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ATIROU NO QUE VIU… ACERTOU NAS FEIRAS

Chega a ser uma contradição eu dizer, em um blog, que vou dar uma opinião sobre um tema que me chamou a atenção na semana passada. Ter opinião é importante, respeitar a dos outros mais ainda. Criar um debate sadio (infelizmente tem gente que ainda não consegue isso), em que mudamos de opinião e pontos de vista ou reafirmamos aquilo em que acreditamos é uma das metas do Fórum PANROTAS. Mas para termos opinião, precisamos nos comprometer. E isso não é ruim. Eu já achei que ter um ministério para o Turismo era essencial e uma vitória e cheguei a debater isso com o Caio Luiz de Carvalho, que era contra. Achava sim que o MTur era uma conquista para um setor subestimado, que muitos viam, por ignorância, como um oba a oba que nada produzia. O MTur ajudou sim a provar que turismo tem relevância para a economia, coisa que nós, da iniciativa privada sempre soubemos.

Aí vieram os escândalos, os políticos e o papel do MTur ficou nebuloso… Nessa hora, minha opinião foi pelo ralo. E o povo do “eu te disse” caiu matando… Com razão.

Agora, ao que parece, o Ministério do Turismo está tentando um caminho que pode ser a solução: investir no social. Parece demagogia, mas é onde mais se precisa. Cursos técnicos gratuitos, capacitação, apoio a destino pobres, inclusão pelo turismo, geração de empregos… Ampliar o que Marta Suplicy tentou com o Viaja Mais Melhor Idade.

E nessa nova tentativa, agora comandada pelo político Gastão Vieira, acho que a iniciativa privada temd e se engajar e apoiar. E cobrar resultados. Afinal, é dinheiro público, do nosso bolso, para capacitar, gerar empregos, oferecer cursos gratuitos. Qualquer real desviado precisa e deve ser denunciado, punido e cobrado.

Além dessa parte social, o MTur precisa ser mais estratégico. Ser ouvido em decisões para a Copa e a Olimpíada, ter recursos para divulgar uma boa imagem do Brasil aqui dentro e lá fora. Direcionar estudos, mostrar tendências, encomendar pesquisas, mostrar o que temos de melhor e ajudar a melhorar nossos produtos.

Dentro desses papeis do MTur, acho que não cabe patrocinar feiras de Turismo da iniciativa privada ou de associações de classe. Capacitar os profissionais dessas entidades, ok, via convênios auditados e fiscalizados. Ter um estande na feira para justificar o patrocínio? Para a feira e para as empresas não depender do MTur financeiramente é bom. E para o mercado também. O auxílio do governo pode mascarar a peneira de quem é bom ou quem não é.

Uma empresa resolve fazer sua feira e se ela ficar vazia do início ao fim é problema dessa empresa com seus patrocinadores. Não precisa envolver dinheiro público nisso.

A iniciativa privada sempre se virou sem o governo em sua participação em eventos, organização de feiras… Por que agora, com um MTur, ficar de pires na mão e possivelmente com o rabo preso? O dinheiro do MTur tem de ir para ações mais concretas: capacitação, publicidade, ajuda na infraestrutura, organização do setor, sinalização turística, apoio a destinos menos favorecidos, ações estratégicas… fazer o País andar no turismo também.

Precisamos de pesquisas, estudos, números, análises, diagnósticos, planos estratégicos… O MTur pode ajudar nisso, aliás tem que ajudar nisso.

Ainda não confirmei se é verdade, mas parece que a Abav quer acabar com aquele pavilhão dos Estados na Feira das Américas. Nada seria mais saudável para o evento. Os Estados têm de se divulgar institucionalmente para o público final. Para os profissionais têm de levar seus parceiros comerciais, pequenas empresas que não conseguem bancar um estande grande, mostrar sua infraestrutura, capacitar, distribuir material técnico. Isso o que Guilherme Paulus quis dizer há alguns meses e foi mal interpretado pelos governos da Bahia e do Amazonas. Chega de acarajé ou fitinha do Bomfim ou índios seminus… O que os profissionais precisam é de produtos para serem vendidos, medidas de segurança, lançamentos, folhetos informativos que possam ser repassados para os clientes, sites bem montados… Os Estados estariam colaborando muito mais com o setor do que com estandes “lindos” e cheios de festa. O público final precisa disso, o agente de viagens e o operador precisam de algo mais. Com o mesmo dinheiro, pode-se fazer uma Feira da Abav mais profissional, produtiva, informativa… Não há mais espaço para o institucional.

