Roberto de Lucena destaca o potencial do turismo religioso em SP

O turismo tem se consolidado como uma das principais forças econômicas do Estado de São Paulo. À frente dessa transformação está o Secretário de Turismo, Roberto de Lucena, que, com uma trajetória marcada por três mandatos como deputado federal e vasta experiência no setor público, tem conduzido uma gestão visionária, especialmente na valorização do turismo religioso.

Em entrevista exclusiva, Lucena detalha os números expressivos do setor, os projetos inovadores e os planos para descentralizar e interiorizar o turismo paulista.


Ricardo Hida: Secretário, nos países desenvolvidos, como Estados Unidos e França, o turismo representa uma parcela significativa do PIB. Qual é o panorama atual do turismo no Estado de São Paulo?

Roberto de Lucena: Hoje, o turismo representa 10% do PIB paulista, movimentando mais de R$ 320 bilhões. Se São Paulo fosse um país, estaria entre as 21 maiores economias do mundo. A cadeia turística envolve 52 setores e gera 950 mil empregos diretos, além de aproximadamente 2,5 milhões de empregos diretos e indiretos. Em um cenário global de mecanização e avanço da inteligência artificial, o turismo se destaca como o setor com maior potencial de geração de empregos humanos e incentivo ao empreendedorismo. O governador Tarcísio de Freitas reconheceu essa importância e tem investido fortemente nessa agenda.


Ricardo Hida: Um dos destaques da sua gestão é a criação de guias de turismo religioso. Como surgiu essa iniciativa?

Roberto de Lucena: Percebemos a necessidade de comunicar melhor a diversidade turística do estado, segmentando por nichos. Em feiras internacionais, São Paulo ainda é associado apenas à capital e ao turismo de negócios. Mas São Paulo é mais do que a capital. O estado tem 644 municípios, sendo 210 considerados turísticos: são 70 estâncias e 140 municípios de interesse turístico. Isso gera uma diversidade enorme de eixos turísticos. Temos turismo de saúde, bem-estar, turismo ecológico, turismo de aventura, de compras, de observação de vida silvestre. E, com a COPPE em expansão, o mundo chega ao Brasil por São Paulo. E há um eixo que vínhamos trabalhando pouco: o turismo religioso. Ele sempre existiu e sempre foi forte, mas não havia sido devidamente organizado. O turismo religioso movimenta mais de 300 milhões de viagens por ano no mundo, gerando bilhões de reais para a economia global. Aqui no estado, por exemplo, temos Aparecida, Guaratinguetá com Frei Galvão, Cachoeira Paulista com a Canção Nova, e Canas com a Renovação Carismática Católica. Esse conjunto, que chamamos de Vale da Fé, recebe 16 milhões de visitantes por ano — mais do que toda a população de Portugal. No turismo evangélico, o Templo de Salomão em São Paulo recebe mais visitantes que o próprio Cristo Redentor. Além disso, São Paulo abriga as sedes das maiores denominações evangélicas do país e a sede nacional da Igreja Católica. Foi então que entendemos: era preciso organizar tudo isso, catalogar, padronizar e oferecer como produto turístico. E assim nasceram os guias turísticos religiosos do Estado de São Paulo, começando com o guia do turismo católico.


Ricardo Hida: E o turismo evangélico surpreendeu pelo seu potencial. Como foi estruturar esse roteiro?

