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Dia a dia

HILÁRIO POLÍTICO

Não entendo por que os humoristas estavam ávidos para fazer piadas sobre políticos em campanha, pois dificilmente serão mais engraçados que os mesmos no inglório, infame e intragável horário político.

O que vemos é o retrato do País? Pode até ser. Mais que isso, é um retrato da política brasileira, a ser confirmado pelos eleitores (obrigados a votar) nas próximas eleições.

Ser artista, ser famoso não é mérito nem demérito na hora de se candidatar ou de ser votado. Ninguém é pior ou melhor por ser da TV ou por ser cantor. Muito se está falando sobre os artistas candidatos (a maioria usada pelos partidos para angarirar votos e aumentar a massa da legenda), mas os não famosos podem ser tão ruins ou bons quanto eles. Há exemplos para todas as teorias, mas a classe política em geral tem péssima imagem (vejam o caso do mensalão, que virou um belo pizzão) e o uso de famosos é mais um artifício.

Em São Paulo, o mais polêmico, até o momento, ou o que mais faz barulho, é o comediante/palhaço Tiririca, que faz a linha do humor “rir do ridículo” ou “debochar de si mesmo”. Tiririca tem seu valor e sua legião de fãs como humorista, na linha dos populares Zacarias (ex-Trapalhões) e Mazzaropi — e claro que os fãs dos dois últimos vão querer me matar por essas comparações, mas foi o que me veio à mente quando lembrei as aparições de Tiririca na TV.

Bom, o slogan de Tiririca é o melhor e também o mais mentiroso. Ele diz para votarem nele pois pior que está não fica. Mentira. Fica sim. Aliás, já foi muito pior, quando nem Congresso livre havia. Democracia é isso: misturar bons com ruins. E o eleitor só saberá eleger políticos bem preparados quando ele também for bem preparado. E não quer dizer que os cultos e diplomados serão os mais honestos. Mas isso é outra história. Ou a mesma.

Não sabemos o que é pior: o pobre do candidato prometendo uma virada de 360 graus (o infeliz nem sabe que acabará no mesmo lugar se der essa virada de 360 graus – acho que ele queria dizer 180, né..) ou ver as mesmas caras (Alckmin, Marta, Quércia, Maluf – isso mesmo -, Mercadante e cia.) prometendo as mesmas coisas de eleições passadas que ganharam ou perderam.

Marta, Serra e Dilma são os que menos conseguem passar naturalidade. A primeira, que, no fundo, queria estar no lugar de Dilma (quem mandou perder a perefeitura de São Paulo e mandar o povo relaxar e gozar?), diz que será o braço direito da presidenta Dilma. O segundo faz tanto esforço para sorrir e parecer natural que parece estar sentindo dor. E Dilma, com repaginada à la Marta, tenta ser a nova mãe do povo de scarping e bolsa Louis Vuitton. Também parece ser um esforço maior que ir à academia.

Ontem Lula pediu votos para Netinho. O cantor apresentador que já se envolveu em processos de agressão contra a ex-mulher e o Repórter Vesgo é o segundo candidato do PT ao Senado em São Paulo. Acho que nesse caso o PT escolheu errado. O Dado Dollabela é bem mais bad boy. E ainda disse à Veja desta semana que nunca agrediu a Viviane Sarayba ou a Luana Piovani para machucar. Ah bom. Tá explicado.

Tem ainda o Ronaldo Ésper, querendo ser herdeiro de Clodovil, tem uma das letras do KLB, não me pergunte qual, a Simony (sem o Fofão e já bastante fofinha), o Moacir Franco (que já tem passado político), a Mulher Pera (acho pera uma fruta muito aguada…melhor eu esperar a Mulher Uva ou o Homem Banana da Terra)…entre tantos outros. Parece aquela história: não está fazendo nada? quer aproveitar seus 15 minutos de fama? quer voltar a ter fama? quer me ajudar a ganhar uns votinhos? Se candidata aqui. E pior: se ganharem, viram massa de manobra dentro do Congresso. Ou vocês acham que as raposas de nossa política nacional vão deixar o Netinho soltar a voz ou a Simony colocar suas ideias superfantasticas em prática? Nem.

Enquanto isso, o Horário Político, infelizmente, acaba virando motivo de chacota, de piadas na internet, de risos inconsequentes. É o preço do amadurecimento político, da falta de investimentos em educação, da falta de seriedade de alguns setores. É o retrato do Brasil. Se o Tiririca é a cara do Brasil. Que seja eleito. Mas se for pego com dinheiro na cueca, que haja punição. De uma vez por todas.

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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  • “Celebridades” B ou C serem candidatas faz parte da democracia. São eleitores e elegíveis – se estiverem com a ficha limpa. A decepção é ver os partidos políticos utilizarem esse mecanismo para conseguirem mais votos. As listas fechadas poderiam resolver – ou agravar – isso. Mais rigor com a fidelidade partidária, no entanto, só pode ser positivo… E da reforma política, mesmo em tempo de campanha, pouco se fala. Como estamos, o “hilário eleitoral” só tende a perpetuar-se…

  • Artur,

    A única palavra que me ocorre para seu post é: PRIMOROSO. De forma mais didática do que já é habitual em seus textos você faz uma análise séria e direta (nem sei se era essa sua intenção) do cenário político-eleitoral brasileiro. A democracia tem dessas coisas, tem um alto custo, embora ele seja sempre muito menor que o custo das ditaduras (de esquerda ou de direita). Acredito que o voto distrital, o voto de legenda e a fidelidade partidária ajudariam a resolver parte do problema, como diz a Isabel Reigada. Enquanto a reforma política não entra na pauta (e como poderia entrar em pauta um assunto que só tiraria poder de quem tem o poder de aprová-lo?) teremos que conviver com essas pantomimas em horário nobre (e inútil). Não se vê uma proposta decente, coesa, factível. Nem dos oportunistas nem dos políticos tradicionais (não menos oportunistas). A verdade é que estamos sem opções e, às vezes, sinto certo alívio em, como estrangeiro, não poder votar. Acrescento mais uma sugestão: achei que nunca teria coragem de dizer isto, mas acredito que o processo eleitoral seria mais justo se as pesquisas fossem proibidas (ao menos a sua divulgação). Sou contra qualquer tipo de censura, mas, assim como um boato pode quebrar um banco, às vezes penso que uma pesquisa pode ajudar ou prejudicar o desempenho de uma votação importante. Sinceramente, não sei mais o que pensar. A única coisa que ainda consigo acreditar e defender, é que a democracia é melhor que qualquer regime de exceção, e que o capitalismo, com todos os seus defeitos, ainda é mais vantajoso e justo do que o socialismo (reparem nas propagandas do PSTU, PSOL, PCB, etc, parecem cenas gravadas no século XIX!). Só nos resta esperar e rezar, ou votar e cobrar, insistentemente, até que vençamos pelo cansaço.

    Abraço e parabéns pelo texto.

  • Perfeito!

    Falar mais o que? Educar o povo é o que todo governo não quer, não sei como se assustam quando tiram notas abaixo da média nas provas de avaliação de ensino.

    Ué, se fazer o enem e tirar 4,5 é o suficiente para conseguir vaga nas universidades e tirar o ensino médio. Não espero muita coisa da MENTIROSA “Festa da Democracia”.

    Já tinha um samba aí que dizia: EU GOSTO… ME ENGANA QUE EU GOSTO.

    Será?

  • Perfeito o post. Só temos uma arma para mostrar nosso repúdio, o voto.
    Vamos fazer nossa parte e torcer para que o nosso povo acorde.Abraços

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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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