Ligúria: fé e dolce vita à beira do Mediterrâneo

A Ligúria é uma dessas joias do mapa que, à primeira vista, conquista pela elegância natural da Riviera Italiana: um desfile de vilas coloridas aninhadas entre o azul do mar e o verde das colinas. Mas basta se demorar um pouco mais para perceber que, por trás da sua dolce vita, pulsa uma alma profundamente espiritual e, por vezes, surpreendentemente mística. Aqui, a fé se expressa na pedra, no tecido, na água e até nas lendas que atravessam séculos.

Em San Fruttuoso, entre Portofino e Camogli, repousa uma das imagens mais singulares do Mediterrâneo: o Cristo degli Abissi. Esta estátua de bronze, colocada a 17 metros de profundidade em 1954, foi idealizada pelo mergulhador italiano Duilio Marcante como homenagem a todos aqueles que perderam a vida no mar. De braços abertos, a figura parece acolher os que descem até ela, mergulhadores ou fiéis em busca de um momento de introspecção. A atmosfera é tão intensa que inspira cada vez mais até casamentos submarinos, nos quais os noivos, equipados com cilindros, dizem “sim” com um coro de bolhas ao redor.

O coração espiritual de Gênova pulsa na Catedral de San Lorenzo, cuja história começa no século IX, quando uma modesta igreja foi erguida sobre ruínas romanas. Entre os séculos XII e XIV, ganhou sua forma atual, um imponente edifício gótico com fachada românica em mármore branco e negro; as cores que se tornariam um símbolo da cidade. Essa fachada, com colunas esculpidas e leões guardiões, é mais que um ornamento: é uma afirmação do poder e da riqueza de Gênova durante a Idade Média.

Mas o que realmente fascina é a coleção de relíquias e tesouros guardados no interior. Entre eles, um prato que, segundo a tradição, teria servido na Última Ceia, e fragmentos de ossos atribuídos a São João Batista, padroeiro da cidade. E, em meio a relicários e pinturas, está uma joia rara e inesperada: a Paixão de Cristo pintada sobre tecido denim. Sim, jeans! Produzido em Gênova desde o século XV, esse tecido azul, chamado bleu de Gênes, era exportado para toda a Europa e, séculos depois, daria origem à palavra “jeans”. Usá-lo como base para arte sacra era ousado, mas o resultado é extraordinário: o azul profundo realça as cenas dramáticas, criando um diálogo entre o sagrado e a vida cotidiana dos marinheiros e mercadores que vestiam o mesmo material.

Terra de bruxas? No século XVI, este vilarejo aninhado nas montanhas foi palco de um dos processos de bruxaria mais famosos da Itália. Acusadas de provocar fomes, tempestades e doenças, dezenas de mulheres foram interrogadas, presas e, em alguns casos, executadas.

O Museo Etnografico e della Stregoneria preserva essa memória em uma narrativa que vai além da caça às bruxas. Dividido em alas, o museu mostra a vida rural da Ligúria de montanha (utensílios, trajes e ferramentas agrícolas) antes de mergulhar no universo do misticismo. Há reproduções de celas, cópias dos registros inquisitoriais, receitas de poções e objetos usados em rituais de cura com ervas. Finalmente, o visitante descobre que muitas das “bruxas” eram, na verdade, parteiras, enfermeiras, benzedeiras, curandeiras e guardiãs de saberes populares que incomodavam homens poderosos e religiosos da época.

Caminhar por Triora, com suas ruelas de pedra e portais medievais, é quase sentir o peso dessas histórias. Não à toa, o vilarejo cultiva uma atmosfera de mistério, celebrando festivais de bruxaria e atraindo curiosos do mundo todo.

A Ligúria é, portanto, mais do que um destino para prosecco à beira-mar. É um território que convida a mergulhar — seja no azul profundo que esconde o Cristo degli Abissi, seja nos arquivos seculares da Catedral de San Lorenzo, seja nas lendas de Triora. Aqui, a Riviera Italiana não é apenas cenário: é personagem de uma história onde fé, arte, mistério e prazer convivem lado a lado.

