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A RAINHA DIABA NA EUROPA EM CRISE

Seu nome? Angela Merkel. Explico.

Passei dez dias na Europa e muito me assustou, em Portugal e na Espanha, o baixo astral da crise. Português já é um tanto passivo, dado a uma tristeza com fado ao fundo, um vinho forte na mesa… Mas dessa vez, a paulada foi forte demais em nossos antigos colonizadores. E mais que culpar governos passados, que teriam roubado, gerido mal o país e planejado mal a entrada na Era do Euro, os portugueses elegeram Angela Merkel como a causadora de tanto sofrimento.

Cheguei em Lisboa exatamente um dia após a visita da sra. Merkel, que, cá entre nós, não tem uma figura muito agradável (Dilma podia emprestar cabeleireiro, personal stylist… pois falta-lhe ternura para ser somada à mão de ferro). Havia cartazes de protesto por todos os lados. Ouvi de tudo: “Colonizamos o mundo e agora somos colonizados pela Alemanha”; “A Alemanha tentou conquistar a Europa com Hitler e não conseguiu. Agora, por vias econômicas, está causando novo estrago”; “A Alemanha emprestou dinheiro e agora está cobrando caro”; “Esta mulher devia deixar-nos viver em paz”; “Há quem não se sinta bem dependendo do dinheiro do brasileiro, afinal, era terra nossa. Mas isso é bobagem. Os brasileiros são muito animados e gastam bem, o que neste momento é importante para nossa sobrevivência”… Frases de motoristas de táxi, vendedores de shopping, garçons, atendentes em atrações turísticas. Muitas mostram a ingenuidade do português… Onde podia, perguntava: “e a crise?”. Angela Merkel é a rainha diaba dessa ópera que levará um tempo rumo ao final feliz.

Apartamentos indo a leilão, lojas fechadas, restaurantes vazios ou a fechar… E o inverno chegando, o que significa menos turistas. Sim, o turismo está nos discursos do presidente, do primeiro ministro, da população… Mas é preciso muito mais. Os brasileiros são visto como salvação e são paparicados e perseguidos por ambulantes, lojistas, restaurantes, taxistas, atrações… É a hora de uma campanha e de incentivar os brasileiros a irem, pois Portugal está sim barato e acolhedor como sempre. Às vezes, por causa da crise, encontramos um ou outro mais mal humorado, mas isso faz parte.

Também estive lá no dia da greve geral, que foi sentida por causa da adesão total dos transportes públicos. Mas houve apenas um ponto de protestos, que a TV exibiu à exaustão, criando um clima de pânico que não havia por lá.

Itália, Grécia, Espanha, até a França e a própria Alemanha (essa pelos crescimentos tímidos obtidos na economia) também protestam contra “Angela Merkel”, simbolizando a austeridade desses tempos. Cara, fora do Euro, com infraestrutura irretocável e lotada de turistas, a Inglaterra ri de camarote.

Em Sevilha, mais reclamações. Mas à noite, bares cheios, muita festa. O desemprego bate recordes e assusta e mais uma vez o turismo ajuda. Mas das 16h às 20h é siesta e não há crise que mude isso…

É complicado fazer turismo em épocas de crises como essa pois tem-se medo de greves, paralisações de transportes, tumultos… Mas o que vi em Portugal e na Espanha foi muito focado (um dia apenas) e pacífico. Apertaram demais a corda e o povo está reclamando. Não que achem que não tenha de haver medidas corretivas, mas em Portugal, cortar 40% dos salários foi considerado excessivo e a população está empobrecendo, o que pode afetar o Brasil como destino turístico.

Espera-se uma recuperação, se as medidas derem certo, para meados de 2013. Até lá o turismo alivia e a alegria dos brasileiros (e nosso dinheiro) quem sabe contagia um ou outro.

Quando perguntam como está o Brasil, dizemos, claro, que está muito bem. Mas também sabemos que Dilma vai precisar ajustar alguns excessos para que depois da Copa do Mundo não estejamos vivendo algo parecido… E a mão estará menos ou mais pesado dependendo do que for decidido agora, na época de prevenção… Os remédios bons, afinal, são mesmo amargos.

