Para o peregrino e produtor de conteúdo no YouTube “Vida de Mochila’, Richard Oliveira, a peregrinação foi uma forma de estar sozinho sem internet, esvaziar a mente para diminuir a ansiedade do dia a dia. “ No meu caso, a peregrinação foi a alternativa que deu certo, e planejo continuar buscando esses momentos para me conhecer melhor e para aumentar a minha felicidade pessoal”, aborda o mochileiro. O estudo feito pela Universidade de Essex, no Reino Unido, aponta que caminhar em meio a natureza pode melhorar significativamente a saúde mental, trazendo benefícios para o humor e a autoestima. Essa atividade estimula a liberação da endorfina, conhecida popularmente como hormônio da felicidade, auxiliando no combate da ansiedade e estresse, permitindo um momento reflexivo, incentivando a autopercepção. Uma possível explicação para o aumento na percepção da solidão recai sobre o uso excessivo da internet, em que muitos deixam de se conectar com o que está a sua volta para dar atenção ao online. Um levantamento da empresa NordVPN, empresa de tecnologia virtual, aponta que os brasileiros passam mais de 41 anos na Internet, ou seja, 54% do tempo de vida médio da população. Portanto, caminhar em meio a natureza pode ser uma forma de as pessoas se reconectarem com elas mesmas e viverem em solitude. Frequentemente relacionada a uma jornada de cunho religioso, seja por devoção ou por promessa, a peregrinação consiste no ato de percorrer uma rota previamente estabelecida, a pé, cujo propósito é buscar um maior entendimento de si e a possibilidade de redenção. O percurso brasileiro mais famoso é o Caminho da Fé, cujo destino é a Basílica de Nossa Senhora de Aparecida, na cidade de Aparecida, em São Paulo. Estima-se que cerca de 80 mil pessoas já o fizeram, a pé ou de bicicleta. Em 2022, segundo a Associação do Caminho da Fé, estima-se que pelo menos 20.240 viajantes realizaram o percurso. Entretanto, existem outros caminhos tão famosos quanto, como a Estrada Real, retratado no documentário “Um mochileiro no caminho dos diamantes, Estrada Real” disponível no canal do Vida de Mochila, no YouTube. Refletindo sobre a vida, a morte, família, amigos, solidão e solitude, Richard Oliveira retrata os 32 dias de viagem, sendo 25 deles caminhando e 7 de folga, percorrendo o Caminho dos Diamantes e o de Sabarabuçu, situados na Estrada Real, totalizando 540 km viajados. A Estrada Real é uma antiga rede de rotas de transporte terrestre de recursos naturais preciosos, como ouro e diamante, estabelecida no Brasil Imperial. A Estrada é um patrimônio cultural e turístico importante, constituída por 4 caminhos: o Velho — que parte de Ouro Preto, Minas Gerais, até Paraty, Rio de Janeiro; o Novo — com destino à capital carioca; o de Diamantes — de Ouro Preto às Diamantinas, ambas cidades mineiras, e o de Sabarabuçu — de Cocaisà Glaura, passando também na Serra da Piedade (antigo Pico de Sabarabuçu); as duas últimas apresentadas no documentário. |
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Novo santuário atrai 100 mil visitantes em sua abertura
Os números impressionam: uma área de 180 mil metros quadrados, dos quais 10.600 m2 de edificação que abrigam até 5 mil pessoas sentadas e 2 mil em pé, estacionamento para 200 ônibus e até mil carros. Em seu primeiro mês de funcionamento o Novo Santuário de Santa Rita de Cássia já recebeu mais de 100 mil visitantes e caravanas de várias cidades do Brasil. Centenas de grupos já se organizam para visitar o espaço ainda em 2022.
Essas informações ganham ainda mais relevância quando se descobre que a cidade de Cássia, em Minas Gerais, cuja padroeira é Santa Rita, a quem o santuário é destinado, tem apenas 18 mil habitantes. Comerciantes da região entendem que a economia da cidade passará por uma significativa transformação e o turismo irá assumir protagonismo jamais imaginado. Redes hoteleiras dispostas a investir, assim como aumento na oferta de empregos. Mas também pudera, o projeto foi muito bem pensado. Não só se ergueu um espaço para missas, para um nome que tem forte apelo entre os brasileiros, mas também uma réplica da casa da santa, nascida em 1381, em Roccaporena, foi construída no sudoeste de Minas.
Santa Rita de Cássia é muito popular no país. E popularidade de santo no Brasil se mede com o número de igrejas dedicadas a ele, números de cidades que apadrinha e o número de imagens vendidas a cada ano. A santa italiana no Brasil ainda conta uma vantagem. No Rio Grande do Norte, na cidade de Santa Cruz, está localizada a maior estátua católica do mundo até então, que a representa e foi inaugurada em 26 de junho de 2010.
Os motivos que tornaram Santa Rita muito querida dos católicos é, além dos inúmeros milagres a ela atribuídos, sua história. Foi uma mãe de família, teve seu marido assassinado, cuidou de leprosos, combateu a violência de seu tempo, viveu situações inexplicáveis e tem entre fiéis milhões de mulheres que se identificam com sua história. É considerada, assim como São Judas Tadeu, resolvedora de casos impossíveis, principalmente doenças muito graves.
O importante no turismo religioso é valorizar a narrativa, pensar no público alvo, fortalecer o sentimento de pertencimento e oferecer experiências que vão além de celebrações pontuais. Em todos esses aspectos, Cássia dá um banho de estratégia e planejamento. Um elemento importante é quando a cidade estabelece uma relação de irmandade com qualquer outra no mundo. A Cássia brasileira é irmã da Cascia italiana e com o santuário, torna-se o mais importante centro de devoção no país. Vale lembrar que os prefeitos católicos se valem da fé para firmar importantes alianças, como, por exemplo, São Roque que a poucos quilômetros da capital paulista e com sua rota dos vinhos, tornou-se um município irmão de Montpellier, no ensolarado e badalado Sul da França.
O turismo religioso é uma ferramenta cada vez mais importante para fortalecimento de vínculos entre fiéis. O movimento neopentecostal cresceu nas periferias brasileiras porque estimulou uma rede de apoio que a Igreja Católica foi incapaz de oferecer no final dos anos 80, 90 e 2000. Através das viagens, cada vez mais acessíveis, os católicos reavivam a fé, fortalecem narrativas e sentimento de pertencimento. Muitos destinos brasileiros deveriam olhar com mais cuidado para potencial que carregam. A fé remove montanhas.