Conquistas e desafios

Em semana marcada pelas retrospectivas, afinal, é a última de 2022, quero escrever sobre o que considero uma conquista do setor de parques e atrações, além de, ao mesmo tempo, ser uma esperança na construção de um futuro melhor.

No final do mês passado, o SINDEPAT (Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas) e a Adibra (Associação Brasileira de Parques e Atrações), associações parceiras, que compartilham alguns associados e muitos planos, concretizaram um projeto debatido há algum tempo: a criação de um Comitê de Sustentabilidade das duas associações. No último dia de novembro, o comitê teve sua primeira reunião, virtual, com a apresentação de três cases.

O objetivo é compartilhar boas práticas, trocar informações e experiências entre os associados relacionadas a questões ambientais, sociais e de governança, a tão utilizada sigla ESG (das palavras em inglês). Como norte, as associações utilizam os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da Organização das Nações Unidas (ONU). Assim, a primeira reunião tratou da gestão de resíduos sólidos, enquanto reuniões futuras abordarão a gestão da água, a conservação da biodiversidade, as mudanças climáticas, a gestão de fornecedores, a interação com a comunidade e o relacionamento social, a inclusão, entre outras.

São temáticas abrangentes e cada parques ou atração turística pode estar mais avançado em uma delas, enquanto seu par em outro Estado desenvolve outras. O objetivo do Comitê é justamente compartilhar as experiências bem-sucedidas, para replicá-las nas diferentes e contrastantes, muitas vezes, realidades deste vasto Brasil.

Na primeira reunião, foram apresentados os cases do Parque Vila Velha, no Paraná, e do Beach Park, no Ceará, além das políticas de resíduos sólidos do Grupo Cataratas, gestor de empreendimentos no Rio de Janeiro, como o AquaRio, o Paineiras-Corcovado e o BioParque do Rio, além da EcoNoronha, em Fernando de Noronha (PE), e do Parque Nacional do Iguaçu e Marco das Três Fronteiras, em Foz do Iguaçu (PR). A audiência questionou, compartilhou contatos e apresentou os desafios que encontram regionalmente. Os cases chegaram a emocionar a plateia, diante das significativas conquistas.

O Beach Park, por exemplo, conseguiu criar a partir das boias plásticas descartadas chinelos que são hoje comercializados dentro do parque, envolvendo a comunidade local na confecção e com renda revertida para o próprio projeto. No Grupo Cataratas, a implantação de políticas de resíduos sólidos consistentes nos parques e atrações são dos casos mais bem-sucedidos do setor. Entre os projetos destacados, o viveiro de mudas nativas da EcoNoronha e o programa socioambiental do Paineiras-Corcovado são modelos. O Parque Vila Velha, em Ponta Grossa, conquistou o selo Aterro Zero, que garante que todos os resíduos gerados na operação tenham destino correto, sem que qualquer grama de lixo seja direcionado a aterros.

Foi somente a primeira reunião, mas extremamente rica na troca de conteúdo. O Comitê volta a se reunir em 2023 e a expectativa é de que, a cada nova abordagem, mais parques e atrações apresentem suas contribuições. O objetivo maior, claro, é que nas reuniões futuras os parques/atrações que nesta primeira reunião compartilharam angústias e desafios mostrem o sucesso das ações implantadas. É para isso que o Comitê foi criado. Parabéns às associações, aos associados que já compartilharam experiências e deixo como desejo de ano novo que cada vez mais o assunto entre nas pautas de prioridades, não somente de parques e atrações, mas de toda indústria do Turismo. Que o próximo ano traga robustos avanços! Feliz 2023!

Ranking mostra resiliência do setor

Realizado anualmente pela Themed Entertainment Association (TEA), o ranking dos parques e museus mais visitados do mundo manteve na edição deste ano, que traz os números de 2021, a colocação obtida pelos empreendimentos em 2019, uma vez que as políticas restritivas impostas pela pandemia tiveram diferentes impactos regionais e nacionais. Questionado muitas vezes por contar com números fornecidos pelos próprios parques e museus – alguns auditados, outros não –, o relatório deste ano, mais do que destacar os rankings, enfatiza a resiliência do setor.

Em todo o mundo, quando abertos, os parques voltaram a ser visitados. Os 25 maiores parques temáticos do planeta em visitação – distribuídos entre EUA, Japão, China, França, Coreia do Sul, Alemanha e Holanda – receberam 141,3 milhões de visitantes no ano passado, contra os 83,2 milhões registrados em 2020, quando teve início a pandemia. Os visitantes de 2021 representam 56% do total pré-pandemia. No recorte latino-americano, a recuperação é de apenas 44%, uma vez que dois dos dez primeiros colocados entre os mais visitados, ambos mexicanos, estiveram fechados durante todo o ano de 2021.

Único parque brasileiro na lista dos dez mais visitados entre os temáticos latino-americanos, o Beto Carrero World, de Santa Catarina, mostrou recuperação mais forte que a média regional, com aumento de 51% nos visitantes entre 2020 e 2021, quando recebeu 1,89 milhão de pessoas. Em 2019, esse número foi de 2,2 milhões de visitantes. Os dez primeiros colocados recuperaram 44% da visitação pré-pandemia no ano passado.