Resort de R$ 500 milhões reforça turismo religioso

Localizada no coração do Vale do Paraíba, entre São Paulo e Rio de Janeiro, a cidade de Aparecida (SP) está prestes a consolidar ainda mais sua posição como um dos principais destinos de turismo religioso do Brasil e da América Latina. Conhecida por abrigar o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, o maior templo católico do país e o segundo maior do mundo, atrás apenas da Basílica de São Pedro, no Vaticano; a cidade atrai, anualmente, cerca de 12 milhões de fiéis e visitantes em busca de fé, espiritualidade e renovação.

Em breve, Aparecida contará com um novo atrativo de grande porte: um resort no modelo de multipropriedade, com investimento previsto de R$ 500 milhões. O projeto, da Transamerica Collection, será realizado em parceria com a Atlantica Hospitality International e a empresa Simão&Simão. Com previsão de início das obras no segundo semestre de 2026 e conclusão em até 36 meses, o empreendimento ocupará uma área de mais de 110 mil m², com 700 apartamentos de 41 m² a 60 m², parque aquático de 8 mil m², capela integrada, restaurantes, academias, spas e espaços para lazer e contemplação.

A iniciativa também promete impulsionar a economia local, com a criação de aproximadamente 1.800 empregos diretos e indiretos ao longo da construção e operação do resort. Essa movimentação reforça a vocação turística de Aparecida, cuja economia gira em torno de 80% do turismo religioso, segundo dados do setor. O comércio, a hotelaria e os serviços da cidade são fortemente impactados pelas grandes romarias e pelos eventos religiosos, que garantem o sustento de milhares de famílias locais.

O investimento em Aparecida também reflete uma tendência global: o crescimento expressivo do turismo religioso. Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), esse segmento movimenta mais de 330 milhões de viajantes por ano no mundo e gera receitas bilionárias. Santuários, peregrinações e experiências de fé vêm atraindo não apenas devotos tradicionais, mas também pessoas em busca de autoconhecimento, espiritualidade e bem-estar.

Nesse cenário, o Brasil desponta como um dos destinos mais promissores da América Latina, com roteiros como a Rota da Fé, Caminho da Luz, Caminho da Fé e, claro, Aparecida, considerada a “capital da fé brasileira”.

Com a chegada do novo resort, Aparecida amplia seu leque de opções para os viajantes, unindo conforto, hospitalidade e espiritualidade em um mesmo destino. A cidade mostra que é possível aliar tradição e inovação, fé e desenvolvimento econômico, em um modelo sustentável que beneficia toda a comunidade.

Festa de Santa Dulce dos Pobres 2025: fé, cultura e turismo em Salvador

Entre os dias 1º e 13 de agosto, a capital baiana será palco da Festa de Santa Dulce dos Pobres, um dos eventos mais emocionantes e significativos do turismo religioso no Brasil.

Com o tema “Com Santa Dulce dos Pobres, Somos Peregrinos de Esperança”, a festa de 2025 promete uma programação intensa e diversificada, que homenageia a vida e o legado da primeira santa brasileira, conhecida mundialmente como o Anjo Bom da Bahia.

A celebração acontecerá em locais icônicos da cidade, como o Santuário de Santa Dulce dos Pobres, na Avenida Dendezeiros, e a Praça Irmã Dulce, no Largo de Roma — ambos no tradicional bairro do Bonfim. Ali, turistas e fiéis poderão participar de:

  • Missas e trezenas
  • Procissões temáticas
  • Quermesse com comidas típicas
  • Shows de música religiosa e regional
  • Vila gastronômica com delícias baianas
  • Serviços de saúde gratuitos
  • Ações sociais para a comunidade

Entre os nomes confirmados na programação cultural estão Targino Gondim, Adelmário Coelho, Del Feliz, Banda Dominus, Anjos de Resgate e Padre Antônio Maria. Um momento especial será o tributo à Santa Dulce no dia 10 de agosto, que promete encantar moradores e visitantes.

