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DO SAL À SAUDADE – DIVAGAÇÕES

A saudade é um dos sentimentos que ajudam a impulsionar a indústria de viagens. Está com saudades da família? Pega um ônibus, um avião, dirija e mate essas saudades. Quer relembrar o gosto daquela comida especial naquele restaurantezinho? Voe para perto ou para longe, e leve alguém. Rever a cidade de infância? Lembrar com carinho de certas passagens da sua vida? Deixa a saudade de lado e embarque… é isso o que nos move.

Mas…de que você tem saudade?

Será que até das broncas do seu pai ou dos sábados de aula pela manhã?

Da Coca-cola (ela de novo) de um litro que era chamada de Coca família, pois dava para saciar a sede (sede?) de toda a família?

De quando a família eram 4, 5 ou 6?

Ou da semana passada, quando riu até sentir dores na barriga e as lágrimas escorrerem soltas pelas bochechas?

Você tem saudade da sua infância porque nela tomavam conta de você ou de quando se apaixonou e passou a cuidar daquele amor?

De que cheiros você tem saudade? O abraço da professora (perfume), a atriz se exercitando na coxia (cheiro de talco), o bolo saindo do forno e você louco para devorá-lo, a chuva chegando, a nuca doce esperando um beijo seu, a tinta fresca na parede do novo apartamento, o cheiro dos bebês? Todos os bebês do mundo…

De que você tem saudade?

Do que não existe mais ou do que ainda existe, mas não para você?

 Das horas de estudo para o teste do dia seguinte? Dos meses de paixão platônica que era intensa como se fosse carnal e esfumaçante? Das férias no calor do Norte? Das férias no frio do Sul? Das férias em casa, dormindo tarde e acordando mais tarde ainda?

Saudade das descobertas? Não deveria. Dessas, boas lembranças, pois, mesmo com essa idade, deveria ainda estar descobrindo. Aberto. Curiosamente aberto às descobertas.

Saudade do que já viveu, pois isso lhe dá segurança? Saudade do próximo amor? Saudade daquele beijo que você repetiu repetiu repetiu por tantas vezes?

Saudades de quem já morreu? Ou de quem se perdeu de você nesse mundo aqui mesmo? Nesse caso, dá um Google nele. Nunca se sabe. Descubra. No outro caso, feche os olhos e lembre. Ou acredite. Ou simplesmente aceite essa saudade que é para sempre.

Saudade do tempo perdido? Isso não pode. Saudade de mocinhos ou de bandidos? Toda saudade faz sentido?

Você tem saudades dos castigos e dos carinhos ou do contato físico? De tocar e ser tocado. Saudade da primeira versão das novelas? Saudade daquela rotina, pois hoje não há rotina alguma? Saudade ínfima ou saudade imensa? Saudadezinha ou SAUDADE?

Você sente falta ou saudade da juventude? Nem uma nem outra, espero. Mas saudade daquela ansiedade pela primeira vez, daqueles meses ou dias ou semanas em que isso era o mais importante, acho que sim.

Saudade de ilusões ou é melhor viver a realidade?

Você tem saudades? Quase nenhuma? Muitas? E como lida com elas? Com suspiros, meio sorrisos e perfis bloqueados em todas as redes sociais possíveis? Com o corpo aquecido ou sentindo um arrepio?

Como lida com sua saudade? Querendo correr para aquele tempo idílico? Mesmo sabendo que, se voltar, não será mais o que você é agora, fruto de tudo o que hoje lhe dá saudade? Fica aqui. E olha com carinho e aprendizado para esse passado saudoso. Ou o esqueça, deixando que ele apareça somente nos momentos de…saudade.

Você tem saudades e deixa o que passou no tempo certo (o passado) ou vive a expectativa de não ter mais saudades? De quê? Você tem saudades de amores ou de amigos? Do novo ou do antigo?

De seus filhos, pequenos e ainda em casa, dormindo, e você exausta no sofá, recebendo carinhos do seu marido (e vice e versa)? De quando tudo era melhor ou isso é apenas impressão falsa causada pelo distanciamento e pelo aumento da consciência, das experiências, da perda da inocência?

Saudade de ir ao cinema segunda-feira à tarde? Ou daquela tia que ia com você?

