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Dia a dia

Demitido por Walter Teixeira

O taxista me pega na porta da PANROTAS, na Saúde, em São Paulo, e me leva para o centro. De cara já conta que foi do Turismo, segundo ele “nos áureos tempos do trade”, tendo trabalhado por cerca de dez anos na Wagonlits (ainda longe de ser Carlson). Geralmente eu só ouço os discursos dos taxistas, mas o assunto me interessou e descobri um pouco desses áureos tempos, mas também da visão que ele tem dos dias atuais do Turismo.

Com um filho morando na Suíça e a esposa comemorando a recuperação de uma cirurgia, ele decide viajar para a Europa, que ele já conhece de trás pra frente, da época da Wagonlits. “A gente escolhia pra onde ir. Tinha famtour toda semana”, me disse ele, que conheceu a Rússia, a Tchecoslováquia, entre outros destinos.

Como a filha ia pagar a passagem, a mãe comprou os bilhetes em uma agência de viagens. Ele não gostou, pois ambas ignoraram todo seu conhecimento do setor… Afinal ele é um ex-agente de viagens Embarcaram de British para a Suíça e em Londres as malas ficaram ou foram para outro destino que não a Suíça. Três dias depois e alguns euros gastos no shopping chegaram e foram retiradas pelo casal. O seguro viagem cobriu as despesas iniciais e ele foi só elogios ao serviço (da Assist Card, pelo que ele disse).

No retorno, a BA extravia uma das malas do casal, repleta de presentes e vinhos. Como assim um raio não cai duas vezes no mesmo lugar? “Dizem que eles estão com problemas em Heathrow”, me conta o ex-agente de viagens, que está muito feliz com seu táxi, garante.

Segundo ele, não conseguiu falar com a companhia. Acesso só por e-mail. Foi na agência onde havia comprado o bilhete e o atendente sugeriu: “olha no site da empresa aérea”. “Ele sabia menos que eu, que estou há mais de 20 anos fora do mercado. Para me dar o número do e-ticket levou uma semana”, lamentou o saudoso agente de viagens. Ou seja, salvou-se apenas o seguro viagem no atendimento emergencial. Assim o trade só perde… Que tal focar no atendimento ao cliente? Se a agência onde ele comprou a passagem só tem como dica olhar o site da empresa aérea, garanto que ele não volta mais lá.

Resultado: ele está na justiça contra a aérea.

Sobre os áureos tempos ele contou com sorriso no rosto como gostava de trabalhar em Turismo. Lembrou do Elói Oliveira (citou a empresa dele na época, a Edo, e o que representava) e do Guilherme Paulus indo fazer promoção na Wagonlits, das viagens de luxo que a agência atendia para a elite paulistana e dos chefes, como Jean Philippe Perol e Walter Teixeira. “Sobrevivi a vários estrangeiros. Quando entrou o brasileiro, o Walter, fui demitido”, lembrou com bom humor. Walter, ele não guarda mágoas…

O taxista (não lembro do nome dele, infelizmente) relembrou como usava o Guia PANROTAS e os guias ABC e Hotel Travel Index, onde havia os nomes dos gerentes gerais dos hotéis, algo que muitas vezes não achamos hoje nos sites dos hotéis. “Decorei esses três guias e sabia tudo. Passava segurança e conhecimento ao cliente”, garante.

Também lembrou das muitas festas que havia no trade, entre outras passagens, que vou omitir… afinal, já faz tanto tempo… Risos.

Mas concordo com a visão dele que, naquela época, como era tudo manual, braçal e fragmentado (uma tarifa era montada na mão), os profissionais tinham um conhecimento mais profundo sobre o que faziam. Hoje está tudo nos sistemas e o Google ajuda a saber que fim levou a Tchecoslováquia… Achei o fim da picada o atendente da agência não ter ligado ele mesmo para a empresa aérea, já que ele não conseguiu falar com a mesma. E ter demorado tanto para achar o número do seu e-ticket, que virou prova no processo.

Fosse um figurão como os que ele disse atender na sua época de Wagonlits, isso não teria acontecido. Há fases em que vai um cliente e vêm mil. Não é o caso atualmente. Como dizia um amigo meu: “Ojo!” Sem saudosismo.

 

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

Comentar

  • Boas recordacoes , tambem fui da Wagons-lits e tive os 2 chefes mencionados no post . Foi meu 1 emprego e onde me deu uma excelente base . Lembro da minha chefe em Recife Sra Marily que vendia qualquer lugar do mundo sem nunca ter ido la , sabe porque ? Lia muito , estudava os destinos . A nossa industria cresceu, porém o maior problema é a falta de interesse dos profissionais de se qualificarem ( muitas excecoes existem ). O melhor é fazer parte dessa historia , e la se foram 35 anos bem vividos e focados na industria . Continuo muito feliz e satisfeita na profissao que escolhi e nao pretendo troca-la nunca .

