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Dia a dia

Gritar pra todo mundo ouvir

 Meu sobrinho está apaixonado. Desesperadamente apaixonado. Muito mesmo. Falo com minha irmã e ela está sempre “reclamando” (mãe é mãe, né), que ele não sai da casa da namorada…

Mas nos dias de hoje não basta estar apaixonado. Nos dias de ontem também não. Queremos dividir nossa felicidade com os amigos, os poucos amigos. Mas acontece que atualmente os poucos amigos são centenas e estão no mundo virtual, então é preciso mostrar-se apaixonado e cantar o amor aos quatro ventos: Twitter, Facebook, Blog, Álbuns de fotos compartilhados, e muitos, muitos SMS.

Todo dia são muitas as declarações de amor virtuais: “amo minha namorada mais que tudo nessa vida”, “saindo do treino para ver o meu amor”, “na praia com minha amada”…

Comecei a segui-lo no Twitter há pouco tempo. E além de acompanhar “de perto” o romance nas areias escaldantes do Rio de Janeiro, onde moram, vejo os desabafos dele. Ah sim, o João Pedro tem apenas 14 anos… E desabafa como todo adolescente (“tem que estudar”, “tô com muita fome”, “na moral, esse Rafa do BBB tinha que sair mesmo”, “Pereirão acaba com Tereza Cristina”, “meu irmão está me enchendo o saco”).

Só que agora viu que tem um tio na cola dele e não é qualquer reclamação que pode ir para o Twitter. Outro dia a professora de português pegou o celular dele e disse que só devolveria no dia seguinte. Não pensou duas vezes: contou tudo no Twitter, pois estava sem o objeto para falar com seu amor. Mas aí o tio viu a tuitada…

 Me pego nesse dilema: comento ou finjo que não vejo? Na maioria das vezes, comento, pois é um adolescente normal e fala coisas normais. Mas ele tem de saber também o que é se expor. Expor a sua vida. Tem de entender limites. Mas também dou força, claro. Falo coisas engraçadas. Um tio distante presente, coisas do mundo ”muderno”.

Diz a mãe que acompanha também, mas só de vez em quando, o que é bom, pois hoje em dia os inimigos também saíram do asfalto para a virtualidade.

Eu nunca fui de abrir coisas tão pessoais em público (ainda não tenho Facebook, mas sei que desse ano não passo – ninguém vai inventar algo melhor, não?) e minha vaidade é bem suprida por esse blog, onde conto e comento, sou incompreendido e elogiado, seguido e perseguido… Um espaço legal. Não é um diário e procuro mesclar o profissional com um pouco de pessoal.

Precisa tanta gente saber que estou amando a ponto de eu ter que tuitar isso a cada duas horas? Eu acho que não, claro, mas a cabeça de um adolescente vivendo seu primeiro amor, com certeza sim. E um adolescente dos dias atuais está mais que acostumado com o mundo virtual (nem sabe o que é off ou on, tudo é on para ele) e com as conectividades facilitadoras. Declarar o amor no Twitter é normal para ele. Mas com certeza ele irá ver que nem tudo pode ir para as redes sociais e acredito que minha presença já mostrou isso. Sem repressão, claro.

Sempre falo para a minha irmã que uma ex-repórter lá do PANROTAS, a Marjori, casou com o namorado da escola… Ou seja, pode ser sim o amor da vida do João Pedro. Ou não. Mas isso, saberei nos próximos tweets. Só não saberei como reagir a essa diferença de pensar, a essas gerações que se misturam e formam um futuro que caberá a todos nós. Isso decido na hora. Errando e acertando. N

ão tenho foto do casal. Mas são uns fotos. Torço por eles. Ela, não conheço pessoalmente ainda, ele, um típico Y-boy, mas que não vive só nos games e nos computadores. Adora futebol, natação, pedalar… Já eu, um X-Man, continuo querendo o de sempre: um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida. Sem precisar tuitar ou facebookar… Para um bom entendedor…né, Lucia Mello?

Bom final de semana a todos.