Um dos grandes atrativos do evento é a tradicional Rota da Fé, que convida os devotos a percorrer locais marcantes da trajetória da santa. As procissões também são momentos marcantes da programação:

  • Procissão da Memória – 3 de agosto
  • Procissão dos Arcos – 8 de agosto
  • Procissão dos Nós – 12 de agosto
  • Procissão Luminosa até a Colina Sagrada – 13 de agosto, após a Missa Campal celebrada pelo Cardeal Dom Sérgio da Rocha

Segundo a Prefeitura de Salvador, a festa já faz parte do calendário oficial da cidade e representa um importante impulso para o turismo e a economia local. Em 2024, o evento movimentou mais de 2,7 mil empregos diretos e indiretos, contou com 171 artistas e 125 expositores.

Além disso, Salvador registrou em 2023 a visita de mais de 3,5 milhões de turistas, sendo cerca de 70% de outros estados. O turismo religioso na Bahia tem se destacado como um dos pilares do setor, ao lado das belas praias, do patrimônio histórico e da culinária vibrante.

Camboriú aposta no turismo religioso e integra rota nacional de peregrinação

Camboriú, cidade localizada no litoral norte de Santa Catarina, anunciou recentemente sua integração ao Caminho Peregrino do Sul, uma das maiores iniciativas voltadas ao turismo religioso no Brasil. Com 1.924 quilômetros de extensão, a rota passará por 62 municípios nos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais, conectando alguns dos principais santuários do país, como o Santuário de Santa Paulina (SC), o Santuário Nacional de Aparecida (SP) e o Memorial Padre Léo (SC).

A adesão de Camboriú ao projeto, como ente apoiador, representa uma aposta estratégica no segmento de turismo de fé e espiritualidade, que movimenta anualmente mais de 20 milhões de viajantes no Brasil, segundo dados do Ministério do Turismo. Só o Santuário Nacional de Aparecida, por exemplo, recebe cerca de 12 milhões de visitantes por ano.

Inspirado na iniciativa federal Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade (Rede Trilhas), o Caminho Peregrino do Sul será autoguiado e sinalizado, promovendo o turismo de base comunitária (TBC), a preservação ambiental e a valorização do patrimônio religioso e cultural. A proposta integra espiritualidade e mobilidade ativa, incluindo trechos para caminhada, ciclismo e experiências rurais.

Além de promover a fé, o projeto pretende gerar impactos positivos em diversas frentes da economia local, incluindo hospedagem, alimentação, transporte e comércio de produtos artesanais. Camboriú, que já se beneficia da proximidade com destinos turísticos consolidados como Balneário Camboriú, agora vê no turismo religioso uma oportunidade de diversificação e interiorização da atividade turística.

A cidade também está próxima de ramais religiosos importantes, como o Caminho do Louvor e o Caminho Amabilíssimo, este último passando pela Comunidade Bethânia, referência nacional em acolhimento espiritual e recuperação humana.

O lançamento oficial do Caminho Peregrino do Sul está previsto para 12 de outubro de 2025, Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. O cronograma do projeto envolve quatro etapas: planejamento (encerrado em junho), expedição de confirmação da rota (julho a agosto), homologação (agosto a setembro) e início das operações ainda neste ano.

Durante a fase atual, uma equipe especializada está percorrendo os trechos do caminho, promovendo encontros com comunidades locais, mapeando atrativos e validando os pontos de acolhimento.

Segundo o prefeito Leonel Pavan, o investimento vai além dos retornos financeiros:

“O turismo religioso é mais do que uma alternativa de renda. Ele toca a alma das pessoas. Quando um peregrino passa por Camboriú, ele não leva só lembranças: ele carrega paz, acolhimento e fé. Esse tipo de turismo traz retorno real, não apenas financeiro, mas humano, espiritual e cultural.”

