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ENVELHEÇO NA CIDADE

Sei que estou um pouco ou um tanto mais velho quando vejo minhas prioridades mudarem. Coisas que me irritavam tanto, ou que eu queria tanto tanto… hoje me são indiferentes. A gente vai aprendendo ou ficando mais velho? Ficar mais velho é esquecer superficialidades ou abusar delas? Não sei. Mas as prioridades mudam sim. Será que voltam?

Uma vantagem que tenho é que nada (NADA) me assusta. Ou me choca. Quer dizer, a violência sim. Essa eternamente vai me… violentar. Falo da violência física, covarde… Pois com olhares, pensamentos e… palavras, até eu sou “violento” quando atiçado.

Mas nem isso mais talvez…

Continuo não tolerando malandragem, aqueles que tentam dar voltas, que se camuflam, que se perfumam e, ao final, são descobertos, pois fedem.

Se que estou um pouco mais velho quando só observo os mais jovens. Continuam inocentes, continuam eternos, continuam ávidos por independência. E posso optar por me juntar ou não a eles. Não entendo a música deles, mas com algumas até danço. E o cabelo? Fico achando que o meu o boi lambeu. Tento falar igual, mas eles não falam… eles mandam sms. Please, text me.

Tô ficando velho. Ou cansado? Ou intolerante? Acho que não… É uma questão de prioridades, cenários…

E são fatores externos que nos dizem:  você está velho. Pois aqui dentro, salvo exceções, continuamos jovens. Ou achando que somos. Mesmo já sabendo que não tão eternos. É  a barriga que nos lembra da nossa “velhice” ou do tempo avançando (adianta malhar? Ficarei mais jovem? Talvez mais saudável). E ainda a internet, os ídolos cheios de botox e plásticas (e os poucos ainda com rugas),  os recordes de ida a um mesmo evento, a opinião com a qual ninguém mais concorda (“mas é um filme tão bom”, pensamos, sabendo que a indústria de Hollywood hoje é feita para os teens e que esse filme tão bom , “de arte”, é coisa de “velho”), os cabelos ralos…

Mas o mundo também é meu. E a setorização (por gerações, por classes sociais, por torcedores do mesmo time, por carnívoros e vegetarianos, por opção sexual, por sorteio…) ajuda a nos sentirmos ainda em nosso mundo.

Lembra da tia que sempre pediu para você ajustar o vídeo-cassete dela? Hoje em dia, é só pedir para um garoto te ensinar o caminho no mundo virtual e depois nem precisamos mais dele. É só navegar. E no próximo lançamento, idem… O importante é não ter de aderir a tudo para se sentir jovem e parte de um todo que não existe mais. Hoje o mundo é feito de vários todos. Vários mundinhos que se conectam, se veem, se rejeitam, se esbarram, se apreciam, se namoram, se separam… e que formam o todo.

Saudosismo não tenho. Nunca tive, Mas há uma tendência “fdp” de vermos os tempos passados sem seus defeitos… A infância, então, vira um paraíso. A não ser que haja um trauma envolvido, os problemas de hoje são muito maiores que os de ontem, que foram até piores, mas nem lembramos. Passamos por eles. Envelhecemos. E eles também.

Quando temos 18 pensamos: será que vamos conseguir sustentar uma família? Quando vemos… os netos nos trazem presente no Natal. E há os velhos que nem visita recebem… mas isso é outra história.

Há quem não goste da palavra “velho”, mas há “velho” e “velho”. Uma pessoa com mais idade é mais velha. Nem vou entrar no mérito dos livros de auto-ajuda (que chamo de não ajuda ou me engana que eu gosto), com aquela história de que idade a que se sente ou que a mente blá blá blá.

O mundo se encarrega de mostrar que está diferente e que nós envelhecemos. É natural. Alguns se adaptam melhor ou pior ao “novo mundo” e a tecnologia e a medicina, mais que nunca, mostram que há “mundo” ou “mundos” para todos.

