O lixo é de cada um – e a responsabilidade também

Na última semana, participei do evento de celebração dos 130 anos da assinatura do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre Brasil e Japão, realizado no Blue Tree Premium Faria Lima. Entre falas emocionantes e encontros significativos, uma frase dita logo na abertura da palestra da jornalista Taiga Gomes ficou em meus pensamentos até agora: “O lixo é de cada um.”

Luana Nogueira, diretora-executiva da Alagev, no Blue Tree Premium Faria Lima

Pode parecer algo simples e até óbvio, mas o significado dessa máxima japonesa vai muito além do que está à vista. Ela representa um pilar profundo da cultura nipônica: a consciência coletiva. Lá, o lixo é realmente responsabilidade de quem o gera. Não há lixeiras públicas em cada esquina, e ainda assim as ruas são impecavelmente limpas. Por quê? Porque há uma consciência real de que aquilo que eu faço, mesmo que seja pequeno ou pessoal, reverbera no coletivo.

E foi inevitável fazer o contraponto com o nosso ambiente corporativo. O quanto somos, de fato, responsáveis pelo que deixamos no “caminho” considerando ideias, palavras e comportamentos? O quanto cuidamos para que nossas atitudes não invadam ou prejudiquem o espaço do outro? Vivemos um tempo em que opiniões são, muitas vezes, “jogadas” sem filtro, sem escuta, sem perceber o outro. Uma superficialidade que, infelizmente, tem tomado conta de muitas relações no ambiente de trabalho.

O Japão nos convida, com sua maturidade milenar, a repensar essa lógica. A coletividade lá não anula o indivíduo, mas fortalece uma convivência harmoniosa. Ser parte de uma comunidade — seja de uma rua, uma empresa, uma equipe — significa agir com respeito, olhar ao redor e, sobretudo, pensar antes de agir. É um “ser indivíduo” que não atravessa ou extravasa o outro.

Taiga Corrêa Gomes, jornalista

Enquanto cultura ainda jovem que somos, talvez nos falte esse freio. Temos ímpeto, criatividade, agilidade — e isso é incrível. Mas a maturidade e sensibilidade também se constroem com pausa, escuta e consciência. E o turismo corporativo, setor no qual atuamos diariamente, é um terreno fértil para esse aprendizado e equilíbrio. É nas viagens, nos encontros, nos eventos, que temos a chance de nos conectar com diferentes culturas, ampliar nossa visão e refletir sobre o tipo de sociedade e de empresas que queremos construir.

O encontro trouxe isso de maneira muito sutil e profunda. Por meio das experiências compartilhadas por Taiga e Chieko Aoki, presidente da Blue Tree Hotels, saímos todos tocados por uma cultura que entende o coletivo como extensão do eu e que cuida do ambiente, do outro, do tempo e das palavras. Que sabe que o lixo é de cada um e que a responsabilidade também é.

Luana Nogueira, diretora-executiva da Alagev, e Chieko Aoki, presidente da Blue Tree Hotels

Quando analiso o senso de grupo, não posso deixar de fazer um paralelo com o que vivemos na Alagev. Já somos centenas de participantes atuando em 17 comunidades que discutem temas relevantes, compartilham boas práticas e refletem sobre novos comportamentos para o nosso mercado. Cada comunidade — como Aviação (CA), Agências de Viagens (CAC), Hotelaria (CH), Mobilidade (CMOB), Tecnologia (CTIE, CTIV) e tantas outras — é uma oportunidade valiosa de conexão com quem vive realidades semelhantes, enfrenta os mesmos desafios e busca caminhos para soluções, evolução empresarial e, acima de tudo, desenvolvimento.

Esses espaços nos mostram, na prática, que crescer junto é sempre mais potente do que sozinho. E que a consciência de contribuir com o coletivo — seja com ideias, iniciativas ou ações concretas — é parte fundamental da construção de um mercado mais ético, eficiente e humano.

Fica então o convite: o que você tem deixado pelo caminho no seu ambiente de trabalho? O que você pode recolher? Como sua individualidade pode somar e não sobrepor ao coletivo?

Essas são perguntas que, mais do que respostas prontas, merecem ser carregadas conosco, como forma de amadurecimento pessoal e profissional. Porque, no fim, a mudança começa dentro. E, sim: o lixo também.

