As Locadoras de Veículos em um Programa de Viagens

É muito comum nós gestores e compradores de Viagens darmos menor atenção a uma parte ainda com pouco destaque, mas bastante relevante de nossos programas de viagens – as locadoras de veículos. Embora muitas empresas não tenham gastos significativos nesta categoria , é um serviço sensível e que se não for corretamente administrado, deixa escapar muito dinheiro e permite abusos de comportamento, além de envolver a segurança dos colaboradores viajando a serviço da empresa.

Em primeiro lugar, assim como nas Cias. Aéreas, existe uma “sopa de letras” em cada fornecedor para classificar as categorias de reservas dos veículos, bem como os modelos que compõem as mesmas. Um Focus pode ser de uma categoria intermediária para a locadora A, e superior para a locadora B – fique atento. Aliás, seria importante as 5 grandes fornecedoras do mercado brasileiro – Localiza, Hertz, Unidas, Movida e Avis – trabalharem juntas para racionalizarem de alguma maneira esta variável tão importante (e nós como gestores precisamos pressionar constantemente enquanto consumidores finais).

Outro fator importante é a questão dos seguros e adicionais inclusos numa negociação de contrato master (e por tabela em cada contrato individual de locação atrelado a este master). Proteção total? Parcial? Apenas do veículo? Apenas do motorista? Terceiros inclusos? Avalie todos os cenários em sua negociação. Por mais que queiramos trazer savings, às vezes R$ 3,00 a mais em uma diária podem evitar uma dor de cabeça muito maior para sua empresa num eventual acidente, roubo ou avaria.

E o faturamento… ah, este calcanhar de Aquiles das TMCs e de algumas empresas… se possível, pague suas reservas com cartão de crédito, evite a armadilha do faturamento. Receber pilhas de cobranças de avarias e multas 3 ou 4 anos depois não é agradável, embora seja legal até 5 anos da data do ocorrido. Especialmente quando a locadora não tem sequer um auto de vistoria da entrega do veículo assinado pelo motorista, assumindo o risco, a batida, a ralada no carro. Isso é um absurdo, e já testemunhei. É verdade também que nossos viajantes brasileiros sempre dão um “jeitinho” e criam situações absurdas, como deixar o carro guardado no estacionamento da fábrica e a chave na portaria porque um colega apareceria 1 semana depois para pegar o carro emprestado – só faltou combinar com a TMC para regularizar o voucher, a locadora para não achar que seu carro tinha sido roubado e o Gestor de Viagens para autorizar a ideia brilhante.

Em termos de mercado, vejo que a compra da Movida pelo grupo JSL em 2014 deu uma bela sacudida em todos, tirando a líder Localiza de uma certa “zona de conforto” devido sua capilaridade e tradição. Unidas, Avis e Hertz, que também renovaram recentemente suas frotas e ampliaram a proximidade com os clientes corporativos, também vem se mexendo para não perderem a onda de modernização que haviam iniciado, mas de forma mais tímida – além do mais, o hábito do brasileiro de alugar carros aos poucos vai se modificando em favor deste segmento da indústria, uma vez que passamos a considerar esta opção ao invés de nos locomovermos apenas de táxi ou transfers, tanto em viagens de lazer quanto corporativas.

Como tenho procurado fazer em meus posts, compartilho uma dica que, apesar de trabalhosa de executar no processo licitatório, torna-o mais organizado em meio a tantas informações: a comparação de capilaridade e a divisão da demanda por cidades Vs. categoria de veículo.

Ah, e importante: quando o fornecedor disser “tenho lojas nos aeroportos”, certifique-se de duas coisas:

1- Horário de funcionamento: de nada adianta a maioria de seus viajantes chegar às 23h30 no aeroporto e a loja da Locadora A (sua preferencial) fechar às 23. É fuga da política na certa, por razões óbvias.

2- A loja é dentro do aeroporto ou possível de chegar a pé? Existe uma pessoa da locadora na saída do portão de embarque com uma placa de identificação pelo menos (e de preferência, já com a documentação do carro, chaves, etc)? Ou precisa tomar táxi ou sair andando pelas seguras ruas das cidades brasileiras?

Operacionalmente, fique atento também à integração da locadora com o GDS e a disponibilização de uma alternativa para a TMC, como um portal online carregado com as tarifas negociadas para sua empresa. Devido ao fato das locadoras terem muitas lojas associadas, e não de administração própria, é muito comum ocorrer falhas de comunicação entre reservas confirmadas no GDS e aquelas que efetivamente entram para o “estoque” da loja. Não me surpreende quando um viajante chega em uma loja com um voucher na mão e o atendente não encontra sua reserva.

Aproveito para ilustrar com exemplos as dicas que dei acima para organizar seu processo de homologação de locadoras de carros. Me procure caso queira trocar mais ideias!

