Obviamente tenho acompanhado de perto a situação do mercado, que anda nervoso, para dar aos nossos leitores um termômetro de como caminham os negócios, além de mostrar cases, investimentos e a criatividade e ousadia do empresariado do turismo. Inspiração sempre é bem-vinda em tempos de crise.
Mas também vejo o quanto há visões conflitantes e no caminho que me parece errado ou o menos lógico nesse momento. E vários tiram conclusões ou são induzidos a elas por pura falta de informação, preparo, orientação…
Claro, em uma situação como a da Nascimento Turismo, um dos grandes traumas da história do turismo brasileiro, há opiniões divergentes por conta de interesses diferentes. Todas válidas, mas caberá à justiça e ao mercado baterem o martelo. Todos merecem ser ouvidos, mas a vida segue, com consequências duras, como o aperto dos fornecedores, a exigência de certidões negativas, o crédito mais caro, as cartas de fiança mais altas, a insegurança dos pequenos…
Mas o pós-trauma tem avaliações estranhas de alguns e precisa haver uma discussão ampla e com a participação de todo o trade. É urgente e necessário. Não dá mais para adiar o debate sobre canais, papeis, garantias, segurança, parceiras, entidades, feiras…
Recentemente demos uma notícia de que a Mastercard havia lançado uma grande ação para reservas de viagens em um hotsite exclusivo.
Logo vieram as lamentações: mais um concorrente para as agências! Ora, 20 anos depois do corte de comissão, quando ficou claro que o papel das agências tinha de mudar; tempos depois de a internet ter encurtado o caminho para o consumidor final falar com os fornecedores diretamente; tanto tempo depois de nascerem as agências de viagens on-line (que já mudaram sua atuação, diga-se) e mais de duas décadas após o segmento corporativo ter mudado sua forma de vender viagens (e a gestão delas, o que é mais importante)… um agente de viagens não sabe como funcionam algumas engrenagens? Acha que concorre diretamente com a OTA?
OK, assumo que a notícia poderia ter ido mais a fundo. Mea culpa. Mas depois das dúvidas fomos atrás e a resposta é óbvia: a Mastercard não criou uma OTA e como em diversos outros sites de programas de fidelidade (de bancos, cartões, empresas diversas), há alguém responsável pelo fullfilment. Ou seja, pela entrega do que foi “vendido” ou resgatado. No caso da ação da Mastercard, a agência de viagens Alatur JTB faz esse trabalho, e recebe por isso. Ou seja, a cadeia funciona como esperado. E os mais de mil funcionários da Alatur JTB agradecem pela ideia da Mastercard.
Mesmo no caso das OTAs, o esperado também acontece. Além de elas cobrarem sim taxas dos clientes, elas são agências e mantêm a intermediação que os fornecedores sonham em não ter mais (o que é impossível).
Depois vieram os agentes de viagens de Santos, com argumentos irrefutáveis, colocando em xeque o papel das entidades. É sim função da entidade se indispor com os demais membros da cadeia sempre que seus associados forem ameaçados. É como na relação amor e ódio de pilotos e empresas aéreas na Europa. Um depende do outro, mas as negociações são duras. E esses agentes querem saber se vão ter de criar mais uma entidade ou se haverá uma que lute pela sobrevivência, evolução e crescimento dessa categoria. Um questionamento legítimo que não implica na inexistência de agentes satisfeitos com suas entidades. Muitas vezes o que é bom na capital não é no litoral, ou no interior… Os mercados são diferentes. E muitas vezes quem reclama não é associado. Portanto, repito, é preciso sim uma discussão ampla, de portas abertas, com transparência e o direito de cada um falar o que quiser e tirar dúvidas. Inclusive de as entidades mostrarem o que fazem, as dificuldades… Há muito presidente de entidade sério e que põe a mão na massa… Mas há os que não sabem conduzir a massa, vamos dizer assim. Discutamos, pois, antes de sairmos criando associação em cada esquina.
Hoje pela manhã a empresária Luiza Helena, que gera 24 mil empregos com o Magazine Luiza, disse em um evento no Blue Tree Faria Lima, que estamos vivendo o início de uma nova era, em que líderes, políticos, presidentes de empresas serão cobrados por sua postura ética. Queremos varrer os políticos sem ética para fora de nossas vidas e estamos começando a fazê-lo. A onda de busca pela ética, gerada pelo horror que os escândalos atuais nos causam, também vai cobrar duramente de empresários pouco transparentes, sem ética, sem responsabilidade social ou ambiental, sem engajamento com sua comunidade. Não dá mais para fugir: mudar é necessário.
Os argumentos do dono de uma agência do Rio também me assustaram. Segundo ele as OTAs, “que não cobram DU”, acabaram com seu negócio. OTA vende bilhete aéreo e hotel e cobra por isso. Não dá de graça. Sim, anuncia muito, tem capital, tem força e competitividade… Mas tem atuação bem clara. Se é para concorrer com o negócio delas é preciso ser OTA e não uma agência pequena, que deve encontrar seu espaço de acordo com as mudanças que começaram lá atrás… Duas décadas atrás pelo menos.
