Dubai, Abu Dhabi e Doha, três das principais cidades do Oriente Médio, no cinturão do petróleo, berço dos lendários sheiks, são sede também de três grandes empresas aéreas. A Emirates, de Dubai, voa para o Brasil há cerca de cinco anos, a Qatar, de Doha, há cerca de dois e a Etihad, de Abu Dhabi, estreia em junho próximo. A competição entre elas é similar à dos destinos. São cidades cujo ponto forte é a infraestrutura e a hospitalidade. Aeroportos magníficos e modernos para frotas não menos espetaculares; hotéis que vão dos palácios ao luxo moderno; portos para receber grandes transatlânticos; construções que são marcos mundiais, como o Burj Al Arab, de Dubai, o Museu Islâmico, de Doha, e a Grande Mesquita (Sheikh Zayed Mosque), de Abu Dhabi; shoppings com as melhores marcas do mundo; marinas de luxo; safáris no deserto… tudo isso com o toque da cultura árabe e da religião muçulmana, que impedem que a região vire uma Las Vegas, com jogo, bebida e sensualidade. O que é um diferencial, pois são destinos que atraem muitas famílias.
São também destinos complementares a outros, do ponto de vista do turismo. Para quem vai à Ásia, ótimas paradas para a viagem longa e há incentivos para quem para uma ou duas noites nesses destinos. Também têm ótimas conexões para a região do Oriente Médio, África… e até Europa. Eu mesmo vim para Abu Dhabi em um voo da Etihad partindo de Londres (apenas seis horas e dez minutos de voo).
Para incentivos e eventos, são destinos finais. Estrutura, atrações, experiências únicas e condições atraentes. Preços competitivos. Vontade de receber.
Das três cidades não conheço Dubai. Só estive lá por uma noite, em conexão para a África do Sul, durante a Copa de 2010, já que a Emirates é patrocinadora do evento. E já voei com as três empresas: quatro voos com a Emirates (Brasil-Dubai-Johanesburgo);
quatro com a Qatar (Brasil-Doha-Pequim); e apenas um com a Etihad (Londres-Abu Dhabi).
A comparação está injusta, portanto, com a Etihad, pois experimentei apenas um voo e de menor duração. Mas já dá para ver bem a identidade de cada uma. Mas… há uma melhor?
Com tantas viagens que já fiz a trabalho e em férias, por necessidade ou por querer fazê-las, tenho a convicção que, no geral, uma viagem aérea depende muito de sorte. Se o tempo estará bom na rota, se as funcionalidades da poltrona funcionarão, se a comida estará boa naquele voo, se vai haver atraso, se a aeronave é nova ou velha, se o aeroporto é bom… principalmente se a tripulação for simpática, atenciosa, interessada em tornar a viagem uma boa experiência para quem está ali com eles – nós os passageiros. Uma das mais recentes viagens que fiz foi, em português popular, “em um 767 antigo da Tam, na classe econômica, com poltronas de uma geração anterior e saindo do Galeão, que considero o pior aeroporto do Brasil”. Ou seja, tinha tudo para ser uma catástrofe. Mas como cheguei em cima da hora, passei correndo pelo Galeão (mas continua péssimo – não tinha área de conexão, o passageiro tem de desembarcar e reembarcar para o voo internacional) e nem senti tanto as mazelas de GIG. Já o voo… pois a poltrona era melhor que eu esperava (não sei como, mas até cruzei as pernas), a comida estava boa (eu só pulo o café da manhã, detestável em qualquer econômica), os dois comissários que serviam minha ala eram simpaticíssimos e eu dormi boa parte do voo. Foi, portanto, uma boa
experiência. Não tive do que reclamar, a não ser que era sim um avião velho (sem entretenimento individual). Mas já peguei uma econômica da Lufthansa que foi um horror, em avião bem mais moderno. Enfim… cada caso é um caso.
Mesmo nas classes executivas da vida, pode-se pegar uma aerovelha brava (com todo o respeito), um comissário afetado e de mau humor (como são comuns…) ou poltronas que simplesmente emperram no meio do caminho. Uma vez, na fila da executiva da Air France, a única atendente levantou-se e foi embora, pois seu turno havia acabado. Ficamos esperando o turno seguinte entrar. Na sala vip da United em Washington, a atendente disse: quem quiser pegar o último drinque é agora, pois vamos fechar a sala. O voo estava uma hora atrasado, mas não era problema dele.
Ou seja, se tudo der certo, será um milagre, pois um voo inclui o relacionamento com funcionários e vizinhos, com atendentes de solo… não tem como ser perfeito. Mais ou menos como na Imigração americana. Hoje em dia voar tem a ver com “vamos ter algum tipo de dor de cabeça”. Os mais experientes levam vantagem, pois sabem evitá-la (a dor de cabeça) ou absorvê-la melhor. “Faz parte”, sabemos.
Porém, depois de ter voado de Emirates, Qatar e Etihad posso dizer sem susto que é quase impossível ter uma experiência ruim em qualquer uma delas. Enquanto as outras companhias seguem a linha da economia, de ver um passageiro como um número e de se garantir em rotas corporativas, essas três sabem que o encantamento do cliente começa e termina a bordo. São empresas que têm donos (os sheikhs que presidem seus países) e que estão intimamente ligadas com o projeto estratégico de cada nação. São as clássicas empresas de bandeira. Elas levam a cultura do país pelo mundo.
