Notre Dame de Paris interior

Notre Dame de Paris sem reserva

Visitando Notre Dame de Paris sem reserva e sem medo de enfrentar fila.

Desde sua reabertura no início de dezembro, apesar da imensa vontade, resolvi esperar um pouco para visitar a famosa Catedral. Rumores sobre a dificuldade de acesso e minha antipatia por reservas antecipadas mantiveram-me afastada do local até meados de janeiro.

Escrevi anteriormente sobre o Aplicativo de Reservas e Áudio Guia da Notre Dame de Paris. Agora vamos ver como é a visita “raiz”do monumento.

Acesso sem reserva antecipada

Porém, em uma segunda-feira à tarde, tendo deixado o escritório para participar de reuniões de negócios, decidi aproveitar a ocasião. Segundo meus cálculos, o primeiro dia útil da semana deveria poupar a igreja de muitos visitantes: parisienses que estão trabalhando, europeus que visitam a cidade no fim de semana, estudantes…

E assim, lá fui eu, sem reserva antecipada, enfrentar a fila de acesso ao recinto. Afinal, quem se importa em ficar de pé admirando essa beleza arquitetônica, mesmo que por algum tempo? E nesta segunda-feira, a fila foi tão rápida que as fotos externas tiveram que esperar a hora da saída.

O Juízo Final: O Portal do Juízo Final data da década de 1210, instalado após entre os outros dois portais da fachada. Na iconografia cristã da Idade Média, o portal representa o julgamento de Deus quando a alma do falecido é ressuscitada. De acordo com a tradição cristã, Deus julgará os vivos e os mortos. O Evangelho de São Mateus relata as palavras de Jesus: “O que fizestes ao menor dos meus irmãos, a mim o fizestes”. (fonte Catedral Notre Dame de Paris)
No lintel inferior, os mortos se levantam e saem de seus túmulos. Os anjos tocam a trombeta. Entre essas figuras estão um papa, um rei, mulheres, guerreiros e um homem africano. No lintel superior, o Arcanjo Miguel pesa as almas e dois demônios tentam inclinar a balança. Os eleitos são levados para o céu (à direita de Cristo), enquanto os condenados, acorrentados e aterrorizados, são levados por outros demônios para o inferno. (fonte Notre Dame de Paris)

Notre Dame de Paris – no interior da Catedral

Agora, se não deu para sentir o peso da multidão na fila externa, uma vez dentro da Catedral a sensação é um pouco surpreendente. Foi necessário algum tempo até que eu me desse conta de que estava sendo levada por uma corrente humana. Parei, saí da corrente e fui sentar-me por alguns minutos, tentando encontrar alguma paz.

Impossível, o espanto e alegria do povaréu preenchiam todo o espaço. Enfim, me deixei levar pela correnteza, registrando com os olhos e a câmera todo o encanto do lugar.

Nem todas as novidades agregam beleza. O relicário da coroa de espinhos, por exemplo, eu não considero uma melhoria. Desprovido de qualquer humildade, seu tamanho me parece uma falta de respeito à própria relíquia que abriga uma vez por mês.

Capela Interior Notre Dame de Paris
Vinte e nove capelas adicionadas no século XIII cercam o interior do edifício. Aquelas colocados ao redor do coro são chamadas de capelas radiantes. Desejando um serviço regular prestado em memória de um falecido, famílias ricas tiveram capelas consagradas na Idade Média. Para fazer isso, as famílias criavam uma fundação, ofereciam uma anuidade a um capelão e monopolizam um espaço dedicado. O número de fundações aumentou até o século XIV, assim como as capelas.  ( fonte Notre Dame de Paris)
Capela-interior-Notre-Dame
A Capela: sua decoração inclui um altar, uma lâmpada, estátuas ou pinturas, os relicários de um santo padroeiro, túmulos e, às vezes, uma importante decoração de parede
Os vitrais de Notre-Dame estão entre as obras-primas da arte gótica. A arte dos vitrais marca a originalidade da arquitetura medieval. Eles cobrem quase mil metros quadrados de superfície da Catedral. Alguns são originais da época, outros foram amplamente restaurados
Mausoleo Notre Dame
O mausoléu do Conde de Harcourt, por Jean-Baptiste Pigalle (1776)

O Pórtico Central

Fiquei muito feliz em rever uma das peças que mais aprecio da igreja, temia que o fogo ou a reforma do mobiliário a tivessem afetado: o pórtico central. O pórtico é uma peça central que aparece nas igrejas a partir do século XII com objetivo de fechar o coro.