Exemplo 1 – Verifique a capilaridade dos fornecedores avaliados e compare com suas Top Cities

Blog 1

Exemplo 2 – Compare as locações diárias, semanais e mensais por fornecedor e por categoria de veículo

Blog 2

Diretório de Hotéis: (um dos) pesadelo(s) do Travel Manager

Não é culpa de nenhum hotel, mas também não é culpa nossa. Quem aí, seja de Compras ou da Gestão direta de Viagens, gasta pelo menos uns 30% de seu tempo gerenciando o Diretório de Hotéis de sua empresa? E quando se trabalha em uma joint-venture, onde são 2 Diretórios? É de chorar.

A categoria de Hotéis dá trabalho de gente grande e envolve muitos interesses. Gerenciá-la requer organização, foco, uma enorme capacidade de coordenação de dados, ótimos contatos nas redes hoteleiras e cada vez mais profissionalismo, tanto do gestor/negociador quanto dos Hoteleiros. Não dá mais pra pedir uma tarifa-acordo pra rede inteira quando sua empresa não utiliza todas as cidades onde a rede tem Hotéis, e não dá mais pra prometer 500 Room Nights pra 5 hotéis na mesma cidade, quando você tem 1.000 room nights por ano naquela cidade (o fornecedor está mais atento e cobrando os 1500 room nights de déficit dessa conta, assim como as Cias Aéreas com seus shares).

Outra ação importante é obter aprovação da área de Segurança, que precisa avaliar em cada estabelecimento as rotas de fuga em caso de incêndio, os sprinklers (aqueles dispositivos no teto que espirram água em caso de incêndio), detectores de fumaça, número seguranças na recepção e na parte externa do prédio, instalações da cozinha, arredores do hotel e tantos outros detalhes. (Gestor, não se esqueça de envolver sua área de segurança para validar o Diretório!).

Financeiramente, precisamos trazer para nossos Diretórios hotéis dentro do rate cap (teto por cidade), tanto para manter o budget sob controle, quanto para efetivamente entregar savings para a Companhia (caso não tenha visto, sugiro ler o post da semana passada aqui deste blog sobre Savings). E se você não tem ainda um rate cap, providencie um imediatamente! Não deixe isto solto.

Além disto tudo, ainda tem os VIPs que precisam de hotéis de mais alto padrão, as secretárias que desenvolvem contatos pessoais com alguns hotéis (vão a almoços, happy hours, jantares) e continuam utilizando os “fora da política” por conta disto, coordenar o carregamento e a auditoria das tarifas no GDS (e quando o hotel é independente, rezar para que o consultor de viagens ou a secretária consultem antes o Diretório e se certifiquem de que aquela é realmente a tarifa negociada), o engajamento dos consultores da TMC com o Diretório (pois eles são metade do sucesso por estarem na ponta com os usuários)…. Não disse que era difícil?

Ah, e tem mais os novos players do mercado, concorrentes do GDS… distribuidores de conteúdo voltados para o corporativo, como HRS (empresa de sourcing e plataforma de conteúdo proveniente da Alemanha), Hotelli (empresa brasileira que traz hotéis com last-minute bookings, ou seja, aquele hotel que está com um apartamento vazio e que o disponibiliza com uma tarifa mais baixa para não ficar com o prejuízo de um apartamento com despesas correndo mas sem receita nenhuma entrando), Skyline (empresa que trabalha com estadias de longa permanência, “key turn” – ou troca de chaves), a Booking.com se integrando com uma grande TMC até o fim de 2015… o Gestor ainda tem de se manter antenado com estas novidades do mercado e se possível, trazê-las para dentro de sua empresa. É complicado, mas os resultados são promissores.

E a dica da semana, atrelada ao tema deste post, é:

Quais informações são importantes de se ter em um Diretório de Hotéis para seus usuários? Para não ser nem muito enxuto, nem muito poluído, sugiro o seguinte:

– Cidade
– Nome do Hotel
– Endereço
– Início da validade da tarifa
– Término da validade da tarifa
– Inclui ISS? S ou N (informar o valor em caso negativo)
– Inclui Taxa de Serviço e Taxa de Turismo? S ou N (informar o valor em caso negativo)
– Inclui café da manhã? S ou N (informar o valor em caso negativo)
– Inclui Wi-fi? S ou N (informar o valor em caso negativo)
– Tarifa Single Standard (ou da segunda melhor categoria dependendo da política de sua empresa)
– Tarifa Double Standard (ou da segunda melhor categoria dependendo da política de sua empresa)
– Política de Cancelamento (de preferência coloque 48 horas para os viajantes mais “desmemoriados”)

P.S: no caso das tarifas, padronize. Não coloque tarifas LRA (last-room availability) para alguns e NLRA (non last-room avilability) para outros… torne a vida do seu leitor mais fácil! Coloque LRA ou NLRA para todos.

Outra dica: divida seu Diretório com a área de Eventos e peça a eles para utilizá-los também! Assim você ganha maior poder de barganha para a próxima negociação… Eventos tem um potencial enorme para ajudar a cumprir metas, não conte apenas com o Corporativo!

Um grande abraço e até semana que vem.

Como apurar Savings em Viagens Corporativas

Um dos debates mais acalorados em Viagens Corporativas, especialmente em Compras, é como apurar Savings e a variação de custos que geralmente ocorre de um ano pra outro. Existem três efeitos que influenciam diretamente a variação de custos: Preço, Quantidade e Mix.

