Caros Leitores,
Neste e no próximo post compartilharei com vocês, em primeira mão, um artigo que escrevi para a revista The Hotel Expert (também disponível em inglês), publicada pela empresa especializada HRS (http://www.the-hotelexpert.com/). Nele procurei falar sobre a realidade latino-americana para nossos colegas dos países desenvolvidos (norte-americanos, europeus, canadenses, japoneses), focando especialmente em como funciona nosso mercado de Hotelaria Corporativa, segundo as conclusões que tirei com o que vi nestes anos. Falo um pouco de panorama geral e do porquê existirem alguns mecanismos que utilizamos em nossas relações comerciais (Clientes e Hotéis, além dos canais de reserva como a própria HRS), mas também de redução de despesas em épocas tão difíceis.
Aproveito para sugerir a leitura completa desta e de todas as edições da revista, pois o conteúdo é de altíssima qualidade.
Gerenciando Custos com Hospedagens Corporativas na América Latina – Os Maiores Desafios e Algumas Ideias – PARTE 1
Em um ano de extremas dificuldades financeiras e econômicas na maior economia de seu continente, a América Latina atualmente é um território dividido entre economias que seguiram o modelo populista de administrar seu sistema produtivo (Bolívia, Venezuela, Argentina e Brasil) e outras que seguiram o caminho correto do livre-mercado e responsabilidade fiscal, e estão colhendo os frutos disto (como o Peru, Equador, Chile, Colômbia, Uruguai – dentre outros). É verdade que a Bolívia está crescendo, mas não nos enganemos: é o narcotráfico que está trazendo milhares de dólares ao País, mas com isto também muita violência e suas consequências devastadoras.
Por mais que os países menores estejam crescendo por conta de tratados de livre-comércio firmados com a Europa e Estados Unidos, o fato de o Brasil, responsável em média por 60% do volume de qualquer área econômica por conta de sua população de 200 milhões de habitantes e posição estratégica, prejudica-os e impede-os de crescer ainda mais. O Mercosul, ultrapassado e pouco útil para seus países-membros (Argentina, Brasil, Paraguai, Venezuela e Uruguai) é outro fator que tranca os caminhos dos mesmos, pois, na ausência da aprovação de um dos membros, os demais não podem firmar acordos individuais com outros blocos ou nações – e a Venezuela faz bem seu papel de atrapalhar o desenvolvimento econômico dos demais membros devido à posição ideológica das pessoas que a (mal) governam desde 1999.
Com todo este cenário regional complicado, porém nada novo, como é para uma organização administrar seus custos com viagens e eventos corporativos, especialmente dos meios de hospedagem? Inflação, desvalorização das moedas locais, instabilidades política e jurídica, concorrência fraca e centralização crescente das estratégias em nível global, o que acarreta em conflitos entre a realidade e o desejo da empresa?
Em primeiro lugar, é importante que você leitor deste artigo, seja norte-americano, canadense, australiano, japonês, ou europeu (geralmente aqueles a quem reportamos nossas gestões regionais e locais) entenda que o mercado latino-americano é MUITO diferente dos seus (assim como a Ásia também é). Por que?
- Não há dados definitivos, mas consigo estimar que pelo menos 60% de nossos meios de hospedagem não publiquem suas tarifas e conteúdos em um Global Distribution System (GDS). Primeiro porque é caro demais; segundo, porque dá trabalho administrar o inventário e são propriedades pequenas – fazer o end-to-end por e-mail e telefone é mais prático; e terceiro, porque sempre funcionou assim e eles se vendem sozinhos – não precisam dos GDSs.
Como disse anteriormente, em países com tantos entraves do governo, impostos altíssimos, violência alta (que demanda investimentos em segurança particular), inflação bem acima dos 4% anuais (diferente dos EUA e Europa) e que trabalham com faturamento e processos manuais, os GDSs com suas taxas por clique e por reserva realizada “matam” o pequeno/médio empreendedor. Simplesmente não dá para custear ou eles não ficarão competitivos, e ninguém quer dar o primeiro passo e correr o risco de desaparecer.
- Faturamento: isso não existe ou é muito raro em seu País (caso você seja norte-americano, canadense, australiano, japonês ou europeu). Bem, as empresas por aqui trabalham fortemente com o fluxo de caixa para melhorar o resultado e ter fôlego para investir e custear suas próprias operações. Isto também compromete os hotéis e retarda o avanço do nosso mercado, pois eles não tem dinheiro para investir em melhorias ou possibilidade de reduzir suas tarifas. Mas então as empresas são vilãs? Não, os vilões são os governos que as obrigam a pagar impostos altíssimos, muitas vezes em duplicidade, a subornar funcionários públicos e a ter de investir em serviços particulares que deveriam ser providos por estes mesmos governos. As empresas fazem o que é possível para sobreviver e ganhar algum dinheiro para mandar para suas matrizes.
Além disto, por conta de um histórico grande de corrupção e conflitos de interesses nestes países, as empresas temem dar cartões corporativos a seus funcionários. Por mais que o cartão de crédito melhore a visibilidade dos gastos nos hotéis e facilite a vida do “Contas a Pagar”, há uma corrente no mercado que acredita que ele piora o controle – o gasto é visto quando já foi realizado (lavanderia, bebidas alcoolicas, jantares acima do per diem, transporte público) e dá muito trabalho contestar despesas e pedir estorno das mesmas – sim, mesmo que apenas diárias sejam autorizadas, é comum o viajante ordenar ao recepcionista que debite os extras no mesmo cartão. Por isto, para muitas é mais fácil manter o faturamento e só pagar a fatura quando se concordar totalmente com aquilo que o hotel está cobrando – o dinheiro só sai do caixa quando tem que sair, e ainda ganha-se uns dias para o fluxo de caixa. Para se ter uma ideia, em diversos países da América Latina as empresas tem contas-correntes diretas com as empresas, que são negociadas diretamente pelas áreas de Procurement.
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Continuação no próximo post, daqui a 1 semana 🙂
Parabéns Fernão!!
para lhe ser sincero não tinha a menor vontade de ler os posts do panrotas, mas as suas publicações leio de forma atenciosa, pois você fala o que deve ser falado, doa a quem doer.
Parabéns!