Esta “parede esculpida” no século XIV apresenta cenas da vida de Cristo. Como uma tela ilustrada ela cria uma separação entre o coro e o ambulatório. Originalmente, oferecia aos religiosos uma área de silêncio durante os serviços.

Hoje ela oferece a visão de lindas esculturas e cenários minuciosamente talhados com imagens que são raramente tão completas na estatuária da Idade Média.

O pórtico retrata de um lado a vida de Cristo: A Visitação, a Anunciação aos Pastores, a Natividade, a Adoração dos Magos, o Massacre dos Inocentes e a Fuga para o Egito, a Apresentação no Templo, Jesus no meio dos Doutores, o Batismo de Cristo por São João nas águas do Jordão, as Bodas de Caná, a Entrada em Jerusalém, a Última Ceia e o Lava-pés, Cristo no Horto das Oliveiras. E do outro lado aparições de Cristo inspirados no Evangelho de Nicomedes e outros grupos esculpidos que contam a história das aparições de Cristo às Santas Mulheres e a São Pedro, aos discípulos de Emaús, a São Tomé e a vários apóstolos juntos. No passado, uma crucificação coroava a porta da frente. Essa peça encontra-se atualmente no Museu do Louvre.

Nas primeiras basílicas cristãs, os relicários colocados no coro preservavam relíquias. No século XII, o pórtico aparece para fechar o coro.

A forte iluminação artificial do teto enfraquece um pouco o encanto da luz filtrada que atravessa os vitrais e acaba lembrando um centro comercial. No entanto, isso é uma questão de gosto e gosto não se discute.

A Rosacea, também conhecida como rosa do sul, foi oferecida a Catedral pelo rei Saint Louis. Foi construída em 1260 em eco da Rosacea norte, construído em torno de 1250.
Ela mede quase treze metros de diâmetro. Possui oitenta e quatro painéis espalhados por quatro círculos. Seu número é baseado nos números simbólicos quatro, doze e vinte e quatro. Os doze apóstolos são divididos em dois círculos. Eles se misturaram com santos mártires frequentemente homenageados na França, incluindo Laurent, Denis (primeiro bispo de Paris), Pothinus (bispo de Lyon), Marguerite, Blandine, Georges, Ambroise, Eustache. O terceiro e o quarto círculos retratam cenas do Novo e do Antigo Testamento, a fuga para o Egito, a cura de um paralítico, o julgamento de Salomão e a Anunciação. Nove cenas da vida de São Mateus datam do final do século XII. As duas “encruzilhadas” representam de um lado a descida ao inferno, cercada por Moisés e Arão (acima) e a tentação de Adão e Eva (abaixo); do outro, a ressurreição de Cristo, com São Pedro e São Paulo (abaixo), Santa Madalena e São João (acima). (fonte Notre Dame de Paris)

Apesar da multidão (da qual eu fazia parte), como esperado, a Catedral Notre Dame de Paris está maravilhosa e a visita sempre vale a pena, com ou sem reserva antecipada.

Veja mais imagens neste reel que acabei de postar:

Horário de funcionamento da catedral

  • Segunda a sexta-feira: 7h50 – 19h

*Encerra às quintas-feiras às 22h

  • Sábado e domingo: 8h15 – 19h30

Última entrada 30 minutos antes do fechamento.

Emília Perez, tapas e golpes

Quando vi Emília Perez, como muitos, não achei o filme particularmente ruim. Mesmo não achando que o filme e sua atriz principal merecessem a quantidade de prêmios e indicações recebidas, gostei de certos aspectos e até mesmo da ousadia do autor Jacques Audiard.

As únicas coisas que realmente me desagradaram ao final do filme foi a abordagem demasiadamente leviana dos crimes cometidos pelo narcotráfico e uma transformação de gênero que muda o caráter e a índole da pessoa, como uma redenção.

Porém, o que eu descobri com a reação do povo mexicano é que, assim como Jacques Audiard, eu não entendo nada sobre o México, sobre a cultura transgênero de maneira geral e menos ainda sobre a cultura transgênero no México.

A única diferença, no entanto entre eu e Jacques, é que eu não resolvi fazer um filme sobre o assunto e ele sim.

Emilia Perez, a exclusão, a mistura de estereótipos e falta de bons ingredientes não agradaram o México.

