Greves de transportes marcam volta à normalidade

Greves de transportes marcam volta à normalidade ou a França sendo a França.

Transportes aéreos: Um comunicado conjunto emitido por diversos sindicatos (CGT, CFE-CGE, Unsa, CFDT e FO) acusa o projeto dos gestores da ADP de “abolir permanentemente o salário de mais de um mês para todos os funcionários e forçá-los a aceitar mobilidade geográfica que gera tempo adicional de locomoção”.

De fato, o projeto denominado PACT (Plano de Adaptação de Condições de Trabalho) planeja abolir vários bônus, resultando em cortes salariais entre 4 e 8%. Se o colaborador recusar, o PES (Plano de Economia Social aprovado pelo governo) prevê a demissão do mesmo!

Vale lembrar que esse tipo de dispositivo representa uma mudança radical nas leis trabalhistas francesas que sempre favoreceram o empregado perante ao empregador. 

O Comitê Social e Econômico do Aeroporto de Paris também se opõem ao projeto, e denuncia o desejo da gestão atual de fazer economias em um momento em que a pandemia teve consequências significativas sobre a atividade da ADP – Aéroports de Paris. A paralisação está prevista entre os dias 1° e 5 de julho.

Transportes ferroviários :  Para as empresas de transporte ferroviário da SNCF,o sindicato CGT convocou uma greve nacional dia 1 de Julho para exigir um aumento geral dos salários e recrutamento adicional.

Finalmente, nos dias 3 e 4 de julho, são os funcionários da TGV OuiGo que são chamados a parar de trabalhar.

As datas escolhidas para o movimento de greve de transportes interferem fortemente nos planos de férias de muitos franceses.

Paris – De acordo com a Diretoria de Ordem Pública e Trânsito (DOPC) da Prefeitura de Polícia registrou 2093 manifestações de protesto declaradas em 2019

É importante ressaltar que essas greves de transportes não catalisam somente a insatisfação com os cortes e arrochos ocasionados pela crise da Covid-19. Há também todas as feridas sociais do início do mandato de Emmanuel Macron, que não foram esquecidas e que não cicatrizaram durante a crise de saúde: as reformas do estatuto da SNCF, a raiva dos “coletes amarelos”, a oposição à reforma da previdência são alguns dos fatores que ainda estão muito presentes entre os ferroviários. 

O Francês teme que as mudanças elaboradas pelo governo atual os aproximem inexoravelmente do sistema empregatício e social americano ou Americain Way of Life.

Ou marche ou Crève

Uma expressão emprestada à Legião Estrangeira designa o sentimento de muitos franceses em relação as mudanças recentes e futuras:Ou marche ou Crève”, ou seja ou você anda (segundo as novas normas) ou você “morre”. Ou você se adapta às normas impostas pela oligarquia “mundialista” ou você sai do circuito econômico.

Acampamento Gilets Jaunes – Movimento Coletes Amarelos 2019

Buscando sobre a origem da expressão Ou Marche ou Crève, encontrei justamente um vídeo de Pierre Hillard, ex-professor de relações internacionais da École supérieure du commerce em Paris, doutor em ciência política. Nele o professor lamenta a ignorância das populações sobre a real situação da França e que está por vir. Ele destaca a falta de “humanidade” das oligarquias mundialistas, o perigo crescente do controle da mídia por essas mesmas oligarquias e o desejo de impor uma cultura única tendo como princípio de base o individualismo e o consumo. Hillard acusa a Europa de ser o maior instrumento desse mecanismo.

As atividades do grupo Bidelberg 

Outro grupo que levanta suspeitas na França de trabalhar em prol de uma mundialização impiedosa e imoral é o Grupo Bilderberg. Meu filho de 16 anos foi o primeiro a me chamar a atenção sobre suas atividades.

Denis Healey, um dos iniciadores da Conferência Bilderberg de 1954 e membro do comitê diretor por 30 anos, explicou em 2001: “Dizer que estávamos procurando estabelecer um único governo mundial é muito exagerado, mas não totalmente absurdo. Nós em Bilderberg pensamos que não poderíamos entrar em guerra para sempre e matar milhões de pessoas por nada. Nós pensamos que uma única comunidade poderia ser uma coisa boa.

