Bénin: berço do Brasil

Benin, o berço do candomblé e ancestral do Brasil

Se muçulmanos devem ir a Meca ao menos uma vez na vida, se católicos devem conhecer Roma e Jerusalém e evangélicos precisam também visitar esse último destino, os adeptos das religiões de matriz africana em todo o continente americano não podem deixar de desbravar o Benin, de onde saíram milhões de negras e negros escravizados para as Américas por 4 séculos. Na verdade, qualquer pessoa que queira entender o Brasil, precisa visitar o país, na costa oeste do continente. Lá é que vamos entender a nossa relação com as almas, com as superstições, com os oráculos, com a música. Lá vamos entender o porquê de sermos quem somos. O nosso catolicismo e o pentecostalismo, inclusive, têm muita influência do Benin. Ainda que muitos africanos tenham vindo de Angola e outras nações da África, a hegemonia do Benin na construção da cultura e religiosidade brasileira é inegável.

Como professor e pesquisador, decidi visitar o antigo reino de Daomé para entender a espiritualidade brasileira. Antes de se tornar uma colônia francesa, o Benin, assim como Burkina Fasso, Togo, Níger e Nigéria faziam parte do maior império da África.  O país é cenário do filme King Woman, com Viola Davis. Não foi a minha primeira viagem ao continente. Já conhecia o sul da África e o Norte. Desta vez, decidi visitar esse destino que vai investir fortemente no mercado brasileiro, sobretudo no turismo de memória. Antes, resolvi passar em Adis Abeba. Primeiramente porque a  Ethiopian Airlines- a mais importante companhia aérea africana, cujo serviço não deve nada para as europeias e americanas- tem as melhores tarifas e também porque queria conhecer a Etiópia, berço do cristianismo na África, mencionada algumas vezes na Bíblia e com suas igrejas escavadas em rochas.

Lake Nokoué, city of Ganvié 32 000 inhabitants Daily life at Ganvié

O aeroporto internacional do Benin fica em Cotonou, a mais importante cidade do país. Lá há duas possibilidades de hospedagem: o fabuloso Sofitel, um palácio cinco estrelas recém-inaugurado, e um dos mais lindos do planeta e que tem o Mohamed, antigo gerente no Fairmont Rio de Janeiro, como diretor de operações. A outra opção é o Maison Rouge, um hotel design e boutique, quatro estrelas superior, ao lado da Embaixada do Brasil, com uma gastronomia fantástica e onde você pode tomar café na companhia de fabulosos pavões. Eu optei experimentar os dois hotéis, até porque, com exceção de Ouidah, que oferece um resort pé na areia,  de padrão internacional e um serviço acolhedor e eficiente, a Casa Del Papa, não há muitas opções de luxo no país. Cotonou é capital financeira, sede da presidência do país e tem um dos maiores murais de grafiti do mundo, assinado pelo nosso Kobra. A obra de arte retrata o passado, presente e futuro da país e mostra o Benin como exemplo para o mundo do convívio pacífico de todas as religiões. De fato, a cidade, além de ter o maior shopping popular do continente, também é repleto de templos e igrejas de todas as religiões, inclusive a Igreja Universal do Reino de Deus. Lá, a expressão sincretismo é utilizada sem sua conotação negativa. Indica, ao contrário, uma saudável combinação de crenças. União sem fusão. Na cidade deve-se visitar uma das maiores estátuas do planeta, dedicada a mulher guerreira africana.

A estada ideal no Benin para brasileiros é de 7 dias. O primeiro dia para repouso, o último para compras e os demais para se visitar cada uma das cidades. Você pode escolher Cotonou ou Ouidah como base e fazer um bate-volta a cada dia. 

Ouidah é a cidade onde se encontra a rota da escravidão. Trata-se de uma jornada importantíssima não apenas para afrodescendentes mas para qualquer pessoa que queira entender sobre a construção da identidade nos  EUA, América Central e Brasil. A rota tem 6 escalad e culmina na Porta do Não Retorno, na praia, voltada para o Atlântico de onde milhões de mulheres, homens e crianças partiam para as Américas sem chance alguma de retorno. Esse  monumento, cheio de símbolos espirituais, foi tema de um documentário com Gilberto Gil e também de um programa com Luciano Huck. Em Ouidah pode-se visitar um grande templo dedicado às cobras pítons, consideradas sagradas no Benin. Em todos os cantos se vê templos vodouns, equivalente aos nossos terreiros. Esse templo maior foi visitado por João Paulo II e Bento XVI. Ao lado se encontra a maior catedral da África do Oeste, dedicada a Nossa Senhora.

Ketou é uma cidade que deveria ser irmã gêmea de Salvador. Lá pude visitar o Rei  (para quem tive de cumprir todos os salamaleques e usar o vocativo majestade), soberano de todos os iorubás. No Brasil, parte importante dos terreiros de candomblé são chamados de queto, justamente por conta da ligação histórica com essa cidade.  Lá se visita muitos palácios e se entende como se dá a religião dos orixás na África, totalmente diferente do que existe no Brasil. O culto de orixás no Brasil e o chamado Vodun do Haiti têm muito pouco de comum com as práticas africanas.

Vodoun no Benin não tem nada a ver com feitiçaria, muito menos com os bonecos que o Pica-Pau espetava cantando “ vodu é pra jacu”. Tais práticas são vistas no Haiti e no sul dos Estados Unidos. Para os africanos, os vodouns, assim como os orixás, não foram pessoas, tampouco divindades. São forças da Natureza que dão nomes a rios, por exemplo. Daí que muçulmanos, católicos e mesmo evangélicos no país também cultuam a essas forças da Natureza e seus antepassados.

Aliás o que não falta é culto aos antepassados no Benin. Justamente em Ketou pude ver um ritual com Geledés: danças com espíritos ancestrais. Lá também é possível assistir cultos com os famosos zangbettos, entidades que dançam com muitas palhas da costa sobre elas. Dizem que não há ninguém debaixo das palhas. Tentei desvendar o mistério. Não consegui.  No YouTube é possível observar tais manifestações. É importante não confundir zangbetto com o orixá Obaluaê.

Abomey foi a capital do Reino e é outra cidade muito importante para se visitar. É chamada a cidade dos palácios reais porque cada rei construía um edifício para chamar de seu. Lá é possível visitar um mercado de artesanato que existe há muitos séculos. Cada expositor lá presente recebeu a concessão do rei para ganhar dinheiro em uma determinada atividade: da confecção de roupas e panôs, até joias e esculturas. Conheci uma das duas únicas famílias que produzem atabaques há muitas gerações. Sim, como mencionei, certas atividades só podem ser exercidas com permissão real. Lá pude visitar ainda o templo construído em forma de Camaleão, animal sagrado a quem os nativos atribuem o desenvolvimento do mundo, e um mercado a céu aberto inteiramenre dedicado a venda de ervas e apetrechos para rituais africanos . Pense naquelas lojas que vendem artigos religiosos. Imagine uma feira livre cheia de barracas iguais a essas lojas. É sobre isso.

Porto Novo é também uma cidade importante quando se fala em religião. É a maior cidade muçulmana do Benin, por estar ao lado da Nigéria. Muitas mesquitas ao lado de templos dos vodouns. O mais curioso para se visitar é a mesquita construída como uma igreja barroca de Salvador.

Alguns africanos que conseguiram a alforria voltaram para o Benin e lá construíram fortuna. Levaram a estética do Brasil colonial para o país. Além dos nomes e sobrenomes – muitos beninenses ricos se chamam Souza, Silva, Almeida- o Brasil influenciou também a gastronomia, a arquitetura e a moda. 

