O ano de 2022 foi realmente cheio de surpresas, com a Copa do Mundo do Catar, retomada dos eventos e viagens, eleições e guerra. Aquele sentimento de que os últimos 12 meses passaram em um piscar de olhos está pairando no ar nos corredores das empresas, no comércio e também na nossa casa.
Nessa semana de recesso, me preparando para todos os bons desafios que teremos a partir de agora, além de descansar e recarregar as energias, reassisti algumas lives da ALAGEV e uma que me chamou a atenção foi a Jornada Virtual pré-LACTE POP-UP com o tema Environmental, Social, and Corporate Governance, o famoso e tão comentado ESG. É impossível negar que esse foi um dos assuntos mais discutidos de 2022 no mundo corporativo e que terá importância ainda maior em 2023. E é por isso que abro a nossa temporada de posts deste ano exatamente com este tema.
O documento “Marco setorial de turismo”, preparado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e atualizado a cada quatro anos com análises sobre a América Latina e Caribe, aponta como cinco principais obstáculos o fortalecimento dos destinos na recuperação pós-choque covid-19, o aumento dos benefícios econômicos do turismo e de suas contribuições locais, a distribuição dessas vantagens entre grupos em situação de vulnerabilidade, o crescimento da gestão ambiental e climática do segmento e a melhoria da governança turística.
Todos esses pontos estão embaixo de um guarda-chuva que pensa o desenvolvimento como um vetor de sustentabilidade e inclusão. Desse modo, as empresas devem ficar atentas aos projetos que favorecem o meio ambiente e a diversidade, já que interferem na vida de todos.
Segundo os dados do painel intergovernamental das mudanças climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), Recife é considerada a capital mais ameaçada do Brasil devido ao potencial aumento do nível do mar. A cidade não possui uma elevação muito superior ao oceano e qualquer alteração pode trazer consequências devastadoras para o local, que tem como importante fonte de economia o turismo.
No estudo foi notado que as inundações, o descongelamento de glaciais, secas e a acidificação do nível do oceano afetam ecossistemas sensíveis que normalmente são regiões costeiras, mangues, recifes, onde, em geral, os projetos turísticos acontecem.
Ao mesmo tempo que o segmento é sensível a essas ações do meio ambiente, ele também impacta na mudança climática. Um estudo da Organização Mundial do Turismo (OMT), realizado em 160 países, indicou que, entre 2009 e 2013, a pegada de carbono do turismo representou aproximadamente 8% das emissões globais de gás de efeito estufa. Em primeiro lugar estão os voos aéreos, seguidos por viagens de automóveis (32% das emissões) e pelos alojamentos (21%).
A pegada de carbono é grande, mas não é de fácil medição, porque turismo e mudanças climáticas envolvem interações muito além do segmento, e isso não é, muitas vezes, prioridade do governo. É preciso que esse monitoramento também seja responsabilidade do setor privado, pois é necessária uma observação uniforme e sistemática para que seja possível fazer comparações e análises corretas. Assim, será possível que o governo e as empresas relatem como estão contribuindo para as métricas de descarbonização estabelecidas nas suas políticas nacionais.
Esse pensamento leva à mensagem de que para ser uma área mais resiliente às mudanças climáticas, é necessário promover uma transformação de comportamento. Na live, vimos que existe uma literatura muito extensa que busca entender o que o turista quer, o quão sensível ele é às questões ambientais e climáticas e qual o valor que ele atribui a esses assuntos. Estamos chegando no final da pandemia, mas sabemos que foi uma grande dificuldade o uso obrigatório da máscara, o que impactou justamente numa mudança de comportamento das pessoas. Esse é um exemplo bem claro de como o setor terá que enfrentar obstáculos, por um lado educando o turista e, do outro, o turista incorporando essas novas maneiras de viajar e consumir. Isso também está alinhado ao desenvolvimento sustentável, ou seja, para que o segmento consuma e produza seus atrativos de uma forma saudável, é essencial mudar.
Por fim, as medidas de adaptação e mitigação são fundamentais para a resiliência e sustentabilidade dos destinos turísticos. O conteúdo também identificou medidas que apoiam a luta climática realizadas em parceria com o BID, como, por exemplo, avaliações ambientais estratégicas para identificar os riscos e desafios, além de manter a competitividade do seu destino a longo prazo; indicadores de sustentabilidade de São Paulo; plano de mitigação e adaptação às mudanças do clima de Salvador; e a certificação para o Turismo Sustentável e Resiliente nas Bahamas.
Diversidade
Pensando no tema da diversidade, as empresas precisam discutir a importância do voluntariado, como o ambiente corporativo pode ser um agente anti-racista, quais são as políticas e práticas afirmativas com maior potencial de transformação e campanhas com mais diversidade, além da cultura inclusiva e informativa.
Destaco uma fala que achei super interessante de Samanta Lopes, coordenadora do Mestres Diversidade Inclusiva, em que diz que “ser anti-racismo em um ambiente corporativo é cruzar as pontes. Uma mulher de pele mais retinta tem uma barreira levantada muito antes dela falar. O ambiente de negócios é um grande espaço para quebrar esses tabus. A primeira observação que faço ao chegar na empresa é verificar onde estão as pessoas negras. Normalmente estão na portaria, servindo café ou na equipe de faxina. Se eu quero trabalhar em uma área anti-racismo, tenho que ter representatividade e isso não é ter essas pessoas nesses cargos, mas é também tê-los na gestão”, destaca.
Uma das dicas para que o empresário seja mais diverso é ir nas escolas e mostrar o turismo, o impacto econômico que um resort, hotel, organização de transporte e agência podem trazer e refletir para aquela comunidade.
Para isso acontecer será necessário que as lideranças dêem um passo à frente e sejam mais proativas do que reativas. No turismo devemos aprender com as dimensões de diversidade sejam elas de raça, orientação sexual, faixa etária ou gênero.
Como oportunidade, os RHs precisam ser mais bem informados, devemos ter no topo lideranças preparadas com culturas mais direcionadas à diversidade e à inovação.
Como palavra final, destaco outra fala da Samanta sobre a importância de apoiar o próximo: “Hoje não tem mais lugar do meio, se você não faz nada, está sendo omisso e conivente, seja com o racismo, homofobia, gordofobia ou xenofobia. Se você não é aquela pessoa que está passando por essa situação, você deve ser aquela aliada. Isso é uma questão de respeito humano. Não temos o direito, em hipótese alguma, de permitir a violência, desrespeito ou descriminação, por conta da aparência, escolha religiosa ou identidade. Respeitar a vida está na constituição”, comenta.
Para o próximo ano, deixo a reflexão para que as empresas reflitam sobre como ser mais sustentável e inclusiva. Hoje, não é possível ser uma marca respeitada se não aplicar essas diretrizes em sua cultura corporativa.
Se você também quiser assistir à live completa, deixo aqui o link direto da TV ALAGEV no Youtube. E que venha 2023, com muita conscientização e sucesso!
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