bastasse a sorte, foi escolhido pelo papa para levar uma mensagem à Paris para rainha Margot, filha da falecida Catarina de Médici, onde ficou a seu serviço. Foi com o dinheiro da rainha que o padre Vicente começou a fazer caridades. Margot ficou conhecida na história como uma jovem princesa desvirtuada, Catarina, sua falecida mãe, como supersticiosa e má, então eu me digo que a soberana tentava reparar a situação, seja a da população , seja da própria família junto a Deus, através do dinheiro que dava ao padre Vicente e aos pobres.
E assim, com algumas freiras, o Padre Vicente inventou a primeira instituição de caridade do mundo que chamou de “Les Filles de la Charité”! Muitos lugares da cidade têm lembranças de São Vicente, como a Igreja Saint-Eustache perto do Halles de Paris, onde viveu. Sem duvida a mais importante lembrança de São Vicente está na capela dos Lazaristas ou de São Vicente onde o próprio santo se encontra exposto em seu ataúde de ouro. Aliás, situa-se logo ao lado da Igreja da Medalha Milagrosa, outro ponto importante para os católicos do mundo inteiro.
A Capela da Medalha Milagrosa é o maior lugar de peregrinações internacionais de Paris. Neste lugar em 1830 a Virgem Maria apareceu à Santa Catarina de Labouré, uma noviça das “Les Filles de la Charité”, para apresentar-lhe a idéia de criação uma medalha protetora. Segundo as irmãs que mantêm o lugar “o simples objeto, destinado a todos sem exceção, resume, pelo seu rico simbolismo, os mistérios da fé cristã”.
Conta a história que quando estoura em Paris, em fevereiro de 1832, uma epidemia de cólera, fazendo mais de 20.000 mortos, as Filhas da Caridade começam a distribuir as primeiras medalhas. As curas multiplicam-se, assim como os sinais de proteções e conversões. O povo de Paris chama então a medalha de “milagrosa”.
Conhecido pátio dos milagres de Paris, a Igreja da Medalha Milagrosa recebe ainda hoje peregrinações de milhares de devotos e segue concebendo sua graça aos cristões e turistas que levam sua medalha para casa.
Estes são alguns personagens do meu imaginário infantil e religioso com os quais tenho impressão de conviver “virtualmente” desde que vivo aqui.
Há também, São Luiz, rei da França, organizador de cruzadas e responsável pelo acesso aos cristãos ao tumulo do Cristo durante a idade média.
E é claro, Santa Genoveva, criança riquíssima que fez voto religioso aos nove anos e tornou-se a solteira mais abastada e carola da cidade no século V. Em 451 dc, aos 28 anos, Genoveva salvou a cidade do devastador Atila rei dos Hunos, e mais tarde de Clovis-o-franco a quem converteu e corou como primeiro rei cristão da França em 481.
A própria Genoveva era devota de São Dionísio, catequizador e primeiro bispo de Paris decapitado pelos romanos em Montmartre, que teria corrido oito quilômetros com a cabeça na mão. No lugar onde caiu São Dionísio em 250 dc, Genoveva duzentos anos depois construiu um oratório, que se tornou o sepulcro de todos os reis franceses, a magnífica Basílica Saint Denis. Inclusive a decapitação de São Dionísio marcou o início do declínio do Império Romano na região e 100 anos mais tarde Lutèce passou a chamar-se Paris.
Um só post não será suficiente para falar de todos os santos ou personalidades divinas de Paris, de São Dionísio, passando por Santa Tereza, São Martinho até Alan Kardec, como eu disse no inicio do post, há para todos os gostos e até mesmo crenças.
PS
Catarina de Médici -rainha regente viveu de 1519 a 1589, hipóteses lhe acusam de ser a mandante do massacre da São Bartolomeu
Parisis-tribo gaulo-celta habitante na região 200 anos antes de Cristo.
Para todos aqueles que acreditam em um ser divino,brilhante materia.