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A NOSSA COPA

A Copa do Mundo, do ponto de vista do turismo, já pode ser considerada um sucesso e a gente já sabia que seria assim. Nós, da indústria, sabemos do material que temos “nas mãos” e de como nossos produtos, mesmo que mal formatados às vezes, e nossa hospitalidade (“viva o povo brasileiro”) conquistam os estrangeiros.

Mas nós, da indústria, também não nos enganamos. O sucesso do turismo na Copa nada tem a ver com ações do governo. E dificilmente teremos qualquer êxito futuro de crescimento de estrangeiros ou de desenvolvimento de regiões turísticas ligado a tacadas de mestre de nossos governantes.

A fórmula “cenários perfeitos (apesar de cheios de falhas)” + “recepção calorosa (apesar do quê de malandragem que ainda existe aqui e ali)“+ “empresários sérios que investem em seus negócios” = “satisfação (quase) garantida”.

Quem veio ao País temia pelos protestos (bem administrados pelas autoridades, mas em quantidade pífia se os compararmos aos de um ano atrás), quase não os percebeu. Queria também assistir a grandes jogos em grandes estádios, ou em festas populares bem animadas… e isso ocorreu. Queria conhecer a cultura local de 12 cidades-sede, interagir com a população, virar brasileiro por alguns dias…e isso ocorreu até com jogadores (uma pena para os ingleses, que mantiveram sua fama de pouco amigáveis e pouco talentosos com a bola).

O papel do governo não foi feito até o início da Copa, com 1) várias obras inacabadas (e me assusta termos tido em menos de dois meses dois acidentes sérios de infraestrutura – São Paulo e Belo Horizonte, ambos em obras para a Copa, sem falar nas mortes em obras de estádios), 2) promoção quase nula no Exterior (também, o ex-presidente da Embratur e o ex-ministro do Turismo eram inimigos mortais e passaram mais tempo disputando poder do que construindo por essa indústria), 3) uma ameaça seriíssima e irresponsável de demonização do empresariado do turismo (apesar de alguns terem aprendido a calcular preços na prática), 4) falta de planejamento para o turismo interno (não houve coordenação de férias, uma campanha para incentivar as viagens domésticas e o resultado foi catastrófico para vários setores e destinos) e 5) várias greves atrapalhando o pré-evento.

Mas todo governo populista é bom em medidas emergenciais e os turistas que chegaram de avião passaram rapidamente pela Imigração (apesar de sofrerem com longas filas de táxis, por exemplo), contaram com bom policiamento, transporte público que funcionou e um período tranquilo e festivo em sua estada no País. Houve furtos? Sim. Houve violência? Claro. Mas onde não há no mundo de hoje?

O País soube conviver com turistas de todos os tipos: da “elite branca” convidada por patrocinadores às famílias que prestigiaram os jogos nos estádios novos, dos turistas de albergues e campings (e tivemos de criar áreas para trailers e acampamentos) à classe média multicolorida, dos latinos que não nos conheciam aos europeus que retornaram, dos americanos que em breve consumirão cada vez mais o futebol aos jornalistas que, em sua maioria, buscaram os lados mais positivos do País e do torneio.

Passei metade da Copa em Orlando e quando a ESPN começava suas transmissões de jogos ou os debates no estúdio montado de frente para a Praia de Copacabana (parece que a ideia foi da Prefeitura do Rio – golaço), a imagem passada do país para milhões de americanos era a mais positiva possível. Clima de festa, de natureza, de país tropical e sonho de consumo. Os jogos dos Estados Unidos bateram recorde de audiência e o futebol lá já é uma indústria promissora. A repercussão entre os jogadores também ajuda na disseminação do desejo de ir ao Brasil – “o” local para se estar não apenas na Copa mas em outras diversas ocasiões.

O saldo da Copa é mais que positivo. Sabemos que no pós-Copa, se os empresários não arregaçarem as mangas e continuarem seu trabalho, pouca coisa será feita. Não adianta esperar pelo governo. Até nos EUA, em relação ao turismo, é assim. Ou era, pois o lobby da indústria tem conseguido bons frutos. Portanto, continuemos com o lobby, é importante, afinal, leis entram em vigor sem conhecimento profundo do impacto nos setores produtivos. Mas sabendo que, no curto prazo, o governo só vai aparecer quando o mundo estiver nos olhando, quando for ano de eleição, quando a oportunidade for muito boa para ser desprezada. Turismo nunca foi e ainda não é uma indústria estratégica, apesar de ter beneficiado a minúscula comunidade de Santo André e todas as cidades-sede (São Paulo, é verdade, sofreu com a queda drástica das viagens corporativas, mas… faz parte do cálculo positivo deixado pelo evento).

Parabéns a todos nós, que realizamos a melhor das Copas. Com saldo muito positivo. Vem aí a Olimpíada do Rio. Que as autoridades despreparadas (não conseguem construir a tempo, tocam o falso alarme por qualquer coisa – veja caso das diárias hoteleiras, e não têm planejamento) continuem não atrapalhando. Mas que ajudem um pouquinho mais. Afinal, mirem-se nos europeus, vejam como os políticos americanos estão aprendendo… turismo é uma indústria milionária. Queremos estar entre os maiores do mundo ou nos satisfaz sair na primeira fase e não usufruir da grande festa das finais, dos melhores do mundo?

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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