Sabor de Paris, o evento

A notícia é um prato cheio para quem escreveu que Paris é o império dos sentidos há uma semana. Eu pensei que ia escrever este post sobre o “Dans Le noir?”. “Dans Le Noir?” ou “No Escuro?” é aquele restaurante onde comemos, como já indaga o nome, no escuro. Busca-se assim o aproveitamento máximo do paladar, privando-se da visão. E enfim, não! No momento o paladar, o olfato e a visão têm coisas melhores para fazer no evento Taste of Paris.

Entre os dias 11 e 14 de fevereiro, os maiores chefes da cozinha francesa receberão em torno de 20 000 pessoas em diversos restaurantes efêmeros montados no belíssimo edifício Le Grand Palais. Gourmets, epicuristas, “bons de garfo” e curiosos desejosos em provar criações e pratos assinados por grandes nomes da culinária mundial terão uma oportunidade única.

Abrindo as portas do Grand Palais para o almoço e jantar, o festival anseia levar a alta gastronomia ao grande público. E para isso não faltarão atrativos. Além dos restaurantes pop-up*, produtores e artesãos selecionados pelo Collège Culinaire de France  apresentarão a nata de seus produtos. Assim como, oficinas e performances permitirão aos amantes da culinária dividir a bancada de trabalho com seus ídolos.

Na lista de anfitriões encontram-se obviamente conhecidos nomes como Alain Ducasse, Romain Meder, Guy Savoy, Thierry Marx e Frédéric Anton, mas também estrelas ascendentes de uma nova geração de chefes, como Stephanie Le Quellec, Pierre Boyer, Julien Dumas, Juan Arbelaez e Thibault Sombardier. O evento ainda homenageia a crescente influência da cozinha oriental na França e terá a presença de chefes japoneses como Kei Kobayashi e Ryuji Teshima,  proprietários dos restaurantes parisienses Chez Kei e 116 Pages respectivamente.

A cereja sobre o sundae? Os preços: Passe Découverte 15€ na hora do almoço e 18€ na hora do jantar,  Passe Gourmet por 45 €, dos quais 35 € de créditos para degustações incluídos ou o Passe Deluxe no valor de 138 € com acesso corta-filas, open bar de champanhe Laurent-Perrier e 45 € de créditos incluídos. A idéia é provar especialidades servidas a partir de 5€ aqui e ali e descobrir um vasto painel de sabores sob a magnífica clarabóia do Grand Palais.

Abaixo fotos do edifício. O Grand Palais foi construído em 1900 pela França para a 5a Exposição Universal de Paris e abre durante as festas como parque de diversões ou pista de patinação. Vou sempre que posso para ver a beleza das formas estilo Belle Époque. O prédio acolhe exposições, desfiles e eventos e é um verdadeiro privilégio para quem entra nele admirar a linda e impressionate estrutura.

*Restaurante pop up – POP UP é o mais novo termo utilizado pelos parisienses para tudo que tem caráter passageiro ou que abre e fecha rapidamente.

O que fazem aqueles que não têm petróleo

“A moda é para a França, o que as minas de ouro do Peru são para a Espanha.”- Jean-Baptiste Colbert, Ministro das Finanças e conselheiro de Luís XIV – século XVII.

O domínio francês no mundo da moda começou no século XVII, quando a arte, a arquitetura, a música e os trajes de Luís XIV e da corte de Versalhes eram apreciados e imitados por toda a Europa. Alfaiates e costureiros franceses desfrutavam de uma grande reputação e suas criações eram as mais procuradas pela nobreza e mais tarde pela burguesia emergente européia. No século XIX, com a chegada dos trens e barcos a vapor, tornou-se comum para as senhoras da alta-sociedade viajar a Paris para comprar roupas e acessórios franceses.

É bem verdade que a Espanha não tem mais as minas de ouro do Peru, mas somente um ministro muito visionário ou muito “puxa saco” para prever que os gastos de Luís XIV com suas roupas se tornariam investimento nacional em longo prazo! Não é à toa que os franceses gostam de dizer: Na França não temos petróleo, porém temos cérebros.

Certamente é graças a este eterno amor francês por sua cultura que nos meios artísticos só se fala de uma coisa: Jean Paul Gaultier.

Enfim, o filho pródigo, (lembra-se do choque ao ver pela primeira vez tênis e tutus de balé?) se tornou garoto prodígio da moda parisiense e estará de volta ao berço materno com a tão esperada exposição O planeta moda Jean-Paul Gaultier – da rua para as estrelas.
Jean Paul Gaultier cresceu perto de Paris e desde criança conviveu com o mundo da beleza. Não na rua e sim no salão de beleza da sua avó, onde ele admirava as sessões de maquiagem e cabelo, assim como as revistas de moda colocadas à disposição da clientela. Rapidamente, o jovem autodidata começou a desenhar coleções imaginárias e logo que completou 18 anos foi contratado por Pierre Cardin, começando assim uma carreira com muitos altos e baixos, porém tendo como constantes a polêmica e o apoio do mundo artístico. Lembra-se dos seios em cone da Madonna?

“Desde sua primeira coleção em 1976, você têm questionado os critérios de gosto e de mau gosto. Você chocou, perturbou e irritou, divertiu-se dissimulando pistas com um guarda-roupa ambivalente e intercambiável, falou Pierre Cardin ao entregar a Jean-Paul Gaultier a Legião da Honra da França em 2001».

Após um sucesso sem precedentes para uma exposição sobre moda, tendo passado por Montreal, Dalas, San Francisco, Madrid, Roterdã, Estocolmo, Brooklyn, Londres e Austrália, a chegada em Paris, cidade onde iniciou seu percurso profissional, marca um ponto importante da carreira de Jean Paul Gaultier. Pelo que li, uma recepção entusiástica espera a exposição.

