Salvador é um destino de Sol e Praia (mas pouca gente sabe disso)

Não faz muito tempo, lá pelos anos 90, em que a gente era líder de preferência em viagens no Brasil. Salvador estava no momento certo – auge da Axé Music, visibilidade da Bahia na mídia e um Centro Histórico recém “restaurado” -, despertando o desejo de milhares de turistas. A nosso favor, havia o fato de sermos a capital nordestina mais próxima do Centro-Sul do País e que não tínhamos uma concorrência tão forte nas capitais vizinhas.

Parecia um reinado vitalício, até que outros destinos do Nordeste se profissionalizaram, e começaram a atrair o mesmo perfil de turista brasileiro que em outras épocas estaria batendo ponto na Bahia. Hoje, converse com qualquer especialista do mercado, e entre outros problemas comuns a qualquer metrópole, ele certamente vai dizer que uma das desvantagens de Salvador é que “a cidade não é mais vista como destino de praia”.

Praia da Viração – Ilha dos Frades – Salvador-BA

Foi o que eu ouvi uma vez de um profissional, e fiquei com aquilo na minha mente. Segundo ele, o maior volume de turistas que movimentam o mercado interno busca um pedaço de areia pra chamar de seu, e a divulgação de Salvador lá fora não trabalha essa imagem. Queremos ser vistos pelo nossa riqueza histórica e cultural, pelo calendário de festas, pela ancestralidade africana e pela gastronomia – e tudo isso é válido e um grande diferencial. Por outro lado, de acordo com ele, entre uma foto do Pelourinho e o mar esverdeado de Alagoas, a maior parte dos turistas brasileiros costuma escolher a segunda opção.

Ironicamente, os dados indicam que o número de visitantes em Salvador têm aumentado – e mais, que o feedback tem sido positivo. Outro dia estava na Barra em um dia de Sol e ouvi uma turista de São Paulo exclamar que não imaginava que a água do mar de Salvador seria daquela cor. Assim como ela, pense quantos não exploram nem 10% da nossa orla de quase 50Km (que ainda carece de uma estrutura de barracas e quiosques, como qualquer capital litorânea) e visualize se esse número não poderia ser ainda maior.

Falta muito. Falta tudo, em alguns locais. Mas com tudo o que falta, o mar de Salvador ainda encanta.

Praia de São Tomé de Paripe – Salvador-BA

Ela voltou: rota Salvador-Miami será operada a partir de 2018

Um ano depois do cancelamento dos voos operados pela American Airlines, Salvador voltará a ter uma conexão direta com os Estados Unidos, com a retomada da rota com destino a Miami, a partir de maio de 2018. Esse foi o resultado do acordo assinado entre o Governador da Bahia, Rui Costa, e o diretor da LATAM, Bruno Alessio, nesta terça-feira (10).

O Estado irá garantir a redução do ICMS sobre o querosene de aviação – medida que o Governo de Pernambuco já adota há algum tempo e que ajudou Recife a aumentar consideravelmente a sua malha aérea – e em contrapartida, a LATAM irá operar duas novas rotas internacionais (além de Miami, um novo voo Salvador-Buenos Aires será operado a partir de janeiro, somando-se à rota já existente da Aerolíneas Argentinas e da GOL), além de assegurar a divulgação da Bahia nas revistas de bordo e aumentar as frequências domésticas para os aeroportos de Salvador, Porto Seguro e Ilhéus. O novo voo para a Buenos Aires inclusive já havia sido anunciado pelo PANROTAS aqui.

A notícia havia saído poucas horas antes e as redes sociais já estavam fervendo com os mais diversos comentários. Os detratores, como de praxe, já antecipam que os voos serão um fiasco, alegando que Salvador não teria público ou demanda que sustentasse mais uma rota internacional. O caso mais lembrado foi o do voo para Santiago do Chile, festejado pela Air Europa em 2014 e cancelado seis meses depois, além da rota para Frankfurt (Condor), cancelada em março desse ano. E isso para não falar da constante boataria nos bastidores do trade turístico, que ainda apontam que outros voos internacionais com destino a Salvador deverão sair de cena nos próximos meses.