  • Sensacional, Artur! E não é saudosismo não, é pura constatação de um mundo que cada vez parte mais para a prestação de serviços e sabe menos fazer isso com conhecimento, educação e respeito ao consumidor e ser humano. O cliente hoje é um click e delete. Pena!

  • Amigos, o problema hoje na falta de profissionalismo, é por parte dos próprios empresários, que por quererem economizar em salários, contratam pessoas mais jovens e sem nenhuma experiencia do ramo ou de vida, para atuarem com atendentes, executivos de contas, supervisores, só porque o cara tem um curso superior. No nosso ramo, a PRÁTICA VALE MAIS QUE QUALQUER FACULDADE, pois nos ensina no dia a dia. Por isso o nivel do turismo caiu tanto. Eu trabalho há 20 anos no turismo, e qualquer um que fizer a melhor faculdade do mundo, vai ter mais experiencia de mercado do que um de nós, os mais antigos, os dinossauros como somos conhecidos…..abraços a todos

    • Richard,

      Discordo de você, acredito que temos “dinossauros” no turismo que buscaram conhecimento e se capacitaram para lidar com os novos métodos de gestão.
      Hoje temos ainda muitos empresários no turismo que pensam que a prática vale mais que um curso superior e o resultado é o que estamos vendo: empresas com uma gestão totalmente ultrapassada, vivendo de nostalgia e fechando as portas.
      Infelizmente no mercado dinâmico que temos hoje ( não só no turismo, mas em geral), que não se atualiza fica para trás rapidamente.Quem nunca se atualizou então…

      Não desmerecendo o fator experiência, mas ao meu ver os melhores profissionais que temos no mercado turístico são os que conseguiram ao longo dos seus anos de “dinossaurismo” aliar conhecimento técnico ( prática) com conhecimento acadêmico ( diplomas de graduação/especialização).

      E isso vale para os novos de mercado. Precisamos de mais profissionais formados em curso superior e pós-graduação que consigam em paralelo adquirir capacidade técnica.

      Abs

      Carolina

      • Prezada Carolina,
        Quando disse dinossauros, não estou desmerecendo e nem dizendo que estamos ultrapassados, o que quis dizer é que os dinossauros, que ainda sobrevivem, é exactamente porque se capacitaram, e aliados a experiencia, estão conseguindo inovar o mercado. O problema, é que algumas empresas estão desmerecendo quem tem longa experiencia, e colocando gente sem experiencia,.
        mais opinião é opinião.

      • Carolina,
        Seu pecado foi o mesmo do Richard: ambos generalizaram. A realidade não dá sustentação ao seu raciocínio. Se pensar direito, o importante para qualquer empresa é ter funcionários competentes e capacitados. Isso, como sabemos, não se adquire APENAS com a prática, e tampouco APENAS com cursos superiores ou mestrados e pós. Junte a isso a seguinte e perversa questão: como confiar em cursos superiores num país com educação “inferior”, onde tudo se deteriorou e não se consegue ensinar o básico? Como sair da faculdade bem formado, se o próprio curso é falho em seu currículo, e os professores, muitas vezes, não estão capacitados para ensinar? Pois é, a questão é bem mais ampla do que parece, por isso nunca é bom generalizar dizendo que precisamos de curso disto, mestrado daquilo. Precisamos mesmo é de competência. Venha de onde vier!

        • Olá Rui,

          Compartilho da sua opinião, buscar conhecimento e competência é sempre o melhor caminho.
          Temos cursos de referência na área e acredito que todos devem buscar algum aprendizado, seja em curso técnico, superior, pós-graduação. De fato alguns cursos deixam a desejar mas são sempre melhores do que nada.
          O conhecimento técnico, ou prática como é chamado, adquirimos no dia a dia para executarmos o nosso trabalho, e o conhecimento acadêmico adquirimos para a vida.

  • O fóco deste post é atendimento. Também sou da velha guarda. Comecei em 1974 na Varig e nunca parei. O que falta é iniciativa. Creio que o que engessou profissionais mais novos foram os portais. No caso deste taxista a viagem teve mais de 1 seguimento; portais se enrolam aí. SABRE e AMADEUS estão aí! de graça. Duvido que tem trabalha dom GDS se enrola assim.

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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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