Cultura e engajamento na terra de Cyrano de Bergerac

A semana passada eu escrevi sobre a 17° Semana da Poesia e da Insurreição poética. Esta semana inspirada pela semana da francofonia, que esta sendo celebrada entre 14 e 22 de março, eu divido com você a letra da musica de Jean-Jacques Goldman: Toda a vida.

A música tema da nova campanha dos “Enfoirés” confronta duas gerações de franceses. Quando ouvi imediatamente tive vontade de traduzir e compartilhar, pois não vi melhor maneira de expor aqui um pouco da cultura francesa atual. Afinal de que serve conhecer os pontos turísticos de um país sem conhecer um pouco de sua cultura? Sera parecida ou não com a nossa?

Além disso, o movimento “Les Enfoirés” merece menção.

Em 1986 um artista cômico chamado Coluche criou a associação Les Restos du Coeur com objetivo de distribuir alimentos aos desfavorecidos. Coluche imaginou também um espetáculo para levantar fundos e lançou um convite. Choveram amigos para apoiar. Os primeiros a chegar : Jean-Jacques Goldman, Yves Montand, Nathalie Baye, Michel Platini, Michel Drucker et Catherine Deneuve. Estava lançado o grupo  «Les Enfoirés». O movimento continua ainda hoje mantido por mão de obra caritaviva e apoiado pelos artistas mais famosos da França.

Todo ano um disco e uma série de espetáculos levantam fundos para lutar contra a fome através da França. Este ano a música tema criou polêmica, alguns jovens reclamaram. Jean-Jacques Goldman, presente desde o primeiro evento, disse que o ano que vem deixa o lugar para um dos mais jovens dentre o grupo de artistas para a elaboração do título da campanha, certamente preocupado em que o movimento continue atraindo também as pessoas mais jovens da sociedade.

O clip me faz lembrar aquela publicidade da Globo de final de ano com seus artistas. Porém, neste caso é como se os globais se reunissem para cantar algo muito bem elaborado artisticamente e com um objetivo nobre, ao invés do mesmo jingle de ano novo sem razão de ser, nenhuma criatividade ou objetivo outro que de se promover junto ao público.

Polêmicas a parte, a música é linda, para descobri-la siga o link

Les Enfoirés 2015 canção Toda uma vida

Boa distração e boa semana!

Toda a vida

JOVENS

Portas fechadas e as nuvens sombrias

É nossa herança, nosso horizonte

O futuro e o passado nos incomodam

Você entende a questão?

ADULTOS

NÃO

JOVENS

Vocês tiveram tudo, o amor e a luz

ADULTOS

Não roubamos nada, lutamos para conquistar o que temos

JOVENS Temos os nossos desgostos, nossa cólera

ADULTOS

Mas, você sim, você tem, você sim tem

Toda a vida

Esta é uma oportunidade maravilhosa

JOVENS

Toda a  vida

São palavras que não significam nada

ADULTOS

Durante a noite

Você sabe que o tempo não tem preço

JOVENS

Utopia

Sem futuro

ADULTOS

Toda a vida

é seu turno, é sua vez de ir

Sua vez

E vamos lá

E vamos lá

Vamos lá

JOVENS

Você tinha tudo, paz, liberdade e pleno emprego

Nos temos desemprego, violência e AIDS

ADULTOS

Tudo o que temos, batalhamos para obter.

Agora é sua vez, mas vão ter que se mexer

JOVENS

Você perdeu, irradio,poluiu

ADULTOS

Estou sonhando ou você está fumando?

JOVENS

Você bagunçou as ideologias

ADULTOS

Mas, você sim, você sim tem

Toda a vida

É uma oportunidade, um desafio

JOVENS

Toda a vida?

Que papo, não quer dizer nada

ADULTOS

Toda a vida

Você sabe que o tempo não tem preço

JOVENS

Utopia

Sem futuro

ADULTOS

Toda a vida

Agora é sua vez, mas você vai ter que se mexer

Sua vez

E vamos lá

E vamos lá

Hoje então invejo a tua juventude

JOVENS

Que chato, eu trocaria pela teu caixa

ADULTOS

Isto é a vida, vida que acaricia e machuca

A sua vida, vai

Sua vez, E vamos lá

E vamos lá, Vamos lá

Paris insólita

Eu raramente falo de turismo insólito, porque embora muita coisa extraordinária aconteça por aqui, antes de partir a descoberta de Paris insólita, há tantas outras a serem descobertas. Paris histórica, Paris arquitetônica, Paris moda & beleza, Paris romântica, Paris de Eiffel e Jules Verne, Paris capital da modernidade,da boemia, do impressionismo, do dadaísmo, da Belle Époque, Paris dos pracinhas, Josephine Baker e do Jazz, Paris religiosa da medalha milagrosa, enfim, estes são apenas alguns dos ângulos a partir dos quais podemos descobrir Paris.

