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EU TE ACUSO

Quem que fazer parte da lista negra do turismo?

 

Quando a dor é no bolso, no banco, na carteira… perde-se a razão. É como se estivéssemos frente a frente com o assaltante que roubou um familiar, com o assassino de um parente, um golpista setorial, um estuprador, alguém que lhe fez muito mal… O desejo imediato é vingança e se formos procurar justificativa, está na história, está na Bíblia, nem ter de ter explicação. É o sentimento, as emoções, o instinto falando mais alto. E há de se dar razão ao emocional.

 

Os agentes de viagens que têm de pagar a conta deixada pela Nascimento Turismo passam por essa revolta atualmente. Com razão. Como outros ou os mesmos players já passaram no fechamento da Varig, da Soletur, Pluna, Pan Am, Calcos, Luxtravel, Mundirama, Ati, Transabrasil, Vasp… Lembro que na quebra aos pouquinhos da Transbrasil de repente pararam de voar para Portugal e a jornalista Izabel Reigada voltou com ajuda da Tap. E o Alex Souza comprou um cartão pré-pago de um daqueles bancos pequenos e ele fechou durante a viagem… Se aparecesse na frente… a vontade era “matar”, já que vivemos em um País e um setor com poucas regras.

 

Não é papel de uma entidade mostrar a saúde financeira de seus associados. Tem outros papeis, este não. É papel, por exemplo, suspender os mesmos caso não paguem mensalidade, caso se saiba que estão bambeando… Basta conversar e o conselho decide pelo afastamento, com apoio e sem alarde. Creiam que o nome da Nascimento ainda consta do quadro de associados da Braztoa no site da entidade. Um erro, claro. Mas quem quiser informação sobre um ou outro fornecedor que puxe as certidões necessárias. Há quem as exponha antecipadamente, mas são informações acessíveis, como é para uma agência ver se um passageiro tem problemas no Serasa, na polícia, na vara da família… Não são informações sigilosas.

 

Mas como a Abav faria para exibir, aos consumidores, as certidões de suas 3,4 mil associadas? Quem atualizaria isso? E quem não for associado a qualquer entidade? Precisa apresentar ao cliente declaração de que não tem antecedentes criminais, de que não deve no açougue e está em dia com as mensalidades? E se a prestação do apartamento atrasou? Declara ou não ao cliente? Que tipo de dívida cada um tem? Se eu compro um carro em 24 vezes eu devo ou não?

 

Conversando com os consolidadores, eles têm notado aumento no atraso de pagamento por parte das agências e também da inadimplência. No primeiro caso, o agente atrasa um, dois, cinco dias mas paga. Há uma relação de confiança no setor. No segundo, acumula dívida pro próximo relatório. E há casos de agência pagando consolidadores com bens materiais, imóveis… Uma das ideias da AirTkt é exatamente criar esse banco de maus pagadores (ou de bons pagadores, fazendo o caminho inverso). Será que o mercado absorveria bem uma iniciativa dessa, como já faz o Serasa com QUALQUER cidadão, queira ele ou não?

 

Qual seria o critério? A agência atrasou um dia, entra na lista? Ou seriam cinco? Um relatório de atraso? Dois? O que é pior? Dever R$ 5 mil de impostos ou R$ 50 mil a um fornecedor? E se o cheque do cliente volta? Que tal um banco de maus clientes?

 

A situação é difícil para todos os envolvidos e quem deve sempre tem uma explicação, garante que vai pagar… e se pagar? Merece indenização por ter entrado numa black list que qualquer passageiro pode acessar?

 

Uma solução mais prática seria o seguro contra a não prestação de serviços. Ou a mudança na lei que coloca a agência como responsável solidariamente… É injusto, se pensarmos que o fornecedor é o culpado ou responsável pelo serviço, mas também justo pois a quem o passageiro recorrerá? Imagine a Casas Bahia não querendo trocar uma geladeira com defeito? “Fale com o fornecedor…”. No caso das empresas aéreas a justiça já entendeu que a responsabilidade é da companhia, mas há aberrações vez ou outra, em que operadores e agências são penalizados. E clientes usando má fé (o mesmo para fornecedores) há em qualquer setor. É o ser humano mau por natureza ou o meio o corrompe? Ou é a necessidade que faz o sapo pular e o homem picaretar?