Roberto de Lucena: Segundo dados do Ministério do Turismo, o Brasil registra 32 milhões de viagens motivadas pela fé todos os anos. Destas, cerca de 7 milhões são feitas por turistas efetivos — ou seja, pessoas que se deslocam especificamente para vivenciar o turismo religioso.
No caso do turismo evangélico, o que encontramos em São Paulo foi surpreendente. Há aqui um patrimônio histórico e cultural riquíssimo, pouco divulgado e pouco estruturado até então. Por exemplo, em Santa Bárbara d’Oeste está o primeiro templo evangélico do Brasil. Um templo protestante que, na época, era compartilhado por três igrejas históricas: Presbiteriana, Batista e Metodista — cada uma usando o espaço em horários diferentes. Além disso, temos o primeiro cemitério protestante das Américas, em Iperó. Esse local está ligado à fundação da primeira siderúrgica das Américas — uma iniciativa do Império. Na época, existiam apenas outras duas no mundo: uma na Alemanha e outra na China. Dom Pedro II era frequentador da região. Como não havia mão de obra especializada no Brasil, foram trazidos técnicos da Inglaterra, Suécia e Alemanha — muitos deles protestantes. Com o tempo, essas pessoas começaram a morrer e surgiu um problema: seus corpos não podiam ser enterrados em solo consagrado católico. Os corpos chegaram a ser armazenados em caixotes, aguardando uma solução. Sensibilizado, Dom Pedro II interveio e conseguiu que um terreno fosse “excomungado” pela Igreja, para a criação de um cemitério protestante. Esse é o primeiro do continente americano — e existe até hoje. Além disso, São Paulo é sede da Sociedade Bíblica do Brasil, que possui o maior parque gráfico de publicações bíblicas do mundo. Temos também a famosa Rua Conde de Sarzedas, conhecida como a rua dos evangélicos, onde se concentram comércios voltados a esse público. O Templo de Salomão, símbolo da fé evangélica, é aberto à visitação com guias especializados. É uma experiência impressionante. Também temos o Museu da Bíblia, em Barueri — um dos mais completos do mundo. E o Museu de Arqueologia Bíblica, em Engenheiro Coelho, liderado pelo pastor Rodrigo Silva, da Igreja Adventista, em parceria com a Universidade Adventista. Tudo isso compõe um circuito evangélico autêntico, que passa por São Paulo e influencia o país inteiro. A Assembleia de Deus, por exemplo — mãe de todas as igrejas pentecostais no Brasil — foi fundada por Daniel Berg e Gunnar Vingren em Belém do Pará. E a primeira igreja fora de Belém foi criada justamente aqui, em Santos. Nos anos 1970 e 1980, São Paulo abrigou os maiores templos evangélicos do mundo: o templo da Igreja O Brasil para Cristo, na Pompeia, e a sede mundial da Igreja Deus é Amor, entre outros. Temos muitas curiosidades como essas. E quando organizadas, todas essas informações formam um circuito incrível para o turismo evangélico. Um circuito que faz frente até mesmo às rotas históricas da Reforma, na Alemanha, Suécia ou Inglaterra. São Paulo tem, sim, uma história religiosa fabulosa.


Ricardo Hida: Recentemente, a Secretaria lançou também o guia de turismo judaico. O que ele traz de novidade?

Roberto de Lucena: Esse guia, desenvolvido com o Museu Judaico e a Federação Israelita, organiza a rica presença cultural da comunidade judaica em São Paulo. Destacamos o Memorial do Holocausto, o Museu Judaico, além de restaurantes, centros culturais e ações sociais. É um convite para mergulhar na história e na contribuição dos judeus para o estado e o país.


Ricardo Hida: Quais são os próximos projetos da Secretaria, além do turismo religioso?

Roberto de Lucena: Nosso foco é interiorizar e descentralizar o turismo. O programa “Sabor de São Paulo” valoriza a gastronomia regional e já reconheceu 13 regiões gastronômicas. Lançamos também o Creditu SP, uma linha de crédito para fomentar projetos turísticos. Outro grande projeto é a Academia do Turismo, com a meta de oferecer 100 mil vagas de capacitação até 2026, combatendo a falta de mão de obra qualificada no setor.


Ricardo Hida: Para quem deseja acessar os guias e saber mais sobre esses projetos, como proceder?

Roberto de Lucena: Basta acessar o site da Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo. Lá estão disponíveis gratuitamente mais de 30 guias, incluindo o recém-lançado Guia das Padarias, com mais de 300 estabelecimentos listados. E em breve teremos novidades.


Ricardo Hida: Secretário, agradeço imensamente pela entrevista e por compartilhar tantos projetos inspiradores. Nos vemos em breve para falar sobre essas novas iniciativas!

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Ricardo Hida

Doutorando, Mestre em Ciência da Religião e pesquisador da PUC-SP em Turismo religioso, é escritor e professor. Graduado pela FAAP e pós-graduado pela Casper Líbero, trabalhou na Air France, Accor, Atout France e hoje dirige a Promonde, consultoria de marketing e comunicação. Escritor, está à frente também do Fórum de Turismo e espiritualidade. Foi em uma viagem de imprensa a Lourdes, na França, na época em que era diretor adjunto do escritório de Turismo francês no Brasil, que Ricardo Hida compreendeu a dimensão do Turismo religioso. Ao voltar para São Paulo, foi conhecer mais sobre esse universo que movimenta milhões de viajantes a cada ano em todo o mundo, há muitos séculos. Romarias, peregrinações, retiros. Não importa a tradição, o segmento não para de crescer.

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