Sendo da área do turismo, costumo dar destaque em meus textos a atividades turísticas e clássicas por que são o “B-A-BA”  de Paris. Os próprios parisienses adoram sua cidade porque valorizam todos os aspectos acima mencionados. Como ficar indiferente a tantos monumentos que marcam cada momento histórico vivido pela cidade expostos com tanta altivez e beleza? São 1816 imóveis classificados pelo Patrimônio Francês espalhados por 105 km2. O quadro abaixo, proveniente do Wikipédia, nos permite ver os prédios classificados como Patrimônio Francês através dos 20 distritos de Paris.

Edifícios Edificios Distrito Edifícios Distrito. Edifícios
1er 245 6e 188 11e 44 16e 65
2e 113 7e 139 12e 35 17e 22
3e 141 8e 110 13e 23 18e 29
4e 252 9e 124 14e 51 19e 24
5e 107 10e 55 15e 26 20e 17

 

Porém é bem verdade que Paris é muito mais do que uma série de pontos turísticos mundialmente famosos. Quem caminha por suas ruas se apaixona por um “não sei o que”, que mesmo tendo visto todos os monumentos inúmeras vezes, podendo, volta.

Este  “não sei o que”  que nos trás milhares de turistas de volta a Paris está no ar, nesta vida de parisiense, eclética, divertida e animada. Aqueles que se deliciam caminhando à beira do Sena, entre as mesas dos cafés nas calçadas, podem sentir, ver nos anúncios do metro, no rosto dos transeuntes: em Paris há sempre algo extraordinário acontecendo em algum lugar. Há tanta coisa que até para quem vive em Paris fica difícil acompanhar uma agenda tão intensa.

Eu, por exemplo, ainda tenho esperança de poder seguir os cursos de Yoga da Peggy e Jeff.  Durante cada temporada cursos de yoga em lugares diferentes e excepcionais. Estes jovens mestres de yoga são o máximo da inovação. Peggy e Jeff convidam através de seu site para aulas de yoga nos lugares mais inusitados da capital: o teto da loja BHV, o Jardim de Tuileries, as margens do Sena ou no Parc de la Villette. Dê uma olhada nas imagens se desejar: Yoga on Top -sessões de Yoga de Peggy e Jeff

Ainda falando de insólito, Março é o mês da 17° Edição da Primavera dos Poetas com o tema A Insurreição Poética.

Trata-se do evento mais democrático que já vi. Você pode se inscrever em quaisquer das atividades propostas no site ou ainda criar a sua ação poética e convidar outras pessoas. Atividades e ações poéticas em diversas bibliotecas, espaços públicos e comunitários. Além disso o site publica uma lista de sugestões para participações alternativas como troca de livros entre colegas de trabalho, entrega de poesias, chamada de performances poéticas sob encomenda e mais uma série de possibilidades.

Para a lista de atividades em Paris

17° Primavera dos Poetas -eventos

Desejando-lhe, caro leitor(a) uma ótima semana, deixo aqui também minha colaboração a Insurreição Poética

Embriagai-vos

Embriagai-vos

É necessário estar sempre bêbado.

Tudo reduz a isso, eis o único problema. Para não sentirdes o fardo horrível do tempo,

que vos abate e vos faz pender para a terra, é preciso que vos embriagueis sem tréguas.

Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.

Contanto que vos embriagueis.

E, se algumas vezes, sobre os degraus de um palácio, sobre a verde relva de um fosso, ou na desolada solidão do vosso quarto, despertardes com a embriaguez já atenuada ou desaparecida,

perguntai ao vento, à vaga e a estrela

e o pássaro e o relógio hão de vos responder: – É hora de embriagar-vos!

 Para não serdes os martirizados escravos do tempo, embriagai-vos; embriagai-vos, sem cessar!

De vinho, de poesia, ou de virtude, como achardes melhor.

