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EM UMA GALÁXIA NÃO MUITO DISTANTE…

Ou melhor… logo ali, no Maranhão. Quer dizer, logo ali também não, pois não é fácil assim chegar ao Maranhão. O destino é pouco conhecido, tem uma malha aérea frágil, uma imagem muito ligada à pobreza e ao clã Sarney… Não é um destino prioritário e daqueles que estão no imaginário do brasileiro ou do estrangeiro. OK, no de alguns com certeza está, mas bem longe de outros tantos ícones do Nordeste e ainda com imagem fragmentada. Tem os Lençóis Maranhenses (mas as dunas de Natal são mais famosas, para ficarmos em um exemplo), tem um centro histórico bonito (Recife e Salvador têm um patrimônio maior nesse campo), a cultura do reggae, o boi, a Alcione, que é da Mangueira e desfila todo ano no Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa, cheia de encantos mil. Não, voltemos ao Maranhão.

 

Não é fácil promover o Maranhão. Além da distância, da imagem fragmentada de atrativos, da infraestrutura que não se destaca nacionalmente… imagina-se que o Estado tem mais com o que se preocupar do que com… turismo. A indústria de viagens. Vamos primeiro cuidar do povo, da miséria, da violência, do coronelismo, da alfabetização, do saneamento… Pensamentos tortos.

 

Tortos, pois o mundo inteiro comprova a força da indústria de viagens e turismo para gerar riquezas, levar desenvolvimento, criar empregos, formar mão de obra qualificada, dar um horizonte a quem não tem, ajudar comunidades mais remotas, recolher impostos, aumentar a auto estima… E isso não significa transformar o maranhão em um destino de massa, asfaltar as dunas, mandar construir atrativos que desfigurem a cor local. Não. O Maranhão pode atrair o nicho que quiser. Ou quase. Desde que queira.

 

Opa, então investir no turismo do Maranhão é um bom caminho?

 

Parece-me, mas não vou afirmar batendo na mesa, pois estou distante e só acompanho o Maranhão pela imprensa e redes sociais, que há uma vontade política de fazer o maranhão dar certo turisticamente. Dinheiro? Não há. Mas quem sabe virá… E há iniciativa privada, quem sempre tapou os buracos dos governos na história do turismo.

 

O Maranhão já presidiu o Brasil, a Embratur, a Abav, o Skal e há tantos outros exemplos. Mas o que ficou para o Estado? Picuinhas políticas e uma mentalidade de ser oposição apenas por ser, ser Sarney ou não ser Sarney. Gostar ou não gostar.

 

O Maranhão me despertou a curiosidade esta semana, pois vi nas redes sociais (e na imprensa local) uma discussão sobre uma reportagem de seis páginas na revista Caras. Sim, aquela das celebridades, dos salões de cabeleireiros, das fotos belas e da publicidade camuflada. Mas que terá havido? A Caras colocou modelos seminuas nos Lençóis, incitando o turismo sexual? Não. O principal destaque da matéria era o roteiro para visitar os lugares históricos da Família Sarney? Também não. A questão dos presídios? Nem de perto.

 

Segundo a revista, a atriz global Leona Cavalli, que posou para a reportagem-visita, ganhou como homenagem da Secretaria de Turismo o batismo de uma lagoa com seu nome. Mas não são os Lençóis conhecidos pela mutação constante do cenário? Com dunas que andam e cobrem lagoas, e mudam a paisagem? Será que não venderam a Leona um “terreno na lua”? Não deixa de ser uma ideia interessante: o turista visita o atrativo e batiza uma lagoa. Com direito a foto e diploma. Se ele voltar e reconhecer a sua lagoa, ganha o direito de batizar uma duna. E por aí vai.

 

Bom, a secretária Delma Andrade negou a tal história do batismo da lagoa com o nome da atriz (mais ou menos conhecida) global, mas o trade e a imprensa da oposição ao governador comunista (que, em minha opinião, não fez um bom trabalho na Embratur, mas teve ótimo início no governo do Maranhão) não querem saber do desmentido. Vale o que está na Caras. E se Alcione e Zeca Baleiro não têm uma lagoa com seu nome, por que Leona vai ter? Mas cadê a certidão de nascimento da lagoa? Cadê a comemoração pela grande exposição de um destino que ainda não está pronto como deveria em uma revista que fala aos afluentes ou aos que gostariam muito de ser?

 

Falamos muito da falta de seriedade em políticos, falta de visão sobre o turismo… mas quando o trade local não ajuda, a coisa desanda do mesmo jeito. Ou não anda.

 

Levem todo o Brasil ao Maranhão e façam um batismo coletivo. Celebrem as belezas, o povo, o turismo. Tem lagoa pra todo mundo.

 

Guardem os preciosos tempos e espaços na imprensa, nas tribunas, nas rodinhas de formadores de opinião para o que interessa: resgatar e melhorar o Maranhão.

 

O turismo só poderá ajudar o Maranhão se governo e iniciativa privada falarem a mesma língua. Se houver cobranças dos dois lados. Com seriedade e investimentos.

 

O Maranhão está longe, bem longe, dos seus principais concorrentes no Nordeste. Mas não deveria. Por se tratar de um produto com características e atrativos ímpares, únicos. É preciso mudar também a mentalidade de quem faz esse turismo.

 

Não, a lagoa não tem o nome da atriz. Ponto. Assunto que merece uma linha. Tem algum outro tema que o Maranhão queira discutir ou promover para a indústria de viagens e turismo brasileira, que movimenta 114 milhões de passageiros aéreos, R$ 35 bilhões em venda de passagens aéreas, o nono PIB turístico do mundo, empregando cerca de nove milhões de pessoas?

 

Com a palavra, o turismo do Maranhão.

 

Ah sim… vendo terrenos na lua. Alguém se interessa?

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

Comentar

  • Caro colega do trade Artur.

    Sem me alongar muito, esse é a velha discussão de quanto é grande o potencial turistico que temos em todo o nosso País, e não exploramos. Ou, até queremos, mas não “conseguimos”. Atua como Guia de Turismo, na capital e estado de São Paulo a 26 anos e sei da falta de investimento e capacitação. Estive em São Luis mês passado, como turista.
    Tive um guiamento muito bom e até um serviço de receptivo bem feito. Mas o pessoal nos hotéis ainda carecem, e muito de capacitação. Sempre bato nessa tecla, pois é minha vivência e sempre fui observador no trato com pessoas. Gostei de seus comentários. Espero que alguém que possa e queira fazer algo veja o que postou. Sigamos em frente. Obrigado.

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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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