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NÃO É FÁCIL PRA NINGUÉM. AINDA MAIS ESTE ANO

O fechamento (pela segunda vez) da Luxtravel levanta a questão sobre se uma entidade pode ou deveria alertar os clientes dessa empresa sobre um possível problema. O dilema é altamente compreensível: se a empresa deixa de vender, perde a chance de recuperação. Se a entidade levanta a lebre, pode piorar a situação da companhia em dificuldades.

Por outro lado, o estrago de imagem para todo o setor e para os demais associados da entidade não poderia ser evitado? Não poderia haver uma medida de suspensão da empresa em problemas? Ou talvez uma fiscalização mais de perto para ver se a empresa está realmente empenhada em se recuperar? De qualquer forma, é fato que vale mais a postura do empresário do que a da entidade. É como ele vai agir na crise que vai determinar o prejuízo de muitos e como o setor será julgado. Já vimos exemplos de bons e maus empresários lidando com falências…

Se um amigo seu está em dificuldades, você não sairá alardeando, mas tentará ajudá-lo. Que ajuda uma entidade pode oferecer antes que o prejuízo recaia sobre os clientes (no caso agentes de viagens e passageiros) e até sobre associados, que se veem pressionados a “ajudar para que nenhum passageiro fique no chão”. Em um ano difícil como esse, a ordem parece ser “cada um com seus pobrema”.

As entidades não se envolvem com o lado comercial das empresas. Mas devem zelar pela boa imagem e o bom funcionamento do setor. Limitar-se a dizer “não recebemos qualquer comunicado”, “a empresa está devendo apenas as mensalidades” ou “não nos envolvemos com a parte comercial dos associados” é pouco. Se o associado está com problemas financeiros notórios e é obrigado a participar de uma feira onde vai vender “seus produtos” aos clientes, há sim uma responsabilidade. No mínimo moral.

O objetivo aqui não é criticar a Braztoa especificamente, até porque é uma das poucas entidades que realmente funcionam e mostram resultados – tanto que abriu mão de ser organizadora de eventos para se posicionar como associação que olha para seu setor. O objetivo é levantar a discussão para qualquer tipo de entidade: tem jeito ou quem quebrar que junte os cacos? E quem se cortar será “casualidade de uma guerra”.

Eu acho que não há solução (ao menos fácil) para esse tipo de problema. A não ser a tentativa de “salvar” os passageiros no final. Não há seguro que cubra (ao que parece, mas lembro que a Agaxtur estava desenvolvendo um), não há punições possíveis pelos estatutos e é muito difícil sair dedurando concorrentes ou associados. Talvez um grupo de consultores, uma assessoria financeira, a intermediação de uma venda… No caso de empresas pequenas, o escândalo é menor e graças a Deus faz tempo que não perdemos uma Soletur da vida…

Mas não na aviação. O caso da Pluna é o mais escandaloso dos últimos tempos e a conta sempre sobra para o lado mais fraco da cadeia, sempre tentando que o escândalo não se alastre setorialmente. E grandes como a Varig, a Transbrasil e a Vasp foram pro mesmo buraco. Sem dó nem pena.

Nós mesmos ouvimos a Luxtravel depois do primeiro “susto”, demos o benefício da dúvida para a reestruturação. Mas não foi possível. Lembro que na época da Varig era uma matéria por semana, com um novo gestor apontando uma solução, que a maioria sabia que não viria. Caberia às entidades dizer para os passageiros: não comprem Varig, pois sabemos que não tem jeito? À imprensa? À própria Varig?

E como disse um executivo esses dias para mim: “quando você publica dados da minha empresa, eu já os comemorei ou chorei uns dez dias antes e quando eles são divulgados já estou com a cabeça nas vendas dos próximos meses”. Ou seja, quando o assunto chega na imprensa, no caso das empresas que vão mal das pernas, já é notícia velha e passageiros e agentes já tomaram prejuízo. Ou beiço em alguns casos.

Já comentei em alguns textos que o modelo das operadoras é um dos que mais foram desafiados e modificados nos últimos anos. A venda direta de fornecedores, a internet, a facilidade de algumas agências “operarem”, a falta de tecnologia (que demorou a chegar em alguns players), a concentração de vendas em alguns players e o comodismo (“sempre foi assim”) pegaram alguns de “surpresa”.

Mas o que não se divulga (culpa da imprensa também) são os cases que souberam aproveitar as mudanças, que estão dando dinheiro (bate na madeira) e reinventaram seus negócios. A falência chama mais atenção que o sucesso. E não podemos deixar isso acontecer. Sabemos que “não está fácil pra ninguém”, mas para muitos, muitos mesmo, o trabalho bem feito vem compensando.

Voltaremos ao tema.

Enquanto isso…

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

Comentar

  • Perfeito seu post sobre o tema

    O caso da Luxtravel infelizmente já era mais que previsto.
    Até quando teremos que ver operadoras com sérios problemas financeiros funcionando e vendendo seus pacotes até o apagar das luzes sem dar satisfação a ninguém, deixando a bomba estourar na mão das agências de viagens (grande maioria pequenas empresas) e passageiros?

    As entidades como Braztoa devem acompanhar mais de perto seus associados e verificar suas reais condições de funcionamento, nenhuma empresa quebra da noite para o dia, os sinais vão sendo dados e precisam ser considerados, não basta agir somente após a bomba explodir, com os discursos de sempre.