O relatório da reunião do grupo em 1999, publicado pelo jornal independente inglês Schnews coloca em evidência, por exemplo, o desejo dos participantes de “redesenhar a economia mundial”.

Mudanças sim, mas para melhor

Para a ADP, a SNCF e para o mundo, talvez o tempo seja propício para mudanças, mas os franceses querem ter certeza que essas mudanças sejam para o melhor.

Resumindo enfim, os franceses continuam com boa memória e não estão dispostos a deixar o governo atual e a Europa passarem suas “boiadas” sob pretexto da Covid-19. 


Notas:

ADP Aéroports de Paris

SNCF Société Nationale de Chemin Ferroviaires

O Grupo Bilderberg, também conhecido como Conferência de Bilderberg ou Clube Bilderberg, é uma reunião anual e informal de cerca de cento e trinta pessoas, principalmente americanos e europeus, compostos majoritariamente por personalidades da diplomacia, negócios, política e mídia. Este fórum anual foi inaugurado em maio de 1954 em Oosterbeek, na Holanda, em uma reunião no Hotel Bilderberg (daí seu nome) e tem escritórios em Leiden, nos Países Baixos. Sua cobertura não midiática e a natureza confidencial das revisões da conferência regularmente despertam controvérsias e alimentam teorias conspiratórias sobre sua influência.

La Samaritaine – Joia da Belle Époque está de volta

Detalhes da Fachada Art Nouveau © O.Taris

La Samaritaine – A origem do nome

La Samaritaine era o nome de uma bomba de água localizada na Pont Neuf cuja existência remonta a época do rei Henrique IV. Esta fonte era decorada com uma representação do episódio evocando o encontro de Jesus e uma samaritana no poço de Jacó (Evangelho segundo João), (1672-1744). O todo foi decorado por um relógio equipado com um jacquemart, e, mais tarde, um carrilhão.

Bomba de água sobre a Ponte Neuf

A criação – de camelô a proprietário de loja

Em 1870 o nome inspirou Ernest Cognacq para abertura da sua primeira lojinha. Até então, Cognacq mantinha uma tenda (um “guarda-chuva vermelho”) no Pont Neuf. Foi graças à amizade com o proprietário de um pequeno café que frequentava na Rue de la Monnaie que o comerciante conseguiu alugar, a partir de 21 de março de 1870, uma sala anexa pouco utilizada e torná-la num pequeno negócio de novidades:”À la Samaritaine”.

Primeira loja La Samaritaine

Crescimento da Samaritaine

No dia 1º de abril seguinte, a loja já expandia. Em janeiro de 1872, Ernest Cognacq casou-se com Marie-Louise Jaÿ, ex-primeira vendedora no departamento de roupas do Le Bon Marché, com quem ele administraria o bazar em constante crescimento. Crescendo de 48 m2 em 1870 para várias centenas de metros quadrados em 1874, a loja prosperou e seguiu a expansão, dando à luz em 1900 às Lojas de Departamento de La Samaritaine. Conta a história que o casal nunca almoçava junto, pois cada um se revezava em um balcão de seu negócio.  

Ao adquirir os prédios próximos à sua loja, Cognacq muda o bairro e uma parte importante da cidade. Sob a direção do arquiteto Frantz Jourdain, quadras foram completamente redesenvolvidas ou reconstruídas gradualmente entre 1883 e 1933. Enquanto la Samaritaine prosperava com duas lojas perto do Pont Neuf, Ernest Cognacq empreendeu em 1910 a construção em outro distrito de Paris de uma nova loja destinada a uma clientela mais rica: a “Samaritaine de luxe” inaugurada em 1917 no boulevard des Capucines. As lojas são complementadas por grandes armazéns localizados no Boulevard Morland, Quai des Célestins, Rue de Bercy e Rue Saint-Jacques.