Dos latidos de todos os seus cães de estimação? Ou um substituiu o outro e só lhe aperta o peito o último?

De que saudade você gosta mais? E qual a que te parte o coração, mas não sai dele?

Amanhã você vai ter saudades do hoje?

Saudade e medo às vezes se confundem? É melhor olhar para trás a olhar de frente? E para frente? A saudade empurra ou puxa?

Por que só há saudade em nossa língua?

É melhor sentir  falta e matar a vontade? Ou ter saudade e saber que nunca mais haverá de…

Sinto saudades suas, deles, daqueles, de quando, de quanto tempo… Sinto saudades de pensar somente no agora. E saudade não é como a vontade, que se sacia, que dá e passa, que cobra um preço.

A saudade te toma. Ela faz parte. Ela é. E mesmo quando conseguimos matar as saudades, ela ainda está lá, percorrendo nossas veias, pensamentos e entrando e saindo com nossa respiração.

Qual o nome dessa saudade que te faz agora respirar mais pausada e profundamente (ou que te deixa ofegante e quase a chorar)? É de um tempo ou de um momento? Uma pessoa ou diversas que te rodeavam?

Todo mundo tem saudades ou há aqueles que conseguem passar sem ela toda uma vida? E isso seria algo a comemorar?

Eu tenho saudades de você, que tem vários nomes. Daquela Coca-Cola família sobre a mesa. Do toque da campainha. Daquelas gargalhadas. De cada grupo com que convivi e aos quais se juntarão tantos outros, tantos rostos, tantos gostos. De quem vai e volta. De estar sozinho e de ter muitos ao redor. Tenho saudades mas não quero voltar. Tenho saudades mas sei onde estou. E talvez queira rever. E é bom ter saudades. Só tem saudades quem teve.

É bom ter saudades e saber com elas o que fazer.

E você? Convive bem com as suas?

E tem saudade de quê?

De quando tudo parecia estar tão bem? De quando tudo era diferente? Diferente e distante?

Viva sua saudade. Como mais bem lhe fizer.

Pois saudade todo mundo tem. E em algum lugar, ou em algum tempo, saiba que há alguém com saudade de você.

Uma boa semana a todos.

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

Comentar

  • Parabéns Artur, realmente muito inspirador seu texto que nos faz viajar em nosso universo interior e refletir e recordar de nossa própria historia e vida.

  • Adorei… Fiquei até meio passada depois de ler. Mas não posso reclamar, aliás não podemos. Porque temos…

    Mas lembrei do filme Árvore da Vida, tão polêmico, do meu pai, do tempo que eu ficava apaixonada (e que espero que comece de novo) e até de Volta Redonda. Pensa bem.

    E me deu saudade de você…he he. Bjs

  • Disse Coelho Neto, “Saudade é a memória do coração”.
    Eu sinto saudades de mim. Eu com 05, eu com 15, eu com 18 anos.
    A cidade ainda está lá, o restaurante, provavelmente tambem. Mas a impressão, o paladar, não é o mesmo que da 1ª vez. Há sensações que não devem ser repetidas para não frustrá-las.
    Abraço grande

    • Cultura é outra coisa hein. Esse povo do sul… Mas saudades de lugares e coisas remetem a sensações, experiências, sentimentos…E isso todos querem reviver. Mesmo sendo impossível em muitos casos. Abs

  • Temos saudades pq temos memória, e isso é um presente que a natureza deu no atacado para nós humanos, presente este que nos permite reviver em pensamento todos os nosso melhores momentos. Lembra da velha marchinha: “recordar é viver, eu ontem sonhei com vc”. ? beijo

    • Darci como está aí em Fort Wayne? Vai se acostumar com esse primeiro mundo ruindo e quando voltar pro terceiro crescendo pode sentir um choque hein… Abraços e obrigado Artur PS beijos na Helozinha. Semana que vem estaremos em Vegas

      • Nao me parece que esta ruindo…e o choque que vou sentir, e o de sempre…da sujeira, da corrupcao, da violencia, da falta de educacao, da falta de respeito, dos precos absurdos…este mundo aqui vai ter que ruir MUITO ate chegar neste ponto…

        • Gostaria de saber se você ainda vive em Fort Wayne, pois estou curiosa para saber sobre essa cidade. Minha filha está prestes a morar aí e eu como toda mãe, sofro só de imaginar a falta que ela vai fazer e morro de preocupação. Se puder me ajudar falando um pouco da cidade, vou me sentir melhor. Obrigada.

