Proposta de paralisia do país emerge das redes sociais

Uma proposta de paralisia completa do país emerge das redes sociais. Há alguns dias, graças a um movimento iniciado a partir do Facebook, os belgas e franceses decidiram se revoltar contra o aumento do preço do diesel e da gasolina.

Uma iniciativa popular

De maneira inusitada, sem o apoio habitual dos fortíssimos sindicatos, a população tomou conta da situação e se mobilizou criando várias páginas facebook e através delas  estão veiculando a proposta de um bloqueio de estradas em diversos pontos do país. Apesar da ausência dos sindicatos, alguns comunicados afirmam que pequenos empresários apoiam o movimento.

De fato, segundo uma sondagem realizada por France Info e Odoxa, mais de três quartos dos franceses (78%) acha justificado o apelo de bloqueio das estradas em protesto ao aumento do combustível.

Em um ano, o preço do diesel aumentou 23% e o da gasolina 15% chegando a média a 1,51 euros o litro na semana passada. E o governo promete mais aumento em poucos meses.

A explicação do governo Macron

Esses aumentos tem como explicação a “Transição Ecológica“. Traduzindo: O governo quer que o cidadão use o carros elétricos. Precisamos diminuir nossa emissão de gás de efeito estufa… A Renault tem uma frota pronta para entrega. Paralelamente o governo quer  manter e fortalecer suas usinas de produção de energia nuclear, gravemente ameaçadas pelo antigo governo socialista.  Todos esses carros novos vão precisar de eletricidade!

Da Gazolina para o Diesel e do Diesel para Eletricidade

Anunciado nos anos 80 como A solução ao problema a crise do petróleo e subvencionado pelo governo, o diesel foi adotado por milhares de franceses esperançosos em diminuir seus gastos de locomoção. Porém acusado hoje de ser mais poluente, o carro a diesel  começa a ser “boicotado” pelo próprio governo numa espécie de política punitiva. Punitiva para o cidadão comum, não para a Renault ou a EDF, semi estatal que fabrica eletricidade graças a energia nuclear, é claro.

Os riscos para os manifestantes

Os manifestantes que bloquearem estradas correm os riscos já anunciados pela imprensa e reiterados nos sites organizadores:

 2 anos de prisão

€ 4.500 multa

6 pontos na carteira de motorista.

Ainda nos sites organizadores é explicado que o governo não poderá agir contra todos os manifestantes, mas talvez escolham aleatoriamente alguns participantes para dar o exemplo de seu poder.

Um dia para visitas a pé

Não é possível saber se a França e a Bélgica pararão, mas na dúvida, sugira a seu cliente andar a pé pela cidade neste dia.

A jaqueta de segurança amarela virou símbolo do movimento. Siga os links para ver o mapa da mobilização e como os franceses estão se organizando. Ou se deseja uma idéia do tamanho do movimento busque no Facebook Blocage 17 novembre 2018 .

Blocage Paris 17 novembre

Mapa dos pontos de paralisia

https://www.facebook.com/blocage17novembre/

Mapa dos pontos de paralisia France Info

Turbulências no transporte terrestre: motoristas Uber fazem greve.

Ou ainda : Vivendo e aprendendo.

A  classe de trabalhadores prevê novas manifestações para os dias 15 e 16 de janeiro. Os dias 15 e 16 de dezembro já foram marcados por protestos, bloqueios aos acessos de aeroportos e grandes eixos, confrontos e manifestações em frente à sede da Uber na França.

Os motoristas autônomos reclamam melhores condições financeiras e “trabalhistas”. Clamam viver em estado de escravidão dos tempos modernos, presos entre as mensalidades do carros comprados para exercer a profissão e as baixa tarifas recebidas pelas corridas.

Não conheço o perfil desta nova classe trabalhadora no Brasil, aqui posso dizer que dentre a massa encontravam-se há pouco tempo desempregados de duas categorias: reais vítimas da crise obrigados a apelar para esse sub emprego e outros francamente não empregáveis. Há também aqueles que deixaram seus empregos no transporte pensando que com um site de venda direta ao público quebrando preços e um pouco de Uber lograriam viver muito bem, sem submissão a certa disciplina exigida por um empregador. Não sabiam : patrão, seja ele pequeno ou grande, se submete todo dia a  contrariedades e se conforma, cria, diversifica.., se sacrifica. Mas não os “uberistas”.

