Novas medidas sanitárias para parisienses e dezesseis departamentos franceses.
Desde os anúncios efetuados pelo primeiro-ministro Jean-Castex comecei a hesitar sobre escrever ou não sobre a questão. O Rodrigo, meu colega do Panrotas perguntou meu parecer sobre o assunto.
A notícia não é desprovida de interesse, estaria de todas as maneiras nos jornais. No entanto, vivendo aqui, eu soube imediatamente que o anunciado nos comunicados de imprensa se traduziria em distintas aplicações e sofreria reajustes.
Apesar do tom didático de primeiro-ministro francês em sua conferência de presse quinta-feira, 17 de março, muitas dúvidas pairavam no ar.
CONFINAMENTO OU NÃO?
Poucos dias antes do anúncio oficial do primeiro-ministro Jean-Castex, diante da insistente pressão dos médicos em prol de um confinamento restrito, o presidente Emmanuel Macron havia declarado desejar evitar a todo custo um novo confinamento, tanto no pequeno estado denomindo Île de France como nas demais localidades francesas.
Afinal, apesar dos maus resultados em matéria de disponibilidade hospitalar e contaminações, a região de Île de France abriga Paris e é carro chefe da economia francesa.
De fato, os números permanecem altos em toda a França: 25.537 pacientes infectados com Covid-19 estão internados, dos quais 4.353 estão em reanimação.
Talvez por essa razão o primeiro-ministro adotou um tom grave e didático para explicar essa nova modalidade de confinamento, completamente híbrida e que pode parecer para muitos contraditória.
Na sexta-feira o próprio Ministro da Saúde, Olivier Veran declarou que se recusava a chamar as novas medidas de reconfinamento.
REAJUSTES NECESSÁRIOS
As restrições as quais um terço dos franceses foram submetidos desde sábado começaram sofrendo mudanças desde o primeiro dia de implementação, com a súbita remoção do Atestado Oficial de Deslocamento ou Attestation de Déplacement Dérogatoire. A nova versão do documento, atestando as razões para 3 horas de vida externa e o limite geográfico 10 km, foi considerada demasiadamente complexa e burocrática, chegando até a contradizer algumas normas anunciadas por Jean-Castex.
Na prática, o Atestado de Deslocamento entre 06:00 e 19:00 nos 16 departamentos sujeitos a novas restrições foi finalmente substituído, em caso de verificação, por um documento simples e uma justificativa de residência, informou o governo no sábado.
O atestado oficial de deslocamento e a justificativa de residência continuarão a ser necessárias para deslocamentos de mais de 10 quilômetros.
Quanto ao atestado exigido em toda a França para deslocamentos durante o toque de recolher (das 19:00 às 06:00), ele permanece em vigor.
110 000 portas fechadas
Os grandes shoppings já estavam fechados, mas agora, para grande desespero dos pequenos lojistas, os comércios não essenciais voltam a fechar. Segundo o jornal Le Parisien 110 000 portas se fecham em todo território afetado pelas medidas.
No entanto, desta vez foram classificados como essenciais:
• Floristas
• Cabeleireiros
• Escritórios de advocacia e notários
• Livrarias
Lojas de óculos e chocolateiros já abertos durante o confinamento anterior, seguem abertos durante esse reconfimamento. Assim como reparação de computadores e bens pessoais e domésticos e demais estabelecimentos autorizados pelo decreto anterior datado de outubro.
O toque de recolher passa das 18h para 19h com a chegada da primavera.
As escolas permanecem abertas com classes divididas em 2 grupos e dias de aulas intercalados. As universidades seguem unicamente com aulas on-line.
Uma página oficial do governo francês explica em detalhes as medidas para cada região.
REAÇÕES
Membros da oposição se mostraram surpresos com a leveza das medidas anunciada aos ansiosos franceses e a repetiram em coro: “Tudo isso pra isso?”
“Tudo isso para isso”, lamentaram em uníssono o líder dos deputados do partido Les Républicains (LR), Damien Abad e o secretário nacional do PCF, Fabien Roussel. “Acho particularmente perigoso tocar na corda psicológica dos franceses, aumentando a ameaça de confinamento nos últimos dias e finalmente enviando um primeiro-ministro envergonhado para fazer pequenos anúncios”, tuitou o deputado Damien Abad .
Na capital, como sempre, muitos parisienses se dirigiram às suas casas secundárias em busca de maior liberdade e muitas vezes em direção à outras regiões onde os comércios se encontram abertos.
BOA NOTÍCIA
Porém, o que com certeza alegrou a todos é que ao contrário dos dois primeiros confinamentos, agora, com o “desaparecimento” da Attestation de Déplacement Dérogatoire, você pode continuar a ficar fora o tempo que quiser dentro de um raio de 10 km de sua casa.
No entanto, aglomerações seguem proibidas e os grupos sociais devem seguir restritos à 6 pessoas.
“Agora sabemos que nos contaminamos infinitamente menos quando caminhamos ao ar livre do que quando estamos agrupados sem máscara dentro de casa”, disse o primeiro-ministro ao justificar as decisões.
Aglomerações seguem proibidas apesar da liberdade.
RESUMINDO
Enfim, com excessão do comércio não essencial que fecha, a mudança da hora do toque de recolher , o limite de deslocamento de 10 km e o desaparecimento do atestado de deslocamento anunciado, nada muda em nosso quotidiano. Mesmo porque o atestado desaparecido durante a composição deste artigo acaba de reaparecer no site do governo, desta vez, sem limite de tempo.
Teatros e lugares culturais seguem fechados em toda a França Cafés e restaurantes seguem fechados em toda a França
Au Pied de Cochon, o restaurante que nunca fechou desde sua abertura nos anos 40, segue fechado
Daí minha hesitação em escrever esse post sexta-feira passada. Como explicar o quê, o porquê e como se o pouco a dizer não está claro?
Agora que você o leu pode também dizer: Tudo isso para isso?
De fato, a novidade é que o governo francês implementou assim medidas empíricas, certo, porém fundadas não somente nas necessidades de controle sanitário, mas também no desejo de manter uma economia parcialmente ativa e a saúde mental das pessoas minimamente preservada.