  • Excelente texto. Saudade é um sentimento que pode ser visto de várias formas, pois como citado por você, ela pode ser de algo que poderá ser revivida ou algo que jamais acontecerá. Ontem quando li o texto, várias lembranças me vieram a mente. Das viagens que eu fazia com o meu pai, de quando eu morei sozinho (e sentia saudade de morar com minha mãe), de quem passou pela vida e não voltará mais (eu acho), enfim, de muitas coisas. Sensacional! =)

  • Minha saudade é crônica. Tenho saudade desde que tenho memória… Lembro de sentir saudades dos meus avôs, que moravam longe, com 3, 4 aninhos… E também vou usar uma citação, do Galeano, que diz que “a memória guarda o que vale a pena”. E, do que vale a pena, a gente sempre vai ter saudade. Tenho saudade até de vc, em dia de fechamento de suplemento diário da Abav… hehehehe… beijo,

    • Guardar o que vale a pena é essencial, mas infelizmente o que é ruim tb guardamos hahaha fechamento de Abav agora é pinto… punk é o Fórum PANROTAS. Mas é bom lembrar dos momentos engraçados e divertidos que passamos juntos. Agora com a internet quando bate saudade a gente manda uma mensagem cutucando (mas eu ainda não tenho Face…)…beijos e te esperamos na Abav…

  • Ao ler o post é impossível não lembrar de várias situações ou pessoas. A medida que vai descendo o cursor vai passando uma historinha na cabeça.
    Ontem mesmo quando cheguei na redação, você estava cantando uma música do Caetano, que me fez lembrar alguém, e a música parecia permanecer o dia todo na minha mente.
    Hoje de manhã, eu fui em um evento e reencontrei uma outra pessoa, que já me fez ter outras várias lembranças.
    Mas dessa vez sem derramar lágrimas (uhuuuuu), pois são saudades boas… “recordar é viver!”

  • Artur, deu saudade de estar aí com vocês, com aquele cafezinho passado em coador de pano..

    Sou uma pessoa em constante estado de saudades, de tudo que é bom e que está longe…

    A vida aqui em Fort Wayne é tão boa que não dá mesmo saudades de voltar….Não tem cerca, não te muro, não tem grade na janela, não precisa trancar o carro e nem ter medo de ser atropelada na faixa de pedestre…E ainda tem os melhores donuts do mundo ! Saudades do pão de queijo ? sim, muita ! Mas logo passa…

    Em Vegas ? que chique ! beijos e saudades !!!!

      • Of course….mandei prá mais de tres páginas, ao menos de fotos…Tu afinal vai a Las Vegas ? Rafael Villanueva disse que se alguém quiser me encontrar é só ir a Las Vegas….Bem que eu queria estar lá também. Ele tá preparando “altas” coisas prá imprensa. Uma delas eu vou morrer de inveja de quem for… ! Bjs

  • Tenho saudades de Você .De seus “como assim..?!?!?!”;da preparação para ter à mão todos os dados investigados nas entrevistas.Ótimas lembranças!
    Arrependimentos?Não ter servido baldes de Coca -Cola nessas ocasiões….
    beijos
    isa

  • Querido Arthur,
    Falando em saudades me veio a lembrança daquele tempo que nos encontrávamos na AVIESTUR, com o ROCHA vivo e voce com aquela alegria toda e eu com o teu chará, meu filho Arthur e fiquei com uma imensa saudades daqueles momentos e de voce.
    Parabéns pelo tema, pela cronica e pelo conteúdo.
    Amei!
    Saudades muita de voce, amigo Arthur.

    Vera Parodi – SJK

    • Pois é hein Vera…preciso voltar às feiras do interior… Mas é que é tudo tão igual que cansa às vezes né… E olha que são as mais profissionais hein. E como está meu xará? Tocando bem os negócios? Manda um abração. E um beijo pra vc. Artur

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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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