Prova dessa inconformidade com disciplina é a presença constante e ilegal desse povo na saída dos terminais aéreos oferecendo falsos serviços de taxis. Talvez não tivessem criado tanta polêmica e transtornos se conformando as normas. Lembrando que minha empresa teve um carro vandalizado pelos taxistas contrariados com essas táticas ilegais de veículos de transporte.

Agora chegou a vez dos Uberistas de manifestarem publicamente sua insatisfação. Os dois dias de manifestações ocorridos em dezembro causaram certo transtorno no ramo do transporte, porém não resolveram as questões financeiras e trabalhistas levantadas pela classe .

O mais engraçado é que dias antes recebi a ligação de uma “amiga de uma amiga” pedindo um precinho especial para um TFR aeroporto-hotel pois estava sem dinheiro, mas não falava a língua e ouviu dizer que eu ajudaria bla bla bla. Eu, como gosto muito da amiga em questão e por que nem sempre reflito claramente quanto me tocam o coração cedi a tentação de ajudar e cobrei um valor, digamos, simbólico. A passageira pediu que um chip internacional lhe fosse entregue durante o serviço sem custo extra. Porque não? Afinal estamos aqui para servir.

O motorista que fazia o traslado a tarde teve o dia monopolizado, se ausentou de uma reunião pela manhã para não chegar atrasado e ainda assim chegou 15 minutos depois do horário previsto. Eu pessoalmente estive em contato com a passageira explicando sobre a barragem dos Uberistas no caminho e da “greve”, mas acho que ela não entendeu. Será que meu medo que o motorista e o carro sofressem algum tipo de vandalismo impediu que eu fosse clara ou o conceito de Uberista manifestando foi difícil de entender?

Nosso chefe de operações também manteve a passageira informada durante esses quinze minutos. (Obrigada WhatsApp). Porém dois minutos antes da chegada do motorista a “amiga da amiga” deixou uma mensagem bem mal-educada, dizendo que não acreditava na minha pessoa e que estava pensando em chamar um Uber!! Ela me chamou de mentirosa e comparou meus serviços com Uber! Os mesmos que estavam impedindo nosso motorista de chegar ao aeroporto. Na hora lembrei do que li aqui no Panrotas outro dia: Preço baixo não fideliza ninguém mesmo.

Resta o orgulho de ter realizado a missão, a alegria pelo motorista e veículo terem saídos intactos e a lição de nunca mais ceder à tentação.

 

Post Scriptum

Origem da palavra

Aqueles que conhecem um pouco de história da França talvez já tenham lido ou ouvido “fulano de tal foi enforcado ou fulano de tal foi guilhotinado na Place des Gréves”.  No século XII, o local de nome Gréves designava uma praça na frente da atual prefeitura, com leve inclinação e pedrinhas (em francês gréves) mergulhando no Sena e permitindo uma fácil descarga de muitos bens transportados no rio e entregues a Paris onde era antes seu porto mais importante.  Naquele tempo, «gréves» significava, por associação ao lugar, ficar sem trabalho. Trabalhadores desempregados reuniam-se na Place de Grèves, e entre uma execução e outra aguardavam navegantes em busca mão de obra para carga e descarga de seus barcos.

O significado da palavra Grèves evoluiu no início do século XIX, quando trabalhadores, explorados pelos patrões sem escrúpulos, decidiram abandonar seus trabalhos e reunirem-se na mesma praça que teve um dia este nome. Em 1830 o lugar foi renomeado “Praça da Prefeitura”ou Place de l’Hotel de Ville.

Primeiras greves

As primeiras paralizações, antes mesmo de serem denominadas greves na França, datam do século XII, realizadas por mestres e sobretudo estudantes das grandes escolas da margem esquerda, após as quais obtiveram da Igreja maior liberdade de pensamento e do estado alojamento financiado.

As greves foram durante muito tempo reprimidas e proibidas por lei até 1834.

Imagem em destaque: Greve de transportes em Paris 1891, um ônibus é atacado pelo povo.

 

Agressões e confusões durante a greve de taxis em Paris

“Overwhelmed, Dépassée, Passada”! “Passada” foi a palavra mais próxima que encontrei para o que sinto hoje.