Idade na maioria das vezes não importa. Mas é sempre bom tê-la em mente. E depois decidir o que fazer. Escolher. Eu tenho escolhido mudar prioridades. Não conceitos e aquilo que admiro (seriedade, qualidade no que se faz, senso de justiça), mas nas medidas movidas pela ira, por exemplo. Difícil estar há 20 anos em uma empresa, por exemplo, e continuar gostando do que se faz. Um dos motivos é fazer coisas diferentes, saber envelhecer. Sempre arriscar. Fazer o que nunca foi feito, pois o mundo é outro… E quando chegam as reclamações (que não envelhecem), atenda… A maioria se contenta com muito pouco. E no meu trabalho, quem decide é audiência, quem julga são os outros.

Eu observo. Algo que nunca mudou. Um voyeurismo de atitudes, vaidades, jogadas, cartadas e também da rotina fascinante do ser humano.

Tô ficando velho. Mas de olho em todas as gerações. Mente aberta. Corpo tentando acompanhar. Pensamentos que flutuam dentro de mim. E que uma hora se materializam. Já velhos, porém… Tempos modernos. Velhos tempos.

Ah sim, cada um envelhece de forma diferente. E isso torna tudo mais difícil, fascinante e… superficial. E amanhã posso acordar mal humorado e pensar tudo diferente… Ou esquecer tudo. Ou confundir passado e presente em minha mente… Aos 43? Sim, desde que nascemos.

BOM DIA!!!!!!

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

Comentar

  • Artur,
    Inspirador! O fato de ser ou não velho é estado do espirito, aceitar a natureza das coisas, é envelhecer, e é, ser jovem a mais tempo, mais experiente, e as prioridades dobradas pela sabedoria.
    Tem-se a vantagens de viver experiencias que nunca serão vividas no tempo de cada ser, os paradigmas são superados pelos novos, mas quebra-los nunca, é somente uma adaptação para que a vida continue.
    Vivamos sem comparações, pois o que mais buscamos é a felicidade, e esta, está contida em contribuir na felicidade do próximo, que com a sua gratidão, nos dá energia para contemplar o novo, e contribuir novamente.
    Abraços,
    Carlos Pereira

  • Arthur,

    Adorei o seu post! Me identifiquei muito com suas palavras!
    Sempre achei que com a idade a minha paciencia iria aumentar, mas descobri que nao…rs!

    Realmente, as prioridades mudam, ainda bem!
    Bjs
    Milena

  • Declaradamente suspeita, amei!
    Algumas coisas o tempo não muda na gente: ética, caráter e personalidade. E zero dúvida de que o tempo nos celebra com inteligência emocional para pontuar apenas os fatos relevantes e relevar os irrelevantes.
    Sexta-feira, feriado e as quadras das escolas começando a ferver 😉
    Já ouviu Salgueirense?
    bjo

  • Muito bom…

    Poétco e verdadeiro….Você já pensou em envelhecer fora da cidade…???…Entre cidades…???
    Moro em Caxambu…Mantiqueira Mineira …Logísticamente perfeito… entre SP e RJ…Águas curativas…Bosque….Fazer tudo o que se precisa em 10 m…Banco…Super…comprinhas..café…bate papo…Atuo nos 2 centros mas….Com Internet…A janela para o mundo…pode-se trabalhar em casa…Até você…em qq lugar pode escrever seus artigos, ir aos eventos, etc…e quando quiser usufruir o que a cidade oferece vá até ela….
    Na verdade envelhecer significa que já fizemos muito do que planejamos e talvez não precisemos mais de tantas novidades…tantos amigos…tantos amores….Zona de conforto…Escolher melhor o que nos agrada…nos afastar das chatices…E aproveitar o que a vida tem de melhor já que agora, na maior parte das vezes,já aprendemos a escolher o que nos deixa felizes e satisfeitos.

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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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