(Editorial do Jornal PANROTAS 1.015, cuja edição digital entra daqui a pouco no Portal PANROTAS)
Quem não se emocionou com o drama dos gorilas de Ruanda, ameaçados de extinção até alguns anos atrás devido à caça predatória feita pelos moradores, que sobreviviam graças à venda dos animais, assassinados cruelmente? Na mesma Ruanda, o genocídio originado com a guerra entre as tribos chocou o mundo na mesma época. Tão cruel quanto.
Foi muito interessante, e surpreendente, acompanhar em uma recente edição do programa Fantástico, da Rede Globo, que Ruanda deu a volta por cima e que o turismo é um dos fatores-chave desse novo momento. Os moradores que caçavam os gorilas agora vivem do turismo: levam os visitantes para ver de perto os gigantes das montanhas, que vivem em famílias. São eles que vendem artesanato nas vilas, entre outros produtos e serviços, para os mesmos turistas. É um turismo de experiência, que não é barato, e que integra a comunidade à indústria. Parte do pagamento para o tour é revertido em investimentos nas vilas próximas às montanhas dos gorilas. Segundo a reportagem, cerca de R$ 1 mil por pessoa. Há controle desse fundo, há fiscalização dos investimentos.
Isso é política de turismo. Isso é turismo sustentável. Isso é criatividade com poucos recursos.
Olhar o micro e integrá-lo ao macro também é importante. Já houve tentativas disso nos governos passados aqui no Brasil, mas há falta de continuidade e os municípios acabam dependendo de si mesmo e de seus parlamentares no Congresso, para destinação de verba para obras de pequeno porte. O dinheiro no Brasil circula, mas o retorno é turvo. Taí a Embratur chorando falta de dinheiro para promoção. EBTs parados sem que ninguém se interesse por tocá-los. Salão do Turismo cancelado. Infraestrutura que debocha de nossa cara.
Onde estão nossos gorilas? E nossas experiências únicas? E nossa infraestrutura? É fácil ir de Foz do Iguaçu ao Amazonas? O que pagamos por um resort de selva volta para comunidade? O mesmo para o Pantanal? E as praias do Nordeste? Há uma lógica no fluxo do que entra e do que sai? A mulher rendeira fica com quanto de cada R$ 1 mil? E o vendedor do coco?
Enquanto formos um país injusto, mal organizado e com o turismo relegado ao segundo escalão, não daremos a volta por cima. E não tem Copa do Mundo que reverta isso. É cultural. É ético. É histórico… E um grande evento como esse, mal gerido, pode apenas aprofundar essas diferenças. E manter a (errada) tradição.
Vamos proteger nossos gorilas. Nossos vilarejos. Nossos cidadãos. E fazer os investimentos circularem virtuosamente. Sem cortinas de fumaça. Ou cachoeiras a nossa frente.
Artur Luiz Andrade
Arthur, olá,
Seu post me deixou comovido. Será que todos que lêem passarão pelo mesmo sentimento?
Se sim quem (qual pais) devemos copiar para mudar este “jogo”? Será que temos de inventar a roda?
Um caso sensacional e o do prefeito de Rudy Giuliani que mudou a cidade da lama para o vinho (água é pouco). Será que conseguimos fazer o mesmo num pais gigantesco comparado a Manhattan. Espero que sim!
Abraço
Marcelo Cohen
Platinum Turismo
Marcelo, a gente sempre acredita, não é mesmo?
Estou longe do Rio, e acreditava que o Eduardo Paes estava no bom caminho. Sérgio Cabral idem. Aí me aparece o Cachoeira, a Delta… e o ex-ministro da Justiça defendendo o Cachoeira. Achei estranho. Né?
Abraços e estamos aí
Obrigado pelo comentário