Empresas de turismo receptivo vêm, cada vez mais, recebendo pedidos para levar seus turistas ao bairro “Bobô” de Paris. Alguém aí no Brasil publicou algo sobre o tema. Quando li a reportagem achei estranho, mas não pensei que teria repercussão.
Mas o que é um bairro Bobô? Liguei para alguns conhecidos parisienses e constatei que, assim como eu, ninguém sabia o que é e onde se localizava.
Para desvendar este mistério voltei então à origem da palavra “Bobô”: diminutivo de bourgeois-bohème ou burguês-boêmio. Termo que designa o jovem profissional com dinheiro, estilo e politicamente de esquerda. O intelectual rico e politizado.
Na França usamos a palavra com certa ironia, falando de pessoas as quais o estilo de vida não condiz com o discurso. Versão atual do termo Gauche-Caviar ou Esquerda-Caviar usado nos anos 80.
Uma vez esclarecido o termo, pensei: qual será este bairro, talvez o mais chique da capital? Será o 5°, o Saint Germain? Ou o 9°, onde estão as grandes lojas de departamento? Quiçá o 8°, onde se localiza o Arco de Triunfo? Talvez o 13° Belleville, imigrante e popular, porém em ascensão imobiliária?
Sai pelas ruas e fiquei buscando em diferentes lugares tentando descobrir onde estaria o tal bairro, “mauricinho” parisiense de esquerda.
Após muita reflexão veio à luz: 55 rue Saint Honoré, Le Palais de l’Elysée. Construído em 1720, este prestigioso edifício foi presente do rei Louis XV à sua amante Mme de Pompadour. Por acaso Mme de Pompadour tornou-se um personagem importante na história francesa por ter introduzido na corte o Iluminismo, teoria que levaria a queda da monarquia. Uma das primeiras “bobô” da historia. Nobre porém Iluminista, revolucionaria.
Hoje habitado pelo Presidente da República, François Hollande, o endereço emana riqueza e prestígio, no entanto abriga um presidente de esquerda que há pouco tentava esconder seu novo caso de amor com uma artista de televisão. Quem pode ser mais “bobô” na cidade?
O endereço só é aberto ao público nos dias do Patrimônio Nacional: em 2014 será nos dias 20 e 21 setembro. Se não tiver a oportunidade de vista-lo em dias abertos para o público, não se preocupe, divirta-se assim como eu fiz, buscando e apostando em quem tem mais estilo e parece ser de esquerda; perambule pelas ruas ou experimente alguns cafezinhos enquanto assiste o passar da multidão. Mas, sobretudo, descubra Paris com tudo que ela tem a oferecer: burgueses boêmios, mas também sua maravilhosa arquitetura e história que faz deste lugar uma das cidades mais belas do mundo.