O que mais me impressionou nessa única experiência na Etihad foram os equipamentos. Em Londres, a sala vip tem spa gratuito para os clientes; duchas bem equipadas; comida bufê e à la carte e funcionários fora de série. Estou curioso para ver a sala aqui de Abu Dhabi, pois a da Emirates, em Dubai, e a da Qatar, em Doha, são excepcionais, com uma pequena vantagem para a Emirates, pela estrutura e variedade. Os aeroportos se equivalem, com terminais para as classes executivas e primeira, muito espaço e uma imigração relativamente rápida (vantagem até agora para Abu Dhabi nesse quesito).
A bordo, a poltrona da executiva da Etihad é showcase. Diferente, moderna, com design diferenciado (a bandeja da refeição, por exemplo, fica presa de um lado e é só baixá-la, sem precisar de um manual para abri-la, como em algumas empresas), e conforto absoluto. Edredom com estampa moderna, amenidades práticas (a comissária traz uma bandeja e você se serve das amenidades), entretenimento farto, tela grande, compras a bordo com muitas opções e bons preços, internet disponível (não testei), sistema de interfone entre poltronas…
A comida, excelente. Lembro que minhas melhores experiências a bordo haviam sido com a Emirates e a Qatar (e acho que tenho certo saudosismo em relação à comida da Varig, que era muito boa, com gostinho verde e amarelo), e a Etihad se junta à lista com louvor. Tudo o que pedi parecia feito na hora, fresco. O serviço foi um pouco demorado, mas isso se deve ao fato de o sistema permitir que cada passageiro peça a refeição a qualquer hora. Pode ser. Mas vou conferir no voo de volta. A qualidade, porém, era de restaurante. A variedade também. As três se equivalem nesse quesito, acredito. Mas a poltrona showcase da Etihad me conquistou, com a da Qatar logo atrás. Claro que a cabine da primeira classe da Emirates continua sendo o produto mais desejado do mercado… mas essa só o Goiaci experimentou.
O serviço é o diferencial das três empresas e repito: duvido que alguém vá se espantar e ter uma experiência ruim em qualquer uma delas. A Emirates, mais conhecida no Brasil, por estar há mais tempo e pelo trabalho que Dubai fez no país e no mundo, eu classificaria como uma empresa que mescla bem o moderno e o tradicional, com mais ênfase para o tradicional. É a famosa empresa completa.
Na Qatar, a sofisticação fala mais alto. Foi onde vi a maior consistência na qualidade de serviço, tanto voando como em terra. É para aqueles que prezam o serviço acima de tudo (repito, serviço que é muito bom em todas as três). E tem as melhores amenities, para mim – até pijama os passageiros recebem na executiva.
E o pouco que vi da Etihad me mostrou uma empresa que se conecta com o novo viajante, mais jovem, mas com dinheiro e bom gosto. Mais tecnológica e showcase, acho que vai surpreender os passageiros. Tem um produto bastante novo e diferenciado.
Qual escolher? Depende dos destinos que vai visitar, de onde quer parar no meio do caminho, do objetivo da viagem, das conexões… O preço cobrado valerá cada centavo em qualquer uma das três. É simplesmente incrível que um território tão pequeno tenha três empresas desse porte e com essa qualidade.
A chegada da Etihad vai ser muito boa também para a Qatar e a Emirates, que terão de destacar ainda mais seus diferenciais e de suas nações. Serviço, frota moderna, destino com infraestrutura e atrativos e uma malha abrangente, todas elas têm.
E vamos ver como vai ser a festa de chegada da Etihad no Brasil… Por enquanto, a festa mais memorável foi da Emirates… #ficadica
A classe econômica da Etihad
Viagem a convite da WTTC, Tap e Etihad, com proteção GTA
Oi Artur, tudo bom?
Ótimo post! E sempre bom ter esse tipo de concorrência, que eleva o nível da disputa entre as áreas que por aqui passam. Recentemente tive a oportunidade de ir a Paris e o avião da ida era tão velho, que ao decolar, após quase uma hora de atraso na conexão no Galeão, parecia que se desmancharia, tamanho era o barulho das partes internas se retorcendo. Deu medo!
Porém, queria escrever mesmo sobre esse investimento feito por essas cias aéreas que voam para a região dos Emirados Árabes, como você bem disse, promovendo junto o destino. Eu vi notícia que a partir do meio do ano, o todo poderoso time do Barcelona estampará pela primeira vez em sua história a marca de uma empresa em sua camiseta. E a escolhida foi a Qatar Airways.
Então pergunto a você, que conhece tão bem esse mercado: quantas vezes se viu as cias aéreas brasileiras investindo nesses tipos de ações? Será que esse tipo de ação não traz benefícios? E não precisamos pensar em destinos de longa distância. Temos cinco times brasileiros disputando a Taça Libertadores da América, viajando por toda a América Latina e nenhum deles leva a marca das cias aéreas brasileiras que voam para a grande maioria dos locais em que esses times jogam. Será que esse investimento não vale a pena? Enfim…
ps: lembrando que a Emirates também já investe nesse tipo de ação a algum tempo, junto ao time do Arsenal, de Londres, dando inclusive nome ao estádio do clube inglês, o Emirates Stadium.
Grande abraço
Voces precisam fazer comparacao é com a classe Y (economica)
Procuro muita informação sobre a econômica também, porque se para quem paga pouco, o tratamento for satisfatório ou quem sabe excelente, imagina para as outras classes? Mesmo assim, obrigada pelo post. Estou indo para o Japão com a Emirates em agosto.