Considerando que Salvador não é uma das cidades mais fáceis para se locomover – trânsito complicado, transporte público que deixa a desejar e geografia confusa até para os próprios moradores – não é de se espantar que muitos turistas optem por conhecer a cidade num passeio, seja em ônibus estilo “Hop-On e Hop-Off”, seja em um clássico de qualquer cidade turística: o city tour guiado.
Em Salvador, o city tour ganha uma dimensão mais importante principalmente para quem se hospeda longe do Centro. Tendo uma orla com mais de 50Km, a cidade conta com uma hotelaria distribuída em diversas zonas – e essa falta de concentração numa única região, como costuma acontecer com Boa Viagem, no Recife, já revela, por si só, a dificuldade de se organizar um passeio regular com saídas de diferentes hotéis.
Mas passada essa fase, vamos explicar resumidamente como funciona o roteiro e por que ainda é uma boa opção para quem passa pouco tempo em Salvador (antes de seguir para outros destinos no Litoral Sul ou Litoral Norte da Bahia).
O passeio começa no início da manhã e após a apanha nos hotéis, costuma seguir direto para o Farol da Barra.
Os primeiros registros da construção do Forte de Santo Antônio da Barra – nome oficial do conjunto inteiro – datam do Século XVI. Já o farol foi projetado no século seguinte e é considerado o mais antigo do País.
No interior do forte funciona o Museu Náutico da Bahia, que tem como destaque peças de naufrágios ocorridos na Baía de Todos os Santos (e acredite, foram muitos). O ingresso custa R$15 (inteira) e R$7,50 (meia) e permite subir a interminável escadaria que leva ao topo do Farol. Em razão do tempo limitado, não se recomenda fazer a visita durante o city tour.
O passeio segue para a Igreja do Bonfim, na Cidade Baixa, e realiza nova parada para fotos, com tempo suficiente para amarrar fitinha na grade, tomar banho de folha e se ajoelhar no santuário (para lavar a escadaria, só indo na 2ª quinta-feira de janeiro).
Apesar de todo o apelo turístico, a Igreja do Bonfim tem lugar cativo no coração dos baianos, e conta com missas lotadas e fiéis de todas as partes da cidade. No sincretismo religioso, o Senhor do Bonfim católico é equivalente a Oxalá, para o candomblé.
Uma revelação que costuma chocar 99% dos turistas: ele pode ser o maior símbolo de fé dos baianos e reunir até ateu na porta da igreja, mas o fato é que o Senhor do Bonfim não é o padroeiro nem da Bahia e nem de Salvador. Vida, devolva minhas fantasias.
Um ponto imperdível na visita à igreja é a Sala dos Milagres, onde fiéis depositam todo o tipo – todo o tipo MESMO – de objeto para agradecer por alguma graça alcançada. Os pedaços de “corpos” no teto, que podem parecer macabros à primeira vista, nada mais são do que moldagens em cera que representam órgãos do corpo humano (geralmente por alguma cirurgia bem sucedida ou cura de uma dor crônica).
O último trecho rodoviário do passeio vai até o Pelourinho – e a partir daí, o roteiro segue todo a pé até o embarque no veículo para o retorno aos hotéis. Os grupos costumam chegar ao Pelô perto da hora do almoço, e seguem caminhando pelo Centro Histórico em direção ao Terreiro de Jesus.
O Pelourinho dispensa maiores apresentações, mas basta lembrar que a área é tombada como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, é um dos maiores conjuntos arquitetônicos barrocos fora da Europa, e tem uma atmosfera diferente de tudo o que você já viu. Só de ouvir a primeira batida de tambor na esquina o coração já arrepia.
Na hora do almoço, os guias sugerem algum restaurante para o grupo – que como o nome já diz, é apenas uma sugestão –, e após, o passeio se dirige à atração mais impressionante do lugar: a Igreja e Convento de São Francisco.
Classificada como uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo, a Igreja de São Francisco é uma das maiores expressões do Barroco no Brasil, com um interior de cair o queixo de qualquer um. É ouro para tudo que é lado:
O ingresso custa R$5 por pessoa e a visita dura de 30 minutos a 1 hora, a depender do grupo. Dali, o passeio ainda dá uma voltinha no Pelô mostrando mais alguns pontos de interesse histórico:
– Catedral Basílica de Salvador (1672)
– O antigo prédio do Colégio dos Jesuítas, onde funcionou a primeira Faculdade de Medicina do Brasil (Século XIX). Hoje, o local abriga também o Museu Afro-Brasileiro, vinculado à Universidade Federal da Bahia.
– Igreja da Ordem Terceira de São Domingos Gusmão (1731)
– Igreja da Ordem Terceira de São Francisco (1705)
– Igreja de São Pedro dos Clérigos (Século XVIII)
– Praça da Sé
– Casa de Câmara e Cadeia (atual Câmara Municipal de Salvador)
– Palácio Rio Branco (antiga sede do Governo do Estado)
Ainda caminhando, o grupo chega à Praça Municipal e se depara com uma das vistas mais famosas e fotografadas de Salvador. Estão ali a Baía de Todos os Santos, imensa, imponente e com um azul inconfundível; o Elevador Lacerda (1871), para nos lembrar da geografia única daquela cidade dividida em Alta e Baixa; e o Mercado Modelo, maior referência de compras para os turistas.
Depois das devidas fotos, selfies, vídeos e Oh!’s e Ah!,s que a visão sempre causa nas pessoas, o grupo desce o elevador (Preço: 15 centavos), e tem o 2º choque da viagem ao descobrir que 1) é apenas um transporte público como qualquer outro; e 2) não é panorâmico. O passeio é encerrado ao final da tarde, após a visita no Mercado Modelo (com tempo livre para rodar os dois pavimentos e as centenas de boxes do lugar).
A ordem e as paradas do roteiro podem variar de acordo com o guia ou a empresa que realiza o passeio, mas quase todos contemplam necessariamente esses pontos. Depois de rodar o dia inteiro, o seu itinerário pela cidade deve ficar mais ou menos assim (utilizei como parâmetro a saída dos hotéis-resort da praia de Stella Maris):