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Dia a dia

Devo continuar sendo sincero?

Claro, não há dúvidas. A sinceridade, mesmo que doída ou ríspida, no caso da relação (difícil) jornalista/assessores de imprensa, facilita as coisas. Facilita para os bons profissionais. Que entendem que não é não. Que sabem quando podem insistir para transformar o não em sim. Que têm argumentos. Que têm postura e discernimento.

 

Sim, volto ao tema dos assessores de imprensa. Era melhor colocar de novo o post de 2011, mas de lá para cá tenho sentido que nada mudou: quem é mau profissional vai continuar sendo, quem é um editor carrasco idem, e quem vive no mundo da lua não quer descer.

 

A escolha sobre o que ser publicado, como o nome diz, é algo que parece subjetivo, mas que pode muito bem ser definido por uma regra única: o interesse jornalístico. Opinião, claro, todo mundo tem, mas o interesse jornalístico no dia a dia do turismo, que é algo mais voltado (erroneamente) ao empresarial e não ao conceitual e mercadológico, é algo que envolve o leitor, em primeiro lugar, e, claro, a empresa que se divulga.

 

Na maioria das vezes, o que recebemos interessa mais à empresa que se divulga e sinceramente a gente busca ângulos, recortes, mais informações para aproveitar quase tudo que nos chega. Diria que aproveitamos 50%. O resto não dá mesmo. E assumo que um bom relacionamento com empresas e assessores pode ajudar a fazer do limão uma limonada. Notícias exclusivas também são analisadas com maior atenção, mas mesmo elas nem sempre interessam. Preferimos as notícias que conseguimos fora dos press releases, dos comunicados oficiais. Quer ler press release? Posso listar vários sites…

 

Com 23 anos de Turismo, e em um veículo que é uma referência na indústria, e com uma penetração impressionante (às vezes me assusto quando, um minuto depois de uma nota estar no ar, me escrevem para falar que troquei uma letra, um nome na legenda, uma palavra…), é natural que me perguntem sobre o trabalho de assessorias, tanto para indicar quanto para dar uma opinião sobre o trabalho feito.

 

E eu sou CHATO mesmo. Trabalho mal feito, profissional que não sabe escrever ou falar, não tolero. E olha que nem tenho falado muito com assessores, que fogem de mim, mas que não sabem que a Redação na PANROTAS é única. Tentar dar uma de espertão e falar com outros integrantes da equipe ou dar uma de desentendido e mandar o release 557 vezes… não cola.  Você tem filho para criar? Eu tenho contas para pagar e tenho de fazer um trabalho digno e bem feito.

 

Já amealhei desafetos por ter sido sincero. Um presidente de entidade me pergunta se seu assessor funciona. Digo que não. Ele troca e a culpa é minha? Para que pediu minha opinião? Para que eu mentisse? Tem entidade que quer assessor ruim. Que barre a imprensa. Na Varig era assim. Em outras empresas aéreas, depende do presidente, do momento. Em associações idem.

 

Eu e Fabíola já ajudamos a escrever, a pedido, um discurso para um presidente de entidade. O assessor dele gostou? Claro que não. Mas a culpa é nossa de ele ter pedido, na frente do mesmo? Fingimos fazer a seis mãos, e depois o assunto caiu na rotina e somos amigos até hoje. Claro que desconversamos nos pedidos seguintes, mas é natural que vários políticos do turismo vejam a Fabíola como eterna assessora e peçam consultorias informais…

CASES

Hoje me liga uma assessora de uma empresa que vou omitir perguntando se a nota que enviou ontem não ia sair. Disse simplesmente: “não”. “Não mesmo?”. “Não. Não interessou”. Ela não perguntou por quê, ela não se ofereceu para pegar mais informações, melhorar a notícia, ir atrás de um dado exclusivo, de uma foto que ninguém tinha, de uma entrevista… Desligou e minutos depois ligou para o meu repórter pedindo “pelamordedeus” para ele dar a nota, pois se não o diretor da empresa iria brigar com ela.

 

Ou seja, tem de sair uma nota, não porque a notícia é boa, e sim porque quem contratou a assessora é bravo. Tô ficando louco? O repórter ficou indignado e soltou: se eu colocar quem vai ficar bravo é meu chefe. Ela responde: pois é, alguém vai ficar mal então… Só faltou dizer que tinha filho para criar.

 

Culpa do cliente da assessoria? Culpa da PANROTAS, que tenta ser mais jornalística, mas sabe que o trade precisa de um olhar diferente? Culpa da assessora? Do chefe dela?

 

“O não também é resposta” é a frase óbvia. Mas é a verdade. Mudar o não depende de argumentos, de boa vontade (de vários lados), de boa relação, de profissionalismo, de visão, de ter treinado o cliente.

 

Curioso é que uma profissional da mesma assessoria me ligou pela manhã para “negociar” a mudança em uma frase de seu cliente em uma nota. A cidadã foi de uma falta de tato, que nem o Coisa do Quarteto Fantástico numa loja de bibelôs a bateria.

 

O papel do assessor é vender o peixe pra gente. Mas não só isso. Tem de haver uma relação de confiança com o cliente. Recebemos cada comunicado que o assessor deveria dizer ao cliente: isso não é notícia. Mas como diz Theo Pereira, todos querem cliques, media value, publicidade de graça…

 

Vou continuar sendo sincero, desculpem. Não desgosto de nenhum dos desafetos, nem dos assessores que nos ligam no fechamento e leem os releases. São maus profissionais naquelas posições, naqueles momentos. Daria oportunidades a todos eles para trabalhar numa Redação. Tenho dois ex-assessores na equipe, o Alex, que quando perde a paciência com os assessores é que a coisa chegou no topo do limite do inimaginável (e tem acontecido), e o Rafael… Fabiola, Izabel e Renê já fizeram algum tipo de assessoria. Marjori saiu daqui para ser uma ótima gerente de Comunicação. Thais Medina no Marketing. Maysa Torres em sua empresa. São muitos os exemplos.

 

Fiquei abismado com a atitude da assessora inexperiente, que ainda queimou o cliente pra gente, mas entendo. Há pressão. Há formação errada. Nem todos têm o dom e gostam do trabalho de RP e divulgação. O celular não deixa ninguém dormir. Namorados e namoradas reclamam de horários de trabalho. Ganha-se pouco, diverte-se menos ainda…

 

Mas aqui, infelizmente para os maus profissionais de divulgação, a gente se diverte muito, gosta do que faz e tem seriedade. Entendam o nosso “não” ocasional. Não é pessoal. Sim, tentem reverter isso, de preferência com argumentos, bom português e em dias fora do fechamento. E leiam a notícia antes, para ver se ela realmente merece um estresse. Acho que sempre há salvação para um release ruim… Para um anúncio disfarçado de release. Mas com inteligência. Não sei se é algo de geração, mas vejo ainda falta de comprometimento, de entendimento do mercado, de checagem de informação (o que recebemos de press releases “vale este”, pois os antigos tinham de datas de eventos a dados errados…), principalmente de cuidado com a língua e raciocínio lógico.

 

Não é não?

 

Abraços

 

P.S. Como tenho boa relação e amizades no trade, quando vejo algo muito errado, ligo mesmo para meus amigos. Outro dia ouvi um relato de um repórter sobre uma viagem e não tive dúvida, avisei a uma amiga. Garanto que o comportamento da funcionária dela mudou… E se não for meu amigo, aviso também. Não gosto de ver empresas sérias e que investem nas mãos de… amadores. Mas confesso que penso muito a cada dia em não ser tão sincero… Ignorance is bliss já dizia… quem mesmo? Vou dar um Google.

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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