Efeito Preço: a tarifa média do mercado subiu? Seus descontos diminuiram? Você está comprando com menos antecedência? Este é o efeito preço sobre seus custos totais de viagens (nesta seara é onde Procurement tem mais influência).

Efeito Quantidade: a tarifa média do mercado e a sua continuam estáveis e seus descontos não diminuiram? Você está viajando mais… uma fábrica nova, conquista de um novo cliente ou projeto relevante? O efeito quantidade está impactando seu orçamento.

Efeito Mix: a tarifa média na maioria das rotas está estável em comparação com o ano anterior, e a quantidade de reservas por rota e destino não variou muito, nem seus descontos? Então o que mudou foi seu perfil de compra. Uma parte do seu público pode ter parado de voar São Paulo-Curitiba-São Paulo porque o projeto por lá acabou, e começou a voar São Paulo – Rio – São Paulo, ou quem voava de Classe Econômica SP-NY-SP passou a voar de Executiva. Ou seja, o número de bilhetes emitidos não aumentou, a tarifa média do mercado está igual, mas o perfil do seu gasto mudou.

 

E quanto aos Savings, como você os apura?

Uma parte do mercado ainda apura seus savings de passagens aéreas considerando os relatórios da TMC: a tarifa paga (sem taxas) menos a menor tarifa disponível no momento. A parte ruim deste método é que a busca feita pelo consultor ou pelo viajante no OBT já restringe em muito os resultados pois os parâmetros são ajustáveis (procurar voos apenas pela Manhã, ou apenas no aeroporto de Congonhas ignorando Guarulhos, etc).

A metodologia mais justa que vi até hoje é a que considera a tarifa média paga numa rota (ou origem-destino, ou a rota completa) num dado ano, versus a tarifa paga efetivamente numa reserva na mesma rota no ano atual, acrescido da inflação aprovada pela empresa. Por exemplo:

Inflação em Viagens 2014 x 2015 aprovada por Finanças: 5%

Rota SAO-RIO-BSB-SAO. Tarifa Média paga em 2014 (com taxas): R$ 310

 

Construção do Baseline para apuração de Saving de Passagens = Tarifa Média Paga em 2014 + Inflação do período, logo:

R$ 310 + 5% = R$ 325,50 (com taxas)

Este será meu parâmetro para apurar saving ou impacto na compra de uma passagem na mesma rota.

 

Exemplos práticos:

SAO-RIO-BSB-SAO. Reserva feita em 12/02/2015. Tarifa paga R$ 280. Saving de R$  45,50 (R$ 325,50 – R$ 280)

SAO-RIO-BSB-SAO. Reserva feita em 12/03/2015. Tarifa paga R$ 380. Impacto (unsaving) de R$  54,50 (R$ 325,50 – R$ 380)

Para rotas onde não há histórico no ano anterior, há duas possibilidades: ou desconsideramos estas rotas da apuração, ou consideramos nestes casos o saving obtido por meio da aplicação do desconto de sua empresa ou da TMC com a Cia. Aérea. E aí entra a importância dos acordos estarem corretamente cadastrados, mas esse capítulo ficará para o próximo post.

A vantagem desta metodologia que comentei é que ela mantém o orçamento sob controle e com viés de diminuição, já que a tarifa média do ano anterior é o balizador e orientador do consumo. Neste caso, os descontos comerciais deixam de ser prioritários para se obter savings e incentiva-se aquilo que realmente traz bons resultados para a empresa: o comportamento de compra correto (pois a tarifa será mais baixa quanto antes for adquirida, especialmente no doméstico, e os descontos ainda aumentarão esta vantagem da antecedência e do planejamento).

 

Para Hotéis, a mesma metodologia se aplica: compara-se a tarifa média de dada cidade no ano anterior, e  acrescida da inflação aprovada no período, compara-se com cada reserva feita no ano vigente na mesma cidade.

Inflação em Viagens 2014 x 2015 aprovada por Finanças: 5%

Cidade de Manaus. Tarifa Média paga em 2014 (com taxas): R$ 310

Construção do Baseline para apuração de Saving de Hotéis = Tarifa Média Paga em 2014 + Inflação do período, logo:

R$ 310 + 5% = R$ 325,50 (com taxas)

Este será meu parâmetro para apurar saving ou impacto a cada reserva de hotel feita em Manaus no ano vigente.

Exemplos práticos:

Reserva feita em 12/02/2015. Tarifa paga R$ 280. Saving de R$  45,50 (R$ 325,50 – R$ 280)

Reserva feita em 12/03/2015. Tarifa paga R$ 380. Impacto (unsaving) de R$  54,50 (R$ 325,50 – R$ 380)

 

P.S: Empresas que compram  com pouca antecedência precisam dos acordos comerciais para diminuir seu prejuízo por um consumo mal planejado. Empresas que compram com boa antecedência otimizam seus já positivos resultados com seus acordos comerciais.

P.S 2: o mesmo racional vale para qualquer sub-categoria (Eventos, Táxi, Transfer, Car Rental). Se quiser discutir, me procure!