Hoje um dos antigos prédios abriga em seu roof top de vidro o restaurante Kong
Fachada Art Nouveau rue de la Monnaie
Fachada edificada em estilo Art Deco em frente ao Rio Sena © O.Taris

Considerado um chefe social paternalista, Ernest Cognacq cria a Fundação Cognacq-Jay. Ele e sua esposa fazem questão de acompanhar suas equipes do berço (maternidade Cognacq-Jay) ao caixão (casa de repouso rueil-Malmaison)

Após a morte do casal, o sobrinho Gabriel Cognacq toma as rédias do império comercial que se tornou La Samaritaine, a mais importante loja de departamentos parisiense com seus 48.000 m2.

Seu slogan publicitário, inventado pela agência Alice e apoiado por uma grande campanha publicitária na década de 1960, permaneceu na memória coletiva: “Encontramos tudo em La Samaritaine”.

Em 22 de setembro de 1985, o Pont Neuf em Paris foi embalado por Christo Javacheff. La  Samaritaine aproveitou o evento para lançar seu novo slogan publicitário: “Moi, La Samaritaine m’emballe !”. “Eu, La Samaritana me embala!”

Interior da Loja em 1995 © O.Taris

Fechamento

A partir da década de 1970, a prosperidade comercial de La Samaritaine diminui lentamente. Em 1986, La Samaritaine de luxe foi transformada em um escritório e edifício comercial. Com o tempo, muitos departamentos históricos (como o pet shop por exemplo) desapareceram.

A partir de 1998, a loja de departamentos vê sua área de superfície reduzida, e passa a alugar lojas para outras marcas. Em 2001, a família Renand vende La Samaritaine, para o grupo LVMH. A loja de departamentos fechou suas portas em 2005 para reforma e nunca mais abriu, até essa semana.  

Reabertura em 2021

Durante 16 anos o edifício ficou abandonado, enquanto seguidas polêmicas implicando a restauração e reformas eram discutidas, embargadas, negociadas.

Hoje La Samaritaine reabre e volta a ser uma das maiores lojas parisienses: 20.000 metros quadrados restaurados, 7 andares, uma fachada magnífica misturando arte déco e arte nouveau recoberta de arabescos dominando de um lado, a rua de Rivoli, do outro, as margens do Ponte Neuf.

Sua reabertura é um grande momento para Paris e seu comércio. A propriedade do Grupo LVMH é constituída de um complexo de 70.000m2 e além de comércios também abriga um hotel de luxo, escritórios, uma creche e habitações sociais.

Quem não conhece La Samaritaine? Assim começa o documentário que explica a saga desta antiga loja que hoje reabre em Paris. Um verdadeiro monumento que marcou a vida da cidade e seus habitantes. Assista as imagens e não se deixe intimidar pela língua francesa. Vale a pena!

As imagens do Le Parisien mostram um pouco mais da loja renovada, que promete ser o lugar mais “instammagrable” da cidade!

França volta à vida normal

França volta à vida normal- Usar uma máscara não será mais obrigatório (exceto em alguns lugares) e o fim do toque de recolher foi antecipado para 20 de junho, ao em vez de 30 de junho. Estes são os principais anúncios do Primeiro-Ministro. No entanto, nem todas as restrições foram suprimidas: os franceses devem manter suas máscaras em lugares fechados e as aglomerações seguem proibidas.  

As varandas dos restaurantes e comércios fechados desde outubro 2020 abriram dia 19 de abril

Volta à vida normal (ou quase)

A partir de hoje, 17/06, o uso de máscara nas ruas e parques da França não será mais obrigatório (exceto em locais lotados), o toque de recolher às 23h será levantado no domingo, dez dias antes do previsto. “A situação está melhorando mais rápido do que esperávamos”, disse Jean Castex, ontem, no final do Conselho de Defesa da Saúde.

Os números são promissores: a taxa de incidência é inferior a 50 em 89 departamentos metropolitanos sobre 96, “nenhum território apresenta dinâmica preocupante”, a pressão sobre os hospitais diminuiu, a vacinação está progredindo bem e o governo espera chegar a 35 milhões de franceses completamente imunizados no final de agosto (contra 16,5 milhões hoje).

