Já me convenci que o tema “associações de classe no turismo” (ou entidades) deve ser tratado como a política do País, como a de Brasília: em alguns momentos vai bem aqui, em outros mal ali; de repente surpreende positivamente, outras vezes decepciona; elege-se um deputado que não sabe sobre o Brasil e o mundo (nem cantar o Hino Nacional, nem onde fica Belmonte, nem quem é o presidente americano) e também outro que se engaja nos principais problemas da nação; há os bons e os ruins, como em tudo.
E também há opiniões a favor e contra, o que não quer dizer que o cara seja bom ou ruim, pois para os tucanos os petistas serão sempre ruins e vice-e-versa (ou mais ou menos isso). Ou seja, há também uma certa parcialidade nas avaliações.
Não falamos nada então? Tudo é subjetivo?
Não.
Claro que não.
O despreparo e a parcialidade de alguns presidentes de entidades podem prejudicar e muito todo um setor, ou parte dele, ou gerar guerras que nunca são favoráveis ao mercado (em uma guerra de preços ou condições, por exemplo, o preço cai num primeiro momento, a comissão aumenta por um tempo, mas depois a conta chega – já viram almoço grátis?).
Realmente me espanta o nível de preparo de alguns desses líderes, mas isso vale para profissionais de todos os tipos. Canso de receber jornalistas que não sabem escrever, vamos muito em restaurantes em que os chefs são uma enganação… Bom, mas o que me motivou a escrever foi mesmo a questão de nossas entidades. E fazia tempo que não falava delas… Os presidentes são colocados no cargo por indicações geralmente. Uma meia dúzia resolve e os votantes aparecem só no dia da eleição. Ou seja, culpa também dos associados nada (ou pouco) atuantes. E da meia dúzia que sugere nomes às vezes saídos de ninguém sabe onde. E lá se vão dois ou mais anos de gestão coronelística ou de pura vaidade ou de nonsense completo. E vou dizer, raríssimas, raríssimas exceções me tratam mal ou não gostam de mim ou criam atritos (ou vice e versa)… Ou seja, não falo de relacionamento comigo e sim do que ouço do setor, ou de parte dele. Um ou outro me chama de idiota, aceito. Mas no geral, me dou bem com todos e divulgo ao máximo suas ações, que é o meu papel… e da empresa onde trabalho.
Mas é porque não atua o associado que ele não pode reclamar?
Ah, pode.
O regime presidencialista, que é o vigente em todas as associações, não é o melhor para as classes que representam ou para o setor. Um presidente contratado com um conselho cobrando e acompanhando seria o ideal. Algo que a Abracorp vem tentando e há de conseguir. Algo que a Braztoa não vem tentando, mas que vem conseguindo com a gestão mais participativa do Marco Ferraz. Isso é curioso também: alguns líderes atraem a participação e sabem distribuir, delegar, repartir. O poder não sobe à cabeça, o que é o caso do Ferrz e do Edmar Bull, para citar dois nomes e ficar com os bons exemplos que me vêm agora à cabeça (há outros, há outros… podem comentar colocando nomes que acharem bons exemplos). Também me anima a disposição e as mudanças apontadas por Antonio Azevedo. Quem apostou em um homem tradicional e avesso aos avanços, perdeu. Quando a pessoa é líder e disposta, faz milagres até em entidades menos representativas ou mesmo em um clube, como o Skal. Vejam o atual congresso no Maranhão… A presidente Ana Carolina conseguiu reunir boas pessoas para divulgar o Estado e debater assuntos pertinentes.
Mas quem manda então na entidade? Para isso há várias respostas. Há os presidentes que acham que mandam (pois aparecem nas fotos, vão a todos os famtours, viajam mais que o Papa Bento 16), mas por trás há os Golbery e Dirceu da vida (acho que esses casos são os piores). Há os que mandam sem ouvir ninguém. Há os que não sabem conduzir e ficam na mão de fornecedores, organizadores de eventos… (a Abav viveu isso).
