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DESEMBRULHANDO PACOTES

Quem não se lembra dos eventos, congressos de Abav, artigos e reportagens que começavam com o clichê “o mundo mudou…”. Ninguém aguentava mais os “especialistas” nos alertando. Mas os mais espertos sabem que mundo sempre esteve mudando e sempre estará (vamos esperar ao menos o dia 21 passar) e é importante estar atento às mudanças e se adaptar (ou não) a elas, dependendo da necessidade. A velocidade das mudanças é que mudou… E a forma de comunicar também.

E sabemos ainda que mudar é difícil e que resistir é quase que instintivo, natural.

Tenho “apenas” 22 anos de turismo, mas lembro de como era o setor sem internet e como, olha o clichê de novo, ela mudou nossas vidas. E como o turismo mudou.

Sem mais blá-blá-blá, andei refletindo e conversando nos últimos dias sobre o papel do operador de turismo. Motivado por dois (ou três) acontecimentos. O primeiro, claro, o triste fim da Tia Augusta Turismo. Um fim anunciado, uma situação delicada, que pode ser assunto para outro post. Mas que me levou a refletir. O segundo, a fraca temporada de julho para as operadoras, e o começo devagar da temporada de final de ano, em que já vemos promoções e descontos em empresas como CVC e Agaxtur, para citar duas apenas.

Cada um sabe onde lhe dói o calo, onde aperta o sapato, mas acho que um dos grandes problemas para esse segmento é ser estigmatizado como vendedores de pacote. O passageiro vê o pacote como algo que o prende, onde ele não sabe quanto para pelo quê, que lhe tira opções… Enfim, pacote soa como algo limitador ou que serve só para um determinado tipo de viagem (em grupos, para países exóticos, viajantes iniciantes…). Nós sabemos que não, que o pacote pode incluir só a passagem e a hospedagem, que há preços competitivos…

Talvez seja um problema de comunicação? Pode ser. Mas continuemos na reflexão, que não levará a lugar algum, pois não sei a resposta, mas que espero vai inspirar alguns operadores a tentar me explicar e ao mercado o que está acontecendo com nosso setor e esse segmento em especial.

O crescimento dos viajantes pelo Brasil e para o Exterior, celebrado por todos, sem exceção, também significa que eles vão ficando mais experientes e acham que conseguem, nas próximas viagens, fazer tudo por conta própria e pagar menos, descobrir barganhas que só eles sabem. O fazer por conta própria, o pagar menos e a síndrome de expert têm sua raiz, claro, na internet, mas vão além. É muito fácil comprar passagem aérea e hotel na internet e o restante muitos acham que compensa comprar no local do destino. É fácil mas não é para qualquer um e também tem seu lado trabalhoso e custoso (as mudanças e reclamações, por exemplo). Mas é um canal válido, irreversível, importante, que ajuda a democratizar as viagens e a tornar o processo mais transparente.

O acúmulo de milhas em outras fontes que não apenas a viagem (cartão de crédito, por exemplo) também leva o viajante a não comprar o pacote com aéreo. Some-se a isso a busca pelo menor preço, geralmente usado e abusado nos anúncios de operadoras e OTAs… O passageiro quer sempre levar vantagem e fazer a melhor compra. Não que ache que o agente ou o operador o estejam enganando. Mas porque vê os anúncios com preços menores e quer pagar pra ver (ao menos alguns).

Vamos citar também as promoções dos fornecedores. Na recente promoção da Tam, com aéreo para os EUA por menos de US$ 600, por exemplo, ouvi de muitas pessoas (pelo menos dez) que haviam comprado bilhetes para aproveitar o ótimo preço. Ou seja, na hora de comprar o restante, ou também o fazem por conta própria ou buscam auxílio de um agente somente para essa parte. Hotéis também são comprados com milhas e têm bons sites de reserva. Outros produtos também.

Ou seja, as formas de comprar se multiplicaram, tanto no meio de pagamento quando no local de compra. E os preços estão mais transparentes e mais baixos nos anúncios, o que leva os consumidores a terem uma referência (que pode ser deturpada, pois esse menor preço muitas vezes só existe para poucos lugares, e ainda que os leva a imaginar quantos seria, no pacote, o valor do aéreo) .

O consumidor não sabe ainda o que é um pacote dinâmico… Para alguns, ou é pacote ou internet. E ele pesquisa muito atualmente.

