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Dia a dia

Copacabana de Fellini

Dez da noite, dia 24. Resolvi caminhar entre o Rio Othon Palace e a casa de minha irmã, no Bairro Peixoto, também em Copacabana. As famílias chegando para a ceia no hotel e eu saindo pela praia. Que estava cheia de gente àquela hora.

Famílias de turistas, amigos, gente que não liga pro Natal, alguns solitários… Todos na praia, sentados, bebendo e comendo, passeando ou esperando a noite avançar.

Vi muita polícia na rua (geralmente em viaturas), mas só um bêbado importunou na frente do JW Marriott. Queria entrar no hotel e se dizia da Aeronáutica, da Força Aérea… “Não me toca”, dizia aos seguranças. A polícia chegou e ele afinou na hora. O caça virou teco-teco.

Nos edifícios, mulheres sozinhas na janela. Muitas. Com mão no queixo e tudo. Atrás delas, nenhum movimento de festa. O Natal estava nas ruas e melhor era olhá-las, talvez avistando no vai e vem de pessoas imagens de seu passado, do futuro que não aconteceu, ou nada disso. Apenas um dia como outro qualquer e estavam passando tempo

Quando um casal de obesos veio em minha direção, ele fumando um cigarro, aquela cara de personagem de quadrinhos, quase um desenho, ela de mochila nas costas, toda apertada em seus panos cruzados, achei que era mesmo um filme de Fellini. Passaram sem sequer olharem para mim. Devem ter evaporado ao virarem a esquina.

Os moradores de rua foram para suas casas no Natal. Mas um ou outro ainda perambulavam pela cidade. De repente, vem um casal apressado, discutindo por causa do atraso… É o famoso périplo de casa em casa, ainda comum em muitas famílias. Primeiro visitar a filha casada, depois a sogra, a tia velha e por fim o filho que há pouco tempo saiu de casa. Será que a briga era porque estavam atrasados para visitar a mãe dela?

Famílias fazem sinal para os táxis, que passam lotados. E são poucos pelas ruas. Uma mulher está sozinha em um banco de pedra na praça. Mas pelo comportamento, espera alguém. Mexe no presente, nos cabelos… Olha o relógio. Cadê ele que não chega?

Dois turistas americanos (homens) pedem informação à polícia. “Não falamos inglês. Sorry”. Acham um táxi e fazem mímica ao motorista.

Na volta, pelo mesmo caminho, mais casais brigando por causa da festa. Pessoas com sacolas. Bêbados inconvenientes. Mulheres que tiram os sapatos. Casais namorando na praia. Bares e restaurantes já fechados.´

Mais um Natal… E Copacabana continua a mesma. Na volta, o taxista ainda me contou toda a sua vida etílica, sua relação com o uísque e porque deu a um amigo de 78 anos, viúvo, a “champanhe italiana” que havia comprado na xepa da Feira da Providência… Quando chegamos ao Santos Dumont ele estava me dando a receita de uma pasta de queijo para colocar em cima daquelas massas redondas de pastel… Fez questão de sair do carro e me dar um abraço de Feliz Natal.

Ho ho ho

Agora é rumo a 2012… E o Reveillon vai ser em Porto. De Galinhas, claro.

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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