A iniciativa também prevê oficinas comunitárias, capacitação de guias, criação de acolhidas rurais e a elaboração de um calendário de eventos de mobilidade ativa, incluindo caminhadas temáticas e cicloturismo.

Com essa estratégia, Camboriú se posiciona como um novo polo no mapa do turismo religioso brasileiro, unindo tradição, espiritualidade e desenvolvimento sustentável.

Roca Sales aposta na Arca de Noé para se firmar como destino religioso no RS

Com tantas mudanças climáticas e profetas anunciando o fim do mundo, não seria de estranhar se alguém resolvesse, em pleno século XXI, construir uma nova Arca de Noé. Mas, em vez de fugir da fúria divina, a proposta aqui é navegar por um mar de fé, história e desenvolvimento turístico. E é exatamente isso que está acontecendo em Roca Sales, no Vale do Taquari (RS).

O município se prepara para dar um grande salto no turismo religioso. Nesta semana, serão revelados os primeiros desenhos de um ambicioso projeto arquitetônico: uma réplica em escala real da Arca de Noé, inspirada nas dimensões bíblicas. A iniciativa é liderada pela Associação Amigos Reconstruindo Roca Sales e promete transformar a paisagem local — e a economia da região.

Idealizada por um arquiteto da cidade, a estrutura será erguida no alto de uma colina, em posição estratégica com vista para o Cristo Protetor de Encantado, um dos principais ícones religiosos do estado. A Arca terá 150 metros de comprimento, 25 de largura e 15 de altura, seguindo fielmente as proporções descritas nas Escrituras. A previsão é de que o espaço esteja aberto ao público até o ano de 2030.

De acordo com Eduardo Salgado, presidente da associação responsável pelo projeto, a apresentação dos esboços marca o início de uma nova fase: a de captação de recursos e parcerias. O vice-presidente, Pascoal Bertoldi, destaca que o objetivo é valorizar o município, atrair visitantes e aquecer a economia local, especialmente com o fluxo de turistas vindos da Serra Gaúcha.

O plano vai muito além da construção simbólica da Arca. Está prevista a criação de um complexo turístico completo, que incluirá um museu sobre as enchentes na região, restaurante, cafeteria, vinícola e um auditório ao ar livre com vista panorâmica do vale. A ideia é oferecer experiências imersivas que combinem fé, história e lazer.

O projeto também deverá impulsionar melhorias na infraestrutura da cidade e nas vias de acesso, como a ERS-129 e a estrada que liga Roca Sales a Coronel Pilar. A expectativa é de que, com a mobilização de investidores e apoio da comunidade, Roca Sales se torne referência nacional no segmento de turismo religioso.

A iniciativa mostra , seguindo o exemplo do Templo de Salomão em São Paulo, como fé, criatividade e visão estratégica podem transformar uma cidade em um destino de viagens.

Guia inédito sobre turismo de tradições africanas e indígenas

A diversidade religiosa e cultural do Estado de São Paulo acaba de ganhar um novo destaque. Nesta segunda-feira (30), a Secretaria de Turismo e Viagens (Setur-SP) lançou um guia turístico totalmente dedicado às religiões de matrizes africanas e indígenas. A iniciativa busca reconhecer e valorizar espaços sagrados que são verdadeiros centros de fé, resistência e ancestralidade espalhados pelo estado.

A publicação é resultado de uma parceria com a Secretaria da Justiça e Cidadania (SJC) e conta com o apoio do Fórum Inter-religioso do Estado de São Paulo.

Clique aqui para acessar o guia completo.

O guia traz um mapeamento inédito de 35 locais – entre casas religiosas, centros culturais e institutos – que mantêm vivas as tradições afro-brasileiras e indígenas em 17 cidades paulistas. Cada espaço guarda histórias, rituais e saberes que resistem ao tempo e continuam a transformar vidas.