Outro ponto nessa reflexão é a rede de distribuição para concorrer com a internet. Uma CVC tem 740 lojas, uma Agaxtur tem três ou quatro. Já as agências multimarcas vendem ambas e mais 100 operadoras conhecidas e 200 que são um misto de agência-operadora. Vendas na internet não devem chegar a 5% em todas elas. Ou seja, nem têm rede própria (exceto CVC, Tam Viagens), nem têm agências multimarcas que as vendas com “certa” exclusividade (o que as faria deixar de ser multimarcas… contrasenso, estou pensando alto), nem força on-line…

Correr atrás do público final é sim um caminho, mas é preciso ter a tal capilaridade, ou clientes fieis, ou segmentação. Ou tudo isso junto. Uma saída óbvia para quem não tem o dinheiro da CVC ou a força virtual da Decolar.com ou a especialização e os clientes da Teresa Perez não seria criar uma rede fidelizada de agências? To viajando? Sonhando? Ou seja, a solução poderia estar nos agentes (que até então iam acabar pois a internet ia ser o único canal de vendas), que já souberam fazer mudanças, e que podem estabelecer nova relação com as operadoras. Ou o negócio é investir na venda direta? Do jeito que está, me parece, não dá para continuar…

Dentro da pergunta “o que mudou no turismo nos últimos 20 anos?”, o papel do operador mudou pouco ou muito? Minha percepção é de que mudou pouco (mas sei que muitos podem me provar que mudou muito, pois estou olhando de longe…). Abriram o leque de vendas para o público final, mas poucos conseguiram realmente aproveitar esse filão. E continuam tendo os pacotes como carro-chefe.

O número de charteres diminuiu muito com a oferta de voos regulares (excessiva em alguns casos), o que pode ter encarecido os pacotes… Isso confere? Sei que as tarifas-operadoras, em alguns casos, também não são mais tão atraentes… Confere também?

Fato é que os voos estão cheios (em que pese uma leve retração do mercado corporativo este ano). Estive agora em Orlando e os passageiros lá estão. Os receptivos estão rindo à toa. Onde eles compraram suas viagens? A resposta há uma década seria: em uma agência, onde compraram um pacote de um operador. Hoje são múltiplas as respostas… Como os operadores podem aumentar suas vendas? Que mudanças precisam ser feitas? Há muitos operadores no mercado? Será apenas uma conjuntura passageira? O tema merece uma discussão maior e mais profunda, talvez entre quatro paredes. Chega de pensar só em feira, não é mesmo?

Aliás, um P.S.: uma das minhas referências de evento profissional é o Encontro da Braztoa de alguns anos atrás, quando havia entrevistas marcadas, todos sentados negociando… Era uma coisa técnica. Hoje muitos vão na feira pegar folhetos que estão na internet… Mas isso também é tema de outro post…