A França e o wokismo

Em plena crise identitária e preocupada com a islamização de seu território, a França vê o wokismo com certa distância e até reticência. O escritor americano Thomas Chatterton Williams, que mora em Paris e é uma das vozes mais empolgantes nos debates atuais sobre identidade, explica essa reação para o jornal Express em 2023:

Durante a conferência, os palestrantes debateram repetidamente se o que os franceses chamaram de ‘wokismo’ é uma preocupação séria. A maioria dos palestrantes e membros da plateia, inclusive eu, respondeu mais ou menos afirmativamente. A organização política em torno da identidade, e não da ideologia, é um dos melhores indicadores de conflito civil e até guerra civil, de acordo com uma análise de conflitos violentos feita pela cientista política Barbara F. Walter. Ao colocar grupos uns contra os outros em uma luta de poder de soma zero – e classificá-los em uma escala de virtude baseada em privilégio e opressão – o wokismo pode promover diferenças de raça e etnia a ponto de aumentar o preconceito em vez de reduzi-lo, por sua vez alimentando uma reação violenta e perigosa do grupo majoritário. Pelo menos esse era o sentimento predominante do nosso grupo.”

Resumindo grosseiramente, o modelo republicano francês não valoriza privilégios individuais, mas sim o bem comum, ou seja, de todos igualitariamente. Para você ter uma ideia, não existe na França qualquer estatística referindo-se a distinções raciais, anúncios mediáticos referindo-se a origens étnicas ou pertencimento a minorias.

Em princípio, na França, e reitero, em princípio, não se divide para melhor governar. Na realidade, entre as diferentes classes, entre adeptos partidários de ideais extremos, entre maniqueistas e ainda “islamo-esquerdistas” e “islamofobistas”, a França já tinha bastantes conflitos sociais e de identidade para gerenciar antes do wokismo.

Sendo assim, seja por medo, ingenuidade ou ignorância, quando se trata de wokismo, a França coloca um pouco o pé na jaca. Tivemos um pequeno exemplo durante os J.O. E neste caso aqui, a confusão não foi pouca.

Lembrando aqui: wokismo é sinônimo de inclusão. E em Emília Perez, excluíram todos os mexicanos e suas características linguísticas. Excluíram todas as mulheres transgêneros mexicanas, todas as cantoras, todos os dançarinos…

Imagem gerada por IA , Estereótipos são versões simplificadas sobre uma pessoa ou grupo, e que não condizem com a realidade.

Para piorar, quando questionado sobre a questão das características linguísticas, Jacques Audiard declarou que pensou em fazer o filme em francês, mas optou pelo espanhol por ser uma língua de pobres. Suponho que se referia aqui ao terceiro mundo e não à Espanha.

Primeiro vieram as declarações “contra a equipe da Fernanda” de Karla Sofia Gascón, em seguida, a descoberta dos tweets onde a atriz crítica o que crê ser a islamização da Espanha, assim como a abertura do Oscar para minorias.

“Eu não sabia se estava assistindo a um festival afro-coreano ou a uma manifestação do Black Lives Matter”, escreveu em um tweet.

Quer atitude menos woke que isso?

Emília Perez e a Cancel Culture

Logo, não tardou a ser abandonada pela equipe e produtores que há pouco a vangloriavam. De porta-estandarte do filme francês, passou a ser a mais famosa vítima da “Cancel Culture” do momento. Justamente, Karla sofre agora do lado mais perverso e paradoxal do movimento que prega aceitação.

Enfim, desde o filme até o escândalo, estamos vendo situações e declarações nada inclusivas. Entre a atriz Karla Sofia, seus colegas, Jacques Audiard, produtores, a Academia e o povo mexicano, estamos assistindo tapas e golpes para todos os lados, parece não ter sobrado beijos para ninguém.

Emília Perez, o aprendizado

Como a equipe de Emília Perez, podemos e devemos aproveitar a situação para aprender, no mínimo, as seguintes lições:

– Não sabe sobre um assunto, fique quieto.

– Se alguém te acusar de algo comprovado, não tente justificar. Seja humilde e desculpe-se. Afinal, somente quem apanhou pode dizer se o golpe foi duro, e não quem o deu.

Johanne Sacreblue

Em reação a presunção de Jacques Audiard, a mexicana Camilla D. Aurora criou uma paródia, um filme supostamente francês repleto de preconceitos, falsas ideias e massacrando a língua de Molière. Os comentários no Youtube são de morrer de rir.

Moda e arte em Paris material artístico e costura com Torre Eiffel ao fundo

Moda, Arte e Comércios

Como mencionado aqui no blogue há poucos dias, a moda e a arte estão vivendo um encontro intenso na capital francesa, revelando suas ligações intrínsecas através de inúmeras exposições.