Entre os destaques, estão a Axé Ogodô, em Guarulhos – a primeira casa de matriz africana reconhecida como patrimônio histórico da cidade –, e a Escola de Curimba de Ogum, em São Paulo, voltada ao ensino musical dentro da tradição da Umbanda.

“O turismo religioso é uma forma de valorizar o que temos de mais profundo: nossa identidade cultural. E, ao abrir espaço para essas manifestações, trazemos novos olhares e mais inclusão ao setor”, afirma o secretário de Turismo, Roberto de Lucena. Segundo dados do Ministério do Turismo, o segmento movimenta cerca de 20 milhões de viagens por ano e gera R$ 15 bilhões na economia.

Além de impulsionar o turismo, iniciativas como essa fortalecem comunidades tradicionais, promovem o desenvolvimento local e ajudam a combater preconceitos ainda presentes na sociedade.

Para Fabio Prieto, secretário da Justiça e Cidadania, o guia também representa um importante avanço na promoção da diversidade religiosa. “Facilitar o acesso a esses espaços sagrados é essencial para fortalecer o diálogo inter-religioso e enriquecer a experiência dos visitantes”, destaca.

Essa não é a primeira vez que as secretarias trabalham juntas. Em fevereiro, o guia foi apresentado ao público e agora chega oficialmente para ser usado por cidadãos, estudantes, pesquisadores, agentes de viagem e qualquer pessoa que deseje se aproximar da riqueza espiritual presente nos terreiros e centros culturais de São Paulo.

Mais do que um material de consulta, o Guia Turístico de Religiões de Matrizes Africanas e Indígenas é um convite à escuta, ao respeito e à descoberta. Ele abre caminhos para vivências profundas, intercâmbio cultural e turismo com propósito – inclusive na baixa temporada.

É hora de viajar com o coração aberto e reconhecer que os saberes ancestrais também fazem parte do nosso patrimônio.

Romería del Rocío: fé, festa e tradição no coração da Andaluzia

Se existe uma celebração que sintetiza a alma andaluza, com sua mistura única de fé, música, devoção e alegria contagiante, essa celebração é a Romería del Rocío. Realizada anualmente na província de Huelva, no sul da Espanha, essa romaria atrai centenas de milhares de peregrinos vindos de toda a Espanha — e cada vez mais turistas do mundo inteiro curiosos por vivenciar uma experiência espiritual e cultural única.

A Romería del Rocío é uma tradicional peregrinação católica que leva os fiéis até a pequena aldeia de El Rocío, pertencente ao município de Almonte, em Huelva. O objetivo é venerar a imagem da Virgem do Rocío, também conhecida como “La Blanca Paloma” (A Pomba Branca), padroeira da região.

As origens dessa devoção remontam ao século XIII, mas foi no século XVII que a romaria começou a ganhar a dimensão atual. Hoje, mais de 120 hermandades (irmandades religiosas) organizadas partem de diferentes pontos da Andaluzia — especialmente Sevilha, Cádiz e Málaga — para fazer o percurso a pé, a cavalo ou em charretes enfeitadas, sempre acompanhados por cantos, guitarras e o famoso cante flamenco.

A peregrinação culmina no final de semana de Pentecostes, 50 dias após a Páscoa. O ponto alto da festa ocorre na madrugada de domingo para segunda, com a “salida” da Virgem em procissão — um momento carregado de emoção, em que multidões lotam a igreja do Santuário de El Rocío para testemunhar a saída da imagem em meio a aplausos, lágrimas e cânticos.

Participar da Romería del Rocío é mergulhar em uma Andaluzia profunda e vibrante. A viagem pelas trilhas naturais do Parque Nacional de Doñana, os trajes típicos, os aromas da culinária local e o som dos tambores e palmas criam uma atmosfera única, onde o sagrado e o profano convivem em perfeita harmonia.