Charles Baudelaire 1821 -1867

 

O circo do último imperador da França

Nas duas últimas semanas não pude escrever com a frequência desejada, mais umas das inúmeras férias escolares veio mudar a rotina habitual. No Brasil dois longos períodos de férias e os feriados compõem a vida estudantil e parental. Aqui a cada dois meses os estudantes são premiados com pelo menos quinze dias de pausa. Dividida em três zonas diferentes toda a França estudantil para de maneira intercalada. Um quebra cabeça que resulta em muito drible e vai e vem com filhos entre a casa dos avós, entre a casa dos amigos, a televisão, o Ipad e os eventuais passeios em família. Pouco importa o esforço e resultado, para muitos pais que continuaram trabalhando como eu, um sentimento de culpa eminente plaina no ar nestes dias.

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Nesta dupla jornada, enquanto trabalho eu me digo que deveria estar vendo meu filho crescer e quando estou com ele, quantas vezes não penso no trabalho, nas obrigações profissionais e financeiras? Sentimento de culpa! Embora tenha certeza de não ser a única nesta situação, por um momento me sinto perdida. Preciso falar com meu terapeuta! Ops, eu não tenho terapeuta. O que fazer para se livrar do sentimento de culpa? Você faz o que? Dá desculpas ou pede desculpas?

Encontro consolo pesquisando e descobrindo o que fazer com uma criança de dez anos nesta cidade, me dizendo que do ponto de vista profissional as dicas servirão as famílias que vêm a Paris e pessoalmente todo ser humano tem direito e dever de se ocupar de seus filhos. Que mensagem passaríamos para a geração futura se colocássemos dinheiro antes do amor?

Talvez se eu vivesse em Orlando fosse mais fácil, um parque ou uma novidade para cada dia. “Eita” lugar para ter novidades! E atenção, em menos de vinte anos a novidade poderá virar obsoleta e construírem no mesmo lugar algo duplamente impressionante.

Já em Paris, foi o cinema Rex, que data de 1937 e sua sala de cinema e espetáculos que me salvou por algumas vezes nestes quinze dias de férias escolares urbanas. Patrimônio Nacional, o cinema Rex é o palco das estréias e tapete vermelho obrigatório para artistas americanos em visita a Paris, desde Cary Grant e Greta Garbo, até Bruce Willis ou Angelina Jolie. Além dos melhores filmes da cidade, a sala principal com seus 2700 lugares, oferece a decoração de origem repleta de esculturas e cenários característicos das grandes produções cinematográficas do inicio do século XX. A atração permanente Estrelas do Rex faz uma síntese da cinematografia e da história da sala com apoio de divertidos efeitos tecnológicos. Infelizmente a narração unicamente em francês faz com que a experiência se restrinja aos turistas francófonos.

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Porém, de longe, a melhor das atividades foi à ida ao tradicional Circo de Inverno, ver o espetáculo da família Bouglione. Construído por Napoleão III em 1852 com mais de 5000 lugares para acolher as artes equestres e espetáculos diversos, o prédio é um verdadeiro coliseu do século dezenove. Atualmente com 1600 lugares a fim de condizer com as normas de segurança contemporâneas, o Circo ainda impressiona por sua beleza, conforto e visibilidade perfeita. Em 1934 a família Bouglione comprou o edifício, diz a história pagando com peças de ouro e desde então vem gerenciando o lugar com os melhores espetáculos circenses do mundo. Foi, por exemplo, no circo Bouglione que em 1859 Jules Léotard inventou o número de Trapézio Voador. Aliás, que coincidência, no espetáculo Gigante, em cartaz  até dia 1° de março, o quadro de trapézio era realizado pela espetacular família brasileira Mendoza.

Elefantes, cachorros, orquestra, mágica, um grande palhaço, trajes maravilhosos, não faltou nada!

Uma fórmula vitoriosa que atravessou os tempos. Assim é Paris.

PIcadeiro e artistas Paris Visibilidade perfeita Trapezio PIcadeiro 2 Entrada Logo e Cavalo Bouglione Exterior Entrada artistas Entrada 2 Elefantes

No mais, caro leitor, desculpe pelo atraso do post, espero que a dica compense!

Pois no inverno que vêm (entre novembro e março), como há mais de 150 anos, o circo de Napoleão III estará de volta!

fotos: Alessandra Brantes