Museus e comércios põe em destaque a arte da estampa, da tecelagem, as artes gráficas e decorativas e até mesmo nossa querida arte brasileira.

Au fil de L’Or, no Museu de Quay de Branly

Do Magreb ao Japão, a exposição Au Fil de L’Or oferece uma viagem no tempo e no espaço, para descobrir a fascinante origem do ouro e seu casamento com as artes têxteis.

Descoberto há quase 7000 anos, o ouro nunca deixou de fascinar a humanidade, tornando-se o metal mais precioso e nobre do mundo, objeto de desejo, símbolo de riqueza e esplendor.

Desde os primeiros ornamentos costurados nas roupas mortuárias até os vestidos extravagantes do artista chinês contemporâneo Guo Pei que pontuam a exposição, desde as sedas tecidas em ouro dos mundos indiano e indonésio até os quimonos brilhantes do período Edo, a exposição desvenda a história milenar do ouro nas artes têxteis.

Em um diálogo que combina descoberta científica e perspectiva artística, ela revela a beleza deslumbrante, a diversidade, a tecnicidade e a riqueza dos figurinos de uma vasta região que vai do Magrebe ao Japão, passando pelos países do Oriente Médio, Índia e China.

O museu oferece também uma série de atividades ligadas ao evento: visitas guiadas, cinema, espetáculos

Museu Quay de Branly de 11 Fevereiro ao 6 Julho 2025. Fechado as Segundas-feiras, aberto 10:30-19:00, Quinta-feira -10h30-22h00

A Arte em moda

Arte em moda é no nome da exposição que acontece na Loja Printemps.  

Em 2025, a loja de departamentos Printemps celebra o seu 160º aniversário com uma série de eventos destacando a sua rica história e o seu espírito inovador. 
 
O primeiro ato deste aniversário, a exposição “Primavera, l’Art à la Mode” abriu as portas aos visitantes no dia 14 de janeiro no coração do estabelecimento.

Fundada pela loja Le Printemps em 1912, o ateliê “Primavera” foi o primeiro estúdio de design integrado a uma grande loja de departamentos, com a ambição de democratizar o acesso à arte.

A exposição “Primavera, Art à la Mode” foi concebida como uma reflexão sobre as ressonâncias entre as Artes Decorativas e as tendências atuais, com um viés imersivo.
 
Pela primeira vez numa exposição desta envergadura, a loja expõe uma seleção de reproduções XXL de têxteis concedidas especialmente para ocasião pelo Museu de Artes de Decorativas de Paris e pela Biblioteca Forney, bem como catálogos e uma centena de peças em cerâmica das décadas de 1920-1930 de seu próprio acervo.   
Em um átrio excepcional com ares de ateliê e museu, os motivos decorativos florais, geométricos e as cores formam um fio condutor que ainda hoje sublinha a modernidade do estúdio de Design “Primavera”! 

Esses trabalhos dialogam harmoniosamente com roupas e conjuntos das coleções primavera-verão 2025 de diferentes marcas.

De 14 de Janeiro até final de Abril

Ernesto Neto – A Serpente, no Le Bon Marché

Para a edição de sua décima exposição de arte que ocorre nos meses de janeiro, a loja mais elegante da margem esquerda do Rio Sena, Le Bon Marché Rive Gauche convidou o artista brasileiro Ernesto Neto para tomar posse do lugar com suas instalações de crochê.

Feliz coincidência ou real restrição imposta ao artista? Trabalhar em torno da cor branca, em referência ao mês do branco iniciado por Aristide e Marguerite Boucicaut, fundadores do Le Bon Marché Rive Gauche no século XIX. Teriam Aristide e Marguerite passado um Réveillon no Brasil??  

A exposição “A Serpente” é composta por várias obras monumentais, feitas de crochê e criadas a partir de seu ateliê no Rio de Janeiro.

Sob os telhados centrais de vidro, atravessando a escada rolante, no segundo andar e nas janelas da rue de Sèvres, rue du Bac e rue de Babylone, o artista entrega sua interpretação alegre e espiritual do mito fundador da humanidade, na cultura ocidental, através das figuras essenciais de Eva, Adão e a Serpente.

Até 23 de Fevereiro de 2025 no Le Bon Marché Rive Gauche.

Confesso que ainda não tive tempo de visitar as exposições, mas assim que tiver um tempinho, vou tentar. Enfim, não tenho tanto tempo para turistar como gostaria. Porém, se você estiver turistando em Paris e for amante de arte, moda ou simplesmente bom gosto, aproveite!

Fontes- Le Bon Marché, Musée du Quay de Branly e Printemps.