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Dia a dia

Futurismos

Eu prevejo medo.

E também saudades daqueles tempos… que a memória ajudou a criar e aperfeiçoar. Nem lembramos das imperfeiçõezinhas. Mas temos saúdes patéticas. Esqueçamos isso.

Eu prevejo que cada um agarrará a ideia de futuro que mais se aproxime das conquistas de hoje. E há os que morrerão abraçados a elas. Agarrados como lagartixas esmagadas contra a parede. Poético…patético. É assim mesmo. Esqueçamos isso.

Eu prevejo futuristas ganhando dinheiro para dizer que mudanças virão e como isso aconteceu com os dinossauros. Mas eles não estarão aqui para tirarmos tudo a limpo. Nem nós.

Mas não vejo qualquer um deles (qualquer um mesmo – do pastor ao Harvard man) falando de como nós humanos não mudaremos. Não evoluiremos em emoções, ações para não nos destruirmos, julgamentos isentos, melhor divisão para a salvação do planeta. Continuaremos nos dividindo entre o amor e o ódio.

Um futurista me chamou atenção que dois bilhões de pessoas ainda não têm uma fonte de energia elétrica sustentável e sustentada. Vivem nas trevas? Talvez sim, talvez não. Mas há um futuro que não chegou até eles. Isso é tecnologia? Não. Apenas a maldade que toma o coração dos homens. Isso é vista grossa. Isso é política suja. Isso é a elite se lixando para a África. Isso sou eu digitando palavras tolas em meu notebook last generation. E anda beberico algo. Patético.

Eu prevejo um futuro como no filme Ela. E o futuro depois do futuro (ou da morte) como Star Wars. A luta do bem contra o mal. O lado negro da força mostrará de vez a sua cara. Quem estará atrás da máscara?

Eu prevejo mais pessoas carentes e nada que a tecnologia possa fazer. Assim, novos tipos de relação nascerão, até que entremos, nós, os que nascemos nesse mundo de transição (onde todos são futuristas e têm razão), entremos para a história – talvez mereçamos uma nota de rodapé, um parágrafo ou o papel de Judas de nossa era. Traímos a nós mesmos para a história seguir adiante. E nada de julgar as novas relações. Não a entenderemos, não a vivenciaremos. E esperamos que nenhum de vocês passe dos 100. Ou terão dificuldades em apenas respirar.

Consigo prever sorrisos constrangidos, de canto de boca… A liberdade de se trancar em si mesmo e, mesmo assim, ser devassado e julgado… talvez linchado. E a liberdade de mudar? De resistir? Mais uma parágrafo para a história do fim daquilo que conhecemos e acreditamos ser o melhor. Melhor para quem, Bozo? Tira essa peruca vermelha ridícula e pare de julgar quem só quer ser aceito. E sobreviver ao que fizemos com nossa era.

Prevejo amor e ódio extremos. Punhaladas e palavras daninhas. Roubo e violações de direitos. Não importa a plataforma. Não importa se ninguém dirige o carro. Não importa que eu tenha um chip um milhão de vezes mais poderoso no lugar do cérebro. Ainda teremos coração – e não é sempre boa notícia que de lá vem. Tentaremos e clamaremos por vingança…

… talvez tarde demais. Pois os com chips no lugar do coração (sim, as máquinas, como nos filmes de science fiction) nos dominarão e exterminarão. E talvez nem se deem ao trabalho de ler nossos pés de página. (a boa notícia? A aniquilação dos políticos, que levam metade da culpa desse presente irregular).

São extraterrestres os robôs que nos esmagarão?

Todos os nossos deuses um dia foram astronautas de planetas em extinção?

Quem irá prever o futuro do mapa do coração humano? E o futuro do beijo? Os futuristas conseguem prever? Ou nem mesmo se lembram do que é isso e chegam a ter asco dos lábios molhados e eletromagnéticos… nos atraindo como para-raios, como brigadeiro ainda quente na panela, como aquela manhã que idealizamos agora que estamos perto do fim.

Eu prevejo o fim do beijo. Como o conhecemos hoje. E que sejam muito felizes os que inventarem a nova forma de “beijar”. Enquanto isso, beijemos muito.

A nós, aqui nessa transição, nessa ilha de interrogações e sabichões… apenas um conselho, sem hashtag, sem likes, sem coraçãozinho vermelho e carinhas chorando de rir: aproveitem bem esses últimos dias, anos, décadas de beijos. É o que nos fará lembrar aqueles momentos sem nos deixarmos levar pela fraqueza do saudosismo. E o que nos fará pular do abismo (como os velhos naquele filme japonês) e sair da frente do rolo compressor das novas relações.

O nosso tempo é hoje. Que o aproveitemos bem. Sem julgar os que estão nos chamando de ultrapassados. E se nós ainda mandamos, deixemos que vivam. É assim que tem de ser.

Aos futuristas… continuem analisando o passado e chutando como será o futuro. Ele nunca chegará mesmo.

E para não dizer que estou sendo pessimista, grosseiro, no mínimo indelicado… mando um beijo. A quem ainda não estiver com pavor de lábios.

 

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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  • Pode ser um método um tanto antiquado, mas ainda acho que olhando o passado encontramos muitas dicas de como será o futuro.
    O Brasil está em (mais) um momento difícil. Tenho lido e escutado previsões aterrorizantes. A violência e defasagem entre as classes continuam crescendo. Para agravar a situação, certas pessoas especialmente entre as novas gerações,não parecem ter paciência nem moral para superar estes disparates. O bicho esta pegando.
    Mas o bicho já pegou muitas vezes. Como disse Balzac, “Atrás de cada fortuna há um crime”. Pense na antiguidade e inicio da idade média com os grandes conquistadores como Alexandre o Grande, Gengis Kan, Atila, com os horrores da Inquisição, com as técnicas utilizadas por descobridores e colonizadores através do mundo para subjugar as populações já existentes em territórios invadidos…Temos exemplos da crueldade humana no decorrer de toda história.
    Porém o mundo segue seu curso, economias mundiais sobem e descem a um ritmo acelerado como a memória e itens de um computador devem mudar rapidamente. No passado em termos mundiais a média de vida de um cidadão era muito menor, o taxa de mortalidade infantil muito maior, o analfabetismo era maior, certos tipos de violência muito mais comuns.
    Não podemos perder o foco no meio de tanta informação, tantas contas para pagar, tantos descasos públicos, tanto sentimento de impunidade. Temos que continuar sonhando, apesar dos pesares. Eu sonho em lançar uma campanha nacional antiviolência com os melhores marqueteiros do país unindo todos os meios de comunicação nacionais, sonho com um boicote ao estado, já boicoto produtos daqueles que detém grande parte da riqueza mundial e não estão partilhando devidamente, ou ainda destruindo nossa saúde oferecendo produtos duvidosos como E 450 (iii),E 443, E442. Artur, eu não tenho a solução, ninguém individualmente terá. Mas é o sonho de cada um que constrói o cotidiano coletivo, tem que ser!
    E de repente o futuro esta se construindo hoje com um instrumento que reúne milhões de pessoas ao mesmo tempo em um mesmo canal de comunicação: redes sociais. A primavera árabe foi uma demonstração, embora frustrada, do poder dos jovens e dos instrumentos a sua disposição. Perderam uma batalha, mas não a guerra.
    Admito que o Homem não aja com Inteligência, no entanto responde a situações emergenciais como nenhum outro animal. O futuro é incerto, mas situações podem bascular de um minuto para outro. Só saber disso já não te dá um pouco de otimismo?

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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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