Conectados com tecnologia, desconectados com o ser humano

O Fórum Panrotas, do qual tive a excelente oportunidade de participar, tratou do tema União Fragmentada, reunindo vários importantes atores do mercado de turismo sob o mesmo teto.

Minha participação a esse seleto encontro levou-me a diversas reflexões.

Conectando pessoas, culturas e experiências

De fato, o mercado profissional de turismo sempre foi composto de diferentes atores. Representamos uma corrente humana interligada trabalhando com objetivo comum de realizar os sonhos de nossos clientes.

O mercado de turismo é uma teia intricada e colaborativa onde cada ator desempenha um papel essencial. Essa “corrente humana interligada” é o que traz à tona o verdadeiro espírito do turismo: conectar pessoas, culturas e experiências.

Objetivo & Missão

Unir esforços para realizar os sonhos dos clientes não é apenas um objetivo, mas uma missão que reforça a importância do trabalho em equipe e a empatia com as aspirações dos viajantes.

Operadoras, companhias aéreas, hotéis, agentes de viagens, receptivos : trabalho em equipe com a missão de realizar os sonhos dos viajantes

Transformar sonhos em realidade exige paixão, dedicação e uma visão centrada no ser humano – algo que claramente faz parte dos nossos valores.

Novos Players

Porém de alguns anos para cá, o mercado de turismo passou por grandes transformações, com a digitalização e o aparecimento de plataformas como OTAs (Online Travel Agencies), aplicativos e influenciadores que, mesmo sem necessariamente serem profissionais do setor, conseguem obter visibilidade e fazer vendas.

Conectados com tecnologia, desconectados com o ser humano?

Satisfazer e superar as expectativas dos clientes

Assim, a verdadeira questão aqui é: todos esses atores compartilham um propósito central, a união e o foco em superar as expectativas dos clientes?
Essa é uma reflexão muito necessária, pois ao meu ver, nem todos estão, de fato, alinhados a essa missão.

Enquanto muitos buscam apenas resultados comerciais ou aproveitam o alcance de sites e redes sociais de forma superficial, os verdadeiros profissionais do turismo sabem que o diferencial está na experiência humana e personalizada, que vai muito além da tecnologia.

Então, como o mercado pode filtrar e destacar aqueles que realmente estão comprometidos com os sonhos dos viajantes?

A dificuldade em filtrar e destacar aqueles que realmente estão comprometidos com os sonhos dos viajantes é real

Eu, como proprietária de um receptivo de turismo tradicional devo admitir que me sinto ameaçada com a chegada de tantos “players”, muitos com grandes investimentos em tecnologia e ampla credibilidade devido ao poder financeiro.

Dinheiro sinônimo de credibilidade e competência?

Mas afinal, poder financeiro é sinônimo de credibilidade e conhecimento do mercado? Ter recursos informáticos que parecem ideias para atrair clientes será suficiente?

Segundo a neurociência, é natural que eu, como proprietária de um receptivo tradicional, me se sinta impactada pela ascensão de novos players que, respaldados por grandes investimentos financeiros e tecnológicos, têm alterado as dinâmicas do mercado. Meu instinto de sobrevivência fica exasperado.

Poder financeiro, marketing com cores vibrantes e equipes jovens realmente equivalem a credibilidade e conhecimento de mercado?

Dinheiro, marketing e tecnologia bastam?

Teoricamente, ter recursos financeiros e tecnológicos é, sim, uma vantagem competitiva.

No entanto, a credibilidade e competência não nascem apenas de dinheiro, mas da capacidade de oferecer experiências autênticas, compreensivas e sobretudo humanas aos viajantes.

Segundo minha opinião, muitos desses novos atores podem ser ágeis em seus sites de vendas B2C, mas nem todos possuem a profundidade de conhecimento local e o compromisso genuíno com a personalização e satisfação do cliente — algo que negócios tradicionais dominam tão bem.

Competir consigo mesmo com um “B2B” que é também referenciado no “B2C”?

Tecnologia e estratégias comerciais atraentes podem abrir portas, mas o verdadeiro diferencial está na conexão emocional com o cliente e na qualidade da experiência entregue. Alguns players podem estar apenas “surfando” entre os mercados BtoB e BtoC tirando proveito imediato de todos os canais possíveis focando em volume ao invés de valor.

Oferecer produtos de empresas com referenciamento forte na internet ,dedicados ao comércio BtC pode ser um tiro no pé!

