Para não falarmos mais sobre isso!
Confesso que durante alguns dias tive fobia ao pensar em escrever este post. Tive a impressão que haveria alguma expectativa por parte dos leitores em relação ao tema. Escrever a propósito dos atentados me parecia especulação sobre a morte alheia, escrever sobre algo maravilhoso que temos aqui, me parecia falta de respeito. Mesmo porque, quanto aos atentados, a Globo e a mídia mundial exploraram suficientemente a questão. Diante de tal instrumentalização, não pude deixar de me perguntar: porque falar tanto dessas vítimas se nunca falamos de outros milhares de vítimas do Estado Islâmico na África? Ou dos que sofrem com a violência cotidiana no Brasil?
Pelo menos ficou claro que o Estado Islâmico é um grupo constituído por loucos que luta em prol da xaria? Antes de tudo, quem sabe o que é o Estado Islâmico? E Xaria?
Quanto à questão da famosa grande guerra, a qual os mais alarmistas estão anunciando, fica a nova: A França tem tropas de suas forças armadas em vários países africanos em guerra contra o Estado Islâmico, sobretudo naqueles países que dispõem de recursos naturais cobiçados mundialmente. Às vezes a guerra é contra o Daesh ou Boko Haram, às vezes contra um ditador “perigoso”. No caso da Síria, que está no Oriente Médio e não na África, contra ambos: o Estado Islâmico e o ditador perigoso, Bachar el-Assad. A guerra anunciada pelo François Hollande já existe há anos, ele só quis enfatizar que, uma vez um ato bárbaro deste perpetrado em solo Francês, a guerra ganhou mais um patamar. Se atacando ao berço da liberdade e igualdade, a guerra pelos recursos naturais que vem sido travada na África trata-se, agora também, de uma guerra ideológica. Tudo conversa fiada, discurso para comover a opinião pública local, para impressionar pseudo-terrorista francês e infelizmente demasiado sútil para a CNN ou a Globo entenderem.
Até então, na África e em alguns países do Oriente Médio, sobre pretexto religioso, grupos armados tentam controlar as riquezas locais. Povos manipulados estão lutando entre si para saber se a mulher deve usar burca e luvas ( como os Salafistas, por exemplo) ou só véu ( como os muçulmanos conservadores), se o povo pode rir e dançar ou não, beber álcool ou não, ir à escola ou não. De certo, François não achava estas questões ideológicas tão importantes quando legiferadas à machadadas em territórios alheios e como todos os governos franceses, sempre manteve o foco nos famosos recursos naturais, real causa das divergências.
Voltemos para a França, porque não tenho a pretensão de explicar esta história em um parágrafo e não é nosso foco. Quanto ao estado de emergência decretado por Hollande, complicou mais ainda a CNN e a Globo. O estado de emergência permite a policia intervir junto a suspeitos de maneira mais eficiente, sem trâmites burocráticos demasiado longos e democráticos para a situação. O que significa: hora da limpeza nas periferias sem liminar ou mandato. Não há toque de recolher, não há sirenes, não há risco eminente de ataque armado. Tudo está bem.
Por fim, para não falar mais nisso, faço aqui as palavras do apresentador americano John Oliver da HBO minhas palavras: (pudicos, se abster)
“…A França foi atacada por um bando de cuzões, que têm como chefes ( muito possivelmente) uns cuzões maiores ainda, que lutam por uma grande ideologia de merda! Querer lutar com a França, sobre temas como Cultura, “Life-style” e ideologia é perda certa! Boa sorte! A França vai tirar a artilharia pesada: Jean Paul Sartre, Camus, Edith Piaf, bom vinho, queijo Camembert, madeleines, cigarros Gauloises, Marcel Proust, macarrons e e sobretudo um grande Croquembouche ( uma verdadeira torre da liberdade na França!). Vocês vão se . ..”
Salvadores da Pátria
Muito se falou de como os chineses afetaram a economia mundial com suas indústrias de produtos baratos. Falou-se muito menos das pessoas que adoram comprar objetos de plástico barato, bens de consumo de pouca qualidade e durabilidade sem refletir sobre as condições de trabalhos do operário e da poluição inútil gerada pela criação do dito objeto.
No entanto, temos de dar a Cesar o que é de Cesar. Os chineses estão salvando a pátria, não abandonaram a França! Bem ao contrário, nas lojas chineses e demais asiáticos são maioria. E não compram pouco, a nova classe emergente oriental é chiquérrima, adora Paris. Estão literalmente ajudando o comércio e aproveitando das súbitas rebaixas de preços destes dias.
COP 21
O que dizer desta COP21? Vocês ai estão sendo bombardeados televisivamente com documentários sobre o futuro CAOS e até mesmo sobre as atuais catástrofes oriundas do aquecimento climático? Aposto que não, especialmente depois da tragédia do Rio Doce. Só esta tragédia já basta, não é mesmo?
Voltemos a COP 21. Não tem sido pouco o transtorno ocasionado no trânsito graças às tão ilustres visitas do evento. Ruas fechadas, estradas bloqueadas e para piorar, diretrizes contraditórias: pediu-se para que os cidadãos não usassem seus veículos durante os dias 29 e 30. Os transportes públicos foram oferecidos gratuitamente à população, simultaneamente pediu-se aos mesmos cidadãos evitar o uso dos transportes públicos durante estes dias. Vai entender…
Sem falar, é claro, nos discursos enfáticos e grandes promessas. A grande novidade 2015 : ao contrário do ocorrido em Copenhague, desta vez os Estados Unidos e a China assumem suas responsabilidades e prometem cooperar com o projeto de salvação do mundo. Quanta esperança! Sim, este povo pretende salvar o mundo. Waw! Haverá finalmente uma luz no fim do túnel da destruição planetária? Se formos contar com as promessas do nosso amigo Obama, o Cara, não sei não. Somente seu cortejo para a COP21 dispõe de 20 carros, todos 4×4 ou outras categorias dentre as mais poluentes do planeta. Well, well.
Porém, nem tudo está perdido neste mundo de detritos e CO2. Aqui na França pelo menos, o Ecocidadão chegou para ficar e com certeza será pela força do indivíduo que a situação evoluirá. Um verdadeiro estilo de vida, uma nova moda que eu espero, pegue por ai. Se você ainda não conhece, faça uma busca e informe-se um pouco. Com certeza, pequenas mudanças de hábitos individuais terão mais impacto positivo sobre o planeta que todo esse povo reunido em Paris gastando dinheiro público e fazendo festas incríveis.
E agora vamos ao que interessa: Paris está maravilhosa! A Cidade Luz nunca fez tanto jus ao seu título. A cidade está de pé, altiva, animada, brilhante e gostosa. As fotos do mercado dos Champs Elysées falam por si só.
Texto lúcido, Silvia. Bom de ler !
Pelas fotos, Paris está linda, como sempre foi.
[]’s
Luís Vabo
Oi Luís
Obrigada por seu comentário. Fico muito feliz que tenha achado o texto lúcido , pois na realidade esta história é bastante complexa e a dificuldade de abordagem não é pequena. Como explicar uma história que, a meu ver, começa com a invasão do Afeganistão pela Rússia e o armamento dos Mujahidins pelos americanos, para outros tem origem no conflito entre Israel e a Palestina. Seja lá onde começou, virou uma epidemia na África, Oriente Médio e chega até a Ásia. O tribunal de La Haye tinha que colocar quem está armando os grupos do Estado Islâmico na prisão.
Quanto a Paris, como notou , Paris está linda e animada.
Obrigada por seguir o post.