    A cada caso desses fica aquela sensação:
    Confiar em quem? Qual será a próxima? Pra que servem as entidades e associações?

    Espero que as agências prejudicadas consigam arcar com seus prejuízos e embarcar seus passageiros, que no final é o que realmente importa.

    Boa sorte a todas.

    .

  • Há ainda que acrescentar a perda de mercado das operadoras que orgulhosamente realizam feiras….porta aberta para os expositores se comunicarem diretamente com as agências. …

  • A consulta constante ao Serasa e a Jucesp é um bom paliativo para as agencias terem ideia da saúde financeira de seus fornecedores (ato comum em qualquer negocio). Se nossos fornecedores nos consultam antes de nos venderem, a recíproca tem que ser verdadeira. Como ja disseram aqui, ninguem quebra da noite para o dia, e estas ferramentas ajudam a identificar isso com uma boa antecedencia. #ficaadica

  • Chega a ser uma irresponsabilidade do agente de viagens comprar de uma operadora que se encontra nesta situação, sou capaz de apontar no mínimo mais três operadoras de S.Paulo que estão no caminho da Fenix e Luxtravel, para isto basta entrar no site delas, sites totalmente off-line, nada de presença nas mídias sociais, nem um ar de modernidade e uma falta total de noção de que as OTAS estão roubando os clientes delas, que somos nós os agentes de viagens. Não é mais possível trabalhar nos moldes antigos do turismo, as OTAS devem estar rindo a toa, porque não imaginavam que seria tão fácil “roubar” os clientes das operadoras e consolidadores e que estes simplesmente ficariam olhando sem fazer nada.

  • Arthur….porque a Braztoa tenque defender o Agente enquanto a ” Agencia que teve os passageiros no chao lah de campinas que nao vou falar o nome ” opera direto? deixo pra voces os comentarios…..

    • Mohammed essa discussão é velha: se a operadora pode vender direto por que a agência não pode operar? E vice e versa. Papeis que eram bem definidos e defendidos feito latifúndio no passado não existem mais. A cadeia produtiva mudou. A distribuição hoje é um polvo de mil tentáculos. Operadora que ainda reclama que agente opera é tão antiquada quanto o agente que reclama que a operadora vende direto…
      Abraços

  • Para tudo na vida existe seguro.
    Não passou da hora das associações exigirem um das suas afiliadas? Ou terem um para as afiliadas.
    Caso contrário fica sendo um tipo de associação de oba-oba, que faz feira, evento, divulga e ponto. Que faz corpo mole frente aos problemas, ou melhor dizendo, que só sabe “informar” que o problema existe, mas sem comprometimento algum, mas que quer o “selo” da associação como algo que validasse ou desse crédito…

  • Quando um grande ou a maior consolidadora, agencia, corporativa etc, etc, entrou no mercado de operacoes, disse a alguns e a minha equipe de operacoes da epoca que, esta operadora teria para sua propria sobrevivencia arrebatar no minino 15% do mercado. Convicto estava que o mercado nao poderia crescer neste percentual (percentual oficial, nao as que sao muitas vezes publicados e para corroborar com isto a sua propria materia sobre os numeros de nossos eventos). Se este operador conseguisse atingir o seu percentual, haveriamos tombamentos de outros.
    Ou ela propria tombaria ou tombariam outras.
    Nao ha necessidade de mencionar os que tombaram.
    Haverao outros??? Este lamentavelmente e o cenario de um País sem criterio, um Pais sem regras, um Pais do vale tudo, um Pais do salve-se quem puder, um Pais dos espertos, um Pais que os que ditam a regra e isso tambem em nosso setor cria sua tendencia e tenta impor isto como atual, contemporaneo sem em nenhum momento ter a ampla visao de que, ninguem consegue se beneficiar sozinho. E preciso que entendam que um pais como sociedade tem que permitir que todos vivam de forma positva, ganhando, gerando lucros e remunerando seus colaboradores.
    Quando tem que se posicionar e aparecer na midia, ostentam orgulhosamente, sou membro disso, sou membro daquilo. E agora quando explodem,…….(le o seu comentario).
    O agente tem que mandar para operadora uma serie de documentos, copias, contratos como que o agente e que esta pedindo credito. Nao seria o contrario?? Nao estaria no momento de os agentes exigirem garantia financeira da operadora para qual vai confiar a operacao?? Inversao de papel. E isso que acontece e nos nao conseguimos perceber. Por isso, sempre quando um prestador explode, somos nos que temos que “por” a mao do bolso e resssarcir aos nossos passageiros e reclamar ao bispo……….Ate quando ?????

  • Passou do momento de criar-se um fundo garantidor ou algo parecido para esses casos. Passou da hora de haver uma analise constante da situação de cada empresa…até mesmo exigir um depósito ou alguma garantia para operar. O governo não vai entrar nessa, pois teria então que fazer o mesmo com outros setores, mas as associações desse mercado deveriam trabalhar mais rigorosamente nesses casos, antes de liberar o selo para elas.

  • ADENDO IMPORTANTE — Conversando com um operador hoje, vi que não toquei em um tema importante no post: o papel dos fornecedores. Cabe a eles também saber a quem dão crédito. “Vai dever pra Iata e ver o que acontece”, disse o operador pra mim. Ou seja, se o operador combalido está com crédito para vender… Mais um item importante na discussão.

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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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