Claro, a cautela ainda é necessária, gestos de distanciamento social ainda são importantes, mas a população começa a se sentir aliviada. Como afirmou o primeiro-ministro, “estamos vivendo um momento feliz de retorno a uma forma normal de vida”.

Até o momento restaurantes acolhem no interior com uso de 50% do espaço e “traçabilidade” exigida. Nas mesas, limite de seis pessoas. Abertura total prevista para 30 de junho.

Discotecas abrindo

Após longos meses de fechamento, o ministro da Saúde, Olivier Véran, confirmou que as discotecas devem reabrir em julho. No canal de televisão BFMTV, o ministro especificou que a reabertura será feita “com condições específicas”. “A partir de 21 de junho saberemos mais”, confirmou Olivier Véran, referindo-se à data em que Emmanuel Macron encontrará os proprietários desses estabelecimentos para “uma cláusula de revisão”.

A França De olho na variante Delta

Enquanto países como o Reino Unido e a Rússia estão em alerta, Jean Castex anunciou igualmente que os controles de fronteiras serão reforçados e que a vigilância das várias variantes em circulação na França será intensificada.

O retorno à normalidade pode ser prejudicado

Se, devido à variante Delta, houver um aumento significativo de casos, o tão esperado retorno à normalidade em muitos países para este verão pode ser afetado. Variantes podem retardar a recuperação, por essa razão, será necessário seguir atentivamente a evolução dos casos, mas, no momento, as autoridades médicas estão de olho nos números e esperam que a vacinação seja uma barreira que, bem, que incompleta, possa ajudar a conter uma expansão realmente perigosa da variante Delta.

De qualquer forma, a variante Delta está aqui e o governo está monitorando sua evolução.

Esforços Consideráveis

Vale a pena lembrar que para chegar a esses resultados, os franceses fizeram esforços consideráveis: respeitaram o uso de máscaras obrigatório, se conformaram a confinamentos restritos seguidos de toques de recolher severos, se submeteram a fechar todos os restaurantes e lugares culturais durante meses, aceitaram as limitações de deslocamento temporárias, entre outras coisas.

Outra medida que, a meu ver, nos salvou de uma situação mais grave, foi a proibição do uso de qualquer medicação sem eficácia comprovada. Para não correr nenhum risco de deriva a própria cloroquina desapareceu das farmácias, por exemplo.

Assim, a França não desenvolveu nenhuma variante local mais perigosa que a original. Até o momento lidamos com uma variante que não atinge consideravelmente pessoas jovens e sem comorbidades.  Veja como essa realidade se reflete nos números até o momento:

Óbitos e faixa etária

Menos de 15 anos          0%

15 à 44 anos                       1%

45 à 64 anos                       7%

65 à 74 anos                       15%

75 anos e mais                  77%

vacinação

O único problema gerado por esses resultados encorajadores é que ainda hoje muitos franceses não veem a necessidade de tomar vacina.  Aparentemente 30% da população se mostra reticente. Estes “inocentes” não sabem o que está acontecendo no resto do mundo, ainda! O que me leva a crer que o futuro ainda é incerto. A volta à vida normal na França não está garantida 100%!

“Como mais de 5 milhões de franceses, Patrícia, na casa dos 50 anos, já teve Covid e se recuperou em pouco tempo: “Não estou dizendo que a doença não existe, mas mata 0,03% da população, lembra ela, a maioria delas são pessoas com mais de 80 anos com comorbidades. Eu peguei e tive tão poucos sintomas, que mesmo se pegá-la de novo, isso não me assusta!” fonte Radio SUD

Vacinação aberta para todas as idades

Porém, apesar das incertezas, prefiro terminar esse artigo com mais uma boa notícia:

O retorno dos turistas americanos

A União Europeia acaba de dar luz verde: os viajantes dos Estados Unidos podem entrar na Europa novamente, mesmo que não sejam vacinados. A UE pede reciprocidade na recepção dos turistas europeus.

E assim, com a volta de alguns turistas e aos poucos, a França volta à vida normal.