Tem muita feira e evento no País. Por motivos tortos (os desvios de dinheiro em eventos), o MTur cancelou tudo o que apoiava e acertou na mosca. Não senti o Festival de Gramado ou o Encontro Braztoa mais fracos porque não tiveram dinheiro do governo. Nem a Abav precisa disso. Braztoa, Abav e outras entidades precisam, sim, de apoio em programas de qualificação, capacitação, inclusão social, infraestrutura… Aí sim, tem muito espaço e muita carência.

Será bom para as feiras tomarem novo rumo (e se algumas desaparecerem é porque não cumpriam seu papel), e para todos nós, ao participarmos de eventos melhores, e podermos cobrar mais do governo (ou dos governos) sobre o uso do nosso dinheiro.

Por isso também estou ansioso pela fala do ministro Gastão Vieira no Fórum PANROTAS, na terça-feira. Ele é bastante inteligente e, a pedido da presidenta Dilma, deu essa guinada no MTur. Vamos ver se já tem bons resultados. E será interessante, também, ver as visões da Argentina, Chile e México.

PS: Estava assistindo ao programa ESQUENTA, de Regina Casé, na Globo (acho muito bom – ela deveria substituir o Faustão…), quando ela chamou um merchan do Sebrae e apareceu o ex-ministro Luiz Barretto, hoje presidente do Sebrae. O merchandising foi muito bem colocado e Barretto estava bem informal e didático. Levou um exemplo da ação que propunha (que os pequenos empreendedores e profissionais saiam da informalidade) e o quadro ficou bem adequado ao programa de TV e aos programas do governo. Gostei de ver. Achei que ia ser um tiro nágua, mas foi um golaço do Sebrae, do Esquenta e da TV, que pode mostrar bons exemplos e não apenas ser apelativa.

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

Comentar

  • Bem colocado Artur.

    Em muitas feiras o consumidor procura mais informações, mas não acha.

    Havia um stand, mas não havia folhetos.

    Como que um estado se divulga e se promove assim? Foi o caso de MCZ que aproveitei documentos de feiras anteriores e do tempo de faculdade… Acredite… ainda guardo muitas coisas.

    E um fato importante. Será que na FEIRA DO TURISMO 2012 o livro será o mesmo dos anos anteriores?

    Se pegar os últimos 4 anos, aquele livro sobre os estados é o mesmo, tudinho… fotos, texto, só muda a capa.

    Absurdo…

  • Artur,

    Parabéns pela lucidez do “puxão de orelhas” mais que merecido. É claro que algumas (talvez todas) feiras podem e devem mudar para melhor. É claro que os estados deveriam investir seus (nossos) recursos com mais probidade e até, porque não dizer, com mais inteligência. O problema está na “cultura festiva” dos políticos (que decidem onde alocar as verbas), que adoram viajar para cima e para baixo, no circuito cada vez mais prolixo de eventos e feiras, onde desfilam sua soberba enquanto são bajulados pelos muitos assessores que igualmente desfrutam das benesses do “turismo às custas do contribuinte”. Depois de conviver de perto com vários políticos ligados ao turismo dos estados pude perceber que esse “esporte” é o que mais gostam de praticar. Isso disfarça perante o eleitor/contribuinte outra distorção que promove uma inversão de prioridades. Veja: investir no turismo de eventos/congressos, por exemplo, tem um custo per capita muito menor e um retorno per capita muito maior do que investir em turismo de lazer. Entretanto, esses políticos investem fortunas nos estandes exibicionistas e inúteis da promoção institucional, e aplicam migalhas no turismo de eventos, negando-se, quase sempre, a desenvolver e apoiar uma política permanente de captação. A razão? É muito mais prazeroso circular com seu séquito pelo calendário de feiras gastando o dinheiro do contribuinte e capitalizando apoios para se reelegerem, do que investir numa política que, mesmo beneficiando a cadeia econômica do turismo de forma muito mais abrangente, não lhes permite a mesma exposição, nem satisfaz suas vaidades, e tampouco rende votos. Enquanto essa lógica prevalecer será difícil reorientar os investimentos oficiais nas feiras de turismo, e continuaremos assistindo a esses festivais de desperdício de recursos públicos. É pena, mas é assim que o setor público funciona. Há exceções, claro, mas elas apenas confirmam a regra.

    Um abraço.

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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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