O mundo da moda de Jean Paul Gaultier revela novas peças de alta costura e prêt-à-porter criadas entre 1970 e 2013. Além disso, a mostra reúne desenhos, arquivos, figurinos, trechos de filmes, desfiles, shows, videoclipes, fotos, performances de dança e até mesmo da televisão. O ponto alto do evento deve-se a colaboração da companhia de teatro montrealense UBU e do Museu de Arte Moderna de Montreal. Os aspectos multimídia e interativos da exposição prometem levar o visitante a um mundo elegante e criativo, que vai, no entanto, muito além do mundo da moda.

Le Grand Palais
01 Abril 201503 Agosto 2015

Domingo e Segundas de 10h a 20h

Quartas a Sábado de 10h a 22h

Fechado as terças e 1° de maio

Noite Européia de Museus  Sábado 16 Maio : entrada gratuita de 20h à meia-noite

A Copa, as greves e a Ponte dos Cadeados

Ainda bem que a Copa começou! Já não aguentava mais esta expectativa. Estou querendo acreditar, como boa brasileira nostálgica que sou, que no final tudo vai dar certo. Ainda não terminou para comprovarmos, mas enfim A Copa começou! Se bem que aos trancos e barrancos no que diz respeito à infraestrutura geral e a economia do país, porém isso já não é mais tão importante agora.

Vi as fotos de todo mundo no “Face”, preparados de verde e amarelo da cabeça aos pés, avós, pais, filhos, órfãos  e até animais de estimação.  Afinal durante alguns minutos ainda podemos sonhar e torcer, deixar de lado a indignação, esquecer o sufoco e as greves sobre as quais tenho lido nos últimos dias.

Para aqueles que estavam preocupados com a imagem que estamos dando no exterior, no que diz respeito a França, fiquem tranquilos. Estamos vivendo um segundo ano do Brasil por aqui, somos a imagem do Caos, mas o Francês não tem lá muito medo disso. Ainda existe o sonho da miscigenação de raças e religiões harmoniosas, do sol, da boa musica, da praia, da mulher bonita e do sorriso constante. E para os franceses, um povo que nunca teve sequer um século de existência sem guerras ou revoluções, fica claro que estamos avançando, ou pelo menos tentando.

Mesmo por que aqui também tivemos muitas greves recentemente: greve dos taxis, dos pilotos da Air France e agora é a vez dos ferroviários. Não tem Copa, mas tem testes nacionais similares ao vestibular, gente precisando transitar no pais inteiro entre periferias e grandes cidades. Dificuldades para o publico e uma perda de mais de 80 milhões de euros para as empresas ferroviárias governamentais SNCF ( Société Nationale des Chemins de fer Française)  RFF ( Reseau Ferroviaire France). Aliás aqui, quase todo dia temos pelo menos uma manifestação em algum lugar da cidade.

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Manifestação ao lado de casa esta semana,no Boulevard Bonne Nouvelles, contra matadouros. Acontecem quase sempre fora das zonas turisticas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quem nunca faz greve aqui são os turistas e os casais apaixonados. Estes manifestam somente o seu amor. E quem poderia ser contra? No entanto, em Paris, é maior a polêmica sobre os cadeados na Ponte do Amor que as greves do transporte. Em seu sexto dia de paralização, se os ferroviários não tivessem lançado bombas de gás nas vias férreas, talvez essa greve já nem estivesse nas manchetes. A França ganhou há dois dias contra Honduras por 3-0, e hoje tem jogos da Argélia e do Brasil. Mas em Paris do que se fala mesmo, é da Ponte das Artes, ou ponte dos Cadeados situada bem no coração da cidade, onde todo mundo, e quero dizer todo mundo literalmente, vê, e cuja parte da grade se soltou devido ao peso e caiu há uma semana, atiçando ainda mais a discussão.

De quem é Paris? Dos turistas? Dos parisienses? Será que a Ponte das Artes vai cair com todo este peso? Estão vendo? Já começou a cair, diriam as más línguas! A prefeitura fica dividida entre os frustrados que não entendem a demonstração de afeto que nunca vivenciaram, os vendedores de cadeados e os turistas apaixonados, de quem gostamos tanto diga-se de passagem.

Na rotina dos turistas ninguém quer tocar, felizmente são prioridade nos projetos da municipalidade e merecem TODO o respeito. No entanto as grades que pesam em torno de ½ tonelada (cada lado) já foram retiradas 37 vezes. Apesar do preço de revenda de metal, não parece haver interesse da prefeitura em perpetuar essa situação. A cidade esta em um impasse. Para agravar a polêmica, quando o município não dá conta de trocar as grades repletas, os amantes deslumbrados saem botando cadeados para todos os lados, chegando até na Torre Eiffel. E ai até a mais romântica das blogueiras perde a paciência com nossos tão amados visitantes: Opa! Assim também não!

Academia Francesa e Biblioteca de Mazarino ( conselheiro de Luis XIV) .1661
Academia Francesa e Biblioteca de Mazarino ( conselheiro de Luis XIV) .1661
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Foto tirada em passeio de bicicleta as 7h da manhã, a ponte quase vazia
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A cada dia mais cadeados
Vista da Ponte para Ilha de la Cité,
Vista da Ponte para Ilha de la Cité, ponta chamada “dos judeus” onde foi queimado o templario Jacques de Molay
Pont des Arts- Paris
Novo pedaço de grade da Ponte das Artes e os novos cadeados não tardaram a chegar
Vista Ponte das Artes, direção Louvre, Museu D'Orsay
Vista Ponte das Artes, direção Louvre, Museu D’Orsay.Cadeados até no topo da luminaria.