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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  • PARABENS. PELO COMENTARIOS..OLHANDO PARA OS MEUS 35 ANOS DE TURISMO ENTRE ATENDIMENTO A AGENCIAS E COMO AGTE DE VIAGENS, PROMOTOR DE VENDAS DE OPERADORA, OPERADOR , TRABALHANDO EM SAO PAULO, NO INTERIOR DE SAO PAULO OU NO NORDESTE..OLHO O FUTURO APROVEITANDO O QUE APRENDI NO PASSADO….ERRAMOS..NO ESSENCIAL ..POUCOS AGENTES OLHARAM PARA O BASICO DE TUDO ISTO.. A EXPECTATIVA DO PASSAGEIRO, O SONHO DO PASSAGEIRO..NAO SABEM O PORQUE DA VIAGEM OU QUE ELES QUEREM. COMO É CADA REGIAO E COMO SE COMPORTA UM PASSAGEIRO DE ILHA SOLTEIRA OU DE PICOS …ESTES TEM EXPECTATIVAS E VISAO DIFERENTES DO QUEREM COMPRAR..LEMBRO QUE EM 79 PAX QUERIA VISITAR EUROPA POR 20 DIAS E CONHEÇER 10 PAISES..HJ ELE CONTINUA QUERENDO CONHEÇER 10 PAISES NOS 20 DIAS..NADA MUDOU…MUDOU A INCAPACIDADE DO AGTE/OPERADOR VENDER SERVIÇOS AGREGADOS..VAI PARA DISNEY..NAO VENDE O INGRESSOS DOS PARQUES PORQUE NAO DOMINA A LINGUAGEM..PORQUE NAO DA COMISSAO LEGAL…MAS TBEM NAO PERCEBE QUE NA .COM DA VIDA O PAX NAO AGREGA…O QUE FAZ O AGTE SO RECLAMA.
    AS MEGAS OPERADORAS ESTAO E VAO TER O MERCADO NAS MAOS , PORQUE NAO DAO ACESSO AOS PEQUENOS. AS GDES AGENCIAS QUEREM 15% DE COMSS DOS OPERADORES QUE SE COLOCAREM MARCAP + FINANCIAMENTOS NAO HA COMO TER LUCRO…TEM OPERADOR REPASSANDO A AGENCIAS 20%..A RODA CONTINUA…E VAI CONTINUAR…O QUE FALTA É MORALIZAÇÃO DO MERCADO..E A CULPA É SOMENTE DOS PROFISSIONAIS DO MERCADO..POIS A PANELA É PEQUENA E QUEM ESTA DENTRO DELA NAO QUER SAIR…
    FALTA REGULAMENTAÇÃO , TODO MUNDO É OPERADOR /AGENCIA/CONSOLIDADOR É SO TER DINHEIRO QUE VIRA QQER COISA..PODE ATE LANÇAR SITE ONLINE..SEM RESPONSABILIDADES.
    OLHANDO PARA O FUTURO VEJO CADA VEZ A NESC DE MUDAR O CONCEITO…SOMOS UM PAIS QUE USA A LEI DO GERSON COMO FILOSOFIA. E ESTA É A MENTALIDADE DO MERCADO.
    E O PASSAGEIRO ACHA QUE O AMIGO QUE FICOU EM UM HOTEL LEGAL É + PROFISSIONAL QUE O SEU AGENTE DE VIAGENS..E O AGENTE NAO ACEITA A SUGESTÃO DO SEU OPERADOR, PORQUE ACHA QUE UM DELES ESTA LEVANDO VANTAGENS………..
    BOM..DESULPE AS BESTEIRAS QUE ESCREVI..MAS DAQUI 10 ANOS VAMOS ESTAR FALANDO AS MESMAS COISAS. ENQUANTO NAO HOUVER REGULAMENTAÇÃO DO SETOR…
    …PARABENS A TODOS AGENTES DE VIAGENS E OPERADORES QUE SOBREVIVERAM A TUDO ISTO… E ESTARÃO DE PE DAQUI 10 ANOS, E TENHAM CERTEZA QUE MUITOS DOS GRANDES OPERADORES DE HOJE , PODEM NAO ESTAR TÃO GRANDES AMANHÃ…FELIZ 2013 A TODOS

  • Interessante comentário. Trabalho no setor mas, mais importante, sou consumidor, assim como muitos dos meus familiares e amigos. Não compramos mais com agentes. E o que mudou na relação com a agente de viagens? Tudo… O consumidor evoluiu, o agente não.

    Não vivo no Brasil já há alguns anos mas acompanho as noticias do mercado local. Vejo quase como um triste entretenimento como o trade brasileiro continua falando (na verdade, reclamando) sobre temas velhos, antiquados; culpando a companhia aérea A ou B porque a tal de DU não é cobrada no site… Verdade dolorosa? Tomo, por exemplo, minha última experiência como consumidor com um agente de uma empresa muito conhecida no país (supostamente respeitável); solicitei um itinerário simples Round Trip de São Paulo a Porto Seguro. O agente informa uma tarifa de aproximadamente USD2800.00 e nem mesmo considera por um segundo que algo parecia inconsistente. No final eu determino a inconsistência da situação ao ver que o agente me confirmou reserva para Bapi via FRA. Resultado: cancelo a reserva e compro diretamente no site da companhia aérea.

    Me pergunto se situações similares por anos e anos não tenham posto um fim na paciência dos clientes, e a lista de reclamações é bem maior (e as vi por anos). Bilhetes emitidos com reservas canceladas, erros de cobranças nos cartões, emissão incorreta de papéis, informações equivocadas sobre parte terrestre, erro no controle de vouchers… A lista é praticamente sem fim.

    Eu, assim como muitos outros consumidores, prefiro assumir o risco consciente de comprar todo o produto online mas com a tranquilidade de que tive o controle total sobre o processo, sem ter que me preocupar sobre a qualidade do trabalho feito pelo agente. Não necessito um intermediário para controlar minhas trasações e, caso perguntem, não, já não vejo valor no serviço prestado porque mesmo a teoria de consultores (como prestadores de serviço) é altamente questionável dado o nível de conhecimento técnico geral no mercado, principalmente das novas gerações (em geral, a situação é sofrível).