Para o turista, trata-se de uma vivência autêntica, diferente de qualquer festa religiosa convencional. Mesmo quem não tem vínculo com a fé católica se encanta com a hospitalidade dos romeiros, a beleza da paisagem natural e a intensidade emocional da celebração.

A Romería del Rocío não é apenas um evento religioso. É um verdadeiro patrimônio imaterial da cultura espanhola, onde passado e presente se encontram em uma das manifestações mais vivas da espiritualidade popular europeia. Sua força simbólica, a beleza dos trajes, os rituais e a energia coletiva transformam El Rocío em um dos destinos mais marcantes para quem busca turismo com alma.

Se você deseja conhecer a Espanha para além dos roteiros tradicionais, incluir a Romería del Rocío em seu calendário de viagens é uma escolha inesquecível. Porque algumas experiências não se explicam — se sentem.

Algumas dicas:

Reserve com antecedência: El Rocío recebe mais de 1 milhão de visitantes durante a romaria, e as hospedagens na região esgotam rapidamente.

Prepare-se para a poeira e a dança: A peregrinação é intensa, mas também cheia de alegria. Sapatos confortáveis e espírito aberto são indispensáveis.

Experimente a gastronomia local: Prove pratos como o “ajo campero”, as tapas andaluzas e os doces típicos vendidos ao longo do caminho.

Respeite a cultura local: Vista-se com discrição, siga o ritmo das hermandades e aproveite para aprender com os habitantes locais sobre a tradição. Trata-se de um evento religioso e não de uma micareta.

Turismo religioso apresenta crescimento global

Em audiência na Câmara dos Deputados no dia 11 de junho de 2025, o Ministro do Turismo, Celso Sabino, destacou o momento promissor do setor. Segundo ele, o Brasil registrou um aumento de 49% no número de turistas estrangeiros nos cinco primeiros meses de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior. “Estamos a caminho de alcançar a marca de 10 milhões de turistas internacionais neste ano, o que pode consolidar o turismo como a principal matriz econômica do país”, afirmou o ministro.

Durante a mesma audiência, o deputado Bibo Nunes chamou atenção especial para o turismo religioso, ressaltando sua importância econômica e social. Para ele, o Brasil tem potencial para se tornar um polo de peregrinação e fé, tanto para turistas nacionais quanto internacionais.

O apelo de destinos espirituais transcende fronteiras. Segundo dados da Coherent Market Insights, o mercado global de turismo religioso foi estimado em US$ 1,38 trilhão em 2025, com projeção de atingir US$ 2,17 trilhões até 2032, impulsionado por uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 6,7%. Já outras análises apontam para um mercado mais conservador, mas ainda robusto: US$ 174 bilhões em 2024, com expectativa de alcançar US$ 263 bilhões até 2029.

Entre os principais destinos religiosos globais, além de Israel e Roma, destacam-se o Caminho de Santiago de Compostela ,com mais de 440 mil peregrinos em 2024, com crescimento médio superior a 10% ao ano; o Santuário de Fátima registrando mais de 6 milhões de visitantes por ano e Meca (Arábia Saudita), já que o Hajj e a Umrah atraem milhões de fiéis muçulmanos, movimentando bilhões de dólares na economia saudita.

O Brasil reúne todos os ingredientes para transformar o turismo religioso em um motor econômico: diversidade de expressões religiosas, festas populares com raízes espirituais profundas, além de santuários já consolidados como o de Aparecida (SP), o Santuário do Pai Eterno (GO) e o Juazeiro do Norte (CE), terra de Padre Cícero.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Artigos Religiosos, o turismo de fé movimenta cerca de 18 milhões de viagens ao ano no Brasil e gera um impacto econômico superior a R$ 15 bilhões, entre hospedagem, transporte, alimentação e comércio de artigos religiosos.