Por outro lado, há que se reconhecer os avanços: em um ano, Salvador ganhou a rota sazonal para Montevidéu (GOL) e a mais recente ligação do Brasil com a Colômbia, com o voo desde Bogotá (Avianca). Hoje, a capital baiana tem ainda voos diretos para Lisboa (TAP), Madri (Air Europa) e a já citada Buenos Aires (Aerolíneas e GOL).

Recife, enquanto isso, ri à toa com quase 10 destinos internacionais e caminha para acrescentar mais um título à famosa cartilha da megalomania pernambucana. Muito justo, por sinal.

O problema do Pelourinho: não é por falta de programação

Na última quinta (05), a Secretaria de Cultura e Turismo de Salvador divulgou a sua mais nova tentativa para movimentar o Centro Histórico. Trata-se de um novo modelo para o Pelourinho Dia e Noite, projeto famoso da década de 90, reeditado no primeiro mandato da atual gestão municipal e relançado agora com um outro formato e algumas novidades.

A proposta é ocupar a região “de domingo a domingo”, como ficou claro no marketing de lançamento, e atrair principalmente o público soteropolitano, que pouco associa o Pelourinho a uma opção de lazer em Salvador. O calendário inclui apresentações de orquestras, musical de rua, desfiles de grupos de percussão, shows de samba, eventos gastronômicos e exibição de filmes, entre outras atividades.

Uma das maiores reclamações das operadoras e agências de turismo é que à exceção do Verão, a agenda de eventos de Salvador não é muito bem definida. Tirando os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, no resto do ano ninguém tem muita certeza do que vai encontrar em Salvador – e eventos esporádicos acabam sendo divulgados com pouca antecedência para chegar ao ponto de criar demanda de turistas pra cá. Só por isso, a iniciativa de criar um calendário desde outubro já é mais do que bem-vinda.

E o que o Pelourinho Dia e Noite vai trazer para o público? Confira abaixo:

Todas as sextas-feiras, às 19h, o musical ‘Circuito Jorge Amado’ vai sair pelas ruas do Pelô, começando no Largo do Pelourinho, com o velório de Quincas Berro d’Água, e encerrando na frente da Cantina da Lua, no Terreiro de Jesus. Quer mais? A trilha sonora é do cantor Gerônimo.

Salvador não vive só de OSBA e NEOJIBA, e as pessoas precisam saber disso! Agora dá para acompanhar de perto os ensaios de outras orquestras de Salvador, que vão ocupar pelo menos quatro igrejas do Centro Histórico (até a do Boqueirão entrou na roda, que eu nunca consegui visitar porque vive fechada): às segundas-feiras, às 17h, ensaio da Orquestra Afrosinfônica na Igreja do Boqueirão; às terças, às 17h, ensaio da Sanbone Pagode Orquestra na Igreja da Misericórdia; às quartas, às 18h, missa orquestrada com a Orquestra São Salvador na Igreja São Domingos; aos sábados, às 10h, ensaio da Orquestra de Câmara de Salvador na Igreja do Carmo. Tudo com entrada gratuita.

Todas às terças, além da missa mais linda do mundo – na Igreja do Rosário dos Pretos, às 18h – tem também Viradão do Samba, das 19:30h às 21h, em locais diversos (Praça da Sé, Terreiro de Jesus e Largo do Pelourinho). Entre os destaques, tem o show do Grupo Botequim, que há anos promove o famoso Samba do Santo Antônio, sempre às sextas. Recapitulando: missa no Rosário às 18h; samba no Pelô às 19:30h. Copiou?