“São os tempos modernos e não temos como ir contra a modernidade”, lamentou o dono da AL Turismo. Uma frase que nos dá tristeza, pois é contra isso que lutamos: a falta de informação, de opções, oportunidades, de caminhos… A resignação de que não se é mais útil, quando o turismo está cheio de exemplos opostos.
Nos últimos dias, saí para encontros pessoais com empresas como Flytour Viagens, Gapnet, redes Nobile e Hplus, de Brasília, rede Blue Tree, Sebrae Nacional, Queensberry… só para citar algumas. Todas com projetos de investimentos em novidades, novos negócios, novas equipes, novo posicionamento… sim, houve um dever de casa que é obrigatório em época de crise, mas também a criação de um plano de combate à mesma. No Portal PANROTAS também temos noticiado as boas notícias e a força e resiliência do empresariado do turismo. Há crise, mas a vida continua e temos de aproveitar para limparmos as gavetas e também o pó de alguns conceitos que carregamos há anos.
Não se fechem ao diálogo. Estão dizendo que você está errado? Ouça, corrija, mostre, aceite… mas primeiro sente-se para conversar. A onda de ética e de transparência não será benevolente.
OK, falar demais não ajuda também. Então sendo prático: há uma discussão ampla e necessária que precisa ser liderada por quem achar que pode liderá-la. Acabou o tempo de reuniões a portas fechadas e decisões não debatidas. Vejam o Facebook, coloquem o rosto para fora da janela e sintam o vento soprando…
É NECESSÁRIO.
PS: Por fim, mais que verdades, quero, queremos provocar a tal discussão. De certa forma olho o negócio do turismo de fora, apesar de bem de perto. Há calos que doem nos pés de outros e não tenho como me colocar em seus lugares. Por isso, quanto mais argumentos essa discussão criar melhor para o setor, para o futuro, e para nossos futuros posts, reportagens, coberturas…
Pois é Artur, não entendo o discurso de “não temos como ir contra a modernidade”. A proposta nunca foi combatê-la. Os que não compreenderam, estão sofrendo. Também tento dar uma pitada de provocação em meus posts e o último não foi diferente (http://blog.panhoteis.com.br/penso-logo-marketing/index.php/2015/05/21/crise-no-turismo-ou-falta-de-inovacao/). Mas me parece que a discussão também é vista como uma ameaça, algo que irá expor fraquezas ou dar munição à concorrência. Enfim, mudar, inovar e pensar de maneira diferente pode doer na carne, mas é inevitável. E já estamos atrasados.
É a nossa realidade Artur. Infelizmente as ações que tomamos no dia a dia são vistas como provocações por certos segmentos, mas na verdade são adaptações a realidade que estar por vir.
Prezado Artur
O teu post esta super correto !! sobre a Mastercard,
logo apareceram reclamações “sem graça” e poucos se deram o trabalho de pesquisar quem estava por trás, pesquisando dava para perceber que tinha “alguem” e só podia ser ALGUEM com maiuscula !! e foi o que fiz, logo vi que era a Alatur/JTB, isso consta no proprio site da Mastercard.
Mais uma vez, parabens pelo post
Raul Sardon
Rio de Janeiro
Perfeito seu comentário !!
Tbm não concordo com o dono de agencia do Rio, desistindo por causa das OTAS, temos que lutar !!
Nós, aqui em Santos, entendemos justamente tudo isso, que é hora de discutir, colocar as cartas na mesa abertamente pois juntos, unidos, com certeza somos mais fortes e seremos respeitados.
Excelente texto Artur!!!
É interessante como em fases de crise a tendência de muitos é culpar a tecnologia, a inovação, a evolução. Sair da zona de conforto e reinventar-se é complicado, dolorido e nem todos conseguem.
O mercado de viagens está passando por uma crise de identidade já faz um tempo. Muita coisa mudou e a agilidade destas mudanças exigem decisões mais rápidas, viradas mais bruscas, mais ação e menos discurso. A fase de crise só intensifica o problema e exige que as alterações de rumo que já deveriam ser feitas há algum tempo, sejam feitas “a toque de caixa” e as vezes, tarde demais.
São muitos os exemplos de superação e de reinvenção. As agências hoje podem ser muito mais que antes. A mesma evolução que tira gente do mercado abre ótimas oportunidades, basta olhar, perguntar, pesquisar, aprender e fazer.
Porém reclamar e fazer mais do mesmo não adianta. A modernidade não exterminará as agências, pelo menos àquelas que aderirem aos novos tempos.
Caro Artur, muito boa a discussão!!!
Devia ser tema de debate de um evento só para isso!…
O problema também é que em muito evento os holofotes ou cegam, ou desviam o foco…rs
Mas vamos à luta!
Abraços
Gostei da idéia !!
Após nossa reunião amanhã com a AVIESP, podemos tentar viabilizar esse evento.
Ines boa tarde.
E uma materia produzida pelo Panrotas.
Foi a materia mais vista no ano passado entretanto ficou mais uma vez no vacuo.
Parabens pela iniciativa e me coloco a disposicao.
http://www.viagemcomvantagem.com.br/documentos/entrevista.pdf
[…] a discussão se faz necessária, participe do debate. Clique aqui, acesse o post na íntegra e […]