Poderia estar indignada, inconformada, mas não estou. Ou ainda poderia estar chocada. Poderia dizer estou pasma! Porém, a gíria “passada” explica bem meu sentimento atual. Puxa, tinha tanta coisa para contar neste post! Queria falar da festa da música, de Solidays, das liquidações que já começaram ou onde encontrar comida brasileira em Paris, no entanto vou falar da greve de taxis que começou nesta quinta, dia 26 de junho e continua hoje. A coisa foi séria!

Pois é, mais uma greve de taxis atingiu a cidade, explodiu como uma panela de pressão. Os taxistas estão defendendo seus direitos contra Uber, porém mais uma vez demonstraram falta de bom senso, cortesia e moralidade que os fazem famosos personagens entre os habitués da cidade. Estão defendendo seus direitos e, sobretudo seu dinheiro, visto que com a expansão de Uber as licenças de taxi que foram negociadas a milhões de euros entre os próprios taxistas passam a valer muito menos. Não há por parte dos taxistas preocupação com a relação entre a escassa oferta e a crescente demanda de transporte na cidade. Quem se importa se parisienses e visitantes não tem taxi, contanto que uma licença de taxi continue a ser revendida a 250 mil euros?

Outra coisa que está incomodando muito os taxistas são os VTC ( Veículos de aluguel com motorista). Como mencionei aqui anteriormente, a prática desta profissão exige uma reserva feita com antecedência por parte do cliente. Quem tem VTC não pode ficar no aeroporto oferecendo serviço de taxi, como fazem muitos motoristas sem trabalho fixo.

E como se já não bastasse essa concorrência local, há também a concorrência on-line. A quantidade de blogs e falsas empresas vendendo transporte em Paris na web é impressionante. Eu mesma vejo todo dia empresas inexistentes na França vendendo transporte para brasileiros em Paris. Não uma ou duas, várias! Enquanto isso, agentes de viagens brasileiros vendem traslados e serviços de transporte do amigo do amigo, da irmã da amiga, curtem blogs vendedores de serviços de viagem, sem saber quem é quem nesta selva do transporte que virou Paris. Receptivos costumam ser mais caros que a irmã da amiga ou o amigo do amigo que mora em Paris. Porque será, hein?

Conclusão: os taxistas fecharam as estradas e principais estações de trens nesta quinta-feira dia 25, atacaram aleatoriamente quem ia ao aeroporto prejudicando visitantes e trabalhadores do ramo de turismo. Carros foram vandalizados, passageiros agredidos e obrigados a caminhar quilômetros para chegar ao aeroporto, mesmo tendo comprado seu transporte em uma agência brasileira, como previsto pelas leis locais. Um absurdo! Enfim, ninguém mais sabe a diferença entre um perueiro e um receptivo de verdade, nem agentes de viagens brasileiros, nem taxistas de Paris?

Eu bem que queria apoiar esta causa, visto que como profissional da área do turismo também sofro com a pirataria e perueiros, mas infelizmente os taxistas daqui mostraram ontem que não merecem!

“C’est la vie!”

IMG_5377
Carro vandalizado durante manifestações
Gréve taxis Paris
Nenhum lado escapou.
Paris greve de taxis
Alguns caros foram queimados. No total 70 queixas de vandalismo e 6 prisões
Paris, gréve de taxis
Pedro Estevez, motorista VTC agredido na função de seu trabalho.
IMG_5375
Barricadas, agressões e VTC feitos de reféms obrigaram muitos passageiros a caminhar da estrada até o aeroporto para embarcar
Paris, gréve taxis
Viu a placa Soldes? O começo das liquidações não foram manchetes nesta quinta-feira.
IMG_5369
Tento imaginar os passageiros dentro do carro!
Paris, gréve taxis
Carro vandalizado durante transporte entre hotel e aeroporto de Paris

PS Já ia publicando o post, quando o telefone tocou, um colega buscava transporte ao aeroporto para 10 pessoas. Os passageiros não compraram traslado em agência, pensando que ficaria mais barato tomar taxi. Ops, os taxis estão em greve. “Eh bien!” Esses não tiveram a D.Leda (minha mãezinha) nem como membro da família, nem como a exímia professora que foi. Dona Leda sempre dizia: o barato sai caro!