 

As agressões que temos visto nas redes sociais e até no Portal PANROTAS não levam a lugar algum. Muitas vezes dormimos com o inimigo e acordamos esquartejados em uma mala. Ou melhor, não acordamos… A questão da confiança e do relacionamento continua fundamental no setor. E o risco é para todos. As entidades devem sim aconselhar seus associados, recomendar caminhos e até o afastamento… Mas não podem apontar o dedo, ou o turismo vai virar uma central de denúncias e o consumidor vai buscar cada vez mais a internet, a compra direta, as grandes marcas.

 

O papel das entidades merece e deve ser discutido. Sou um dos maiores críticos e vemos exemplos no Exterior de entidades que mudaram a forma de agir e existir e são fortes e respeitadas. Há muito oba oba no turismo para pouco resultado setorial, mas a cobrança deve vir de quem participa, de quem não tem telhado de vidro (existe isso?), de quem faz parte e não apenas critica… sem saber o que está envolvido. Apontar dedo é fácil, mas e colaborar com soluções? A solução é uma black list de operadoras? E outra de agências? E outra de free lancers, companhias aéreas, locadoras, hotéis… Se alguém queria assustar o passageiro, já o fez.

 

Conhecer o mercado é fundamental. Essa é a arma de todos. Uma empresa que perde condições com as companhias aéreas ou grandes brokers (e não são informações difíceis de descobrir), que age de repente de forma diferente no mercado, sem explicação, estratégia ou coerência, que fecha bases de uma hora para outra… São muitos sinais. O turismo também caminha para uma profissionalização, que inclui pagar impostos, cobrar de forma organizada dos governos e entidades, ser mais transparente… Ir a eventos que interessam, ter ações abertas na bolsa, comprar concorrentes, ser multimarca… Vale para grandes e pequenos ser profissional.

 

O case Nascimento, mais que qualquer outro, é um aprendizado. Por incrível que pareça pegou muitos de surpresa. E num volume muito grande. O risco vai continuar existindo e se o setor partir para a criação de black lists, uma das consequências será a concentração de empresas. Poucas operadoras, poucas agências, poucos profissionais independentes, pouca intermediação… Não que o problema não possa se repetir on-line, mas para o cliente, com esse susto que pode ser a caça às bruxas, será uma alternativa fácil. Uma black list também renderia processos, injustiças… A fofoca oficializada em alguns casos.

 

Ninguém pode ser contra boatos, pois boato e fofoca são apenas para entreter quem não tem o que fazer. Todo gay acha que todo mundo é gay, todo adúltero acha que todo mundo pega todo mundo, todo ladrão o faz porque outros também fazem… Precisamos de ordem, profissionalismo, líderes e empresas sérias, responsabilidade e ética (e infelizmente o exemplo não vem de Brasília)… De que me interessa a vida sexual das focas ou o ataque de macacos bugios ao ninho das ararinhas azuis?

 

Exija o que for necessário para proteger o seu negócio. Exija seriedade e transparência. Não é errado investigar uma empresa ou pedir garantias (para alugar um imóvel não precisamos de fiador?), não tenha medo de pesquisar, consultar (educada e civilizadamente), perguntar (não ofende, né…). Mas esteja pronto para ser exigido também. Ninguém quer o prejuízo do outro.

 

Que o turismo caminhe para o profissionalismo e a maturidade. E que os arroubos sejam apenas de amor. Até que a dor atinja novamente o bolso… É do ser humano… Dói mais que muitas outras dores… E o remédio é sempre amargo.

