Você deve ter ouvido falar de Paris e da França nesta última semana mais do que ouviu em toda sua vida. E apesar de tantas imagens e trabalho jornalístico é difícil transmitir a febre “Je suis Charlie” que assolou o país.
Mas quem é Charlie Hebdo? Sua história começa em 1960 com a fundação por Georges Bernier e François Cavanna da casa de edições Hara-Kiri e do jornal satírico do mesmo nome. Com L’Hebdo Hara-Kiri um grupo de jovens jornalistas começa a militar contra tudo que possa levar a qualquer tipo de alienação: radicalismo de direita, assim como de esquerda, radicalismo religioso, o catolicismo, o islamismo, o judaísmo, a classe politica francesa, idéias econômicas ultrapassadas, enfim, ninguém fica ileso. Durante sua existência L’Hebdo Hara-Kiri foi interditado várias vezes. Inclusive o primeiro Charlie Hebdo nasceu como astúcia para driblar uma destas interdições do Hebdo Hara-Kiri .
Assim sendo, desde sua criação, o jornal semanal se ataca livremente a todos sem defender uma linha única de pensamento e provavelmente por esta mesma razão tem seu percurso pontuado de interdições, de pequenas desavenças internas e demissões até seu fechamento em 1981.
Em 1992, os jornalistas e cartunistas Philipe Val, Cabu, Wolinski e Gebé, ex colaboradores de Hara-Kiri, criam a casa de edições Les Éditions Kalachnikof e relançam o jornal Charlie Hebdo. Desta vez, como proprietários majoritários e em companhia de colégas como Cavanna, Siné, Charb, Tignous, Honoré, os bons tempos de militância jornalística estavam de volta.
Esses homens resolveram lutar com humor e lápis em punho contra a estupidez humana e com sua militância corajosa e impudica já haviam ofendido quase todo mundo por aqui.
Os nomes de suas casas de edições (uma primeira Hara-Kiri e a segunda Kalachnikof) deviam-se a escolhas humorísticas, mas há quem diga que até para entender humor é preciso ser inteligente. Aliás, quais não são as outras qualidades humanas necessárias para um Ser rir de si mesmo? Ou ainda, questionar suas crenças sejam elas quais forem?
Artur, será mesmo que não devemos escrever sobre religião?
Polêmicas a parte, conto a trajetória de Charlie Hebdo para matar uma eventual curiosidade que considero natural por parte do leitor. Porém reitero, sem diminuir a tristeza e gravidade das 17 mortes em 2 dias, destes eventos o que mais me marcou foi o civismo, a fantástica reação do povo para defender os valores chamados “Republicanos”.
Fiquei também impressionada com o tamanho da maquina estatal antiterrorismo. Vindo à Paris não se assuste com a vigilância intensa. O plano Vigipirate existe há mais de vinte anos e a presença de policiamento assegura os habitantes. Por isso não se preocupe, pode vir ou enviar turistas sim. Infelizmente há mais violência através do mundo, sobre a qual não escutaremos hoje na televisão, do que há por aqui.
Charlie Hebdo está sendo produzido nos locais do Jornal Liberação e será publicado nesta quarta-feira dia 14 de Janeiro em três milhões de exemplares. Na capa um personagem que pode ser identificado como o profeta Maomet segura uma placa na mão “Je suis Charlie” e o titulo acima é a frase Tudo Esta Perdoado.
Capa Charlie Hebdo desta 4° feira, 14 de Janeiro 2015_ Jornal Liberation
Ah! Muitas outras coisas acontecem por aqui: As grandes liquidações de inverno, por exemplo, já começaram e vão até dia 17 de fevereiro. Imperdíveis!
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