A catedral da Imaculada Conceição também merece visita. Uma vez em Porto Novo, é essencial conhecer o Rio Negro. Uma das experiências mais incríveis que vivi . Trata-se de um rio sagrado. Ao atravessá-lo, chega-se a uma aldeia recôndita e se conhece as tradições preservadas do país.

Para encerrar a viagem, é preciso visitar Ganvié, uma cidade lacustre de 30 mil pessoas. Toda a cidade foi construída sobre um lago, por pessoas que fugiram do tráfico negreiro. Lá o deslocamento se dá por pequenas embarcações e todas as residências e comércios são palafitas. 

É uma viagem autêntica. Culturalmente e espiritualmente rica. Não é uma África pasteurizada, clichê. É um pedaço do continente com belas paisagens e experiências únicas para os verdadeiros wanderlust.

SETUR-SP lança guia para Turista Evangélico

A Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo (Setur-SP) lançou, no final de outubro, o Guia Turístico Evangélico, a publicação apresenta um panorama sobre a cultura evangélica, museus, eventos e demais atrativos religiosos no estado. O guia integra um conjunto de ações para o desenvolvimento do turismo religioso, um dos segmentos que mais crescem no Brasil, movimentando mais de R$ 15 bilhões anuais, segundo dados do Ministério do Turismo e da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

Com a inclusão a Setur-SP amplia a lista de roteiros religiosos, que já contava com guias dedicados ao turismo católico, halal e a monumentos ao Cristo, segundo a pasta, o objetivo é explorar as vocações religiosas do estado e promover a diversificação dos destinos turísticos, ampliando o suporte para iniciativas locais e implantando novas rotas de visitação.

São Paulo se destaca pela grande quantidade de templos religiosos, como apontam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e além disso, o estado é sede da Marcha para Jesus, evento que atrai anualmente cerca de dois milhões de participantes.

O novo guia traz informações sobre alguns dos principais pontos de interesse para o público evangélico, tanto na capital quanto no interior, entre eles estão grandes templos e marcos históricos, como a Igreja Batista de Santa Bárbara d’Oeste, considerada a mais antiga do Brasil, e um dos maiores templos evangélicos localizado no bairro da Pompéia.

Outras cidades do interior paulista, como Barueri, Engenheiro Coelho e Santana de Parnaíba, também ganharam destaque, o Museu de Arqueologia Bíblica de Engenheiro Coelho, por exemplo, abriga quase duas mil peças que ilustram cerca de 4.500 anos de história.

O guia também aponta atrações de cultura e entretenimento ligadas à fé, como o tradicional Auto de Páscoa da Igreja da Cidade, realizado há mais de duas décadas, que celebra a vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo e já contou com cerca de 584 mil pessoas, segundo a organização.

O Guia Turístico Evangélico está disponível para consulta no site da Secretaria de Turismo e Viagens de São Paulo: https://www.turismo.sp.gov.br/guia-turistico-evangelico-do-estado-de-sao-paulo

Síndrome de Jerusalém

Na época em que ocupava o cargo de diretor adjunto da Atout France na América do Sul, participei na França de um evento em que se discutiu a síndrome de Paris, tema de diferentes matérias jornalísticas e documentários no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, comumente manifestada pelos turistas japoneses quando visitavam pela primeira vez a capital francesa Tratava-se de um fenômeno recente que escancarava as diferenças culturais entre os dois povos. Uma tensão no contato entre franceses, sempre francos (adoro etimologia das palavras), com os japoneses, conhecidos pela dificuldade de dizer não publicamente e detentores de um código de hospitalidade muito próprio, chamado de omotenashi.

Mas há outra síndrome muito comum no universo de viagens e muito mais antiga. Quem trabalha com viagens religiosas conhece muito bem: a síndrome de Jerusalém.

Ela se manifesta principalmente entre judeus e evangélicos, sobretudo os cristãos pentecostais. Trata-se de um surto em que fiéis religiosos, ao chegar à Cidade Santa, começam a manifestar comportamentos psicóticos. Já no aeroporto de Ben Gurion.

Artigos acadêmicos apontam que o psiquiatra Heinz Herman já estudara tal fenômeno nos anos de 1930, portanto antes mesmo da criação do Estado de Israel. A literatura, no entanto, aponta registros de tais ocorrências desde a Idade Média e descrições detalhadas em obras literárias do século XIX.

Grosso modo, algumas pessoas passam a manifestar comportamentos atípicos: desde saírem do hotel durante a noite enroladas em lençóis bancos como se voltassem no tempo, até pregações desconexas em lugares públicos, anunciando o final do mundo.

Guias experientes identificam a síndrome a partir de sinais iniciais muito particulares: ansiedade extrema, agitação, sudorese, desejo de separar-se do grupo, emoções intensas, obsessão por banhos e roupas limpas, discursos radicais religiosos e entoação de cânticos, hinos e louvores ininterruptamente. Os primeiros sintomas podem ser notados quando o avião aterrissa em Israel.

Imediatamente profissionais de saúde mental são acionados e a administração de medicamentos torna-se necessária, além de um acompanhamento muito de perto por parte dos responsáveis. Nos anos 1980 e 1990 foram observados menos de cem casos. Com o crescimento dos movimentos pentecostais no Brasil, nos EUA e em países africanos, o número de ocorrências aumentou significativamente. Isso é explicado pela doutrina do avivamento que é uma das características dessas igrejas em relação as igrejas protestantes históricas. Trata-se, segundo os adeptos, de um transe em que ocorre a manifestação do Espírito Santo durante o culto.

Mas a síndrome é também observada junto a homens judeus e católicos. Muitos deles passam a se intitular profetas durante o processo.

O assunto serviu de mote para um episódio do desenho animado “The Simpsons”: The greatest story ever d’ohed. Nele, Homer, em uma viagem a Jerusalém, é acometido da síndrome e passa a se intitular um novo messias de uma religião cujos fiéis são chamados de “Chrismujews” ( uma mistura de cristãos, muçulmanos e judeus).

Apesar do tom bem humorado da produção televisiva, trata-se de um assunto sério e que pode causar transtornos durante a viagem e depois dela, embora não se tenha registrado nenhum caso fatal ou muito grave.

Profissionais que atuam no setor precisam aprofundar o conhecimento sobre o assunto. Afinal, saúde, principalmente mental, não é brincadeira.

Existe Turismo LGBT RELIGIOSO?

Em um artigo de 2006 intitulado “Goodbye Pareto Principle, Hello Long Tail” ( Adeus princípio de Paretto, olá Cauda Longa, em tradução livre) Erik Brynjolfsson, Yu Hu e Duncan Simester trouxeram preciosa contribuição para a economia global nos anos seguintes. O princípio da cauda longa é a ideia de que a internet possibilita, através de uma revolução na comunicação e distribuição, explorar novos mercados e ganhar muito dinheiro, não apenas com nichos, mas nichos de nichos.

Trata-se de uma estratégia que busca atingir vários mercados de baixa procura, em vez de focar em um mercado único com muitos pedidos. No varejo, isso é bastante usado pelos novos empreendedores, que contam com os dados cada vez mais precisos de algoritmos e conseguem maior capilaridade e exatidão em suas promoções.

As políticas identitárias e a customização, decorrente de uma individualização cada vez maior da sociedade, fenômeno muito estudado pelo filósofo francês Gilles Lipovetsky, permitiu que mesmo o turismo se torne cada vez mais segmentado. Hoje há agências de viagens especializadas em turismo de bicicleta, outras em experiências enogastronômicas, outras ainda em turismo enogastronômico em bicicleta.

Mas não apenas para a aviação, o céu é o limite.

Na última edição do LGBT Turismo Expo, organizada por Alex Bernardes e realizada no dia 25 de julho no Hotel Unique, contou com um painel sobre Turismo Espiritual para o público LGBTQIAP+. O que surpreendeu muita gente. E, é claro, por simples ignorância. Afinal, insiders sabem que esse mercado é muito grande.

Ao contrário do que alguns líderes religiosos pensam, esse público pode ser, e é, muito religioso. Obviamente há ateus, agnósticos e antirreligiosos no universo LGBTQIAP+ como existe no universo heteronormativo. Como cientista da religião, tenho observado com surpresa o quanto a população brasileira é religiosa e que tal comportamento se reflete em todos os segmentos da sociedade, de norte a sul, passando por diferentes estratificações sociais e grupos culturais. Basta lembrar que o país dispõe de muito mais instituições religiosas (igrejas, templos, centros espíritas, terreiros, mesquitas, sinagogas) do que instituições de ensino e hospitais.

Além disso, é importante mencionar que mudanças importantes em diferentes religiões têm se dado quando se trata de comportamentos sexuais. Grupos de católicos gays têm forçado mudanças dentro da Igreja, antes mesmo do Pontificado de Francisco. O atual Papa, que fora no passado persona non grata de grupos argentinos gays, hoje tem uma postura mais aberta ao diálogo. A igreja anglicana tomou a frente e defende abertamente uma série de direitos para essas diferentes comunidades. As igrejas evangélicas inclusivas têm surgido cada vez mais em diferentes bairros do Brasil e dos EUA em velocidade espantosa. Muitos terreiros de candomblé, inicialmente transfóbicos, vêm mudando a postura e promovendo maior integração das pessoas transexuais.

O painel do evento, embora inédito, não aprofundou discussões. Mas foi essencial para tirar do armário este mercado e provocar reflexões iniciais. Pensando bem, não tão iniciais. Afinal, atores importantes há tempos vem trabalhando nesse cenário. O escritório de turismo de Israel investe na promoção do destino junto a comunidade LGBTQIAP+ há mais de uma década, não apenas no Brasil, mas em todo o Ocidente.

O Brasil tem amadurecido e se tornado referência quando se fala em turismo LGBTQIA+ . Temos nomes importantes atuando há anos como o próprio Alex, Clovis Casemiro, Franco Reinaudo, Antonieta Varlese, Marcelo Michieletto, Simon Mayle. Marcas como American Airlines, Accor e Panrotas têm sido fundamentais para organizar o mercado. Mas essa última edição do LGBT Turismo Expo permitiu pensar nos subsegmentos, apresentando mais oportunidades de negócios.

Mas, é claro, ganhos potenciais apenas para quem não tem preconceito e medo de arriscar. Mais do que isso, têm orgulho em inovar e empreender.

Jerusalém sob as estrelas

A Ciência da Religião é o ramo das Ciências Sociais que estuda a influência das diferentes tradições espirituais na sociedade. Seja na economia, na política, nas artes, na cultura e até na gastronomia. Uma das áreas de pesquisa que mais cresce é o turismo religioso. Em conversa com a teóloga, mestre em Ciência da Religião pela UMESP e doutoranda em Ciência da Religião pela PUC-SP, Marisa Furlan, exímia conhecedora da Bíblia, fiquei impressionado com suas impressões sobre a terra santa. Pedi então que ela registrasse suas impressões, que seguem abaixo em um texto redigido por ela.

” Israel, um país famoso por sua história rica e importância religiosa, revela-se como um destino luminoso ao cair da noite. Sua beleza noturna é uma combinação envolvente de luzes cintilantes, uma vibrante vida noturna e a serenidade sob o brilho das estrelas.

A cidade de Jerusalém alterna momentos de paz e de guerra em sua longa história. Venerada por três grandes religiões, revela um fascínio único quando a noite cai sobre suas antigas ruas. A Cidade Velha ganha nova vida, expondo uma atmosfera que transcende as fronteiras do religioso para abraçar a beleza natural e a agitação da vida noturna. Os monumentos históricos resplandecem sob uma nova luz, enquanto as ruas ganham um ar de mistério e encantamento. É uma jornada que convida os visitantes a explorar uma Jerusalém além das concepções tradicionais, revelando uma cidade que resplandece com graciosidade e simplicidade sob o céu estrelado.

A Cúpula da Rocha, com seu domo dourado, brilha sob a luz da lua, enquanto o Muro das Lamentações traz seu brilho iluminando o ambiente para uma reflexão tranquila. Passear pelas ruas estreitas de Jerusalém à noite é como caminhar através de páginas da história.

Tel Aviv, a cidade que nunca dorme, é famosa por sua vida noturna agitada. À medida que o sol se põe, os cafés ao ar livre se enchem de pessoas, nos bares. A música e as praias se transformam em locais de festas animadas. A cidade é um caldeirão de culturas, e isso é evidente na variedade de opções de entretenimento noturno, desde clubes de dança até bares de jazz e restaurantes gourmet. Comparando as luzes de Tel Aviv, com as luzes de Jerusalém, Aviva Sarna Segal escreveu: “Mas as luzes de Jerusalém, guiam-me em calmaria, para dentro dos braços da mãe que diz: chegaste, filha, descanse, descanse em nosso abrigo” (Revista Cultura Teológica, p.24 S/D).

Para além dos centros urbanos, a magnificência noturna de Israel também se desdobra em suas paisagens naturais. O Deserto de Negev proporciona uma visão espetacular do céu estrelado, distante do brilho das luzes citadinas. A serenidade do deserto à noite oferece uma experiência genuinamente singular, onde o silêncio é pontuado apenas pelo ocasional chamado de animais noturnos.

O Mar Morto, outro destaque natural de Israel, também é impressionante à noite no verão. A superfície calma da água reflete as estrelas, criando uma cena ímpar de calmaria e beleza.

O magnetismo entre as religiões se funde na cultura desse lugar encantador e impressionante. Nesse culturalismo religioso com diversas tradições, vale ressaltar a festa do Hanukkah ou Chanukáh (festa das luzes).

Hanukkah, conhecido como a Festa das Luzes, é uma celebração anual repleta de significados simbólicos para a comunidade judaica. Ano após ano, durante essa festividade, os lares judaicos são iluminados com a chama das velas do chanukiá, um candelabro de oito braços colocado perto de uma janela, voltado para a rua. A tradição é iniciar acendendo a vela da extrema direita na primeira noite e, a cada noite subsequente, acrescentar uma nova vela, até que, no oitavo dia, o candelabro esteja completamente aceso.

A história por trás do Hanukkah remonta ao século II AEC., durante a ocupação do Oriente Médio pelo Império Selêucida. Diante dessa ameaça à sua fé, o povo de Israel iniciou uma luta pela liberdade religiosa e política.

Na época, o então rei Antíoco IV proibiu a religião e as práticas judaicas e decretou que os judeus deveriam adorar os deuses gregos no Templo. O sacerdote judeu Mataias, seu filho Judas Macabeu e seu exército (os Macabeus) se revoltaram, forçando Antíoco IV a sair da Judeia. Macabeu e seus seguidores recuperaram o Templo e reconstruíram o altar judeu, possibilitando que eles pudessem voltar às suas práticas religiosas.

O hanukkiah é muito semelhante a menorá (candelabro de sete pontas e um conhecido símbolo do judaísmo), o que faz com que muitas vezes seus nomes se confundam. Quando o altar foi reconstruído por Macabeu e seu exército, parte do processo incluia reacender as chanukias que foram proibidas.

Ao reacenderem o candelabro do templo, encontraram apenas óleo suficiente para uma noite, mas, miraculosamente, a chama permaneceu acesa por oito dias, tempo necessário para preparar mais óleo. Esse evento é lembrado como o milagre das luzes e é por isso que o Hanukkah é também conhecido como a Festa das Luzes.

Para relembrar esse acontecimento histórico, a comunidade judaica realiza anualmente uma celebração cheia de simbolismo. As datas do Hanukkah variam de acordo com o calendário judaico, e as famílias judaicas acendem as velas do chanukiá, um candelabro de nove braços, seguindo a tradição de acender uma vela da direita para a esquerda a cada dia, até que, no oitavo dia, todas as velas estejam acesas, relembrando as luzes que guardaram e protegeram a comunidade judaica.

Rito e Celebração do Hanukkah

O maior símbolo do Hanukkah é o candelabro chanukiá, para nove velas, sendo que uma delas fica num lugar mais alto que as demais, chamada de shamásh. É costume colocar o objeto na janela das casas, de maneira que todos possam ver e se lembrar do milagre. Também é comum, nas noites de Hanukkah, o uso de jogos. Esse costume surgiu na Idade Média, quando os judeus eram proibidos de guardar as tradições e as festas. Eles, então, utilizavam de variados jogos, para que se alguém estranho os visse não desconfiasse de que se tratava de judeus realizando alguma cerimônia. Entre esses jogos, os mais usados eram dama e dreidel.

Este último acabou se tornando um dos símbolos da celebração. Ele se parece com um pião de quatro faces, com as seguintes letras do alfabeto hebraico: nun, guímel, hê e shin. Juntas, elas formam um acrônimo para “Nés gadól haiá shâm”, que significa “Um grande milagre ocorreu lá!”, expressando a alegria em ser judeu.

 A culinária também é um ponto forte da comemoração. São servidos sufganiots (um doce parecido com o sonho) e latkes (bolinhos de batata). Ambos são fritos em óleo – alusão ao milagre que manteve o candelabro de velas aceso.

Todas essas curiosidades tornam Israel um destino único e intrigante para quem deseja explorar sua história, cultura e paisagens diversificadas.

Em resumo, a beleza noturna de Israel é uma experiência que vale a pena viver. Seja explorando as cidades iluminadas, desfrutando da vida noturna vibrante ou admirando a tranquilidade do deserto sob as estrelas, Israel à noite é um espetáculo que você não vai querer perder. “

Marisa Furlan, Mestre em CRE pela UMESP

Espaço sagrado e turismo

O turismo religioso avança no Brasil. E se não se desenvolve mais rapidamente, não é por falta de números expressivos tampouco por falta de fé. Para o turismólogo Sidnesio Moura, é a falta de entendimento da indústria e do poder público que atrapalha o setor. Sobretudo o entendimento do que é um Espaço Sagrado e a infraestrutura que exige. E é por essa razão que o ele criou a Associação Brasileira de Turismo Religioso, juntamente com Amadeu Castanho e outras referências no Turismo Religioso do Brasil, entre os quais a Professora Dra. Marlene Huebes e o Professor Dr. Josimar Azevedo, responsável pelo Caminho Religioso da Estrada Real.

Sidnésio é especialista em turismo religioso, membro da Comissão de Diálogo Ecumênico e Inter-religioso da Arquidiocese de Natal, coordenador da Pastoral do Turismo na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, idealizador do Caminho dos Santos Mártires, roteiro que une 9 destinos no RN com aproximadamente 200km, e CEO da MS Consultoria em Turismo

Veja o diagnóstico do vice-presidente da Associação Brasileira de Turismo Religioso para o segmento em nosso país.

1. Há quanto tempo e por que você decidiu trabalhar com turismo religioso?

Eu prefiro falar de quando o meu foco se tornou total no turismo religioso. Isso se deu em 2014. A minha decisão em atuar no segmento se deu pelo amor ao turismo e, em segundo lugar, por ser católico atuante e ter visto, e continuar vendo, muitos erros referentes a definição do que é Turismo Religioso.

Entre 2014 e 2015, o Ministério do Turismo divulgou uma estatística referente às viagens religiosas, que alcançariam um público no Brasil de 17,7 milhões de pessoas, com um impacto econômico de 15 bilhões de reais, abrangendo 344 destinos e 96 atrações. Esses números já partiam de um equívoco: em 2005, quando o Mtur informava que o Brasil alcançava 8 milhões de pessoas no turismo religioso, apenas o Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, em Aparecida (SP), já recebia 8.005.000 peregrinos.

Na pesquisa de 2014, o Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida (SP) registrava 12.112.583 peregrinos; o Divino Pai Eterno, em Trindade (GO), atingia 4.000.000; o Círio de Nazaré em Belém (PA) atingia 2.400.000 e o Santuário de Santa Paulina, em Nova Trento (SC), 840.000 peregrinos. É só fazer o cálculo e perceber que apenas quatro destinos do Turismo Religioso no Brasil ultrapassam as informações divulgadas pelo Mtur.  Essa pesquisa fora realizada na época por mim e o jornalista Amadeu Castanho, da revista eletrônica Viagens de Fé. Isso me preocupou e me fez ter uma atenção maior em buscar orientar as pessoas sobre o Turismo Religioso, e com as estatísticas, que muitas vezes podem ser falhas.

2. ⁠Qual o potencial segmento no Brasil?

O principal potencial do Turismo Religioso no Brasil e referência é a Basílica de Nossa Senhora Conceição Aparecida em Aparecidaque todos os anos recebe milhões de peregrinos vindos de toda a parte do Brasil.

3. ⁠Onde estão as maiores dificuldades do setor?

A maior dificuldade do Turismo Religioso é o foco, o Espaço Sagrado, enquanto estrutura física. O Turismo Religioso hoje está voltado na construção de grandes imagens, fugindo do ponto principal que é o Espaço Sagrado. Esse deve ser bem-preparado para acolher o turista, principalmente no treinamento de quem irá receber estas pessoas, iniciando pelo sacerdote, os religiosos, de maneira geral, e as diferentes lideranças, além dos demais agentes envolvidos. E quando falo de Espaços Sagrados não me refiro apenas ao Catolicismo, que ainda é o incentivador e motivador do Turismo Religioso, mas me refiro a todas as religiões que possuem potencial para o Turismo Religioso.

4. ⁠Que destinos nacionais são benchmarking?

No Brasil vale apena realizar uma visita técnica a Basílica de Nossa Senhora da Conceição Aparecida em Aparecida (SP), ao Santuário de Santa Paulina em Nova Trento (SC), ao Divino Pai Eterno em Trindade (GO), a Canção Nova (SP), e ao Santuário de Irmã Dulce em Salvador (BA). São espaços que estão preparados não apenas para um momento de devoção através do ato da fé, mas sobretudo criaram atrativos para que o peregrino fique mais tempo, visitando lojinhas onde podem ser comprados souvenires do santo de devoção no lugar visitado.

5. ⁠Que experiência religiosa vale a pena viver no Brasil?

Sem dúvida nenhuma, a Basílica de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, em Aparecida. É impressionante presenciar a fé das pessoas que vão ali. Muitos saem a pé de outras cidades ou Estados, pagando promessa. Presenciei idosos, jovens e adultos, caminhando de joelhos até a Basílica, em um ato de fé, que nos faz questionar e analisar a nossa própria vida e nossa fé diante de Deus. E através dos seus testemunhos, fazem com que cada um de nós possamos voltar a nossa intimidade e amor a Virgem Maria.

6. ⁠Quais destinos que você acredita que podem se desenvolver?

Não sei se posso dizer se desenvolver, mas que já estão em passos de desenvolvimento:

Santa Cruz (RN), com a Imagem de Santa Rita, que tem cada vez sendo referência em Turismo Religioso no Estado; as cidades de Juazeiro do Norte e Canindé no Ceará. Para mim o Nordeste hoje é o maior celeiro de devoção e romarias do Brasil, embora falte capacitação e um cuidado maior com a infraestrutura turística dos destinos espirituais. Estados como Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Ceará e Rio Grande do Norte vêm despontando no Turismo Religioso, mas é necessárias mais capacitações, principalmente no que se refere as agências e Operadoras de Turismo que colocam em seus portfolios o turismo religioso, mas não entendem nada do assunto. Lembro de uma fala do Cardeal Vèglio, na Revista Povos em Movimentos nº 21: Para isso, pedimos uma sensibilidade especial por parte do mundo civilizado e de negócios, que reconhece e respeita a dimensão espiritual, a “viagem interior”

Com isto a maior dificuldade está o entendimento e o respeito por esta dimensão espiritual!

7. ⁠Como fazer o segmento crescer no Brasil?

Hoje o primeiro passo já foi dado, a criação da Associação!

Agora precisamos avançar para que os eventos, feiras, simpósios, congressos e seminários voltados ao turismo no Brasil possam dar um espaço para o Turismo Religioso. Principalmente no que se refere a orientação e palestras.

Eu sempre falo que quem faz turismo de sol e praia, ou turismo de aventura, não faz turismo religioso. Mas quem faz turismo religioso pode fazer sol e praia, aventura, lazer, ecológico… O turismo religioso tem a possibilidade de se unir a variedade de segmentos do turismo gerando um forte impacto econômico no destino.

8. ⁠Qual seu trabalho em nível associativo?

Atualmente, eu estou vice-presidente da Associação Brasileira de Turismo Religioso – ABTUR. A Associação teve como iniciativa um grupo que eu e o jornalista Amadeu Castanhos criamos no WhatsApp no ano de 2014. Em 2022 nós a tiramos do papel e demos início a fundação da Associação, onde temos por Presidente o Eluisio Antônio Voltoline. A sede da Associação está em Nova Trento, em uma sala cedida para nós no Complexo Religioso do Santuário de Santa Paulina, mas também em nosso estatuto reza que a sede da Associação acompanha o local de residência do Presidente.

o arauto do turismo religioso

Quando iniciei minha carreira, em uma pequena publicação de moda, eu tinha como referência profissional o jornalista português, radicado no Brasil, Fernando de Barros. Ele fora editor de moda de grandes publicações, como a revista Playboy e VIP, embora o que mais chamasse a atenção naquele mundo de egos inflados, tendências e – paradoxalmente- pouca elegância era seu visual impecável e o comportamento que esbanjava gentileza, discrição e erudição.

Fernando era unanimidade. Do escritor Ignácio Loyola Brandão a Costanza Pascolato, passando por Gloria Kalil, todos reconheciam nele a personificação do adjetivo gentleman. Curiosamente, sempre que encontro Amadeo Castanho nos eventos de turismo, Fernando me vem à memória. Talvez pela serenidade na fala, o respeito irrestrito às normas de etiqueta, assim como a generosidade em compartilhar conhecimentos que ambos sempre externaram.

Amadeo é hoje editor da revista eletrônica Viagens de Fé e tem cursos de especialização em Hotelaria, Marketing e Publicidade, entre outros, atuando como consultor nesses três segmentos.

O jornalista Amadeo Castanho passou por algumas das mais importantes instituições católicas do país.

Foi gerente de Marketing na Fundação João Paulo II (Canção Nova), consultor da Associação do Senhor Jesus (TV Século XXI) e trabalhou na Pastoral da Comunicação (PASCOM) da Arquidiocese de São Paulo e no Ministério de Comunicação da Renovação Carismática Católica de São Paulo.

Nesta conversa, ele apresenta um pouco sua visão dessa indústria, sempre em crescimento.


Como você começou a trabalhar com turismo religioso?

Cheguei ao turismo religioso em função da minha atuação na área de Comunicação de movimentos religiosos, do meu trabalho no segmento de Marketing e do meu grande interesse pelo turismo. Observei que havia uma oportunidade de mercado, já que que ninguém escrevia sobre turismo religioso e passei a estudar o assunto. A publicação das matérias e os convites para inúmeras palestras foram só consequência.

Como você enxerga o turismo religioso hoje no mundo? E no Brasil?

Esse segmento é considerado – merecidamente – um dos que mais crescem no mundo todo por diversas razões. Com a vida moderna e suas pressões e efeitos negativos, o homem acabou valorizando a importância do sagrado, ainda que, paradoxalmente, tenha se distanciado das práticas religiosas regulares. A prática do turismo religioso é uma maneira de se aproximar de Deus e de compensar de alguma forma esse afastamento. A isso se somam outros fatores, como, por exemplo, a maior divulgação dos atrativos do turismo religioso, a universalização do acesso à informação graças aos meios de comunicação e à Internet; o aumento da disponibilidade de renda discricionária para viagens, e o crescimento do interesse em viajar e conhecer novos destinos. Ao mesmo tempo, muitos templos e destinos turisticos passaram a entender, se capacitar e aproveitar os benefícios gerados pelos visitantes interessados em visitar igrejas, capelas, museus e outros atrativos de turismo religioso. Esses e outros fatores tem feito o turismo religioso crescer no mundo inteiro e no Brasil não é diferente. Aqui, no entanto, uma visão distorcida afasta muitas operadoras e agências desse segmento: acreditam que turismo religioso é levar grupos para Aparecida, enfrentando a concorrência de organizadores de excursões e , paroquias e até motoristas de ônibus legais ou ilegais. Só que, embora Aparecida seja o nosso destino de turismo religioso mais conhecido e procurado, temos uma vasta oferta de outros destinos para explorar. E mesmo Aparecida ainda oferece muitas oportunidades, como, por exemplo, a inclusão de outros destinos de turismo religioso proximos (Guaratinguetá, Lorena, Cachoeira Paulista) ou a extensão a destinos como Campos do Jordão e as praias do Litoral Norte Paulista, que são muito procurados por peregrinos de outros estados.

Que destino serve de referência?

No Brasil, com certeza é Aparecida, graças à estrutura montada pelo Santuário Nacional para receber e reter os visitantes. No Exterior, os grandes santuários marianos são referência como foco na espiritualidade, deixando infraestrutura e exploração comercial essencialmente a cargo do poder publico e da iniciativa privada.

Em quais destinos você mais aposta?

Gosto muito de destinos de grandes festas religiosas, como Belém e Trindade; de destinos muito estruturados para acolher e explorar o turismo religioso, como Salvador, nas cidades históricas de Minas Gerais (apesar de o turismo religioso ainda ser praticamente ignorado por lá) e em destinos ainda pouco explorados no segmento, como o interior do Paraná ou a Serra Gaúcha, onde está sendo estruturada a interessantíssima Rota dos Capitéis. No Exterior, em cidades ainda pouco exploradas como Chartres, na França; na incrível oferta da Itália e nos grandes Santuários Marianos.

Qual destino marcou sua trajetória?

Em termos de trabalho, sem dúvidas, Aparecida e a Canção Nova, em Cachoeira Paulista. Em termos espirituais, com certeza o Santuário de Lourdes, na França. Visitar Lourdes não é fazer turismo, é ter uma conexão espiritual. É uma pena que um destino tão impactante mereça tão pouco tempo nos roteiros oferecidos pelas operadoras.

Crédito: Brand USA

Turismo astronômico ( e astrológico)

Pouca gente sabe, mas astrólogos profissionais não só estudam muito, mas amam astronomia. Menos gente ainda sabe que alguns dos mais importantes astrônomos do mundo estudaram astrologia. Astronomia se ocupa da Natureza e movimento dos astros. A astrologia procura entender se há alguma relação dos planetas com o que acontece, do ponto de vista psicológico também, com os seres humanos.

Percy Seymour é um astrônomo importante sul africano que se tornou astrólogo e escreveu uma obra importantíssima sobre o assunto. Os eclipses são fenômenos que encantam não só astrônomos e astrólogos, mas a maior parte da humanidade. A cada ano temos em torno de 4 eclipses, mas há sempre aquele que é total, quando o Sol “desaparece” por alguns instantes.

O eclipse solar total cruzará a América do Norte, passando pelo México, Estados Unidos e Canadá no dia 8 de abril de 2024. O Brasil não está incluso nessa trajetória, mas os viajantes poderão visualizar este fenômeno solar em 13 estados dos EUA. O Visit The USA reúne os melhores locais para capturar o momento, que deverá ocorrer novamente só em 2044.

  1. Dallas, Texas

Horário: Das 12h23 (CDT) às 15h02, com totalidade a partir das 13h40.

Onde assistir: Dallas oferece um vislumbre do passado pré-histórico do mundo no Dinosaur Valley State Park, com 32km de trilhas para explorar e pegadas reais de dinossauros preservadas no leito do rio Paluxy.

Onde comer: El Bolero Cocina Mexicana é o lar da autêntica comida regional mexicana. Delicie-se com os tradicionais tamales de folhas de bananeira, tacos de carne assada e saborosas enchiladas de lagosta, além da Cotton Candy Margarita.

O que fazer: Conheça o Arts District de Dallas, um centro de criatividade que abrange 20 quarteirões, assista a um show das melhores companhias performáticas da cidade no AT&T Performing Arts Center, e conheça a cultura da Ásia na The Crow Collection of Asian Art.

  1. Poteau, Oklahoma

Horários: A partir das 12h28 (CDT) às 15h06, com totalidade a partir das 13h45.

Onde assistir: Suba a Colina Cavanal – conhecida como a mais alta do mundo com seu pico atingindo 600 metros – para assistir ao espetáculo celestial e ter vistas panorâmicas do Vale do Rio Poteau.

Onde comer: No Myers Drive-In, os carhops entregam hambúrgueres nos carros estacionados no drive-in desde 1972. Saboreie um sanduíche de filé frito, um coney extra longo ou uma deliciosa cesta de camarão.

O que fazer: Vá ao Lake Wister State Park para explorar 185km de costa pitoresca e desfrutar de uma variedade de esportes aquáticos.

  1. Little Rock, Arkansas

Horários: A partir das 12h33 (CDT) às 15h11, com totalidade a partir das 13h51.

Onde assistir: Localizado no coração do Vale do Rio Arkansas, o Pinnacle Mountain State Park oferece vistas panorâmicas do céu e está apenas a 20 minutos de carro da cidade. Vislumbre a totalidade do eclipse no First Security Amphitheatre, onde a banda The Machine apresentará o icônico álbum Dark Side of The Moon, do Pink Floyd, na íntegra.

Onde comer: O Dizzy’s Gypsy Bistro oferece aos visitantes um gostinho do Sul dos EUA. Para levar sua comida para qualquer lugar, experimente o prato de tacos de camarão e caranguejo no The Boil Co. Food Truck.

O que fazer: Não deixe de fazer o tour no Little Rock Civil Rights e visitar locais históricos como a Little Rock Central High School, lar dos Little Rock Nine, um grupo de estudantes afroamericanos que mudaram o curso da história ao integrar a escola em 1957.

  1. Paducah, Kentucky

Horários: A partir das 12h42 (CDT) às 15h18, com totalidade a partir das 14h.

Onde assistir: A Greenway Trail conecta vários parques da cidade ao longo de 8km, contando com bastante espaço aberto para uma visualização ideal do eclipse. Shultz Park oferece aos viajantes um local idílico à beira-rio, com vistas  do rio Ohio.

Onde comer: A Coca-Cola já abrigou uma antiga fábrica de engarrafamento no bairro de Midtown em 1939. Hoje, o edifício art déco abriga uma série de pequenas empresas, como a Pipers Tea & Coffee House, que serve produtos assados ​​e café torrado produzidos localmente, e a [Dry%20Ground%20Brewing%20Company]Dry Ground Brewing Company, a primeira microcervejaria de Paducah que serve cervejas artesanais.

O que fazer: O National Quilt Museum é um ponto de parada obrigatória em qualquer viagem a Paducah. Do lado de fora dele, veja uma das atrações mais populares da região, os murais Wall to Wall Floodwall, e mergulhe na história da cidade através dos vibrantes painéis.

  1. Cabo Girardeau, Missouri

Horários: A partir das 12h39 (CDT) às 15h15, com totalidade a partir das 13h56.

Onde assistir: O Parque Estadual Trail of Tears tem paisagens deslumbrantes e vistas incomparáveis ​​do rio Mississippi.

Onde comer: Os moradores locais adoram o BG’s Deli, um favorito há mais de 40 anos. Experimente as famosas cascas de batata ou os hambúrgueres e sanduíches especiais.

O que fazer: Conheça a pequena cidade através das lentes de Hollywood com o tour Garota Exemplar, percorrendo os locais de filmagem do grande sucesso de 2014, estrelado por Ben Affleck e Rosamund Pike.

  1. Sul de Illinois, Illinois

Horários: A partir das 12h42 (CDT) até às 15h18, com totalidade a partir das 13h59.

Onde assistir: Vá ao Garden of Gods, na Floresta Nacional de Shawnee, onde a mistura de uma paisagem rochosa e uma densa floresta oferece o cenário perfeito para o eclipse. Visitantes também podem assistir ao evento no Shawnee Cave Amphitheatre, que terá música ao vivo.

Onde comer: Ao longo das colinas da Highway 127, experimente o melhor do sul de Illinois no Shawnee Hills Wine Trail, que abriga 11 vinícolas e vinhedos espalhados por 64km.

O que fazer: Aproveite as aventuras ao ar livre no Shawnee Bluffs Canopy Tour, que oferece oito tirolesas para explorar as florestas.

  1. Indianápolis, Indiana

Horários: A partir das 13h45 (EDT) às 16h20, com totalidade a partir das 15h06.

Onde assistir: Aproveite o eclipse no verdadeiro estilo “Indy” e assista ao espetáculo no Indianapolis Motor Speedway, a Capital Mundial das Corridas.

Onde comer: Tenha uma experiência gastronômica local no FARMbloomington, onde o cardápio se transforma a cada estação, oferecendo uma mistura eclética de deliciosos pratos da fazenda para a mesa.

O que fazer: Visite o bar mais antigo de Indiana e hotspot de música Blues, o Slippery Noodle Inn, fundado em 1850.

  1. Cleveland, Ohio

Horários: A partir das 13h59 (EDT) às 16h29, com totalidade a partir das 15h13.

Onde assistir: Experiencie o momento no Edgewater Park e não deixe de tirar uma foto com a icônica placa de Cleveland.

Onde comer: Para um churrasco com um toque especial, o Mabel’s BBQ oferece um menu exclusivo inspirado na herança do Leste Europeu na cidade. Combine o molho barbecue, que apresenta a clássica mostarda Bertman’s de Cleveland, e a carne defumada para uma refeição única.

O que fazer: O Rock & Roll Hall of Fame Museum de Cleveland é uma visita obrigatória para os fãs de música. É lar de recordações impressionantes, desde a guitarra de John Lennon até as correntes de ouro de Jam Master Jay, o pioneiro do hip-hop. Para os entusiastas de esportes, assista a um jogo de beisebol no Progressive Field Stadium, casa do Cleveland Guardians.

  1. Erie, Pensilvânia

Horários: A partir das 14h02 (EDT) às 16h30, com totalidade a partir das 15h16.

Onde assistir: Cercado pela costa e por penhascos de 27 metros de altura com vista para o lago, o Erie Bluffs State Park é o local perfeito para uma aventura eclíptica.

Onde comer: O Sara’s é um ponto de parada obrigatório para visitantes e moradores locais há mais de 40 anos, servindo os melhores milkshakes da cidade.

O que fazer: Erie é cercada por belas praias e o Presque Isle State Park é a joia da cidade. Caminhe até Sunset Point, o local ideal para assistir a um belo pôr do sol na Pensilvânia.

  1. Búfalo, Nova York

Horários: A partir das 14h04 (EDT) às 15h15, com totalidade a partir das 13h56.

Onde assistir: A apenas 20 minutos de Buffalo, veja o eclipse no Niagara Falls State Park, sob a maravilha natural da cachoeira.

Onde comer: Uma experiência imperdível são as Buffalo Wings e o melhor local para experimentá-las é no Anchor Bar, a casa das originais Wings criadas há 60 anos.

O que fazer: Os aficionados por história podem caminhar até o local onde o presidente Theodore Roosevelt fez o juramento de posse no Theodore Roosevelt Inaugural National Historic Site.

  1. Burlington, Vermont

Horários: A partir das 14h14 (EDT) às 16h37, com totalidade a partir das 15h26.

Onde assistir: Os amantes de atividades ao ar livre apreciarão a vista do eclipse no Battery Park, com vista para o Lago Champlain e as montanhas Adirondack.

Onde comer: Shanty on the Shore oferece frutos do mar frescos e uma experiência gastronômica em meio à serenidade da orla marítima de Burlington Harbour.

O que fazer: Troque a tranquilidade do ar livre pela agitação do Church Street Marketplace, um shopping center de rua que abrange quatro quarteirões de lojas e restaurantes. Grande parte do mercado é um distrito histórico e alguns dos edifícios foram construídos em 1820.

  1. Lancaster, Nova Hampshire

Horários: A partir das 14h16 (EDT) às 16h37, com totalidade a partir das 15h26.

Onde assistir: Descubra as paisagens deslumbrantes de New Hampshire no Weeks State Park ou no Milan Hill State Park, e observe o eclipse cair sobre os vales e montanhas que rodeiam o parque.

Onde comer: A Polish Princess Bakery conta com os melhores produtos assados, enquanto a Copper Pig Brewery oferece cervejas sazonais.

O que fazer: Faça uma viagem ao passado no Rialto, um cinema retrô clássico com projetores digitais, sistema de som e telas de última geração.

  1. Maine

Horários: A partir das 14h22 (EDT) às 16h40, com totalidade a partir das 15h32.

Onde assistir: Maximize a experiência do eclipse entre as belezas naturais do Maine, vá até o Baxter State Park e observe o eclipse com Katahdin, a montanha mais alta do estado, ao fundo.

Onde comer: No Appalachian Trail Cafe experimente o prato especial do estado, a torta de mirtilo do Maine ou os donuts de abóbora.

O que fazer: Os amantes da literatura podem reconstituir a viagem épica que inspirou o livro The Maine Woods, de Henry David Thoreau, na trilha Thoreau-Wabanaki.

Ator em Nova Jerusalém

Pernambuco: alta estação para religiosos

A Paixão de Cristo de Nova Jerusalém é atração para o público de todas as idades com a presença em cena de artistas globais, um visual deslumbrante, recheado de efeitos especiais. O espetáculo conta parte da história de Jesus em uma cidade-teatro com nove palcos-plateia localizada no município do Brejo da Madre de Deus, agreste de Pernambuco, a 180 km do Recife.

Realizada desde 1968, o maior teatro a céu aberto do mundo, atrai, durante a Semana Santa, cerca de 70 mil pessoas do mundo todo .

A apresentação tem início com a cena do sermão da Montanha e termina com a ascensão do Cristo aos céus.

Dezenas de personagens alternam cerca 2 mil figurinos produzidos pelas mãos das costureiras da localidade conhecida como Fazenda Nova, distrito do Brejo da Madre de Deus, sob o olhar meticuloso da arquiteta e figurinista Marina Pacheco, que coordena o desenvolvimento das peças que é produzido com base em extensa pesquisa sobre os trajes usados nos tempos de Jesus.

Nos palcos, a história é vivida por 50 artistas pernambucanos de grande talento, além de cerca de 400 figurantes e também por atores e atrizes da cena nacional que são convidados para participar do espetáculo todos os anos. Nos últimos 25 anos, cerca de 120 artistas renomados do teatro, cinema e TV do Brasil emprestaram seus talentos para abrilhantar a Paixão de Cristo.

Em 2024, a Paixão de Cristo contará com a participação especial dos artistas convidados Allan Souza Lima, no papel de Jesus; Mayana Neiva, fazendo Maria e Dalton Vigh, interpretando o governador romano Pôncio Pilatos. A direção artística é de Lúcio Lombardi e do assistente especial de direção Alberto Brigadeiro. Nos bastidores, a Paixão agrega cerca de 600 profissionais incluindo técnicos, eletricistas, sonoplastas, contrarregras, maquiadores, cabeleireiros, camareiras, entre outros. A coordenação geral de toda essa equipe é de Robinson Pacheco, presidente da Sociedade Teatral de Fazenda Nova.

A temporada 2024 da Paixão de Cristo será realizada de 23 à 30 de março. Os ingressos já po- dem ser adquiridos antecipadamente com desconto no site oficial www.novajerusalem.com.br.

A cidade teatro de Nova Jerusalém, que tem título de patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco e do Brasil, é uma verdadeira obra prima inspirada na arquitetura judaica e romana da época de Jesus, que levou 40 anos para ficar pronta.

Inaugurado em 1968, esse monumento foi idealizado e construído por Plínio Pacheco numa área de 100 mil metros quadrados. A magnífica cidade-teatro é cercada por muralhas de pedra granítica de três metros de altura e conta em seu perímetro com 70 torres de sete metros. Em seu interior, nove palcos-plateia reproduzem cenários naturais, arruados, lagos, jardins e palácios, além do Templo de Jerusalém.

Já na sua inauguração, essa obra fascinou os seus contemporâneos graças à riqueza, ecletismo e ou- sadia de seu plano arquitetônico e decorativo. Para realizá-la, Plínio cercou-se dos melhores artesãos e escultores de sua época. Essa obra prima logo se tornou o mais grandioso dos teatros à céu aberto do mundo e, de tão magnífica, conquista, até hoje, o coração de todos os amantes da arte que a conhecem e vivem em seus espetáculos inigualáveis emoções.

No interior da Nova Jerusalém, funciona o ano todo a Pousada da Paixão. Trata- se de um local diferenciado que tem como pontos de destaque sua programação temática e cultural, além de uma arquitetura diferenciada que remete a antiga Jerusalém de 2 mil anos atrás.

Na semana do espetáculo são oferecidos os jantares temáticos realizados no cenário da Santa Ceia. Trajando figurinos da Roma antiga em um ambiente realista, os hóspedes experimentam uma viajem no tempo e sentem-se como se fossem habitantes da Jerusalém do passado.

Outra atração que turistas não devem deixar de visitar é o Espaço Cultural Plínio e Diva Pacheco, que apresenta um rico acervo de fotos históricas, documentos e objetos pessoais dos idealizadores e construtores da Nova Jerusalém. A mostra conta a surpreendente história da saga das famílias Mendonça e Pacheco que teve início em 1951 quando as apresentações da Paixão de Cristo começaram a ser encenadas nas ruas da pequena vila de Fazenda Nova, distrito do município do Brejo da Madre de Deus (PE).

O Brejo da Madre Deus, município onde está localizada a Nova Jerusalém, também oferece atrações imperdíveis para o visitante, a começar pelo impressionante Parque das Esculturas Monumentais Nilo Coelho, que fica a apenas 2 km da cidade-teatro. Nele, esculturas gigantes em monobloco graníticos- de figuras folclóricas da história e da cultura do homem nordestino estão espalhadas por uma área deslumbrante circundada pela exuberante vegetação da caatinga e impactantes formações rochosas.

Também não se deve hesitar em dar uma esticada até a sede no município para conhecer a autenticidade do Brejo da Madre de Deus marcada pelos centenários casarios de azulejos portugueses. Também não se deve perder a oportunidade de um passeio a pé pelas trilhas da Fazenda Encantado- para conhecer a maior reserva da mata atlântica do interior do Estado e experimentar o conforto de um microclima no qual a temperatura máxima não passa dos 22 graus.

Sainte Baume, gruta de Maria Madalena

Maria Madalena : a Nova (?) santiago de Compostela?

No último dia 23 de setembro, o Papa Francisco visitou Marselha, capital da Provence, marcando a primeira visita papal à região em mais de 500 anos. A escolha de Marselha como destino papal tem múltiplos objetivos, incluindo a união dos povos do Mediterrâneo e a recuperação da fé católica na Europa, onde o número de pessoas sem religião está em crescimento.

A visita do sumo pontífice também teve outros objetivos, entre eles, promover o papel das mulheres na igreja, com a valorização do culto a Maria Madalena em 2016, ao indicar 22 de julho, data da apóstola dos apóstolos, como data essencial no calendário litúrgico da Igreja Católica e reafirmado com sua benção sobre a rota histórica da santa, que recebeu investimentos importantes do governo francês nos últimos anos.

Papa Francisco tem se preocupado em resgatar a história do Cristianismo primitivo, isto é, a vida dos cristãos nos dois primeiros séculos da era comum. Dizem as lendas que os primeiros cristãos a chegar na Europa e começar um trabalho intenso de evangelização foram Madalena, Marta, Lázaro, Sara Kali, Maria Jacó e Maria Salomé (tias de Cristo e irmãs de Maria de Nazaré). Isso porque Marselha é um importante porto no Mediterrâneo, há 2600 anos.

A rota de Maria Madalena, semelhante à rota de Santiago de Compostela, emergiu como a nova estrela do turismo francês, embora no passado, principalmente na Idade Média, era um dos caminhos mais importantes para a Cristandade. Não só para se ver os restos mortais daquela que São Tomás de Aquino e Papa Bento XVI afirmaram ser a apóstola dos apóstolos, mas também por conta dos sítios arqueológicos, como uma imensa piscina para batismos coletivos.

Compostela ganhou notoriedade na contemporaneidade graças a Paulo Coelho no final do século passado. Fora o destino de Tiago, outro discípulo de Cristo. Mas até a publicação do livro “Diário de um Mago”, a rota de Maria de Madalena, até então, era a mais importante.

O percurso começa em Saintes Maries de la Mer, uma cidade litorânea encantadora que inspirou obras de Van Gogh, santuário dos ciganos de todo o mundo, principalmente entre 24 e 26 de maio. Os peregrinos seguem, então, para Martigues, passando por paisagens deslumbrantes, restaurantes peculiares e construções medievais muito bem preservadas.

Em Marselha, eleita capital cultural da Europa em 2013, é possível visitar pontos de interesse entre eles a gruta Cosquer- para apaixonados por arqueologia e história; o MUCEM- a plataforma cultural mais importante do sul da França e maior museu dos povos mediterrâneos; a Basílica de Notre Dame de la Garde e a abadia de São Vitor, essas duas últimas igrejas com fortes conexões históricas e relíquias ligadas a Maria Madalena.

A jornada continua para Saint-Maximin-La Sainte Baume, onde a Basílica de Maria Madalena exibe seu crânio em um altar e também as relíquias de Sidônio ( o cego curado por Cristo) e São Maximiliano. Imponente, é uma obra arquitetônica que causa admiração e emoção.

A região não atrai apenas católicos, mas também entusiastas da história, sendo atualmente um destino também para mulheres que fazem parte de um movimento que resgata o “Sagrado Feminino”. Comparado a Santiago de Compostela, esse destino também atrai aqueles em busca de turismo espiritual, focado em autoconhecimento e autodesenvolvimento, mas que não dispensam uma boa comida e paisagens notáveis.

A rota pode se tornar tão ou mais importante que o destino espanhol, atraindo diversos públicos, desde católicos devotos a pesquisadores universitários. A região da Provence, com sua rica história e paisagens deslumbrantes, pode se consolidar como um destino turístico espiritual nos próximos anos. O Sul da França é conhecido pela história como palco de grandes acontecimentos envolvendo religião. Avignon foi sede papal por mais de cem anos. Nostradamus nasceu naquela região. Uma série de movimentos – cátaros e templários- têm sua história conectada ao mediterrâneo francês, assim como escolas iniciáticas de magia, tradições ocultistas e seitas esotéricas lá surgiram.

Os viajantes não precisam fazer a rota a pé. Embora haja milhares de pessoas que o façam. Muitos são associados de uma organização chamada “Caminhos das Santas e Santos Provençais“. Esses peregrinos não pagam por hospedagem. São acolhidos por devotos dos santos da região. Aliás , não faltam entusiastas dessa jornada. Há também a associação de apoio ao santos provençais e a associação para o desenvolvimento de Sainte-Baume.

Essas entidades foram criadas após o filme Código da Vinci, baseado no livro homônimo de Dan Brown. A obra, como bem especifica o autor, é uma ficção. Mas muita gente não entendeu isso. Surgiram muitas teorias de conspiração e lendas urbanas. É preciso lembrar que os restos de Maria Madalena sempre estiveram na região. Nunca foram parar na Grã-Bretanha, uma vez que a santa nunca botou os pés na Bretanha, e tampouco seus restos mortais nunca estiveram no subsolo do Louvre, guardados por uma ordem secreta. Do mesmo modo que não há nenhum registro histórico que justifique a ideia de uma ligação romântica entre Cristo e sua discípula. Nem mesmo os evangelhos apócrifos, incluindo aquele atribuído à própria Maria Madalena, trazem qualquer vaga menção a um relacionamento amoroso entre ambos.

A bem da verdade, Maria Madalena sempre foi um personagem envolto em fake news. A história de que ela fora uma prostituta não encontra respaldo em nenhum dos evangelhos. Atribui-se a ela também o papel de pecadora que lava os pés de Cristo com seus cabelos e óleos perfumados. Outra informação sem fundamento. Encontramos no Novo testamento, 14 menções a Madalena. Nenhuma delas indica nenhum pecado a ela. Fala-se que Cristo expulsou 7 demônios dela e, a partir daí, essa mulher rica tornou-se sua seguidora.

O papa Gregório Magno foi quem , no séc. VI, criou confusão ao dizer que a mulher que fora salva por Cristo do apedrejamento e Maria de Bethânia fossem também Maria Madalena. A Igreja Ortodoxa nunca aceitou tal ideia. E hoje, busca-se acertar as narrativas também na Igreja Romana.

Fazer essa rota é uma oportunidade de entender melhor as estórias acerca de Maria Madalena, que tem uma igreja belíssima em sua homenagem em Paris, vivenciar o melhor da Provence, seja na gastronomia, seja no estilo de vida. É também uma viagem com forte apelo histórico e artístico.

O Caminho de Maria Madalena pode ser um momento de reencontro espiritual, sem ser religioso. Esses caminhos sempre trazem muita reflexão e reconexão com nossa história e a história da humanidade. Nos conduzem a um mergulho em nossos próprios valores. Maria Madalena é, sem dúvida, um símbolo de lealdade e coragem. De renascimento e amor. Tudo o que as pessoas mais precisam encontrar nos dias de hoje.

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