*Luana Nogueira, diretora-executiva da Alagev

Elas no comando: liderança feminina e os desafios do Brasil em 2025

O Brasil enfrenta um cenário econômico e social desafiador, mas também repleto de oportunidades, especialmente para a ascensão da liderança feminina nos negócios. De acordo com o levantamento da Fundação Instituto de Administração (FIA) Business School, que analisou respostas de mais de 150 mil funcionários de 150 grandes empresas premiadas com o selo Lugares Incríveis para Trabalhar 2023, as mulheres representavam 38% dos cargos de liderança no Brasil, mantendo a mesma proporção do ano anterior.

Já a publicação “Criando sinergias entre a Agenda 2030 e o G20 – Caderno Desigualdades”, que utiliza dados do Banco Mundial, Organização das Nações Unidas (ONU) e Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), aponta que a proporção de mulheres em cargos de chefia em nosso país (38,8%) superou a média dos membros do G20 (30,58%). No ranking global, ficamos em terceiro lugar, atrás da Rússia (46,2%) e dos Estados Unidos (41,4%) – números referentes a 2021, último período com dados comparáveis entre as nações do bloco econômico.

Em um ambiente de incertezas, estamos assumindo papéis cada vez mais relevantes, demonstrando resiliência e capacidade de adaptação. Um exemplo foi o painel “Elas no comando: o auge da carreira tem nome de mulher”, realizado no LACTE 20, que reuniu lideranças como Chieko Aoki, presidente da Blue Tree Hotels, e Jacqueline Conrado, country manager da United Airlines no Brasil. As palestrantes destacaram como temos superado barreiras históricas e alcançado posições de destaque em diferentes setores, impulsionadas por redes de apoio e por uma maior conscientização sobre a importância da diversidade.

Jacqueline Conrado, country manager da United Airlines no Brasil; e Chieko Aoki, presidente da Blue Tree Hotels
Crédito: KV/Divulgação

A ascensão feminina no mercado de trabalho se reflete em dados concretos. O Levantamento da McKinsey & Company mostra que empresas com maior presença de mulheres em cargos de liderança apresentam um desempenho até 25% superior em rentabilidade. Essa informação reforça a necessidade de políticas corporativas mais inclusivas e incentivos para o desenvolvimento de carreiras. Exemplo desse cenário positivo é a própria Alagev, que tem entre equipe, diretoria, conselhos de clientes e fornecedores cerca de 81% de mulheres como tomadoras de decisões.

Equipe Alagev: Isadora Ribeiro, Andrea Matos, Natalia Teixeira, Luana Nogueira, Luciana Salustri e Giseli Fardin
Crédito: Vitória Ruano

No entanto, apesar dos avanços, ainda há obstáculos a serem superados. A disparidade salarial entre homens e mulheres, a falta de representatividade nos altos cargos das empresas e os desafios impostos pela cultura corporativa tradicional continuam a ser barreiras para muitas profissionais. Além disso, a sobrecarga de responsabilidades domésticas e a dificuldade de conciliar carreira e vida pessoal ainda pesam sobre cada uma de nós.

Para acelerar essa transformação, as organizações precisam adotar medidas concretas, como programas de mentoria e patrocínio para mulheres, flexibilização da jornada de trabalho, incentivo à equidade salarial e criação de ambientes que promovam a diversidade de maneira estruturada. Além disso, o compromisso com a liderança feminina deve ser uma prioridade na estratégia organizacional, com métricas claras para avaliar o progresso e garantir mudanças efetivas.

O crescimento da participação delas no mercado não é apenas uma questão de equidade, mas uma estratégia essencial para a inovação e o desenvolvimento sustentável. Empresas que investem nesse posicionamento não só impulsionam a performance financeira, mas também criam ambientes mais colaborativos e dinâmicos e ampliam possibilidades para novas gerações.

À medida que o Brasil navega por desafios econômicos e estruturais, investir na capacitação e ascensão das mulheres será um diferencial estratégico para o país. Vejo que o comando feminino está cada vez mais evidente e o futuro do Brasil passa, sem dúvida, pelo protagonismo das mulheres. 

*Luana Nogueira, diretora-executiva da Alagev

Mercado de viagens e eventos corporativos em 2025: desafios, oportunidades e tendências

O ano de 2024 não foi fácil para o setor de viagens e eventos corporativos, mas trouxe muitos benefícios e aprendizados. Em 2025, seguimos impulsionados principalmente pela variação cambial e pelas transformações nas estratégias. As empresas têm buscado otimizar seus orçamentos e repensar a frequência e a duração de suas viagens. Vejo que as corporações estão cada vez mais seletivas, priorizando deslocamentos essenciais e explorando novas soluções para equilibrar custos e benefícios.

