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20 anos de transição

Deve ser assim com toda geração, mas a impressão que temos é que, nos últimos 20 anos, vivemos um eterno momento de transição. As coisas mudam radicalmente, mas deixam rastros, marcas, lembranças que não querem se dissipar. Ou mudam no topo mas não na base. Ou ainda mudam em outros países, mercados, segmentos… mas demoram a chegar mais perto.

Uma das transições que vive o turismo é em relação às pessoas. Acostumados a mandar, decidir, ser ouvidos sem questionamento, e, chegando ao extremo, pedir tapete vermelho em qualquer situação, os donos de empresas do turismo, nos últimos anos, têm aprendido, na prática, a dividir decisões, responder a sócios, acionistas ou novos chefes, receber “não” de fornecedores… ou seja, tiveram de passar de um mundo onde a palavra e a história eram mais importantes para a realidade onde vale apenas uma coisa: resultado. Nada que mude seu papel como empreendedores e desbravadores (e me refiro a uma empresa de milhares, milhões ou bilhões – só muda a escala). Idem para os executivos, acostumados com um modelo que não apenas se modificou, mas não existe mais.

E o “resultado” de uma empresa, de uma ação ou de uma campanha abre ou fecha portas. Casos como os das operadoras tradicionais que fecharam recentemente só aumentam essa separação entre tradição e resultado. Quando a Soletur fechou o mundo do turismo ainda era o do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Hoje é “manda quem dá retorno, mas só enquanto estiver dando retorno”. Então fornecedores se veem no direito de esmiuçar a vida financeira dos clientes em busca de… resultados. O oposto é verdadeiro? Olha que susto que a United nos deu esta semana. Cúpula sumariamente demitida. Suspeita de tráfico de influência… Enquanto isso no Brasil… não, a política brasileira é um caminho à parte. Olha o foco.

Essa busca por resultados vale para tudo. Também para entidades, que hoje são pressionadas a se posicionar, a vencer o medo, o corporativismo e a insegurança e dizerem, em alto e bom som (ou letras garrafais), o que pretendem e o que fazem por seus associados. O resultado que o fornecedor cobra do parceiro comercial é o mesmo que tem de balizar a associação em relação a qualquer um que faça algo que entrave o caminho de seus associados. Mexeu com mo negócio de meu associado? Mexeu com toda a classe, ora pois. Cobrar resultados e parcerias, cobrar ética e igualdade de condições é hoje obrigação das entidades, antes acostumadas à “política caseira do turismo”, a contabilizar apenas os resultados financeiros da feira, do projeto com o governo, da aliança com um ou outro destino. Quem “já mudou” sabe que um posicionamento contrário em determinado momento não implica em fim da parceria e que uma medida mais dura pode ser circunstancial e necessária. Tipo o bom e velho: amigos, amigos, negócios à parte. Tipo 2: uma DR entre amantes, amigos, namorados, marido e mulher.

Agora… alto lá. O relacionamento continua sendo a base do turismo. Mas voltado a conhecimento, conteúdo, saber quem é quem, saber a quem pedir e o que pedir, tendo o cliente como foco. Levando benefícios ao atendimento e à saúde financeira da empresa. Relacionamento que faz perder dinheiro só é bom para um dos lados. O relacionamento positivo que te torna parte de uma rede é mais importante. Networking. O relacionamento onde o resultado é a base também.

E assim o mundo continua mudando. Fazer o quê… O homem, ambicioso e curioso, não para de inventar. Por que desceu da árvore se tinha tanta comida lá em cima?

E você? Tem saudades do futuro em que tudo isso vai desaparecer e uma nova realidade nos envolverá… ou ainda está com saudades da aurora da sua vida, da sua infância querida… QUE OS ANOS NÃO TRAZEM MAIS?

 

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

Comentar

  • Bom dia, Artur,
    Que beleza de texto, sua reflexão é perfeita.
    Os tempos mudaram.
    Não há mais senhores feudais, nem opiniões inquestionáveis, nem a sua, nem a minha, nem a de ninguém.
    Respondendo à sua pergunta final: eu tenho saudades do fututo.
    [ ]’s
    Luís Vabo

  • Ola Artur , muito bom seu post . O que mais aflige os agentes de turismo , é esta transição, que uns aceitam com resistência, e outros, simplesmente não entendem o que esta acontecendo. Eu tenho saudade do futuro e de poemas como este de Casimiro de Abreu.

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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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