Além disso, pelo menos duas vezes por mês vai rolar o Domingo Gastronômico – espécie de festival que vai misturar culinária e arte com a presença de atores, músicos e performers. Mais de 15 restaurantes do Pelourinho estão participando (e alguns cardápios foram criados só para o evento). Para completar, tem a República dos Tambores, com Banda Didá, Kizumba, Tambores e Cores e Meninos da Rocinha do Pelô, circulando pelas ruas do Pelourinho de quarta a domingo, em horários pré-definidos. E a novidade é que o Carmo e o Santo Antônio, apesar de não serem Pelourinho propriamente dito, também foram encaixados no roteiro do projeto, com performances artísticas na rua principal e cinema ao ar livre no Largo de Santo Antônio (apenas em datas específicas).

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Tudo isso seria lindo como 2 e 2 são 4, se não fossem os vários problemas inerentes ao Centro Histórico. Antes que você ache o projeto revolucionário, é importante lembrar que a Prefeitura não está inventando a pólvora com o Pelourinho Dia e Noite, e tampouco o Governo do Estado, que há anos oferece programação de shows nos largos Pedro Arcanjo, Tereza Batista e Quincas Berro d’Água, através dos projetos da SECULT.

O caso do Pelourinho não é por falta de programação. Sim, quanto mais atrativos, melhor, mas é preciso ir além: não basta ser cultural; é preciso que o Centro Histórico seja FUNCIONAL todos os dias. A Cultura tem um papel importantíssimo, mas não pode ser utilizada como tapa-buraco, para solucionar questões primordiais. Nos anos 90, acharam que uma camada de tinta e algumas reformas seriam suficientes para revitalizar o Pelô – e até foi, mas por tempo limitado. Já nos anos 2000, insistem em encher o Pelourinho de opções culturais – quase sempre gratuitas – e acham que isso naturalmente vai atrair de volta a população de Salvador.

Primeiro: quando será resolvido o problema do acesso? Chegar ao Centro Histórico de transporte público continua sendo um parto – e à noite, um verdadeiro filme de terror (na volta, eu tenho ido de Uber até o metrô Campo da Pólvora, que sai uns R$7,00). De carro próprio, ou o motorista paga caro aos flanelinhas, ou paga mais caro ainda nos estacionamentos (prédios enormes e com inúmeras vagas). Sejamos francos: não dá pra achar que a galera motorizada vai preferir ir ao Pelourinho pagar R$18,00 por 2h, enquanto 4h no Salvador Shopping saem por R$6,00. Simplesmente não vai acontecer.

Segundo: quando será resolvida a efetiva inclusão da população marginalizada que vive no entorno do Pelourinho? São dezenas de becos e vielas que ficaram de fora da revitalização na década de 90 e que não conseguem ser absorvidos por projetos sociais (porque projeto social não faz milagre). É preciso que o Estado se faça presente e que a iniciativa privada volte a acreditar que o Centro Histórico tem futuro, para que só então se crie um projeto real de acompanhamento, educação e qualificação desses moradores.

Terceiro: quando o Pelourinho vai deixar de ser tratado como cartão postal e de fato integrar-se ao cotidiano de Salvador? Após a superação das duas questões anteriores, ou talvez simultaneamente a elas, é necessário criar ferramentas para que a população frequente o Centro Histórico no dia a dia: atrair empresas e ocupar casarões com órgãos públicos podem ser os primeiros passos para fomentar o comércio – e de quebra, frear a escalada de estabelecimentos que têm fechado as portas no Pelourinho nos últimos anos.

A formação de um novo público para o Pelourinho passa também pela quebra de inúmeros preconceitos que já estão enraizados na mente do soteropolitano médio – o principal deles, de que a região seria perigosa. Concordo que não seja um mar de rosas, mas discordo que seja a zona de guerra que costumam pintar. Como é comum em qualquer Centro de grande cidade brasileira, o lugar sofre em especial com furtos rápidos (turistas são as maiores vítimas), mas eu me sinto muito mais inseguro num bairro de classe média, como a Pituba. E não custa lembrar: o Pelô tem quase uma dupla de policiais a cada 100 metros.

O Centro Histórico de Salvador é indiscutivelmente rico. No dia em que todas essas questões forem levadas a sério, o Poder Público nem vai precisar intervir para lançar projetos de incentivo como o Dia e Noite. A ocupação do Pelourinho ocorrerá naturalmente.