O Brasil também se prepara para eventos globais relevantes, como a COP30, encontro que debaterá as mudanças climáticas marcado para novembro em Belém (PA). A expectativa é que eventos como a COP movimentem a infraestrutura, a hotelaria e o turismo corporativo no país, além de reforçarem a necessidade de planejamento estratégico para lidar com a alta demanda e garantir experiências eficientes para os participantes. Mostram ainda que podemos receber grandes eventos além daqueles esportivos, para os quais já somos conhecidos.

Impacto do câmbio
O câmbio desfavorável tem impactado diretamente as viagens internacionais, aumentando os custos e levando as empresas a ajustarem suas estratégias. Em muitos casos, os orçamentos se mantêm estáveis, mas o volume de deslocamentos é reduzido para compensar o aumento do ticket médio. Esse cenário estimula o mercado brasileiro a desenvolver novas opções de eventos e incentivos locais, favorecendo a movimentação interna e reduzindo a exposição às oscilações cambiais.

Por outro lado, o câmbio favorável para estrangeiros torna o Brasil um destino atrativo para eventos internacionais. Empresas estrangeiras podem enxergar o país como uma alternativa interessante a mercados tradicionais, como Paris, impulsionando a captação de eventos e fortalecendo o setor nacionalmente. No entanto, a infraestrutura e a malha aérea ainda representam desafios a serem superados. Desde a pandemia, a oferta de assentos não voltou aos níveis anteriores, e a fusão entre grandes companhias aéreas pode ou não resultar em um aumento significativo da disponibilidade de voos. Neste caso, vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos. 

Crescimento do setor e a pressão sobre preços
Os dados do Levantamento de Viagens Corporativas (LVC), realizado pela FecomercioSP em parceria com a Alagev, apontam que novembro de 2024 registrou um recorde, com um gasto de R$ 13 bilhões em serviços de turismo corporativo, um aumento de 5,8% em relação ao mesmo período de 2023. No acumulado do ano, o volume total chegou a R$ 122 bilhões, um crescimento de 5,4%.

Esse crescimento acontece em um cenário de pressão sobre preços. A recuperação tarifária na hotelaria e o aumento da diária média impactam diretamente os custos das viagens corporativas e eventos. Em São Paulo, por exemplo, as tarifas de hotéis econômicos superam R$ 900 em dias de maior demanda. Além disso, o preço médio do aluguel de veículos subiu mais de 22% em 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto a alimentação também sofreu alta significativa, elevando os gastos com deslocamentos corporativos.

Estratégias para 2025: automação, parcerias e inteligência artificial
Apesar dos desafios, as empresas continuam investindo em viagens e eventos, sem perspectiva de redução no volume total. No entanto, a maneira como esses deslocamentos são planejados e executados está mudando. A automação e a inteligência artificial (IA) terão papel fundamental na gestão de viagens, permitindo que gestores foquem em estratégias de longo prazo em vez de apenas otimizar custos de curto período.

A sustentabilidade também entra em pauta, com uma nova abordagem para negociações e contratos. O foco agora deve ser em parcerias mais longínquas, ao invés de trocas frequentes de fornecedores. Essa alteração de mentalidade contribui para maior previsibilidade e melhores condições de negociação, beneficiando tanto empresas quanto prestadores de serviço.

Perspectivas e investimentos no setor
A Pesquisa Anual de Viagens Corporativas (PAVC), também realizada pela Alagev, apresenta um panorama detalhado do mercado e suas tendências. O estudo revela que 27% dos gestores indicaram que suas empresas investiram mais de R$ 20 milhões em viagens corporativas em 2024. Para voos nacionais, 22% gastaram entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões, enquanto 22% dos investimentos em hospedagem no Brasil variaram entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão. No cenário internacional, 44% das empresas investiram menos de R$ 500 mil em viagens ao exterior.

A projeção para 2025 é de crescimento, com 74% dos respondentes esperando um aumento no volume total de viagens entre 10% e 20%. Diante desse cenário, a expectativa para esse ano é de um mercado dinâmico, que precisará equilibrar inovação, gestão eficiente, planejamento, tecnologia, inteligência e adaptação a novos desafios econômicos e operacionais para manter seu crescimento sustentável.

*Luana Nogueira, diretora-executiva da Alagev