É em momentos de crise que percebemos o valor de um bom planejamento. Quando falamos sobre a organização de eventos corporativos, inclusive internacionais, especialmente em regiões com contextos geopolíticos sensíveis, a gestão de risco precisa estar no centro da estratégia e não ser vista como um item opcional ou de última hora.
Recentemente, um grupo de políticos do Brasil viajou a Israel, a convite do governo daquele país, para um evento voltado à inovação em segurança pública. Durante a estadia, um conflito entre Israel e Irã se intensificou, o que causou o fechamento do espaço aéreo e forçou os brasileiros a se abrigarem em bunkers, que são estruturas subterrâneas fortificadas. A repatriação da comitiva, só possível após dias de articulação entre a Confederação Nacional de Municípios (CNM), o Itamaraty e o Palácio do Planalto, demonstrou claramente como uma crise pode se instalar repentinamente e como é importante ter um plano de ação bem estruturado para responder a ela.
O episódio serve como alerta: em um mundo cada vez mais interconectado, instável e dinâmico, empresas e governos precisam contar com protocolos robustos de gestão de risco para seus eventos e viagens internacionais. E isso vai muito além de checar a previsão do tempo ou garantir um seguro-saúde.
Gestão de risco, nesse contexto, significa avaliar previamente os possíveis cenários de instabilidade política, climática, sanitária ou de segurança no país de destino. Significa ter protocolos de evacuação, canais diplomáticos acessíveis, apoio jurídico e médico, e, principalmente, contar com parceiros internacionais que ofereçam suporte logístico e operacional global, caso uma crise impeça a movimentação imediata de participantes.
A repatriação dos gestores brasileiros só aconteceu pela mobilização de forças institucionais e diplomáticas de alto escalão. Em muitos casos corporativos, sem o envolvimento direto de governos, esse tipo de operação dependeria exclusivamente da preparação prévia feita pela empresa ou entidade organizadora do evento, além dos seus parceiros logísticos e de mobilidade internacional.
E não se trata da necessidade apenas em eventos em zonas de guerra. Gestão de risco também se faz necessária em encontros realizados durante períodos de instabilidade climática, como furacões nos Estados Unidos ou enchentes repentinas na Europa ou até mesmo no Brasil. A pandemia do coronavírus é outro exemplo recente: empresas com programas estruturados conseguiram reagir mais rapidamente às restrições de fronteira, mudanças de legislação e cancelamentos de viagens em massa. Outros casos emblemáticos incluem manifestações políticas em grandes cidades, fechamento de aeroportos por greves gerais, ou até mesmo incidentes naturais como terremotos e erupções vulcânicas.
Para quem atua na organização de viagens corporativas, feiras e convenções, o aprendizado é claro: é preciso investir em inteligência de risco, análise geopolítica e protocolos de contingência. Não basta torcer para que tudo ocorra bem. É necessário planejar, com o máximo de detalhes possíveis, como reagir se algo der errado.
Luana Nogueira é diretora-executiva da Associação Latino Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas (Alagev)
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