Mas raramente há os que ouvem os associados, que é os que deveriam “mandar”, seja por meio de um conselho, diretoria participativa ou voto direto. OK, isso é mais fácil em uma Abracorp ou Braztoa, com poucos associados, mas muito mais difícil em uma Abav ou entidade mais numerosa. Mais uma vez o Edmar Bull criou algo bem interessante em sua gestão na Abav-SP, com fóruns mensais para ouvir o… associado. E deve haver muitos exemplos regionais, os quais ou não lembro agora ou não tomei conhecimento.
Sei que a política associativa tem uma imagem desgastada, com a impressão de que os presidentes só sorriem para fotos e viajam pelo Brasil e o mundo, mas não é assim. E só a participação ativa dos associados pode mudar isso – eles verão que não é assim e cobrarão quando for assim. E também a cobrança de fornecedores, da imprensa… Aliás, quantos não são os fornecedores que já focam seus negócios e convites nas empresas e não nas entidades? E quando cedem hospedagem, passagem… tenha certeza que é em permuta a um estande ou espaço em uma feira do trade. Sem almoço de graça… pelo contrário, a bordo tudo se vende hoje em dia.
Nós da imprensa buscamos mostrar o que as entidades fazem e não fazem pelos associados. Quando possível, pois segredos e reuniões a portas fechadas são o mais comum. Na aprazível viagem da Abav a Portugal, fomos atrás das notícias da entidade, do evento… Claro, mostramos também as belezas e os hotéis, mas havia conteúdo, como as mudanças na Feira da Abav, que acabaram na primeira página do Jornal PANROTAS.
Mas diria que “do que realmente acontece relacionado a esse tema (associações)”, damos 10% das possiveis notícias, de que sabemos ou não sabemos, e insinuamos, para os bons entendedores, uns 20%. Também não é nosso objetivo denegrir, criar confusão e prejudicar o setor. Nunca nos interessou por que fulano saiu de uma empresa ou entidade, baixarias como ameaças de morte, xingamentos, lamúrias de mulheres traídas, socos e pontapés… Sim, já houve tudo isso, mas é passado e se não foi noticiado não será mais, e se já foi, o Google está aí… Outros virão, e sempre haverá o publicável e o não publicável. O construtivo e o não construtivo. A operação abafa e a operação boca no trombone. E vou ousar dizer que é a iniciativa privada que controla isso: abafa ou mete a boca no mundo? Paulada nele ou compreensão?
O mais importante é que associados e líderes, imprensa e fornecedores, expositores e participantes de feiras saibam e exerçam seus papeis. Na semana passada, quase uma guerra foi deflagrada e são vários os motivos apontados para o constrangimento causado no trade. Mas a maior crítica que ouvi, e praticamente unânime, foi a inabilidade dos líderes para decidir ou cobrar. Não sei se há um medo de dizer “isto está errado”, um certo receio de soar agressivo, pois ninguém gosta de críticas, mas é preciso menos tapinhas nas costas e mais ação, ou o Congresso (Nacional) continuará ignorando o turismo (alguém tem esperança de que alguém mais nos defenderá entre os parlamentares? Nós mesmos, o trade, temos de fazê-lo), decisões que envolvem o setor serão tomadas sem que se ouça ou entenda como funciona a cadeia produtiva do turismo…
É um reconhecimento ser presidente de uma entidade. E eles são respeitados por isso, estão presentes em solenidades, são ouvidos pela imprensa, viram referência. Mas também requer responsabilidade. Se algumas entidades continuarem a ser organizadoras de feiras ou almejarem tão somente convênios com o MTur, o turismo não andará como deve. (Mais um bom exemplo, a união da Abav-SP, Sindetur-SP, Aviesp e Abracorp em diversos momentos…). Criticamos muito o governo. Seria bom não imitá-lo. Em nada. Pelo contrário, continuar construindo e mostrando, também na política associativa, que a iniciativa privada é exemplo.
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