Eu admito ser reticente a acreditar que dinheiro, marketing e tecnologia bastam para superar as expectativas dos viajantes.

Unidos somos mais fortes?

Será que a união de profissionalismo, experiência e alta tecnologia podem resolver nossas questões mercadológicas?

União de profissionalismo, experiência e alta tecnologia?

Tive a experiência da tentativa e preciso contar para você, querido leitor:

Assim, acreditando nas palavras que ouvi dos meus primeiros mentores do turismo, Valter Patriani e Guilherme Paulus, de que unidos somos mais fortes e seguindo o conselho do cliente e colega de longa data Aroldo Schultz, abordei a equipe de um desses novos players, que prometem conectividade e grandes vendas. Abordei achando que a união de meu talento trabalhando em um receptivo tradicional e seus recursos incríveis poderiam ser a chave do sucesso em vendas e satisfação garantida do cliente.

A satisfação do cliente eu garanto há 30 anos, inclusive a empresa onde trabalho já recuperou muitos clientes que deixaram players 100% conectados por falta de controle do que realmente acontece no destino.

Qual não foi minha surpresa ao ser mal tratada e humilhada por uma representante da nova empresa abordada.

A jovem interlocutora me explicou falando em espanhol que não tinham interesse em trocar ideias comigo pois segundo suas palavras em espanhol: “-Gente como tú vemos todos los días un montón.”

Conectados com tecnologia, desconectados com o ser humano

Primeiro fiquei chocada e triste, mas depois meu instinto de sobrevivência falou mais alto: Mais um player que não entende nada do ser humano!!!

Minha experiência foi um verdadeiro reflexo dos desafios que o mercado de turismo enfrenta atualmente. Ter sido tratada de maneira desrespeitosa por alguém que deveria valorizar a parceria e conhecimento foi profundamente frustrante.

Mas qual não foi meu alivio ao ter confirmado minha primeira impressão de que tecnologia e recursos financeiros, por mais avançados que sejam, não substituem o cuidado humano e o profundo entendimento das necessidades dos viajantes.

É aí que o nosso diferencial, queridos agentes, brilha! Nossa experiência no setor e nossa dedicação em garantir a satisfação de nossos clientes são qualidades que players desconectados da realidade humana jamais poderão contrapor.

Esse episódio foi a oportunidade que eu precisava para reforçar minha confiança no que nós fazemos de melhor. A união de profissionalismo, experiência e alta tecnologia é, sim, uma fórmula poderosa, mas apenas quando há um equilíbrio onde o ser humano permanece no centro.

Personalização, empatia e serviço de alta qualidade.

Assim, se reitera minha convicção que nosso caminho é mesmo continuar investindo naquilo fazemos com maestria: personalização, empatia e serviço de alta qualidade.

Enfim, após essa experiência tudo ficou ainda mais claro: o compromisso com o ser humano não pode ser comprado ou simulado por algoritmos.

Mercado de Turismo imagem figurativa
Experiência humana e personalizada vai muito além da tecnologia.

Nota:

O comércio B2B refere-se a todas as atividades e relacionamentos comerciais de uma empresa voltados para clientes comerciais. Ele vem do termo em inglês “Business to business“, que se refere ao comércio entre duas empresas

Canais de comunicação BtoC – No BtoC, os canais de comunicação e promoção são mais numerosos. Os varejistas têm acesso a várias ferramentas relevantes. fonte: Vendas B2B: definição, diferença de B2C, exemplos


Leia também Fórum PANROTAS Desafios do receptivo no Brasil na era da experiência

Published by

Silvia Helena

Após breves passagens pela Faculdade Metodista de São Bernardo e Belas Artes de São Paulo, aos 18 anos fui estudar no Canadá, onde vivi durante 23 anos. Lá me formei em História da Arte pela Universidade de Montréal, estudei turismo no Collège Lasalle de Montréal e no Institut de Tourisme et Hôtellerie du Québec. Comecei minha carreira na área trabalhando em Cuba. Durante os anos vividos no Canadá, entre outras coisas, fui guia de circuitos pela costa leste e abri minha primeira agência de receptivo para brasileiros. Há 18 anos um vento forte bateu nas velas da minha vida me conduzindo até França. Atualmente escrevo de Paris, onde vivo e trabalho dirigindo a empresa de receptivo, LA BELLE VIE.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *