Quando iniciei minha carreira, em uma pequena publicação de moda, eu tinha como referência profissional o jornalista português, radicado no Brasil, Fernando de Barros. Ele fora editor de moda de grandes publicações, como a revista Playboy e VIP, embora o que mais chamasse a atenção naquele mundo de egos inflados, tendências e – paradoxalmente- pouca elegância era seu visual impecável e o comportamento que esbanjava gentileza, discrição e erudição.
Fernando era unanimidade. Do escritor Ignácio Loyola Brandão a Costanza Pascolato, passando por Gloria Kalil, todos reconheciam nele a personificação do adjetivo gentleman. Curiosamente, sempre que encontro Amadeo Castanho nos eventos de turismo, Fernando me vem à memória. Talvez pela serenidade na fala, o respeito irrestrito às normas de etiqueta, assim como a generosidade em compartilhar conhecimentos que ambos sempre externaram.
Amadeo é hoje editor da revista eletrônica Viagens de Fé e tem cursos de especialização em Hotelaria, Marketing e Publicidade, entre outros, atuando como consultor nesses três segmentos.
Foi gerente de Marketing na Fundação João Paulo II (Canção Nova), consultor da Associação do Senhor Jesus (TV Século XXI) e trabalhou na Pastoral da Comunicação (PASCOM) da Arquidiocese de São Paulo e no Ministério de Comunicação da Renovação Carismática Católica de São Paulo.
Nesta conversa, ele apresenta um pouco sua visão dessa indústria, sempre em crescimento.
Como você começou a trabalhar com turismo religioso?
Cheguei ao turismo religioso em função da minha atuação na área de Comunicação de movimentos religiosos, do meu trabalho no segmento de Marketing e do meu grande interesse pelo turismo. Observei que havia uma oportunidade de mercado, já que que ninguém escrevia sobre turismo religioso e passei a estudar o assunto. A publicação das matérias e os convites para inúmeras palestras foram só consequência.
Como você enxerga o turismo religioso hoje no mundo? E no Brasil?
Esse segmento é considerado – merecidamente – um dos que mais crescem no mundo todo por diversas razões. Com a vida moderna e suas pressões e efeitos negativos, o homem acabou valorizando a importância do sagrado, ainda que, paradoxalmente, tenha se distanciado das práticas religiosas regulares. A prática do turismo religioso é uma maneira de se aproximar de Deus e de compensar de alguma forma esse afastamento. A isso se somam outros fatores, como, por exemplo, a maior divulgação dos atrativos do turismo religioso, a universalização do acesso à informação graças aos meios de comunicação e à Internet; o aumento da disponibilidade de renda discricionária para viagens, e o crescimento do interesse em viajar e conhecer novos destinos. Ao mesmo tempo, muitos templos e destinos turisticos passaram a entender, se capacitar e aproveitar os benefícios gerados pelos visitantes interessados em visitar igrejas, capelas, museus e outros atrativos de turismo religioso. Esses e outros fatores tem feito o turismo religioso crescer no mundo inteiro e no Brasil não é diferente. Aqui, no entanto, uma visão distorcida afasta muitas operadoras e agências desse segmento: acreditam que turismo religioso é levar grupos para Aparecida, enfrentando a concorrência de organizadores de excursões e , paroquias e até motoristas de ônibus legais ou ilegais. Só que, embora Aparecida seja o nosso destino de turismo religioso mais conhecido e procurado, temos uma vasta oferta de outros destinos para explorar. E mesmo Aparecida ainda oferece muitas oportunidades, como, por exemplo, a inclusão de outros destinos de turismo religioso proximos (Guaratinguetá, Lorena, Cachoeira Paulista) ou a extensão a destinos como Campos do Jordão e as praias do Litoral Norte Paulista, que são muito procurados por peregrinos de outros estados.
Que destino serve de referência?
No Brasil, com certeza é Aparecida, graças à estrutura montada pelo Santuário Nacional para receber e reter os visitantes. No Exterior, os grandes santuários marianos são referência como foco na espiritualidade, deixando infraestrutura e exploração comercial essencialmente a cargo do poder publico e da iniciativa privada.
Em quais destinos você mais aposta?
Gosto muito de destinos de grandes festas religiosas, como Belém e Trindade; de destinos muito estruturados para acolher e explorar o turismo religioso, como Salvador, nas cidades históricas de Minas Gerais (apesar de o turismo religioso ainda ser praticamente ignorado por lá) e em destinos ainda pouco explorados no segmento, como o interior do Paraná ou a Serra Gaúcha, onde está sendo estruturada a interessantíssima Rota dos Capitéis. No Exterior, em cidades ainda pouco exploradas como Chartres, na França; na incrível oferta da Itália e nos grandes Santuários Marianos.
Qual destino marcou sua trajetória?
Em termos de trabalho, sem dúvidas, Aparecida e a Canção Nova, em Cachoeira Paulista. Em termos espirituais, com certeza o Santuário de Lourdes, na França. Visitar Lourdes não é fazer turismo, é ter uma conexão espiritual. É uma pena que um destino tão impactante mereça tão pouco tempo nos roteiros oferecidos pelas operadoras.