Ah sim, e hoje greve na Argentina. Estamos cercados…

Turismo não combina com crise.

Nós que já sobrevivemos a tantas achamos que há exagero no grito dos europeus. Mas cada um sabe onde dói o sapato e espero que não voltemos a épocas de inflação, desemprego alto, cortes de salários… Que depois de 2014 ou 2016, uma nova nação surja. Mais firme, forte e consistente. Algo muito difícil em um mundo em que uma gripe na Grécia afeta todo o planeta. Europa, América do Sul e EUA saudáveis, vale lembrar, significa também, nosso receptivo internacional saudável e, quem sabe?, no caminho do topo.

Depois conto coisas boas da viagem, e foram muitas. Apesar do frio e da crise, a Europa, onde não ia há dois anos, continua encantadora. Dia 26 tô de volta ao batente. Mas to de olho…

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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  • Interessante Portugal, Espanha e outros reclamarem de ¨Colonização¨…. pois estes paises efetuaram um processo de colonizaçao caotico, recheados de sordidez e de pouca envergadura social, basta ver os páises que por estes dois Paises Ibericos colonizaram ao redor do mundo.
    Ser ¨colonizado¨pela austera Alemanha seria ate um prazer em tempos bicudos….ou ate onde um pais que nada produz e que ao longo da historia viveu de passado e de traquinagens passadas iria desembocar era e é a grande duvida.
    Infelizmente creio nao ser ¨ceu de brigadeiro¨o que espera a Europa de modo geral.

  • Interessante, pois Portugal e Espanha que sempre trataram duvidosamente os brasileiros agora quase imploram por uma visita… E a culpa pela crise é única e exclusivamente dos govermos que esses povos elegeram! Angela não tem culpa

  • Prezado Artur,

    Desde 2008 a crise tem afetado o mundo, mais ou menos em determinadas regioes e/ou paises, mais e um daqueles ciclos que temos na economia mundial de quando em quando.

    A UE, mesmo em seus melhores tempos, vivia na corda bamba principalmente nos ‘paises latinos’ que, em parte, alimenta seu post. A ‘minha’ Espanha sempre teve um alto nivel de desemprego. O UK estaria em recessao pela logica (?) economica de dois trimestres sem crescimento. Parte da UE tambem. Salva-o ser hoje, Londres, a city — e o que isso representa no mundo de negocios.

    A Alemanha foi a que mais pagou pela UE, primeiro assumindo a sucateada parte oriental e, depois, ‘associando-se’ a um leste europeu ansioso para participar do mesmo dinheiro a fundo perdido. So que eles nao emprestaram mais como o fizeram a ‘europa latina’ — um fundo perdido que mataria de inveja a corja politica ai do Brasil. ES e PT meteram a mao na grana e nao aplicaram como devia.

    O enorme fluxo turistico espanhol e a demanda da construcao civil cobriram o rombo por um tempo, mas uma hora vem a conta a pagar porque o dinheiro nao aceita desaforo! Ele nao acaba — muda de dono! Nesses paises e em toda a parte latina, Italia e a campea Grecia a frente, os desvios foram tantos que um dia alguem teria de pagar a conta — sempre o trabalhador, que e quem paga cada vez mais impostos para cobri-la.

    Tomara que o Brasil nao precise enfrentar batalhas como essas, embora colonizadores e colonizados se assemelham nas mesmas mazelas. O resto a propria globalizacao se encarrega de equilibrar, como ja o faz a tantos anos. O que um governo pode, infelizmente, e atrasar parte do cilco e perder a oportunidade de crescimento — vejo assim o Brasil ha uma decada. E esse atraso significa, no minimo, duas decadas a menos…

    Que o Senhor te abencoe, e ao Brasil, com meu saudoso abraco.

    Marcos Estevao Vajas Hernandez
    Manchester-UK + 44 79 7973.3380

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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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