    Vejo um alto nível de informatização no mercado global, mas essa tendência ainda não se solidificou no Brasil (até onde vejo). Imagino que muitos dirão que estou equivocado mas, para estes, recomendo que busquem mais informações a respeito do tema (o que há de novo); há muito mais tecnologia disponível no mercado do que a grande maioria imagina. Quando finalmente o mercado local se renovar, veremos profundas mudancas nas formas de vendas e sobre o approach com o cliente final.

    Muitas agências não sobrevirão; mas, não acredito que qualquer um veja um problema nesse cenário atualmente porque, com certeza, deve ser muito mais reconfortante culpar a tal DU por todo e qualquer problema. A questão é ver até quando essa será a desculpa… Acredito que sobreviverão somente aqueles que sairem na frente e de forma silenciosa (como já está acontecendo).

    • Excelente comentário, Luiz. A verdade é que em qualquer segmento de mercado o consumidor sempre estará pronto para pagar pelos serviços de profissionais competentes, os quais agregam real valor aos produtos/serviços adquiridos. Isto deveria ocorrer tbm no Turismo. Entretanto, devido a falta de regulamentação da profissão, qualquer pessoa pode se sentar atrás de uma mesa e se autodenominar agente de viagens, fato que levou a desvalorização da categoria pelo consumidor, que como vc mesmo diz, prefere correr riscos próprios ao invés de sofrer por erros alheios. O quadro é alarmante mesmo, mas os bons profissionais sobreviverão, pois o marketing viral é muito forte neste segmento, onde clientes satisfeitos geram novos clientes. Nos EUA, os agentes de viagens se reinventaram, se especializaram em segmentos como cruzeiros ou em destinos como FL, Oriente e etc. Sabem tudo profundamente sobre os destinos que comercializam. Atendem famílias de forma personalizada, na casa do cliente com hora marcada, trabalham a noite e nos finais de semana. Cobram pelo atendimento, como um médico cobra por uma consulta e se o pax fecha a viagem o $ do atendimento inicial é deduzido do custo do roteiro, caso contrário o $ cobrado fica pelo tempo dedicado pelo profissional. Muitos acham isso impossível aqui no BR, mas a verdade é que para se cobrar por um serviço é necessário dominar totalmente o assunto, transmitindo total confiança ao consumidor.

  • Artur,

    Excelente texto. Serve para reflexão do mercado todo.

    Acho que o mercado mudou e ainda vai mudar muito. Na minha humilde opinião os principais fatores que enfraqueceram as agencias e operadoras nos ultimos anos :

    – Modelo de comercialização das cias. aéreas, a grande maioria delas abandonou os agentes e operadores.
    – O passageiro se endividou mais nos ultimos 2 anos, carro, imóveis e bens duráveis.
    – Fortalecimento dos sites de compras coletivas no mercado de Turismo, grande parte por culpa de Operadoras e Agencias que são coniventes e que também anunciam ofertas enganosas(as agencias e operadoras sérias se dão o trabalho de denunciar?)
    – OTAs com milhoes de dólares de investidores, a lider decolar.com com um número descomunal de anuncios na TV(cheguei a contar 8 inserções em um intervalo de 2 horas na TV globo pela manhã, só na TV Globo).
    – Aumento do valor dos fretamentos, as cias. nacionais estão cobrando preços absurdos agora.
    – As “Mega Promo” que desiquilibraram o mercado, cobrando MUITO pouco na baixa e depois as cias. aéreas querem compensar cobrando MUITO ALTO na temporada.
    – As agências não souberam trabalhar seus clientes e banco de dados, e perderam muitos dos já clientes para OTAs.
    – Falta de capacitação do Agente, que na sua maioria gosta de vender apenas o arroz-com-feijão(Orlando, Miami, New York, Buenos Aires, Salvador, Natal etc), que são os destinos mais vendidos pelas OTAs.
    – Hoje a CVC tem 740 lojas, os Agentes do Brasil todo já pararam alguma vez para pensar quantos passageiros deixam de vender para as lojas de shoppings?

    Estas são apenas alguns fatores, certamente há vários outros.

    A ABAV já pensou em alguma forte campanha junto com consumidor para valorizar o agente? Creio que não.

    Enfim, a passividade do mercado todo está mostrando agora os resultados.

    A solução? As agencias abrirem suas OTAs? Custo muito elevado de marketing, implementação de operação e procedimentos para pequenas e médias.

    Talvez chegou a hora do mercado todo pensar um pouco mais como associados de verdade(ABAV? cade voce?) e fazer algo.

    Principalmente as Operadoras, que dependem muito dos Agentes.

    []’s

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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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