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

Comentar

  • Tomo esse blog como uma homenagem aos meus 14 anos de relacionamento, nascido em 17 de fevereiro de 1998 nos recreio da escola… Mas Artur, vejo uma vantagem nessas declarações modernas. Quando brigar não vai precisar colocar fogo nas cartas e causar algum transtorno, basta DELETAR. Quando desejar relembrar bons momentos não é necessário se afogar no cheiro de mofo de cartas e mais cartas, só basta acessar o HISTÓRICO. Sim, estamos vivendo na era da exposição extrema, mas também não podemos reclamar da praticidade dos tempos modernos. beijão Marjori

    • Claro, você é um exemplo a ser seguido… Tudo bem que Thiago é um santo, mas vc faz bem a sua parte. Soube que estava esquiando na Suíça… Como diria a Fabíola: Genteeee! Beijos e até o FP

  • Caro Artur,

    Sou um “ser” pertencente à geração Y, mas totalmente adepto ao conservadorismo quando o assunto se refere a vida privada nas redes sociais.

    Neste jogo de troca de informações que as networks nos proporcionam, o que mais me intriga é presenciar discussões afetivas de caráter conjugais.
    Sempre me pergunto, como pode um casal permitir que vossas vidas sejam expostas de tal forma a ponto de coloca-lás a mostra nas redes sociais?

    Talvez as redes sociais foram criadas com o intuito da prestatividade e da troca de informações que julgamos importante para a sociedade.
    No entanto, estamos utilizando as networks para outros fins que de um modo geral permitem a exposição de informações que em tempos atrás definiríamos como confidencias,
    Tamanha é a exposição a qual nos sujeitamos que em alguns casos podem até mesmo trazer riscos para a nossa Paz!

    Uma certa feita conheci uma família que deu queixa na Policia pois sua filha estava sofrendo perseguições anunciadas pelo Orkut (Relfexo da alta exposição) TENSO!

    Não posso me abster de mencionar que já postei algumas informações irrelevantes que abriram um grande espaço para a exposição de minha vida, talvez o meu post tenha sido um reflexo da tendência gerada pelas pessoas que frequentam as redes sociais, contudo aprendi a policiar-me naquilo que declaro/comento/compartilho justamente visando os efeitos colaterais que aquela informação poderá trazer.

    – Agora quando usamos as redes com sabedoria, os efeitos da praticidade são imediatos.

    • Jamais diria, pelo seu texto, que você é geração Y hein, Henrique. Maduro e bem escrito. Se bem que escrever bem é uma raridade em qualquer geração. E escrever bem significa saber se expressar, se comunicar…pensar bem. Há vários motivos para se expor e muitas vezes as pessoas os fazem quase inconscientemente… Na inocência. E há sim casos bem TENSOS (aliás, com essa palavra vc mostrou que é Y mesmo). Grande abraço, obrigado pelo comentário e vê lá o que vai tuitar por aí hein…rs

  • Artur
    Com dois filhos e uma enteada já passei algumas vezes por esse dilema de dizer que vi, ouvi, ou percebi determinada ação deles. Minha estratégia, por mais difícil que possa parecer, foi fingir que não ví para não queimar a fonte e depois, com a calma que consegui abordar o assunto de passagem…assim fiz em diversas caronas saindo de festas, baladas e vendo meus filhos comentarem atos ESCABROSOS!!! e eu fingia ser apenas o motorista, assim fiz no FB deles, e no finado ORKUT.
    Acho que deu e vem dando certo,pois consigo conversar com eles sobre todos esses assuntos e mantenho minha fonte….abração

    • Cássio qualquer dia a gente vai ter de contratar um funcionário só para acmpanhar nossos filhos, sobrinhos e agregados nas redes sociais. A babá virtual… E que bom que as gerações se encontram no mundo virtual. Abraço

  • Adoramos a sua matéria. Realmente este é um amor moderno, compartilhado em redes sociais e com uma centena de melhores amigos, mas que na contra-mão da moda é repleto de Inocência, Respeito e Sinceridade, muita sinceridade. Que bom seria se os adultos ainda namorassem como nossos adolescentes. Um abraço, dos pais da namorada do seu sobrinho.

    • Olá Ana e Beto…que boa surpresa o comentário de vocês. Concordo plenamente que os adultos precisavam deixar ao menos uma parte dessa visão mais pura do mundo em suas relações… Mas se o mundo é cada vez mais é viral… a gente também cresce cada vez mais contaminado… Vendo exemplos assim, sempre há esperança. Espero conhecê-los em breve. Grande abraço de Sampa, Artur

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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

O conteúdo dos blogs é de inteira responsabilidade dos blogueiros convidados, não representando a posição da PANROTAS Editora.

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