Além da alta resiliência econômica, o turismo de fé oferece estabilidade de demanda já que peregrinações e festas religiosas ocorrem ao longo de todo o ano e forte engajamento emocional, uma vez que experiências religiosas geram vínculos duradouros com os destinos.

As declarações do Ministro Celso Sabino mostram que o Brasil está atento à vocação econômica do turismo. Ao mesmo tempo, o alerta de Bibo Nunes sobre o potencial do turismo religioso reforça a necessidade de políticas públicas e iniciativas privadas focadas neste nicho de alto valor agregado.

Num mundo em que o viajante busca mais do que belas paisagens — busca sentido, conexão e experiências autênticas — o turismo religioso surge como um caminho viável, lucrativo e profundamente transformador. Para o Brasil, é mais do que uma oportunidade: é uma vocação pronta para ser lapidada. A fé move negócios.

Turismo religioso em goiás impulsiona venda de roupas

Não canso de dizer. Vou morrer lembrando que o turismo é uma das atividades econômicas que mais mobiliza cadeias produtivas em todo o mundo. Seja no lazer, nos negócios ou na fé, ele sempre impacta, de forma direta e indireta, uma série de setores — movimentando desde hospedagem e alimentação até transporte, comércio e serviços especializados. Quando falamos em turismo religioso, esse efeito se amplia ainda mais, alcançando nichos específicos, como o mercado de artigos religiosos e, pasmem, a crescente indústria da moda modesta.

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Artigos Religiosos (ABIAR), o turismo religioso no Brasil movimenta cerca de 18 milhões de viagens por ano, com um impacto econômico de aproximadamente R$ 15 bilhões no comércio de artigos religiosos e vestuário.

Em Goiás, esse fenômeno se expressa de forma contundente. Para os grandes eventos religiosos, a indústria têxtil focada em moda modesta observa explosão de vendas.

O estado se destaca como um dos principais polos do turismo religioso no país, atraindo milhares de fiéis em eventos de grande porte. Entre eles, o Totuus Tuus, um encontro católico de evangelização e espiritualidade que reúne jovens e famílias em momentos de oração, adoração, formação e shows de música cristã. O evento tem crescido exponencialmente, tornando-se referência nacional no calendário católico.

Além disso, o Santuário do Divino Pai Eterno, localizado em Trindade (GO), é o principal destino de fé da região Centro-Oeste. Reconhecido como a “Capital da Fé” em Goiás, o santuário recebe, todos os anos, milhões de devotos, sobretudo durante a tradicional Romaria do Divino Pai Eterno, que chega a atrair mais de 3 milhões de pessoas em apenas dez dias de festividades. O complexo religioso oferece missas diárias, novenas, bênçãos, espaços de acolhimento e infraestrutura para receber romeiros de todo o país.

Moda Modesta: Uma Tendência que Ganha Força entre as viajantes

Um dos segmentos que mais se beneficia com o turismo religioso é, sem dúvida, o da moda modesta. Trata-se de uma proposta estética que prioriza roupas que cubram mais o corpo, alinhadas a valores de recato, elegância e identidade cultural e espiritual. A moda modesta não é uma exclusividade de uma única fé — ela está presente em diversas tradições religiosas e tem se consolidado também como uma tendência de estilo no mundo contemporâneo.

Entre mulheres católicas, é comum o uso de saias midi, vestidos de corte clássico, blusas com mangas e decotes discretos, principalmente em ocasiões litúrgicas ou peregrinações. No universo judaico, especialmente entre as comunidades ortodoxas, a tzniut — conceito que rege a modéstia — determina o uso de roupas que cubram joelhos, cotovelos e colo, além do uso de lenços ou perucas (tichel ou sheitel) para as mulheres casadas. Já no meio evangélico, especialmente nas vertentes pentecostais e neopentecostais, a preferência recai sobre saias longas, vestidos sem transparência e peças que transmitam sobriedade, muitas vezes associadas a uma estética elegante, sem perder a feminilidade.