 

 

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

Comentar

  • Bom dia Artur

    Obrigada pelo post. Medidas de controle podem existir, mas não acredito que haja interesse por parte do Estado ou ainda do mercado em instaura-las.
    No Canada, além da necessidade de uma licença outorgada pelo governo, todos os fundos dos clientes são depositados em conta de “Fiducie” pelo T.O, até que um balaço prove que os fornecedores foram pagos e assim o T.O. pode transferir seus benefícios para uma conta corrente. Não se mistura pagamento de cliente com liquidez financeira.
    Já na França o site societé.com oferece dados financeiros de cada empresa existente no país. Os balanços são obrigatoriamente publicados, assim como cada mudança efetuada na empresa. Um método bastante transparente e eficaz.
    Quem vai querer??

    PS: Fiducie seria *fideicomisso?

  • Oi Artur….você realmente abordou um assunto bem importante ….

    bem quem não deve não teme….minha empresa sempre foi aberta pra tudo mundo….os dados das empresas não são segredos e só puxar e ver ….

    a Solução e o nosso setor se organizar parar de trabalhar com margens insustentáveis , agencia vivendo com 10% , consolidadora se matando por 4% isso não tem muito futuro ….já falei isso varias vezes…. tem que trabalhar correto , saudável , não e feio você não vender muito….porem e feio demais você acabar com sonho de um ser humano que juntou sua vida toda pra ir ver um pais …. já recebi cliente chorando na minha empresa causa dessas empresas quebrando ….

    as pessoas precisam saber …. que não e fácil sustentar uma empresa…. que você sempre precisa calcular o momento ruim ….que não e todos os dias mil maravilha …e a pior coisa …pior coisa …que você nunca mais jamais deve fazer…..e colocar o sonho de um ser humano em risco ….

    sobre a Braztoa ….não adianta eles ficar exigindo um monte pra quem quer entrar enquanto os alguns dos próprios associados ate da diretoria estão mal das pernas e defamando o nome da associação ….

    não vamos ficar apontando o dedo ….estamos aqui pra ajudar ….me coloco a disposição 🙂

  • Boa tarde!

    Quando uma agência quer se cadastrar para vender de algum fornecedor, geralmente é pedido uma ficha cadastral que é seriamente analisada e muitas vezes algumas garantias para crédito.

    O contrário não existe, a agência preciso confiar no seu fornecedor pelo simples fato dele ser conhecido no mercado, se quiser informações que vá atrás por conta própria e seguir seus instintos.

    Não acho errado que essa lógica possa mudar e as agências também possam exigir mais garantias e informações para vender de um fornecedor, Não são aventureiros e novas operadoras que estão saindo do mercado, são empresas renomadas e em quem todos confiávamos, isso nos deixa apreensivos e desconfiados.

    A relação de confiança é importante pois sem essa confiança não supera uma crise ou uma dificuldade mas acho que é preciso haver mais transparência.

    Amigos amigos, negócios a parte.

    Abraços,

    Abrs

    • Oi Pablo, você está certo. Tem que pedir garantias e investigar a vida financeira de fornecedores sim.
      O meu questionamento é em relação a uma possível lista de agências que atrasam pagamento ou não pagam consolidadores e outros fornecedores… Tipo um Serasa do Turismo. Que pode gerar um Serasa de fornecedores. Mas isso será suficiente? Aquela história, uma empresa pode estar no Serasa por uma conta atrasada ou estar com impostos atrasados, mas sem dívidas com fornecedores e o contrário também.
      Reafirmo que o episódio Nascimento foi traumático e haverá mais pressão por parte de todos, incluindo empresas aéreas exigindo mais garantias das operadoras, o mesmo para brokers hoteleiros… Ninguém pode prever quando uma empresa vai quebrar, claro, mas o mercado está meio apavorado e vejo apertos (em relação a garantias) de todos os lados…
      Uma fase? Pode ser. Mas que sirva para profissionalizar ainda mais o setor e proteger pequenos e médios empresários.
      Abraços e obrigado pelo comentário
      ARTUR

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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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