Beto Carrero World, em Penha (SC)

Os aquáticos

Na lista de parques aquáticos, o Brasil é mais presente, com seis empreendimentos entre os dez mais visitados da América Latina. Entre eles, o aumento na visitação foi de 74% entre 2020 e 2021, quando sete milhões de pessoas estiveram nos dez parques. A recuperação em relação a 2019, quando se alcançou 10,2 milhões de visitantes, é de 68%, muito próxima da recuperação dos parques aquáticos da América do Norte, que chegou a 70%. Na Ásia/Pacífico, a visitação em 2021 foi de apenas 54% do total pré-pandemia, enquanto o combinado de Europa/Oriente Médio/África mostrou recuperação mais lenta, com 2021 registrando apenas 48% dos visitantes de 2019. A sazonalidade aparece como um dos principais responsáveis, além do impacto da variante Omicron da Covid-19 na região, no início do ano passado.

Entre os parques aquáticos brasileiros, o crescimento do Hot Beach Olímpia, no interior de São Paulo, é um dos destaques. O parque aumentou em 144% o número de visitantes entre 2020 e 21, chegando a 594 mil pessoas. Em 2019, antes da pandemia, o total foi de 608 mil visitantes. Primeiro colocado no ranking, o Thermas dos Laranjais, também em Olímpia, recebeu 922 mil visitantes em 2020 e 1,1 milhão no ano passado. Em 2019, segundo o estudo, foram 1,8 milhão de pessoas. A lista traz ainda entre os mais visitados o Hot Park (GO), o Beach Park (CE), o Magic City (SP) e o Thermas Water Park (SP). Pelos dados, é possível perceber uma recuperação mais rápida entre aqueles empreendimentos que se beneficiam do turismo rodoviário, caso dos parques de São Paulo, pela proximidade com os grandes mercados consumidores.

Os museus

Os museus devem demorar mais a se recuperar, segundo o estudo, em parte por serem atrações fechadas, na maioria das vezes, e também pela maior dependência do turismo internacional, em muitos casos. A visitação em 2021 representou apenas 29% dos níveis pré-pandemia. O Museu do Louvre, em Paris, primeiro colocado no ranking, com 9,6 milhões de visitantes em 2019, recebeu 2,8 milhões no ano passado, número que foi apenas 5% superior ao total de visitantes em 2021. O Tate Modern e a National Gallery, de Londres, que ocupam respectivamente a sexta e sétima posições no ranking, registraram redução no número de visitantes no ano passado, em relação a 2020. Os Museus do Vaticano, terceiro colocado no ranking, recebeu no ano passado 1,6 milhão de visitantes, contra os 7,3 milhões de 2019.

Para ler o relatório completo, clique aqui.

Os parques e o desenvolvimento de destinos turísticos

Celebrado ontem, o Dia Mundial do Turismo teve comemorações em diferentes locais mundo afora. No Brasil, o Ministério do Turismo lançou um portal com serviços para fomentar a atividade, enquanto a Organização Mundial do Turismo (OMT) comemorou a data propondo que se “repense” o Turismo. “Repensar o Turismo”, na proposta da organização, passa pela transformação positiva que o setor é capaz de realizar nas pessoas e no planeta.

Nesse cenário, quero destacar aqui a importância dos parques e das atrações turísticas para o desenvolvimento de destinos. No mundo, provavelmente não há exemplo melhor que a região de Orlando, na Flórida, para demonstrar como os parques podem transformar um destino. Mais recentemente, vimos Dubai, nos Emirados Árabes, viverem isso…

É claro que a hotelaria tem um papel fundamental nesse processo (e os hotéis “sete estrelas” de Dubai que o digam!). Mas a luxuosa hotelaria de Dubai garante sua ocupação por conta dos inúmeros parques e atrações que o visitante encontra na cidade. De mirantes nas alturas a estações de esqui indoor, passando por parques aquáticos, temáticos, aquários, roda gigante e museus, são essas atrações sem-fim que fizeram do destino um local para bem mais que um stop-over. Sabemos também da importância dos eventos e das viagens de incentivo, mas essas duas modalidades, também, são diretamente beneficiadas pelas atrações de qualquer destino.

Museu do Futuro, inaugurado neste ano em Dubai (Reprodução do VisitDubai.com)

Também aqui no Brasil temos esses exemplos. O Beto Carrero World completou 30 anos em dezembro e, quem visitou o parque nos primeiros anos, certamente vai poder atestar o poder transformador que o complexo teve na região. A instalação de um parque e um novo atrativo turístico têm impacto direto na economia local, no desenvolvimento de empregos e na distribuição de renda. Entre os leitores do Portal PANROTAS não precisamos explicar a capacidade direta e indireta de geração de empregos do nosso setor, nem a transversalidade desses postos de trabalho.

No Ceará, com o Beach Park, em Aquiraz, também vivemos isso. O complexo que hoje tem, além do parque aquático, quatro resorts e áreas de convivência, com lojas e opções gastronômicas, começou como um restaurante à beira mar, em 1985. Neste ano, o Beach Park anunciou a construção de seu quinto resort, com investimento de R$ 150 milhões e criação de 300 empregos diretos, além da indução de outros 1,2 mil indiretos.

Projeção do Ohana Beach Park, quinto resort no complexo de Aquiraz (CE), que terá R$ 150 milhões em investimentos

Em São Paulo, a criação dos distritos turísticos tem a finalidade de fomentar os investimentos do setor em locais em que os parques chegaram primeiro. É o caso de Olímpia, primeiro distrito, e Serra Azul, englobando os municípios de Itupeva, Jundiaí, Vinhedo e Louveira, endereço de parques como o Wet´n Wild e o Hopi Hari. Agora, é a vez de Andradina, que hoje recebe a visita do secretário de Turismo de São Paulo, Vinícius Lummertz, para a criação do terceiro distrito turístico do Estado. Foi lá que, em junho, começou a funcionar o parque aquático Thermas Acqualinda. Mas os distritos turísticos paulistas serão tema de posts futuros… Até breve!