O crescimento desse nicho reflete não apenas uma demanda religiosa, mas também uma busca crescente por peças que comuniquem valores pessoais, culturais e espirituais. Grandes marcas, influenciadoras e empreendedores locais têm investido nesse mercado, que une fé, identidade e estilo.

Muito Além da Fé: turismo como Um Motor Econômico

É sempre bom lembrar que o impacto do turismo religioso vai muito além da hotelaria, gastronomia e transportes. Além da moda e dos artigos religiosos, ele também estimula setores como serviços gráficos (na confecção de banners, camisetas de grupos e materiais promocionais), além de impulsionar pequenas economias locais com a venda de produtos artesanais e lembranças.

Juazeiro do Norte: Onde a Fé Move Montanhas e Economias

No coração do sertão cearense, Juazeiro do Norte não é apenas uma cidade: é um símbolo vivo da fé nordestina. Todos os anos, cerca de 2,5 milhões de romeiros cruzam estradas, trilhas e aeroportos para visitar a terra de Padre Cícero Romão Batista — o “Padim Ciço”, como é carinhosamente chamado por seus devotos. Este fluxo impressionante não só transforma a paisagem urbana da cidade em épocas de romaria, mas também movimenta intensamente sua economia, tornando o turismo religioso a principal engrenagem do desenvolvimento local.

Localizada a cerca de 500 km de várias capitais do Nordeste e com acesso facilitado pelo Aeroporto Regional Orlando Bezerra de Menezes, Juazeiro tornou-se um dos maiores polos de turismo religioso da América Latina. Durante eventos como a Romaria de Nossa Senhora das Candeias, a Semana Santa e o Dia de Finados, a cidade chega a receber, em poucos dias, até 500 mil visitantes. O impacto é direto: estima-se que cada romeiro gaste, em média, R$ 377 durante a estadia, gerando cerca de R$ 754 milhões ao ano, segundo levantamento da Secretaria do Turismo do Ceará. Esse montante beneficia desde a rede hoteleira até pequenos comerciantes que vendem imagens de santos, cordéis, velas e chapéus de palha.

Mas Juazeiro do Norte vai além dos números. O que torna a cidade realmente única é a atmosfera de devoção que paira no ar. No alto da Colina do Horto, uma imponente estátua de 27 metros de Padre Cícero observa a cidade com semblante sereno. Aos seus pés, o Museu Vivo, o Santuário do Sagrado Coração e o recém-inaugurado teleférico contam a história de um líder religioso que virou mito, político e santo popular. O trajeto suspenso oferece vistas panorâmicas da Chapada do Araripe, conectando a Praça dos Romeiros ao topo da colina — uma experiência que mistura espiritualidade, turismo e contemplação da paisagem natural.

Durante as romarias, a cidade vibra com cores, cheiros e sons. Bandas cabaçais e grupos de reisado animam as praças, barracas de tapioca e buchada se espalham pelas ruas, e o artesanato local ganha destaque em feiras e mercados. A cultura popular é celebrada em sua forma mais autêntica, criando um ambiente que encanta turistas e renova a fé dos peregrinos. Juazeiro é, ao mesmo tempo, um santuário e um palco.

Esse dinamismo levou a cidade a ser classificada na categoria A do Mapa do Turismo Brasileiro, entre os 70 destinos mais visitados do país. E os investimentos não param: projetos de infraestrutura, capacitação profissional e preservação da memória histórica estão em curso, com o objetivo de tornar a experiência do visitante ainda mais enriquecedora — sem perder a simplicidade e a acolhida tão características do povo juazeirense.

Juazeiro do Norte é um destino que toca a alma. Não importa se o visitante chega com um terço na mão ou uma câmera no pescoço. Ao pisar em suas ruas, sente-se parte de algo maior: uma cidade onde o passado e o presente se entrelaçam em procissões, promessas e histórias. Uma cidade onde a fé não é só professada — é vivida. E compartilhada.